sábado, 30 de novembro de 2019


                            Mafalda
        Curso de Administradores Escolares.
Marilena Arantes Romero Gonçalves,
Mafalda Alves Veronez e
 eu Kimie Oku.
Um ano e meio de convivência.
 Todas as noites no CENE.
Preparo para o Curso de Pedagogia.
        Lá pelos anos 73/74...
Já éramos casadas e
Tínhamos os primeiros filhos.
Trabalhávamos como Professoras normalistas.
Alfabetizando meninos.
Mafalda linda parecia uma boneca quebrada.
 Resultado de um grave acidente na Marechal Rondon.
Cinco mirandopolenses perderam a vida...
E ela precisou de trocentas cirurgias para voltar a caminhar.
E era a moça mais bela da cidade...
Pelejando, pelejando voltou a trabalhar e a estudar.
Comigo e com a Lena.
Depois, Dracena. Faculdade Tarso Dutra
Todas as sextas feiras Pedagogia.
Perua Kombi desconfortável.
Caravana de seis Kombis da cidade.
Lotadas de Professores e Diretores.
Em busca de mais conhecimento.
Aulas das 13.30 às 23 horas.
Estrada de terra, 90 quilômetros.
Retorno às duas da manhã.
Todos moídos, moídos.
E ainda as tarefas escolares difíceis em casa.
Estatística do Bereta.
Complicada pra burro.
 Gráficos de colunas e de barras.
 Papel milimetrado.
Gráficos em vegetal...
E a Lena grávida da Lílian.
E fiz o seu trabalho de gráficos para o Bereta perdoar as ausências.
E as refeições no Gato que ri.
E uma discussão entre a Mafalda e a Lena.
Por causa de umas batatas fritas...
Que nos fizeram dar boas gargalhadas por anos a fio.
Depois o reencontro profissional no Ebe Aurora.
Que alegria poder voltar a conviver de novo.
E a ligação mais e mais forte.
Mais crianças em nossas vidas.
Logo depois, o Gerson partiu.
 Lena com quatro filhos pequenos...
E a Mafalda, cirurgia pós cirurgia...
Dificuldades para andar...
Pelejando, pelejando.
Próteses...
Mafalda sempre tão criativa fazendo coisas lindas.
Bordados, vestidos, quadros...
Pintura a óleo.
Sem nenhum estudo como conseguia copiar ?
Paisagens, jardins...
A coleção de palhaços...
A coleção de palhaços!
E a Lena lutando para criar os pimpolhos...
Tudo tão difícil!
 Mas a amizade não acabou.
Anos de peleja alquebraram a Lena.
Cigarro que era  sua fuga a envenenou de vez.
Hospitalizada.
Os filhos se revezando, sempre.
E nós aqui orando.
Mas, ela partiu.
Tão forte, tão determinada, tão valente.
Vencida por um vício.
... Uma tarde eu ao piano arranhando as valsas.
E ela dançando com o genro João.
Momento sublime!
Inesquecível!
Porque mesmo precisando de tubos de oxigênio,
        Estava feliz, feliz.
Lena... Lena... Lena.
Um AVC parou a Mafalda.
Tão linda, caprichosa e elegante.
Acamada.
Da cama para a cadeira de rodas...
No começo se empenhou muito.
Passei mil momentos tomando café com ela e com o Guedes.
Café espresso do Guedes...
Sempre contente por me ver.
Quando o parceiro Guedes desistiu,
Ela também desistiu.
Ainda bela, elegante e fina.
A palavra que a definia era Classe.
Ela gostava de coisas bonitas, finas e perfeitas.
Apreciava uma camisa bem passada...
Amava a elegância dos gestos,
A finesse dos amigos gentis.
E era amada por todos que a serviam.
Pedreiros, domésticas, fornecedores...
Compadres, vizinhos, cirandeiros...
Mas, hoje foi o seu funeral.
E estou me sentindo tão só.
 Como uma boneca esquecida num canto.
Elas entraram em minha vida.
Enriqueceram-na.
Mas, um grande vazio ficou...
Lena... Mafalda...
Mafalda... Lena...
Mirandópolis, novembro de 2019.
kimie oku in





quinta-feira, 28 de novembro de 2019


        Lula livre!
    
     O sonho dos seguidores aconteceu.
O homem está livre.
Eles pensavam que seria um grande acontecimento, que iria comover a Nação inteira, e deflagrar uma bela campanha em nome da inocência do injustiçado.
Mas, isso não aconteceu.
Por onde andou com a sua comitiva foi mal recebido, aos gritos de Lula ladrão, seu lugar é na prisão...  A direita orquestrando isso?  Não. É um movimento repentino, espontâneo, que ocorre até em lugares fechados... Nas ruas, nos restaurantes, onde quer que vá está sendo rejeitado. E cada vez mais, os seguidores estão sumindo. Ninguém gosta de bilhete vencido...
Enquanto estava preso, ele era a esperança dos petistas, um injustiçado, um inocente que fora preso, um preso político... E aí, todo mundo gritava: Lula livre!
E por vias não ortodoxas, ele foi liberado. E todo mundo pensou: Agora sim, o homem está livre! Vai comandar a contra mão, vai levantar a Nação contra o Governo que aí está. Governo, aliás que tem me causado muita apreensão ultimamente, confesso.
E agora, José?
O que fazer da liberdade?
Cadê a força, a união, as provas de inocência?
Por quê os seguidores estão debandando? Não estavam prontos para o confronto?
Lula livre foi apenas uma ilusão.  O que será que ele está tramando?  Será que ainda tem gente grudada nele para tirar algumas vantagens? Sim, porque o pessoal da Mídia só queria IBOPE, nada mais...  Até o americano que contra espionou nossas autoridades. Ele só queria: Luzes, Câmera, Ação!” E já caiu no ostracismo, que eu nem lembro mais seu nome.
Lula livre era um sonho, uma esperança para aqueles que vivem na ilusão de realizar tudo que querem sem punições. Roubar celulares, roubar o dinheiro público, que ele próprio apregoou. Ajudar países em decadência pra mostrar ao mundo que somos poderosos e ricos!
Mas, tudo isso reverteu contra os próprios seguidores.  A ajuda humanitária aos vizinhos acabou com as verbas de nossos Hospitais, e o povo brasileiro formou filas nos corredores, para morrer sem assistência. As Escolas pararam no tempo e no espaço, sem nenhuma melhoria. A Segurança pública deixou de existir, a ponto dos cidadãos honrados viverem hoje trancafiados em casas que mais parecem presídios... Mesmo assim, ainda tem gente que acredita no Lula.
Lula Livre!
Livre de quê?
Seria ótimo se ficasse livre dos crimes, das roubalheiras comprovadas, das máfias com as quais se associou. Lula livre de pecados... Comprovada sua inocência, eu também o defenderia... Mas, parece que não tem como. É muita maracutaia, que enredou tanta gente supostamente séria do país...
E se não tivesse ocorrido a morte inesperada do apresentador Gugu, a onda de Lula inocente ia continuar por muito tempo. O azar dele é que justo agora morreu uma pessoa de bem, querido por todos, que passou a vida a ajudar os outros. A Mídia esqueceu-se de Lula e está concentrada no Gugu, porque sua morte realmente comoveu a Nação. Gugu dá IBOPE, por mérito próprio.
Gugu viveu pouco, mas fez de sua trajetória um exemplo de caminho a seguir. Mesmo depois de falecido, sua vida ainda vai salvar uma porção de gente.
E o Lula?
Lula livre?
Às vezes, a liberdade chega a pesar.
Mirandópolis, novembro de 2019.
kimie oku in





sexta-feira, 22 de novembro de 2019


               Prazo de validade

Ultimamente, tenho sentido que os anos estão pesando no corpo. Não aguento carregar pesos, mesmo comprinhas à toa, que muitas lojas fazem a gentileza de entregar em casa. E se fosse só isso, tudo bem. Mas, a coordenação motora não está boa e derrubo coisas facilmente, corto os dedos, tropeço facilmente...
Há um tempinho que estou me observando. E notei que trombo com portas, paredes e pessoas facilmente... Tropico também no próprio chão liso da casa... Será Alzheimer? Será Parkinson? Será demência? Dona Kimie, a coisa vai mal.
Não consigo caminhar em linha retinha nas ruas, ando como bêbada... E as pernas logo ficam cansadas, mesmo com calçados bem confortáveis... E manter o corpo ereto é difícil, ele vai tombando pra frente, mesmo com o firme propósito de andar elegantemente.
Mas cuido do corpo, faço alongamento todos os dias, caminho todas as noites, físio duas vezes por semana... Assim mesmo, lutando todos os dias, o físico da gente tem prazo de validade, e nada vai impedir de chegar ao fim.
Entretanto, ainda faço bordados, crochê, costuro à mão, escrevo, toco piano. Então a coordenação motora fina está indo muito bem, obrigada. Então, por quê as pernas  perderam a agilidade? Por quê os braços não sustentam pesos e não têm a flexibilidade antiga?
Sete décadas bem vividas não são pouca coisa, ainda mais me aproximando das oito. Já carreguei muito peso, já corri, já pulei, já andei quilômetros, já trabalhei aceleradamente... Hoje já não faço mais.
Felizmente, ainda consigo preparar as refeições, manter limpa a casa, lavar roupas, fazer compras, dirigir carro. Mas, tudo em câmara lenta, porque me canso à toa e se me apressar corto os dedos, derrubo os copos, quebro pratos, derramo água... E procuro ruas de menor tráfego para evitar colisões, e jamais tento estacionar em espaços limitados, porque sou barbeira de fato. Minha visão periférica...
Mesmo assim, consigo cuidar de mim mesma sem a ajuda de outrem, e procuro sempre caprichar na higiene, pois gente velha já não é bonita por natureza. E suja não dá para encarar, né?
E eu percebo que os idosos da Ciranda sempre capricham no visual quando há encontros. Cuidam dos cabelos, vestem roupas mais alegres e usam calçados bem confortáveis. Nesse aspecto, a Ciranda provoca um ânimo, porque ninguém quer comparecer mal ajambrado e sujo. Todos, todos vão cheirosos, com um sorrisão estampado e vontade de abraçar todo mundo. Até os homens sempre capricham no visual. Isso é bem animador.
Fico encantada de constatar que tem gente beirando os noventa anos que canta, que ri, que dança e não tem preguiça para fazer um pão caseiro como a dona Fermina, para o nosso lanche. Como a dona Rosinha que encara qualquer saída de casa, porque não gosta de ficar sozinha... Com mais de noventa aninhos... Como o Zeferino que mesmo com noventa e uns anos toca violão para animar os cirandeiros... Eu fico cansada só de vê-los atuando.
Estou velha de fato. Taí, a triste conclusão sobre mim mesma.
Nada impede a ação do tempo, os estragos dos anos...
Aceitar o inexorável é  muito difícil!
Fazer o quê?
Mirandópolis, novembro de 2019.
kimie oku in




segunda-feira, 18 de novembro de 2019


                              
                      Akemi



    Há mais de ano que a perdi.
     E nunca consegui escrever sobre ela. Quando tento, algo me trava e paro...
     Minha irmãzinha!
    Foi linda desde criança. Um dia, voltou correndo da Escola Edgar, gritando que um homem queria, a todo custo dar-lhe um doce.  Assustada, correu direto para casa. Foi então que, eu  com apenas dezessete anos descobri os perigos que rondam crianças nas ruas. Ela tinha apenas sete anos... Disse-lhe pra nunca andar sozinha e que devia voltar com as coleguinhas... De alguma forma, fui um pouco sua protetora, meio mãe porque a nossa morava no sítio em Lavínia. E nós em Mirandópolis, para estudar.
Akemi  conseguia conquistar amigos facilmente. Era simples e animada. Foi muito bem na Escola, gostava de estudar, de reunir amigas para fazer as tarefas, de participar dos festejos escolares. Mas desde cedo, queria ganhar o seu  dinheirinho. Foi trabalhar no Bazar dos Murakami, na Livraria do Jota...
Seguindo minhas pegadas, formou-se Professora. E trabalhou comigo um tempo em Amandaba. Depois, Sesi de Valparaíso com a amiga  para sempre Zezé do Almir... Terminou no Sesi de Mirandópolis...
Ela tinha uma força de vontade inabalável. Quando decidia fazer algo que valesse a pena, não descansava enquanto não conseguisse chegar lá. Isso ela herdou de nossa mãe...
Eu me lembro que, um dia em Amandaba resolveu fazer uma Feira de Ciências! A Escola era tão pobre, que achei que não ia virar nada. Tinha só dezoito anos... Era apenas uma Professora substituta dos alunos do quarto ano – dez, doze anos de idade.  E, os meninos de sítio muito empolgados, trouxeram tantas frutas e sementes silvestres e legumes para expor. E do reino animal trouxeram diferentes penas, ninhos e ovos.  De passarinhos, de galinha de Angola, de pata... Ovos verdes, azuis, amarelos... E tinha um ovo branco, pequenininho e molinho. Ela o pegou e perguntou ao garoto: O que é isso? E ele: De calango! Mas como conseguiu? Eu apertei a bichinha e ela botou! Ela morreu? Não! Saiu correndo! 
A Feira foi um sucesso!!!
Era tudo muito divertido! Todo mundo gostava de participar. De corpo e alma! Ir para o Grupo Escolar de Amandaba sempre era uma aventura. Havia tanta molecada, todos muito pobres e arteiros! Mas completamente  inocentes  e felizes.
Quando ela saia de Amandaba ao meio dia, tinha que ir a Valparaíso, onde lecionava no Sesi. Era muito corrido. A  Marechal Rondon era de pista única e eu era bem barbeira. Mas tinha que levá-la, porque não havia ônibus nesse horário. Mesmo que houvesse não daria tempo. Uma hora só para vencer cinquenta quilômetros! (6 km de Amandaba + 9 de via de acesso e mais  38  até Valparaíso).E a Zezé confiava em nós e segurava o relógio do Ponto! Apenas dois, três minutos... Nunca vou esquecer isso! Quantas  e quantas vezes ela fez essa gentileza. Amiga para sempre!  Maria José Ermini Rodrigues.
Akemi amava estar com gente. Com crianças, com professores, com as mães das crianças. Era querida por todos. Conquistava amizades com a sua simplicidade. Quando se casou e foi morar na Chácara dos Ikejiri, seu esposo Michan pediu para parar de trabalhar. Foi um período triste. Ela perdeu todo o entusiasmo e vontade de fazer as coisas... Um dia, fui vê-la, Estava feia, relaxada e triste. Dei-lhe uma grande bronca, disse que era hora de  voltar a trabalhar, que assim do jeito que estava, sua vida ia acabar. Ela chorou, Disse que ia resolver a sua vida. E logo voltou ao trabalho. E nunca mais parou.
E enfrentou todos os desafios, com três crianças nascendo uma perto de outra, e vindo para a cidade dar aulas no Sesi local, onde conquistou a admiração de seus superiores que a nomearam Coordenadora e depois Diretora da Escola. No Sesi, junto com o inesquecível e saudoso Professor Rizzo  promoveu festas e campanhas, para arrecadação de recursos, Desfiles de moda pra ninguém botar defeito. Foi um tempo de muito trabalho, de muita campanha, de muita caminhada de porta em porta, porque a escola ia ser extinta. Fechar? Jamais! Com um grupo de Professores, ela liderou um movimento para manter a Escola, que oferecia um ensino de boa qualidade. Apesar das ordens superiores de ir fechando as séries iniciais, elas conseguiram segurar a Escola por mais um ano, por mais outro ano... Não foi fácil.  A Prefeitura cortou os subsídios prometidos e ignorou a situação dos alunos e familiares... Ela ficou falando sozinha... Os políticos da cidade nem se preocuparam...
Mas a Akemi não se deu por vencida. Arregaçou as mangas e partiu para a luta! Pediu audiências aos manda chuvas do Sesi, aos políticos, ao Skaf fundador do Serviço Social da Indústria e Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, na época. Foi ao Superintendente do Sesi, indo  inúmeras vezes a São Paulo, por conta e risco próprios e conseguiu a autorização para não fechar a Escola. Tanto insistiu que conseguiu a manutenção da Escola! E não só isso! Conseguiu a construção de um prédio ultra moderno para a Escola, que até então funcionava em velhos prédios da Prefeitura, sem conforto nenhum. E nessa época, ela batalhou sozinha porque seu esposo o Michan que fora Prefeito da cidade já havia falecido...  Os três filhos estudando, os mais velhos cursando Universidades... Justiça seja feita, os familiares lhe deram a maior força, especialmente os cunhados da família Ikejiri. Ela por sua vez, não saiu da Chácara, cuidando dos sogros já idosos que a amaram muito, como a uma filha.
Politicamente, Akemi foi Vereadora duas vezes, a última interrompida quando ficou doente. Foi a Presidente da Promoção Social, quando o esposo foi Prefeito, e sua passagem foi marcada pela atenção aos mais carentes, aos mais desafortunados.
Ela trabalhava muito, suas refeições eram sempre apressadas de pé, porque não tinha tempo. A batian sua sogra vivia brigando por causa disso, lhe dizendo: Ao menos na hora de comer, você precisa sentar! Volta e meia ligava para mim: Oi, Kimie! Tem comida aí? E vinha comer aqui, porque não havia tempo para ir até a chácara...
Ela participou da negociação do terreno da nova Escola e viu as paredes serem levantadas.
Mas, de repente, ela ficou doente.
Por longos cinco anos, esteve acamada e internada em Hospitais de São Paulo. E sempre pedia para voltar para casa. Por certo queria ver a nova Escola.  Ela esteve de volta duas vezes, mas suas condições não lhe permitiram realizar esse sonho.
Veio a falecer em 2018. Sua via sacra foi longa, mas rodeada de carinho dos familiares, especialmente dos filhos, noras, sogros, cunhados e irmãos... Só veio a conviver com um dos seis netos. E ainda temos que agradecer a Deus, porque ela não teve dores... Eu me lembro que o amigo Gabriel Carbello veio até em casa só para perguntar se ela tinha dores. Quando lhe disse que não, ficou aliviado e disse: “Agradeça a Deus, porque é muito duro ver um familiar gemendo de dor, e não poder fazer nada”. Ele havia perdido um irmão nessas tristes condições...
São tantas lembranças tocantes e dolorosas...
Amigos e ex alunos e seus familiares que tanto oraram para que se recuperasse. Mas o destino já estava selado.
Nunca mais voltaria. Não conheceria a Escola de seus sonhos... Não participaria de sua inauguração. Uma Escola que não tem igual na cidade. Onde os alunos têm atendimento diversificado, com tempo integral de estudos e refeições orientadas por Nutricionistas... Eu pessoalmente gostaria que ela tivesse atuado lá, mesmo que fosse por um breve período. Seria a coroação de seus mais caros desejos.
Mas, Deus não quis. E ela partiu...
Uma lembrança porém me consola todas as vezes que penso nela. Numa das vezes que doente, retornou à sua casa, conversamos muito e cantamos as cantigas de infância, que nos fez voltar no tempo... “Atirei um pau no gato to to... Terezinha de Jesus...O cravo brigou com a rosa... Meu limão, meu limoeiro... Se esta rua fosse minha...”  E terminamos essa confabulação íntima rezando o Pai Nosso e a Ave  Maria... Foi a nossa despedida.
Hoje penso que seu tempo era limitado, por isso fazia tudo na correria, sem pensar em si, em sua saúde, em seu bem estar. Mas cumpriu direitinho sua missão. Por isso me orgulho por ter tido essa irmãzinha valente e decidida.
Akemi, um dia cantaremos de novo.
E assim, hoje estou me curando do trauma de sua partida.       Obrigada, irmã querida.



Mirandópolis, novembro de 2019.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/

       

domingo, 10 de novembro de 2019


             O aniversário da Dimar

      Conheci a Dimar na Escola Ebe Aurora lá pelos anos oitenta. E trabalhamos muito para ajudar as crianças do Bairro, que era o mais pobre da cidade. Havia crianças demais, filhos de trabalhadores rurais, que pelejavam bastante para sustentar suas famílias... Vida dura de combate diário, para conseguir uma casa e alimentar a prole.
O Diretor era o saudoso Professor Aristides Florindo, que procurava proporcionar condições boas de trabalho, na medida do possível. O Estado não enxergava a Educação como prioridade, os recursos eram mínimos e tudo tinha que ser economizado. A Merenda era pobre, uma paçoca, um leite em pó cheio de bichinhos, que o Diretor mandou enterrar na horta atrás da Escola, mesmo a Primeira Dama dizendo para usá-lo após peneirar o leite! Eu me sinto mal quando me lembro disso, até agora... Seu Aristides pensava na saúde das crianças.
Em 1976 foram instaladas as séries finais do Primeiro Grau em todas as Escolas do Estado. Sem estrutura, sem verbas, a clientela dobrou com a chegada dos alunos de 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries. Só foram aumentadas salas de aula, mas as demais dependências continuaram sem alteração. Banheiros, cozinha, pátio, tudo era limitado. Mas sobrevivemos. A parte boa foi a chegada dos Professores especializados em Português, Matemática, História, Geografia, Ciências Físicas e Biológicas, Inglês, Educação Física... Professores de qualidade excepcional passaram a ser parte do corpo docente que primava pela qualidade, e a convivência foi de respeito e colaboração. Gabriel Carbello, Mary Áurea, Nelsia Fava, Santo Crevelaro Neto, Augusto Monma, Nelson Noda, Hamilton Rodrigues... Mais tarde, Dirce Tonello, Vilma Moura, Chiquito, Odete Fava...
A Dimar sempre se queixou da omissão do Governo em relação ao trabalho dos Professores. Sim, porque o trabalho era árduo e os salários minguados demais. Salas lotadas de molecada, que sempre passavam de trinta alunos, que não tinham material suficiente para estudar. A Caixa Escolar não dava conta de atender a todos e, os Professores tiravam de seu bolso para servi-los. Volta e meia, era preciso fazer campanhas para arrecadar recursos...
Nessa época, nós todos tínhamos nossos filhos para cuidar, uma família e a vida não era fácil. Sem celulares, salário minguado, sem auxiliares para cuidar dos pequenos em casa, a maioria sem carro... E assim, participamos das Greves por Melhores Salários, que só nos desgastaram até o fundo da alma, porque os aumentos eram apenas esmolas. E até hoje nada mudou! Hoje os Diretores dos Presídios, são tratados com residências especiais do Estado, comida farta e de qualidade, conforto que a maioria dos Professores não tem. Os professores estão relegados a segundo plano e ninguém se lembra que toda a sociedade precisa deles.
E nessa via sacra, a Dimar sobreviveu cuidando dos filhos e do esposo, sem nunca pensar em si mesma. E muito magoada pela indiferença dos Governantes, que nunca, nunca valorizaram o nosso trabalho. Mais tarde aposentada, perdeu a Dani, única filha que era a razão primeira do seu combate de todos os dias. E nunca mais se recuperou. E com a idade, vieram os achaques próprios de quem muito se esforçou e nunca se poupou. Hoje, com o corpo em frangalhos luta para sobreviver. Participou um tempo do Grupo Ciranda, que proporciona um pouco de alegria a pessoas muito solitárias...  Porém, as condições físicas...
Mas ontem, os filhos resolveram prestar uma homenagem a essa mulher valente, que nunca comemorou seu aniversário! Nunca! Oitenta anos! O Fábio seu filho convidou colegas de trabalho do tempo da Escola Ebe Aurora, familiares e amigos.
Foi uma festa comovente, e percebi que ela se emocionou muito. De repente, se sentir rodeada de tanto carinho de familiares e amigos deve ter sido um bálsamo, para sua alma ferida. Fiquei feliz de estar lá. E conseguimos reunir sete Professoras da Escola Ebe, momento único!
Nem tudo é decepção e tristeza.
Os governantes passam. Mas as famílias permanecem.
E as famílias têm o poder de curar tudo.
Que Deus abençoe a Dimar e sua família, com um tempo de boa paz e alegria.
Saúde, saúde, saúde Professora Dimar Martin Menegazzi!
Nós te amamos!
Mrandópolis, 10 de novembro de 2019.
kimie oku in



segunda-feira, 4 de novembro de 2019


               Gratidão
      O calor insuportável me fez pensar no inventor do Condicionador de ar. Fui pesquisar e descobri que foi o Engenheiro norte-americano Willis Carrier de Buffalo, que em 1902 inventou o primeiro condicionador de ar. Não tinha a função de refrescar as pessoas, o objetivo era climatizar o ambiente para resolver problemas de uma empresa, onde trabalhava.
      De lá pra cá, muitas inovações foram feitas, e esse aparelho que é imprescindível nos verões atuais popularizou-se largamente. Mais ainda pelo aquecimento global, que está derretendo as calotas polares e ninguém sabe o que será deste planeta daqui a uns cinquenta anos ou menos. A terra vai morrer como Marte???
       O meu propósito hoje é apenas agradecer. Agradecer às mentes brilhantes que inventaram máquinas e parafernálias para nos proporcionar conforto.
      Agradecer ao inventor da Lavadora de roupas. Sou da época que a gente tirava a sujeira com sabão de soda esfregando o tecido com as mãos, que acabavam feridas e comidas pela soda...
      Agradecer ao inventor da canalização de água. Quando adolescente tirei muita água do poço, e sei que isso não é brincadeira. Um dia, puxando um balde d’água, soltei o sarilho, que bateu na minha cabeça e fez um estrago! Desmaiei e sangrei muito (Acho que isso deve ter afetado meus neurônios!). Hoje você abre a torneira e o milagre acontece.
Agradecer ao inventor do chuveiro, que o banho está disponível 24 horas por dia. E também ao criador do vaso sanitário. Já imaginou os banheiros sem eles? Já imaginou???
Agradecer ao inventor da máquina de costura. Sem ela, teríamos que fazer as roupas todas à mão. E custariam muito, muito caras... Sobre a máquina de costura vi num filme que a primeira máquina de costura que chegou ao Japão, foi um presente americano à esposa do último Xogum. Foi entregue como “Machine”, mas os japoneses não conseguiam pronunciar direito a palavra e começaram a falar “Mishin” e mishin ficou. Mishin em japonês significa máquina de costura.
Agradecer ao inventor das agulhas de costura, de crochê, tricô, de bordados, de costura.  E também as seringas para injetar remédios com agulhas, que dão aquelas picadas dolorosas, mas que salvam!
Agradecer ao inventor dos motorizados, que nos transportam daqui pra aí, dali pra cá num instante... Se bem que do jeito que essas máquinas estão se multiplicando logo, logo, as cidades ficarão travadas e todo mundo vai acabar abandonando-as.
Agradecer ao inventor do papel higiênico, do livro, da fita crepe, dos cadernos, do papel de parede... Quanta coisa útil e necessária!
Agradecer ao inventor do computador que me permite escrever essas bobagens. E agradecer ao inventor da Internet, que permite acesso aos meus blogs por desconhecidos do mundo inteiro. Até da Malásia!
Mas hoje, minha gratidão especial é para o inventor do Ar condicionado.
Muito obrigada, Willis Carrier.
Sem esses climatizadores já estaria morta!
Mirandópolis, novembro de 2019.
kimieoku in