sexta-feira, 30 de maio de 2014


              Desgostar de futebol
      
       A unanimidade do povo brasileiro sempre foi o futebol.
    Independente de cor, raça, religião, sexo, ocupação, condição social, todos os brasileiros possuem um time para torcer. E quando estão nos estádios assistindo aos jogos e torcendo pelos times, eles se irmanam numa confraternização muito bonita, sem fronteiras. O futebol é o elo.
   E quando seus times se consagram em campeonatos, torcedores que saem às ruas para comemorar são os mais variados, e dá para perceber essa ligação que é feita apenas pela paixão ao time. É muito bonito de se ver.
   E por muitas décadas, o futebol serviu de consolo aos brasileiros, porque somos muito pobres, país de Terceiro Mundo, mas o nosso futebol é imbatível.  Tivemos jogadores que ficaram famosos, como o Garrincha, o Rei Pelé, o Zico, o Romário, o Ronaldinho Fenômeno; temos o Ronaldinho Gaúcho, o Neymar, e tantos outros que puseram o país em destaque centenas de vezes... Somos os únicos Pentacampeões do mundo. Esse foi o nosso maior orgulho até hoje, juntamente com Ayrton Senna.
    O mundo inteiro podia se vangloriar de seus feitos em Ginástica, em Cinema, em Artes, em diversas modalidades de feitos humanos, mas a glória do futebol foi sempre nossa, e nos enchia de muito orgulho.
     O futebol era o nosso tesouro intocável, que fazia a alegria de todo o povo. O consolo maior.
     E de repente, o futebol se transformou em arma contra o povo.
      Como?
      Construindo estádios superluxuosos que parecem moradas de deuses, em detrimento de escolas e hospitais...  Enquanto levantavam as arenas dos jogos, os hospitais e escolas do Brasil ficaram ao Deus dará. Doentes morrendo nas filas de espera, tratamentos e cirurgias urgentes adiados por falta de materiais e remédios... Violência reinando nas Escolas, professores sendo massacrados pelos baixos salários e por alunos rebeldes...
     E de repente, o povo percebeu que a origem de todas as misérias atuais estava na Copa do Mundo. Copa do Mundo, que já foi a maior alegria da gente brasileira.
     Ora, quem é que se levanta de madrugada e enfrenta o batente todos os dias para fazer esse país funcionar?
    Esse trabalhador vive mal, em casinhas apertadas, quentes e mal localizadas.
      Ele come mal porque não consegue pagar $10,00 por um quilo de tomate, $5,00 por um quilo da banana, $ 15,00 por um quilo de carne...
     Ele mal e mal frequenta a Escola pública, que está ao Deus dará. Quando com muito custo consegue terminar o segundo grau, interrompe os estudos porque precisa trabalhar. Porque comer é preciso. Porque viver é preciso.
     Mas, é ele que segura o rojão do país, fazendo as coisas funcionarem direitinho. É ele que garante a produção de tudo, desde os alimentos, materiais escolares, remédios, vestimentas, carros, prédios, apartamentos...
      Vivendo na corda bamba, reclamando sim, dos baixos salários, mas cumprindo com seus deveres e agindo corretamente para a casa não cair, para a fábrica não fechar, para não faltar o arroz e o feijão no prato, para o comércio funcionar, para os remédios sanarem dores, para o povo ser feliz.
      E esse cidadão que dá o sangue pela pátria todos os dias foi traído. Traído vergonhosamente pelos cartolas que governam o país, pelos cartolas que controlam eventos da Copa do Mundo, pelos Representantes do Povo, que deram banana para ele. E estragaram a maior festa que o Brasil esperava. Como? Desviando a verba destinada à melhoria de condições de vida dos cidadãos, para empregarem-na nos fabulosos estádios.
     E a coisa rodou e está rodando. Falta tudo nos hospitais, as filas de doentes só aumentando, sem leitos para acomodá-los, remédios desapareceram, não há equipamentos para exames, nem profissionais para atendimento.
     E o cidadão brasileiro que era e sempre foi apaixonado pelo futebol está com um travo amargo na boca. Hoje não sabe se torce ou amaldiçoa a Seleção Brasileira. Conseguiram estragar esse gosto do povo.
      E tudo por quê?
      Porque priorizaram a Copa do Mundo.
   Tal qual uma pobre senhora de classe média que, ao realizar o casamento de seu primogênito, deseja chegar aos píncaros da glória, organizando uma festa de socialite. E faz um grande empréstimo, e exagera nos convites, porque tem que ser perfeito, e exagera nos trajes, e exagera na decoração, na recepção que vai pela madrugada afora, até o café da manhã com os petiscos encomendados no mais caro buffet... E exagera convidando gente que nem conhece direito, mas tem status... E se sente a própria Rainha de Sabá dando uma festa aos Reis...
     Mas, quando a festa acaba, os fornecedores têm que ser pagos. E aí, a casa cai. E aí, os desentendimentos com o marido, com o gerente do Banco, com o fornecedor das flores, com o fotógrafo, com o  buffet... E sobra até para os pais da noiva, que nunca pediram festa de tal monta.  E aí a relação já começa deteriorada.  É uma guerra.
     E quando após meses e meses de sofrimento, conseguem liquidar as contas, os noivos que já se desencantaram com as brigas, contas, com os bate bocas, as acusações...  acabam se separando. Perceberam que nada era um conto de fadas... Tudo não passou de uma ilusão... Pobres figurinos guindados para serem fantoches de uma mãe idiota.
     Quando a Copa passar, quem sobreviverá? Quem pagará os estragos? Quem acabará se divorciando?
      Como será o Brasil daqui a dois meses?
      Quem viver verá!
      
       Mirandópolis, maio de 2014.
       kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


     Correção: "Somos os únicos pentacampeões do mundo"                     E não tetracampeões como havia redigido. kimie


domingo, 25 de maio de 2014


    Mais uma tarde cirandando...

    Sexta-feira, dia 23 passado, houve mais uma cirandada.
      Como sempre, foi na Chácara do seu Albertino, onde o ar estava muito agradável depois da chuva da madrugada.


      Estava um dia meio nublado, e todo mundo achou motivos para comemorar a tão esperada chuva. Faltaram algumas pessoas que sentem muito frio, mas a maioria se fez presente. Como nova cirandeira, a Vina levou sua vizinha Ivanilde.
      Os cirandeiros foram chegando e se reunindo aos pares para saber das novidades, numa conversa intima e amigável.
      Depois de um lanche, os cantores de plantão soltaram a voz. A Vina prestou uma linda homenagem aos professores presentes  cantando "Professorinha" , acompanhada pelo violão de seu Zé Olyntho. Depois cantou "Chão de estrelas", para o encanto de todos.                                                                                 
    Então, chegaram o Jovanini e o João sem terra, que ajudaram com a sanfona e o violão e a voz poderosa. O Professor Gabriel leu o poema “Cabocla Teresa”, que foi bem apreciado.
    Estávamos aguardando o pessoal da AMAI (asilo local), mas deve ter acontecido algum imprevisto, porque não compareceu, o que foi uma pena.
     A certa altura da festa apareceu o Júlio Galbes, que veio dar um abraço na turma. Esse jovem que está estudando fora ajudou a organizar a Ciranda, mas não conseguiu participar por força dos estudos. Está fazendo Medicina. Ficou encantado de constatar que, a Ciranda pegou e que três anos depois continua acontecendo e crescendo. Prometeu participar da Ciranda nas férias...
      Depois de muita cantoria, conversa e risadas, o pessoal partiu para suas casas. Todos foram embora contentes, pela tarde agradável que passaram.
      Em junho tem mais. Até lá, pessoal!
     

     
      Mirandópolis, maio de 2014.

     

      

terça-feira, 20 de maio de 2014

        Mater dolor
     
       Todos festejam as mães.
      Acho que não existe quem não tenha um pouquinho de consideração pela sua genitora. E no seu dia, a gente percebe o frisson que toma conta das pessoas, para escolher uma lembrancinha para elas.
      Tá certo, o comércio é que lucra com isso; quando os filhos não se lembram da mãe, é justo que tenham estabelecido um dia só pra elas.
      A maioria das mães que conheço tem uma vida normal, de lutas, de pelejas para cuidar, criar e educar seus filhos. Assim foi comigo também, que já sou avó.
      Entretanto, ao longo dos meus setenta anos de vivência, topei com tantas mães sofredoras, que mereceriam coroas de louros por terem levado ou, estarem levando uma existência tão penosa.
      Conheci a dona Maria de Amandaba, que ficou viúva com seis filhos pequenos e mais um na barriga. Depois do funeral de seu marido, que morrera repentinamente, o patrão jogou sua mudança no terreiro, despejando-a da fazenda, por não ter mais serventia. Felizmente, um amigo nosso muito caridoso arrumou uma tulha, para abrigar a pobre família. E aí, para sobreviver, dona Maria foi cozinheira, lavadeira, arrumadeira, pau para toda obra. Mas, como os moradores do bairro eram muito pobres, nunca recebia o suficiente para alimentar os filhos.
      Quando o fazendeiro que cedeu a tulha para ela morar se tornou Prefeito, atendendo à solicitação dos professores do Grupo Escolar de Amandaba, ela foi nomeada Merendeira da Escola. E então, ela conseguiu criar os filhos com mais tranquilidade.
      Os meninos cresceram, enfrentaram a roça, e ajudaram a mãe no orçamento da casa.  Acontece, porém que além de tudo dona Maria tinha uma filha deficiente, vítima de meningite, que a tornara incapaz mentalmente e com dificuldades para andar. Essa era a sua preocupação maior.
      Quando os filhos foram se casando ou saindo de casa para trabalhar, dona Maria aposentou-se com salário reduzido, para cuidar da moça Ivanilde. Como havia uma ajuda da Assistência Social do Governo para pessoas incapazes, ela tentou obter essa ajuda para a menina, que não podia trabalhar, mas precisava de muitos cuidados médicos e remédios. Entretanto, o médico do Hospital local negou essa ajuda. Dona Maria levou uma vida dura, sem nenhum conforto. A menina frequentou a APAE por uns tempos, mas acabou desistindo, porque não houve progressos...
      E assim foi que, a Ivanilde viveu mais de quatro décadas e acabou falecendo e daí dois anos, a dona Maria também partiu. Sempre que penso nela, fico matutando a razão dela ter vindo ao mundo – não teve alegrias, só trabalho, só tristezas, só desespero... Duro destino. A vida foi extremamente injusta com ela.
      Outra que também sofreu muito foi a Maria Preta. Morava ao lado da Escola Ebe Aurora, numa taperinha alugada. Tinha uma penca de filhos e um marido, que vivia bêbado. Eu me lembro que numa manhã gelada, em que todos foram à escola encapotados, ela estava  tentando aquecer seu filho menor ao sol. O bebê estava só de camiseta, sem fraldas, com a bundinha de fora... Mais que depressa voltei para casa e lhe levei algumas peças de roupas e cobertas. Dentre os filhos havia uma menina deficiente e surda, que frequentava APAE. A situação de dona Maria era tão desesperadora que, um grupo de pessoas se cotizou sob a coordenação de dona Antiniska, e construiu uma tapera para ela e seus filhos. Por uns tempos perdi o contato, porque fui trabalhar fora. Mais tarde descobri que os filhos haviam se perdido nos descaminhos da vida e, dois deles foram presos.  Transporte de drogas... E a Maria Preta viveu os últimos anos chorando e lamentando a sorte desses filhos... No final, ficou muito doente, vindo a falecer. Quando penso nela, vem a imagem de uma mulher preta, de porte altivo, com uma roda de pano branco no alto do cocuruto, onde carregava tudo. Vivia sorrindo... Sem os incisivos superiores... Essa mulher também não teve gosto em viver. Seus dias foram um rosário de tristeza...
      Outra que me vem à memória é a dona Palmira, uma mulherzinha pequenina, que mora numa casa que parece de bonecas. Criou sete filhos no maior sofrimento, porque o marido também se perdeu para o vício da bebida. Certa vez, me contou que fazia café com sementes de fedegoso torrado, e socado no pilão... Porque não tinha dinheiro para comprar café... Agora que os filhos estão todos criados, o corpo maltratado pelos longos anos de carência alimentar está fraco e, volta e meia quebra as pernas. Só anda com o auxílio de andador. Vida triste e sofrida.
      Dona Onofra é outra da minha lista de heroínas. Criou cinco filhos também sozinha, porque o esposo faleceu repentinamente, quando todos eram crianças ainda. Essa mulher cortou cana, lavou roupas, foi empregada doméstica e deu duro para encaminhar os filhos. Desde pequeninos ela os encaminhou ao trabalho, premida pelas necessidades de aumentar o orçamento, para comprar o arroz e o feijão de cada dia. Ela venceu as batalhas da vida, mas está sem saúde e sente muitas dores no corpo cansado de tanto pelejar. Dureza...
      Ainda conheci a Adélia que perdeu o filho recentemente, vítima de AIDS.  Por mais que procurasse, não achei palavras de conforto para essa mulher que tanto batalhou pelo filho, renunciando aos prazeres mínimos, para encaminhá-lo na vida. Agora, já idosa, quando poderia descansar e usufruir um pouquinho a alegria de viver, o filho que era sua razão de viver partiu, deixando-a sozinha com uma tristeza sem fim.  Por quê?
      Também conheço mães desoladas com os tristes destinos de filhos, que se perderam no caminho das drogas. Filhos que eram o orgulho dessas mães, vivem sabe Deus onde e como, sem dar notícias e esquecidos de tudo e de todos...
      Recentemente, estive de passagem na região da Cracolândia lá no centro de São Paulo. Eram mais ou menos vinte e duas horas. E vi os nóias... Espalhados pelas calçadas, em cima do capô dos carros, aos montes... Parecia montagem de um de um filme de efeitos especiais, mas era real. As pessoas eram de verdade, não eram atores, não estavam interpretando nada, estavam ali curtindo as loucuras provocadas pelas drogas consumidas. Completamente alienados do que acontecia ao redor.
      Vendo esses nóias (redução de paranoias), pensei nas mães desses jovens perdidos, que rezam dia e noite pela volta dos filhos perdidos. E percebi que infelizmente, eles não voltarão, pois já nem vivem mais, não possuem nem vontade própria, envenenados completamente pelas porcarias que consomem dia e noite... Até morrer... Ser mãe para perder o filho para umas substâncias... Dá para explicar?
      Ser mãe nessas circunstâncias não é mole, não! Acredito que elas devem passar a vida se perguntando onde falharam, onde perderam os filhos, e como poderão resgatá-los... Acredito que, algumas diriam como certa mãe de adolescentes, que brigavam noite e dia, me disse um dia: “Queria engoli-los de volta, para parar com esse tormento...” Tem hora que a coisa pesa mesmo!
       Enfim, não é mole ser mãe!
      Mas, a maior realização de uma mulher está na maternidade. Como realizar esse sonho sem o ônus do sofrimento?

      Mirandópolis, maio de 2014.
      kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/



quinta-feira, 15 de maio de 2014


               A Feira
       
        A Feira está voltando.
      Sei que ela sempre esteve lá na Avenida, servindo ao povo. Mas, havia perdido aquela força dos tempos iniciais, quando as pessoas saiam de madrugada dos bailes para ir saborear um pastel quentinho. Naquela época, a feira tinha cheiro de pastel frito na hora, e ninguém resistia. Mesmo quem não queria comprar nada, acabava comendo um pastel...
      Com a chegada dos Supermercados, que passaram a vender também os produtos hortifrutigranjeiros, os feirantes desanimaram. E muitos deixaram esse tipo de comércio. E nós, os consumidores adquirimos o hábito de frequentar mais os mercados e mercearias. Porque continuamos a consumir frutas e verduras, tão indispensáveis à saúde.
      E de repente, houve um resgate de feiras, que estão ocorrendo três vezes por semana, isto é, às terças-feiras na Praça do Bairro São Lourenço de Fátima e aos domingos na Avenida Rafael Pereira. E às sextas é na Aliança. Acho isso muito bom, porque o produtor tem a oportunidade de vender seus produtos recém- colhidos, diretamente ao consumidor.
      Tem feirante moendo café em grãos na hora, tem outro vendendo filés de peixe de seu açude, tem gente vendendo condimentos bem elaborados em casa, tem comida japonesa caprichada, tem frutas variadas e verduras da estação. Além de é claro, pastéis e outros salgados.
       Vários amigos meus estão voltando às feiras, e abastecendo a geladeira com legumes e frutas para a semana. Os preços? Alguns equivalem aos dos mercados, mas a maioria é de valor inferior, porque não há intermediários. E o melhor de tudo é que são fresquinhos e duram mais.
      Gosto sempre de lembrar que o comércio propriamente dito teve início há milênios, com a troca de mercadorias. Quem possuía arroz sobrando trocava com peixes, que estavam fora de seu alcance. Quem possuía leite trocava com trigo e ou azeite.
      E em épocas mais recentes, na China, quando nem se cogitava em montar lojas e casas de comércio, o agricultor colocava um saco de arroz à porta de sua moradia, na passagem dos pedestres, com uma medida e um prato para as moedas. Quem precisasse do arroz pegava a quantidade que lhe convinha e, deixava as moedas no prato. Ninguém ficava vigiando. Todos eram confiáveis. O surgimento do comércio organizado teve esse início tão prosaico. É certo que outros eram os valores e costumes e, ninguém pensava em prejudicar o dono do arroz, porque essa troca era bem necessária e muito conveniente. A moeda dessa troca na verdade era a confiança.
      Amigos meus, que têm ido ao Japão recentemente, conheceram esse tipo de venda, em pequenos vilarejos, onde há pontos de venda de legumes,frutas e verduras. E dizem que a coisa funciona sem nenhum incidente.  No final do dia, as moedas deixadas equivalem exatamente ao valor de mercadorias vendidas.
      Quando eu era criança, lembro-me que os mascates iam de fazenda a fazenda oferecendo rolos de tecidos, botões, linhas, agulhas e demais apetrechos de costura. As senhoras e moças costureiras que, moravam em sítios e lugares retirados esperavam com ansiedade, a chegada dos mascates que vinham montados em animais, e traziam malas lotadas de mercadorias. Eles faziam qualquer negócio. Era um deslumbre prá nós crianças, admirar todas aquelas coisas que nem conhecíamos. Mas eram tão lindas e desejáveis. Sempre havia novidades e nós nos regalávamos só de ver e apreciar.
      Mais tarde, esses mascates foram substituídos pelos oveiros e frangueiros, que ofereciam aquelas mesmas mercadorias e trocavam-nas com ovos, galinhas e leitões. Esses oveiros vinham já em carrinhos ou carroças puxados por animais, devido ao volume de trocas que levavam de volta para a cidade, onde vendiam. Naquela época, eram muito raros os açougues e não existiam quitandas ou mercearias que vendessem ovos, frutas e verduras... E assim, os mascates fizeram esse intercâmbio entre a roça e a cidade durante muitos anos, e foram extremamente úteis. Os vendedores de tecidos e armarinhos em geral eram de origem libanesa, e falavam um português arrevesado, que era difícil de entender...
      Esses mesmos mascates libaneses acabaram por montar e estabelecer-se em lojas, e fortaleceram o comércio das cidades.
      Atualmente, até essas pequenas lojas estão sendo engolidas pelas grandes magazines que fazem o luxo dos shoppings. Em breve, acabarão desaparecendo de vez todas essas pequenas lojas de sapatos, roupas, comidas, açougues e até farmácias... Os hipermercados e outros grandes centros de vendas estão abarcando tudo, e a concorrência é muito violenta. É uma luta de gigantes contra anões... Sinal de progresso... Em que os pequenos são inexoravelmente atropelados...
      A vantagem da feira é que ocorre ao ar livre, facilitando o ir e o vir das pessoas e há espaços para o estacionamento de carros. E circular entre as bancas de vendas é tranquilo, pois não há congestionamentos. E todos se conhecem. E de repente, a gente tromba com um amigo, uma vizinha, uma pessoa conhecida que não via há tempos. E aí, é aquela festa. Papo em dia, um abraço e até outro domingo...
      Sei que a vida dos feirantes não é fácil. Têm que acordar de madrugada para carregar suas mercadorias e montar a barraca. Geralmente, às seis horas da matina já estão lá de plantão, porque seus legumes e suas verduras não podem ficar muito expostos ao sol. E quando não conseguem vender, acabam perdendo muito...
      Mas, estão sempre de sorriso aberto, recebendo os clientes com um alegre bom dia, e nos servindo com atenção e carinho. Porque viver é preciso!
      Vida longa aos feirantes e à feira!
      E viva a Feira!
       
      Mirandópolis, abril de 2014.

terça-feira, 6 de maio de 2014



                Vamos economizar água?
  
     Todos os dias, ouvimos o noticiário sobre a falta d’água em São Paulo. Tá certo, São Paulo não é aqui. Mas, a água que está faltando lá, poderá faltar em breve por aqui também.

      O problema de São Paulo é a superpopulação, que inchou a cidade e continua inchando mais e mais, com a chegada de gente de todas as partes do país, que demanda a capital, por um emprego, uma vida mais confortável. E haja água prá tanta gente!
      E assistindo a esses noticiários, tomei consciência que  pouco tenho feito para poupar água. Como somos apenas duas pessoas em casa, parece que não gastamos tanto, mas sei que há muitas maneiras de poupar.
      Podemos lavar a roupa menos vezes por semana, para aproveitar bem a água da lavadora. Além disso, é possível usar essa mesma água, para lavar as áreas externas da residência. E hoje, decidi usar uma bacia da pia com água e sabão para lavar a louça. Assim, não ficarei mais com a torneira jogando o líquido precioso inutilmente. Para enxaguar sim, posso usar a água limpa da torneira, mas sem esbanjar.
      Nós falamos tanto em poupar água, chegamos a pregar isso para todo mundo, mas na prática o que fazemos?
      Escovamos os dentes com a torneira jorrando água, sem precisar. Tomamos banho com o chuveiro aberto o tempo todo, enquanto nos ensaboamos e esfregamos o corpo. Que tal, molhar o corpo, fechar o registro do chuveiro enquanto se ensaboa e esfrega o corpo, e só então abrir de novo o chuveiro para enxaguar? É uma medida que poupará metade da água, que se gastava sem precisar. Experimentem amigos.
      Ainda, há a questão do jardim, cujas plantas não sobrevivem sem água. Temos que aprender a cultivar plantas que requeiram menos água, e molhá-las apenas quando necessário. (A gente tem mania de esbanjar água para molhar as plantas, como se elas precisassem nadar nelas).
      Também tem a questão da calçada e do quintal que precisa ser lavado de vez em quando. Conheço gente que, passa a manhã toda jogando água, e varrendo a calçada com água, e não com a vassoura. E ainda, quando um conhecido aparece e começa aquele papo sem fim, a pessoa fica segurando a borracha que não para de jogar água fora, como se isso fosse normal. E age tão automaticamente, que não se dá conta de que está cometendo um crime contra a natureza. E se a gente dá uma dica, olha-nos com cara feia...
      Há muita gente inconsciente, que se acha no direito de fazer o que quiser, porque paga a conta todo mês. Quando a água acabar, não haverá conta para pagar. Também não haverá água para cozinhar, para beber, para se lavar...
      Vamos todos nós, cidadãos conscientes tomar uma atitude a partir de agora, orientando os filhos e as empregadas, especialmente as que lavam a louça, o banheiro, a roupa e a calçada. Reparem como elas esbanjam o precioso líquido, por inconsciência mesmo. Uma boa orientação e tudo se resolverá, além de elas levarem as novas medidas para suas casas e suas famílias. Educar é preciso, urgentemente. Verificar se a torneira e o chuveiro não estão vazando também é um dever nosso. E as piscinas, que usam um volume imenso de água? Acho que está na hora de repensar nelas, pois não são indispensáveis...
      O mundo está superpovoado porque os idosos que viviam até os setenta, oitenta anos, hoje estão ultrapassando os cem anos. Ninguém quer morrer, e toda a humanidade está adotando um estilo de vida mais saudável, para prolongar a vida. E a população está aumentando cada vez mais, já ultrapassando perigosamente os sete bilhões. Daqui a pouco, esse Planeta não poderá conter tanta gente... Mesmo porque, faltam alimentos e principalmente água potável.
     Os estudiosos dizem que, às vezes a guerra é necessária para conter essa superpopulação, mas é uma ideia antipática que, machuca só de comentar. Fazer guerra para dizimar populações inteiras para contrabalançar... Decididamente, não é aceitável. Não, não é!


      Então, é necessário e urgente, aprendermos a controlar o uso dos recursos naturais, para que a vida continue sustentável para as gerações futuras. Digo gerações futuras, mas, abrangem nossos filhos, netos e seus descendentes.
      Há pouco tempo comentei sobre o lixo que, alguns cidadãos jogam no acostamento das rodovias municipais. Durante anos e anos, o lixo foi lançado na estrada que vai para a Usina, e com certeza foi matando o corguinho que corria na Área verde. Inconsciência ou burrice? A chuva se encarregou de levar todas aquelas porcarias para o riachinho. Felizmente, alguém entendeu meu recado e retirou todo ou quase todo o lixo de lá. Não sei se foi a Prefeitura, ou os órgãos encarregados da preservação do meio ambiente, mas o mais importante foi feito. Palmas para quem executou a tarefa. A natureza agradece. Só que os idiotas que lançam suas imundícies têm que ser notificados, para não mais repetirem o ato. Nós cansamos de ensinar isso nas escolas para as crianças e adolescentes. E seus pais é que cometem esse crime. Inacreditável. Adultos burros!
      E o mesmo está ocorrendo com a água.
      Todo ano, há uma bela campanha nas escolas ensinando os alunos a pouparem água, mas se os pais não adotarem as medidas que estes aprenderam, nada mudará.
      E o planeta está no limite máximo do suportável em relação à água, em relação ao lixo e em relação ao desmatamento. E não pensem na Amazônia, não! O que está ocorrendo é aqui, nas roças de cana, em que derrubam belos espécimes de ipês e até mesmo farinheiras que lá estavam, só para facilitar o trabalho das máquinas. Da noite para o dia seguinte, essas árvores que levaram no mínimo cinquenta anos para se formarem, são derrubadas e enterradas, sem nenhum remorso. Em nome do progresso... E isso não são jovens nem crianças que se encarregam de fazer. São todos adultos que, se vêm obrigados a fazer para segurar o emprego, porque o patrão pensa mais no money do que no futuro do planeta. Até quando vai perdurar essa inconsciência e burrice?
      Se não agirmos drasticamente, chegará em breve um tempo de se limitar o volume de água, para cada consumidor. Estabelecer cotas de água a que cada cidadão fará jus. Já pensou em só poder tomar um banho por semana? Ou ter direito apenas a um litro de água potável, por dia? Inconcebível, né? Isso é sério! Pensem nisso!
     No andar da carruagem, se nada for feito, isso acontecerá em breve.
       Então, amigos, comecemos hoje mesmo!
1.         Fechar a torneira enquanto escovamos os dentes.
2.          Lavar a louça numa bacia.
3.          Fechar o chuveiro enquanto nos ensaboamos.
4.   Lavar a calçada apenas uma vez por semana, se necessário. Usar a vassoura é uma boa pedida.
5.    Lavar a roupa menos vezes na semana. Reaproveitar a água para lavar o quintal.
6.     Guardar água da chuva para usar no jardim, e também para lavar a roupa.
7.         Esquecer da piscina.

      Se soubermos administrar nossos gastos, a água não faltará!
      Somos seres racionais e podemos vencer essa batalha!
      Ou seremos vencidos pela burrice?
     
     Mirandópolis, maio de 2014.


segunda-feira, 5 de maio de 2014



                               Promiscuidade sexual
    
       Há dias atrás, um jovem perdeu a vida, vítima de AIDS. Era tão moço ainda e, era a única esperança de sua mãe, que o criara com mil sacrifícios, levando uma vida só de trabalho e renúncias...
      Amigos se mobilizaram para ajudar a ambos, mas a doença que não perdoa foi mais forte que todas as orações, infelizmente.
     O final foi doloroso, mais ainda para a mãe, que nada pode fazer para minimizar seu sofrimento. Impotência...
     Toda essa via sacra de minha amiga e seu filho me despertaram para um fato, que está ocorrendo com frequência na sociedade. Com a liberação dos costumes, há um certo abuso no comportamento sexual das pessoas. Gente que, de repente se diz e se comporta como homossexual, mesmo não sendo... Para experimentar algo diferente... À procura de novidades e outras emoções... Faz tudo isso como uma brincadeira, como uma pequena diversão... E como leva na brincadeira, não atenta para os perigos dessas aventuras. Não se cuida, não usa preservativos, não pensa nas consequências... Aids não é brincadeira.
   E mesmo alguns heterossexuais estão sempre à procura de algo diferente, de uma aventura com uma “zinha” qualquer... E acabam adquirindo doenças, que darão de presente às esposas ou namoradas...
    Quanto mais evolui a sociedade de hoje, mais gente tonta aparece. O Centro de Saúde oferece preservativos gratuitos, orienta sobre doenças sexualmente transmissíveis e os cuidados para não adquiri-las... Mas, as pessoas preferem correr riscos, achando-se autoimunes... E quando acordam já é tarde...
   As escolas orientam os alunos, e todos os jovens sabem que há doenças terríveis, sexualmente transmissíveis. Então, por que não se protegem? Por que não zelam de seus corpos?
   O corpo físico é importante porque é nele que moramos, que usamos para realizar nossos sonhos, nossos desejos, É com ele que trabalhamos, que nos locomovemos, que rimos, que choramos, que festejamos, que comemoramos,que comemos, que lutamos, que cantamos, que sentimos as emoções, que oramos, e pedimos clemência de Deus. 
   Na tradição japonesa, sempre os pais recomendam aos filhos que, tenham cuidado com o corpo. Quando alguém querido vai embora ou vai viajar, é costume dizer: “Karadá o daijini!” ou “Cuide bem do corpo!” Na verdade, é uma forma de dizer que a pessoa é querida, e que se preocupa com a sua integridade física. Porque sem a estrutura física, a pessoa não existe.
   A liberação dos costumes fez um estrago na sociedade. Tudo é permissível, tudo é tolerável. Não há limites para nada...
    Não estou discriminando os homo dos hetero. Cada um escolhe o que melhor lhe cai. Só acho que, tanto uns como outros devem no mínimo, adotar procedimentos higiênicos para zelar de seus corpos. Principalmente, quem gosta de conviver em promiscuidade, trocando de parceiros a torto e a direito.
   E também, não estou aqui condenando procedimentos sexuais de uns e outros. Cada um é dono de si, e se gosta de promiscuidade, que seja promíscuo e se relacione com dezenas ou centenas de parceiros. Só estou lembrando que, as pessoas inteligentes devem se cuidar, para não sofrer depois com males irremediáveis, que lhes proporcionarão muita dor sem consolo.
     Muita dor e sofrimento  para os familiares.
   E então, penso na responsabilidade. Responsabilidade de cuidar do próprio corpo, para viver bem e não se tornar um peso para as pessoas com quem convive. Porque a gente é responsável por todos que cativamos, conforme Saint Éxupèry (O Pequeno Príncipe). E é muito doloroso ver uma mãe chorar de impotência, diante de um filho que está morrendo...
   Também penso na responsabilidade de disseminar essas doenças para outras pessoas ingênuas, tolas ou inocentes, que não pensam nas consequências de seus atos.
   Mesmo que os Governantes proporcionem todos os meios de se evitar certos males, enquanto houver gente irresponsável nada mudará.
    AIDS já deveria estar controlada, porque todos os países adotaram meios de se evitar a propagação. Preservativos, Programas de Orientação, Assistência de Médicos e Enfermeiros, Coquetéis de Remédios... Mas, por que ela é invencível? Porque há gente tola e irresponsável aos montões... Que jogam com suas vidas em aventuras aparentemente inocentes... Que lhes trarão muita dor e arrependimento.
    Mesmo que você não se importe com o seu corpo, que não tenha medo das dores, do desespero que acomete os aidéticos, pense um pouco na dor de seus familiares, que jamais sonharam em ver um filho nessas condições.
    E que tal selecionar os parceiros sexuais?
     
      Mirandópolis, abril de 2014.