domingo, 9 de junho de 2024

 

Ebe Aurora

Este nome de uma professora  que conheci, fez parte de muita gente daqui.

Era uma escola com centenas de alunos da periferia.

Filhos de trabalhadores rurais, de empregados do Comércio, funcionários da Prefeitura.

A maioria era bem carente e todos lutavam para sobreviver.

Mas a Escola fez uma grande diferença.

O Diretor senhor Aristides Florindo era enérgico  mas bondoso. Acolhia a todos com muito respeito.

O corpo docente foi de uma qualidade ímpar.

Professores como Gabriel Tarcizzo Carbello, Vilma Moura, Hamilton Rodrigues, Mary Aurea Rodrigues, Nelsia Fava, Santo Crevelaro Neto, Leonor Filipini Rezeke,  Neide Bini Doria, Iná Junqueira Franco, Fumiko Kawamoto, Eloisa  Miranda, Odete Fava,  Nelson Noda, Augusto Monma, Joaquim Ortega  Chiquito, Adele Assad, Luís  Lopes Gomes, Erna Sailer, Yoshimi Miyamoto, Dimar  Martin Menegazzi, Maria Aparecida Ortega Sanches. Flora Forte, Silvia Bonadio Camacho, Mafalda Alves Veronez, Ercilia  Seles, Marli Terezinha D'aquila Olian e tantos outros que esqueci...

Cada um desses  abnegados  mestres deu a alma para elevar o nível  de conhecimento de crianças e jovens que lá  estudaram, e hoje atuam na cidade como honrados cidadãos trabalhadores.

Além  do seu Aristides, a Escola contou com a valiosa ajuda do Professor Yussuf Hsain Alaby, que sabia como ninguém  orientar professores e alunos.

Com a conjunção de esforços da  Direção, do corpo docente e de funcionários  como  Arminda  Assunção da Costa, Isabel de Lima Correa e outros, a Escola conquistou um lugar de respeito na sociedade.

Era uma Escola pobre, simples, sem maiores problemas. E durante décadas encaminhou jovens que se tornaram  comerciários, funcionários  públicos, professores e outras funções  indispensáveis  à  sociedade.

A Escola cumpriu o seu papel. E centenas e centenas de cidadãos  mirandopolenses são participantes ativos da sociedade por terem lá estudado.

Infelizmente, esta história não termina bem.

Não sei quem deu a ordem para desmontar a escola.

Está totalmente descoberta e aos poucos acabará  em ruinas.

É muito triste  constatar que os mandatários não  valorizem o que realmente importa.

Pelo andar dessa carruagem, acredito que os bons costumes, os valores reais, a educação e a cultura acabarão se dissolvendo na mesma velocidade da destruição  de escolas.

E para que ninguém esqueça que um dia houve  uma escola, que cumpriu seu papel de encaminhar bem todos os que lá  passaram, fiz esse requiem  para a posteridade.

Ebe Aurora, escola onde atuei e fui feliz.

Mirandópolis, 08 de junho de 2024.

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Todas as reações:12Regina Rosado, Claudia Viana e 10 outras pessoas

segunda-feira, 6 de maio de 2024

 

Um lugar...

 

Estamos passando o nosso paraíso  para outros moradores.

Um lugar que desfrutamos  por mais de  quarenta anos.

Um ponto rústico  cheio de carrapicho, picao  e outras ervas daninhas.

Um pasto verde a se perder de vista, onde pastavam

preguiçosas vacas brancas.

Ali plantamos capim, milho, mangueiras, macadamia  e muitas outras frutíferas.  E aguardamos seu crescimento e produção.

E saboreamos tantas mangas doces como mel, lichia, macadamia e bananas. Tantas bananas... tinha sempre um cacho de vez.

E distribuímos  o excesso para vizinhos.

Fartura é  gratificante.

E a horta? Brigando e combatendo a teimosa tiririca, que sempre nos venceu.

Mas colhemos alface, cenoura, beterraba, brócolis, tomate  cereja de montao, por anos a fio.

Fiz tanto molho de tomate que durava meio ano.

E a água? Pura e saborosa, o poço nunca negou. Uma bênção!

E os passarinhos?

Bem te vis, jooes  de barro, canários  da terra, sabias, maritacas, periquitinhos, tucanos, araras, rolinhas, fogo apagou... todos numa sinfonia sem fim, mesclada com o zum zum das incansáveis abelhas polinizadoras

E as sauvas? Quanto lutei, quanto combati e o nunca venci. Lá  tem colônias sem fim com montanhas de ninhos subterrâneos.

E os serviçais  contratados? Tivemos apenas uma família  honrada que lá morou uns vinte  anos. E deixou saudades... Dinalva e Tonhao.

Os demais servidores foram só bagulho, gente que não gostava de trabalhar e só  queria usufruir. Não se fazem mais braçais como antigamente. Ninguém planta mais uma cebolinha. Preguiça demais!

Tudo isso  é  uma tristeza. Lei do menor esforço. A humanidade deteriorou-se.

Mesmo assim, conseguimos curtir o paraíso.  Respiramos aquele ar puríssimo sem igual, curtimos o céu azul onde singravam brancas nuvens e usufruímos  do sol que nos aquecia nas manhãs frias.

Tudo isso foi muito bom. Deus nos emprestou aquele cantinho para brincarmos  de gente do mato.

E soubemos usufruir de verdade.

Mas, agora é  hora de entregar  o bastão  para gente mais jovem.

Porque aquele chão nunca foi nosso. Só estava emprestado. Por Deus. E lá continuará   eternamente até o final dos tempos.

Que todos os futuros hóspedes  saibam amar tudo aquilo como nós  amamos.

E sejam abençoados.

Obrigada meu Deus!

Mirandópolis, 06 de maio de 2024.

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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

 

Brasil

 

Eu não  entendo mais nada.

Todos os noticiários anunciam que o país  vai bem, obrigado.

O governo prega aos quatro ventos que tudo está  certinho, maravilhoso.

Não há  inflação,

não há  desemprego...

O Congresso  quietinho, apoiando Lula em todas as decisões. 

O Supremo só

cutucando  adversários a respeito do ataque a Brasília, em janeiro de 2023.

Mas, tá  tudo parado...

Bancos vazios...

Ninguém

comprando...

Mercados ao Deus dará...

Dívidas  se acumulando...

O povo cabisbaixo, triste...

Ninguém feliz...

O que está  acontecendo de fato???

Será  que apenas eu estou vendo o reverso da medalha?

Brasil descendo a ladeira...

Mirandópolis, janeiro de 2024.

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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

 

Dinalva

Era uma mulher forte, criada no mato,

acostumada com as lidas da roça.

Sabia cultivar arroz,  feijão,

criar galinhas, 

criar porcos,

cultivar horta.

E foi aí que nos entendemos.

Ela cultivava alface, almeirão,

Eu cultivava beterraba, cenoura.

E depois aquele mundão de brócolis!

Brócolis que os pulgões não davam trégua.

A horta era o nosso ponto de encontro.

Que felicidade colher legumes fresquinhos.

E tomatinhos cereja...

que se transformavam em molho  tão saboroso.

E pimentões que teimavam em se derreter  ao sol...

E até bardana!

Foi uma fase tão bonita

de nossas vidas.

Todo mundo se alimentando bem

Ela aprendeu até a saborear brotos de bambu.

E ainda fazia crochê como eu.

Mulher forte, decidida.

Não sabia o que era preguiça.

Criou filhos e netos,

com a sabedoria de gente do campo,

valorizando cada fase da vida.

Ontem me apareceu num sonho.

Sorrindo, trazia uma tigela nas mãos,

como se estivesse voltando de uma festa comunitária.

Seguida de outras mulheres da família.

Cada uma com suas tigelas.

E se dirigiram para a casinha pobre do sítio.

Então, entendi.

Era uma mensagem dizendo que

foi muito feliz lá no meu sítio.

Dinalva foi cultivar verduras no céu.

Descanse em paz, minha amiga.

Mirandópolis, janeiro de 2024.

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domingo, 31 de dezembro de 2023

 

Rememorando...

Hoje tive um dia gratificante.

Meu irmão Minoru Osaki que tem 91 anos de idade, passou a tarde  contando fatos interessantíssimos sobre o nosso pai Jitsutaro Osaki.

Folheando o velho  Álbum da família, narrou as peripécias do nosso pai que veio do Japão, com apenas 13 anos de idade.

Ele viera agregado à família do primo Seichi  Kadoo, e carregou sempre com pesar, esse  sobrenome Kadoo.

De acordo com o filho Minoru, todo ano no fim da colheita de café, ele planejava ir ao Consulado do Japão em  São Paulo, para recuperar o sobrenome original Osaki.

Mas, com uma porção de filhos para sustentar, nunca teve dinheiro suficiente para tal viagem. Mesmo assim, conseguiu registrar todos os doze filhos como Osaki, filhos de Jitsutaro Osaki e Tora Tsutsumi.

Infelizmente, seu nome seria  Kadoo até morrer.

No Registro de Estrangeiros consta  Jitsutaro Kadoo, em nossos corações porém, será eternamente Osaki, nosso pai querido, que pelejou a vida toda  para cumprir sua missão de imigrante,que veio aqui para trabalhar e honrar o Japão.

Tanto fez  naqueles tempos bravios, que recebeu da Casa Imperial Japonesa uma Menção Honrosa e uma taça de saquê, juntamente com cem imigrantes japoneses/brasileiros  nas comemorações do Cinquentenário da Imigração Japonesa, em 1958.

Foi uma tarde memorável para mim, porque o irmão desfiou para todos parte da vida do papai, que já partiu há  mais de 60 anos.

E eu fiquei muito grata por ele ainda se lembrar desses fatos, estando no limiar da vida com mais de 90 anos.

Minoru san, arigatou gozaimashita!


Mirandópolis, 30 de dezembro de 2023.

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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

 

A dança

Ontem de manhã estava ventando muito.

E no espaço onde meu esposo faz fisioterapia, o vento balançava os galhos das  árvores.

Alguns galhos se dobravam e varriam o chão.

Folhas e flores de ipês rosa fustigadas pela ventania caiam umas após outras.

E de repente, percebi que o vento era vivo!

E ele brincava no chão rodopiando as folhas e as flores que iam caindo.

Aí empurrava  aquela porção de partes misturadas de plantas, pra lá e pra cá.

E de repente, formou uma coreografia!

Coreografia circular, que  começava com um monte de folhas, e  depois ia enfileirando-as como boizinhos num caminho .

Circular.

E ao fechar o círculo, tudo voltava para trás, circulando em sentido contrário. O vento era o maestro da orquestra.

Formava sem parar círculos que iam se fechando.

Depois se abriam em sentido inverso.

Era uma dança viva com folhas e flores que não queriam morrer...

Morrer assim dançando, dançando...

O vento e as plantas em perfeita sintonia.

Era lindo de se ver!

Mirandópolis, agosto de 2023.

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domingo, 20 de agosto de 2023

Imaginando...

 

O roto destruindo o amarrotado.

Porém, os pecados do roto são infinitamente maiores.

Isso é incontestável.

A Imprensa tem memória curta.

Acharam um imbróglio para se vingarem.

E eu acho que  é realmente um imbróglio feio , muito feio.

Ato antipatriota.

E eu também condeno esse ato.

Mas, por mais que condenemos, gritemos e proclamemos aos quatro ventos  toda essa sujeira,

Por mais que o noticiário repita mil vezes esse fato,

Mesmo que destruam o homem,

Nunca o roto ficará isento de seus pecados.

Jamais perderá a pecha de ladrão.

Mirandópolis, agosto de 2023.

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