sábado, 10 de outubro de 2015

       Metamorfose
  

   Aninha é uma adolescente de 15 anos, plena de vida, cheia de curiosidade diante da natureza.
    Já se interessou por várias atividades, às quais se entregou de corpo e alma, para obter o máximo de realização. Aos poucos porém, foi descobrindo que, nem tudo é possível  fazer com perfeição, devido às limitações próprias de cada um.
    Ultimamente, tem se dedicado à fotografia.
    Tudo é motivo para registrar com a sua câmera,   especialmente  flores e bichinhos miúdos como  borboletas, beija-flores, joaninhas, louva a deuses, moscas, lagartas...  E outros, não tão miúdos como tatus, morcegos, bezerros, cachorros, cavalos......Nada escapa de sua inseparável câmera.
     Há uns dias atrás, ela viu uma lagarta amarelinha se enrodilhando para se tornar crisálida, ou hibernando para virar borboleta.
O interessante é que a lagarta se  fixa  num galho, numa folha ou mesmo num varal através de uns fios quase invisíveis, que ela própria fabrica e fica pendurada, aguardando a metamorfose.
Aquela estava pendurada na parede externa de um velho vaso, presa por dois fios muito finos.
Quando a garota descobriu o que estava acontecendo, ficou muito empolgada, porque queria conhecer toda a evolução da metamorfose.
E todos os dias, fascinada com as alterações de aparência, foi fotografando as mutações do bichinho. Cada dia era uma surpresa.
     Quando o corpo da futura borboleta estava quase formado, e a ansiedade da menina estava no auge, o vento e a chuva mais forte derrubaram-na e interromperam o processo.
Borboleta interrompida e imensa decepção da garota.
Seqüência perdida....
     Mas, haverá outras oportunidades para recomeçar tudo de novo... lagartas é que não faltam.
     Enquanto isso, sua mãe, que nunca morou no campo, descobriu de repente um pé de algodão, e ficou pasma ao constatar que o algodão hidrófilo, que é utilizado nos curativos é fruto seco de um arbusto, beneficiado para uso medicinal e para higiene corporal. Pensava que o mesmo era invenção do homem, e nunca um produto de origem vegetal. Ignorância de quem só viveu na cidade......
     E ao constatar que, a flor se abre amarelinha de manhã e, muda para rosa ao entardecer, foi tomada de encantamento. Encantamento, que foi aumentando ao conhecer a maçã, que se transforma numa cápsula com
os flocos de algodão dentro.
     E daí, ao saber como os catadores de algodão faziam a colheita, retirando os flocos e, ferindo os dedos nos espinhos dos capulhos, pensou que havia descoberto um mundo novo, que nunca havia imaginado.
     No estudo das ocorrências naturais do ecossistema,  há nos compêndios, uma parte que trata da metamorfose de alguns bichos, como  das lagartas em borboletas e  dos girinos em sapos.
     Entretanto, como é possível constatar, as plantas também se metamorfoseiam.  Dum caroço pequenino nasce uma planta, que dá frutos e desses frutos saem os chumaços de algodão, que são aproveitados para tecelagem e outros fins.  Assim acontece também com a seringueira que dá o látex, e com outras diversas plantas, que o homem aproveita para seu conforto e bem estar.
     E não são somente os bichos e as plantas que sofrem metamorfoses. O ser humano também se metamorfoseia. Quando nasce é um ser totalmente incompleto e dependente, e começa a se rastejar, depois vai engatinhando de quatro, até conseguir se firmar sobre as duas pernas, ficando ereto para caminhar sozinho, para se tornar autossuficiente, independente.
     Mas, a transformação maior ocorre na ideia, na inteligência. É uma transformação que não se percebe, porque ocorre internamente.
     Assim, enquanto Aninha está descobrindo o mundo e os inumeráveis mistérios, está ocorrendo uma transformação dentro dela. Aos poucos, vai percebendo a complexidade da vida animal, vegetal e mineral.
      E vai captando as diversas informações, que irão ao longo dos anos, formar o seu cabedal de conhecimentos e experiências da vida. Que farão parte de sua personalidade única.
 Enquanto a garota vai descobrindo as ocorrências corriqueiras do dia a dia, sua mãe ainda tem muito que aprender, muito que conhecer.
     E isso não se aprende nas escolas.
     E a metamorfose do ser humano não termina nunca. Sempre há algo novo para conhecer, para absorver.
    Porque o campo do conhecimento é infinito e complexo.
    Como cantava Raul Seixas:  
  “Prefiro ser essa metamorfose ambulante,
  do que ter aquela  velha opinião formada sobre tudo."
   Que sabedoria, hein?
   Porque mesmo quem já viveu mais de um século, não conhece nem a milionésima parte do conhecimento do mundo.
   E por mais sábio e estudioso que seja o cidadão, não consegue absorver tudo que gostaria de saber.
  Há um limite, porque ele é apenas humano.
  Na verdade, somos como as borboletas pairando por aí, tentando conseguir o melhor mel, tentando descobrir os meios de defesa para se viver bem.
  E totalmente alienados, ignorando a existência de outras formas de vida que, também lutam para sobreviver.
  Entretanto, como a vida é um grande mistério, nunca saberemos para que fim nós fomos criados.
  Conforta–nos pensar que, talvez a nossa metamorfose final, seja a mutação para anjos.
  Não é isso que a maioria das religiões prega?
   Que somos apenas espíritos?
     
   Mirandópolis, 12 de janeiinro de 2012.


 kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/                                                                            

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