sexta-feira, 24 de agosto de 2018


         Ulisses e Ulisses...
  
Desde criança, gostei muito de ler.
      Frequentei Bibliotecas das Escolas por onde andei, da Prefeitura local e de Lavínia, dos Shoppings que visitei, onde hoje há salas de leitura, e você pode ler gratuitamente o que quiser enquanto toma um café ou um sorvete... achei isso o supra sumo para os leitores, espaço confortável, leitura disponível gratuita enquanto espera as horas passarem...
      E por conta da leitura, entrei numa contenda divertida com um amigo que mora em Águas de Lindóia, que me fez pensar....
      Ora, esse amigo é um cidadão inteligente acima da média e se chama Ulisses. Ulisses como o herói do famoso livro de James Joyce. Confesso que um dia, peguei esse volumoso livro da Biblioteca local e tentei lê-lo. Tentei, não consegui... como não consegui ler Os sertões de Euclides da Cunha. Como não consegui ler Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre. E como não consegui ler Grandes Sertões: Veredas de João Guimarães Rosa... Esses quatro livros ficaram quais  espinhas me atazanando a ideia, porque não lhes sei o conteúdo, embora sejam livros importantíssimos da melhor Literatura Mundial.
      Logo que conheci, cismei com o Ulisses de carne e osso e perguntei se já lera o Ulisses de papel. E ele disse que tentou, desistiu e deu o livro a sua irmã, que é ligada às leituras... fiquei pasma! Não querer conhecer o herói homônimo do livro! Eu teria curiosidade, mesmo que isso me custasse noites e noites de leitura... Mas não conheço nenhum livro intitulado Kimie....
      Pois bem, na semana que passou, a irmã Nilene e eu desafiamos o nosso cidadão real que lesse sobre o fictício, para descobrir o que havia de comum entre os dois Ulisses...
      O cidadão treiteiro como ele só, impôs umas condições inviáveis a nós duas para ele aceitar o desafio... Ficamos decepcionadas porque queríamos de fato saber se, o nosso Ulisses tem algumas convergências com o Ulisses do Joyce... Perdemos tempo tentando convencê-lo. Foi irredutível. Alegou mil justificativas, que no final significavam que não está interessado em conhecer o seu xará... e que não perderia tempo com uma leitura que não lhe atraia nem um pouco.
      Em troca exigiu que a sua irmã fizesse regime alimentar ou exercícios físicos para reduzir seu peso. E a mim pediu que publicasse um livro. A Nilene até topou a parada, mas eu não. Publicar um livro? Nem pensar!
      A era digital foi a morte dos livros. Ninguém compra livros e muito menos os lê. Eu que tenho dezenas de amigos posso garantir que, conheço apenas meia dúzia deles que leem. Infelizmente. Os que amam a leitura são fieis e leem sempre, mas há entre os demais os que nunca, nunca leram um livro sequer. E se gabam disso!
      Então quem iria comprar um livro meu?
      A sugestão é que junte as minhas crônicas já publicadas no jornal “Hoje”, que parou de circular, e também publicadas no meu blogger e imprima um livro. Confesso que antigamente, tive esse sonho. Publicar um livro e ser lida por centenas de pessoas... Mas, ao longo dos anos, tenho visto gente publicando livros medíocres, e os empurrando aos amigos para pagar os custos de impressão... Certo cidadão queria que eu ficasse com uma dúzia de volumes da mesma obra. Obra sofrível, que parei de ler já na segunda página e joguei fora... Não compro livros só pela amizade. E os amigos leem minhas crônicas no blogger, que está chegando a cem mil visualizações.   
Outra questão séria é o custo de impressão. Se não for um best seller nunca pagará o investimento aplicado. E o pior é ver dezenas ou centenas de volumes de excelentes escritores e poetas encalhados nas prateleiras das livrarias e revistarias.
Por tudo isso, nem penso em publicar um livro.
 Mas, quanto à contenda, sobrou para nós Nilene Lacerda e eu lermos o Ulisses. Sei que vai ser difícil, porque o volume tem quase mil páginas!
Mas, decidi que ainda este ano vou lê-lo. Vou anotar tudo de interessante de cada capítulo, e escrever um Ensaio sobre James Joyce e sua obra. Com esse propósito, vou enfrentar essa empreitada.
Só queria ter mais tempo para concluir esse objetivo.
Porque no momento estou tentando traduzir “Snow Country” de Yasunari Kawabata e lendo “O apanhador no campo de centeio”
Mas, vamos lá agora com o Ulisses de Joyce!
Visse, Ulisses Silva Lacerda?
 Mirandópolis, agosto de 2018
kimie oku in


domingo, 5 de agosto de 2018


           A chuva chovendo!
      
        Depois de quatro longos meses de estiagem, ela chegou!
Ensaiou, uns pingos aqui e acolá, ameaçou derramar todo o conteúdo das nuvens escuras e foi embora, para a tristeza de todos os moradores da região... E todo mundo pedindo chuva, olhando o céu e contemplando desolado os campos secos, onde as vacas tristes focinhavam à procura de algo verde, que não mais existia...
      E o ar empoeirado, pesado, irrespirável... As narinas ardendo de secura, sedentas de umidade, exigindo vaporizadores nos ambientes.
      E notícias de chuvas na Capital, no litoral, e em outras regiões do Estado... E aqui, nada. E como sói acontecer “Será praga do padre Epifânio?” era a indagação que estava no ar. Padre Epifânio que era um Monsenhor foi o Pároco daqui, que mais obrou pela Matriz e pelos fiéis católicos. Durante décadas e décadas pregou a palavra de Cristo, mas como era muito rígido e inflexível desagradou a uns políticos locais, que acabaram desterrando-o para uma capelinha perdida, na beira da estrada de um vilarejo distante... E morreu longe da bela Igreja que mandou erigir aqui em Mirandópolis. Igreja onde ele gostaria que depositassem seus restos mortais, como confessara um dia... E até hoje não foi cumprido esse desejo.
      Então, não se sabe de onde nem como surgiu essa história, talvez de remorso coletivo, culpando o Padre pelas estiagens prolongadas daqui. Tenho certeza, porém que ele jamais desejaria isso para Mirandópolis, porque ele adotou esse cantinho do mundo como seu ninho, sua pátria. Monsenhor Epifânio Ibañez era espanhol de Valladolid.
      Mas voltando à chuva, amanhã o ar estará fresco, perfumado e transparente e as gripes e as tosses irão embora de vez. Não mais xaropes, não mais antitérmicos, não mais antigripais, não mais vaporizadores, não mais soro fisiológico para umedecer narinas. Dar um tempo para as farmácias...
      Os campos encharcados prepararão os brotinhos de capim para despontarem da terra, as hortas e os pomares respirarão aliviados depois desse banho caprichado que Deus mandou. E as roças não se perderão mais. Porque as roças de feijão e milho se perderam totalmente, onerando os pobres agricultores com grandes perdas.
      Os pecuaristas e os lavradores se encherão de esperanças para a nova etapa que se inicia. E todos agradecerão a bendita chuva que veio dar novo alento a suas vidas. Mesmo os comerciantes que nada vendiam ultimamente, ficarão contentes porque receberão os atrasados e novas vendas irão ocorrer, com certeza.
      Então que a chuva não vá embora, que ela permaneça por aqui regando os campos que foram duramente castigados, e garantindo a continuidade da vida dos animais e das plantas.
      Sem chuva, não há vida.
      Então, bendita seja!
      E obrigada, Deus!
      Mirandópolis, agosto de 2018.
      kimie oku in


sexta-feira, 3 de agosto de 2018


                        Saúvas...

       
       Sempre tive uma birra enorme de formigas.
     Esses bichinhos silenciosos que vão invadindo as casas, os armários, as paredes, os corredores sem a menor cerimônia.
      Tem praga pior que a formiguinha que vem no açucareiro? Infestou? Tem que jogar todo o açúcar, porque formiga come baratas... Antigamente, diziam que as formigas são um bem para os olhos, porque era sinal que a pessoa ainda as enxergava. Que ideia mais retrógrada! E as formigas que aparecem nos quartos de hospitais? Elas fazem uma romaria pelo prédio inteiro, carregando os germes de doenças terríveis! É assim que se dá a infecção hospitalar, passando os fluídos doentes de um paciente para outros... E o controle é muito difícil porque não há barreiras para elas...
      Em casa apareciam umas formigas grandes avermelhadas e percebi que gostavam dos tacos de madeira. Consegui erradicá-las com querosene. Mas elas moram no pé de sibipiruna lá na calçada. E não posso facilitar que elas voltam...
      Lá no sítio as formigas lava pés são um terror. Elas injetam um veneno na pele que me deixa louca de dor. E formam calombos que doem por horas e horas. As bichinhas são miúdas mas perigosíssimas. Nem botas, nem meias e nem roupas as impedem de atacar.
A formiga que mais combati até agora era a saúva. Por que? Porque quando minhas plantas estavam lindas, de noite sorrateiramente vieram as saúvas e as rapelaram completamente. De manhã eu vi o estrago! A paineira vermelha que cuidei com tanto capricho foi pelada totalmente pela bichinhas duas vezes!  A mesma paineira que ganhei do Moura e foi derrubada pelo vento duas vezes também! Mesmo assim, amarrei seu caule, combati as formigas e a salvei! E recentemente nos galhos desfolhados apareceram os botões das flores! No início timidamente, mas agora estão brotando por todo lado! Mal posso esperar pelas belas flores vermelhas!
Além disso, meu pé de manacá da Mata Atlântica que a Célia mandou através do Dinho estava lindo, cheio de folhas verdes quando elas vieram e o devastaram. Fiquei arrasada e maldisse as bichinhas... Continuei regando os galhos secos três vezes por semana, e agora ele está brotando novamente. Não vai morrer.
      Com tudo isso, pesquisei no Google a necessidade das formigas saúvas pelarem as folhas das plantas... Elas precisam das folhas para a forragem no formigueiro. As folhas colhidas produzem o fungo que é o seu alimento, e sem isso a colônia não sobreviverá. Sempre tive a ideia errônea de que elas consumiam as folhas...Então, minhas plantas tão lindas não passam de uma feira ou um supermercado, onde elas se abastecem... Mas, li também que as formigas ajudam a manter a saúde do nosso solo, drenando, revolvendo e arejando a terra com seus intermináveis túneis.
      E mais ainda, percebi que a colheita que as saúvas fazem nas minhas plantas, tornam-nas mais fortes e resistentes. Parece que é uma poda necessária para a planta se tornar adulta. Assim como as frustrações tornam o homem mais forte diante da vida.
      Antigamente se dizia “ Ou o Brasil acaba com a saúva, ou  a saúva acaba com o Brasil”. Era o slogan de vendedores de agrotóxicos que envenenaram o nosso solo.
      Hoje sei que as formigas são necessárias e devem ser preservadas. Agrotóxicos é que devem ser eliminados, porque além de envenenar o solo, destroem para sempre o ecossistema e tornarão impossível a vida na terra.
      Saúva, parceira de minha horta!
      Eu te respeito como um ser indispensável à saúde da Terra!
Mirandópolis, agosto de 2018.
kimie oku in