A vida é um jogo!
Quando se chega ao limiar da vida,
nossa tendência é olhar para trás, e lembrar os bons momentos, os ruins e os
dolorosos...
As lembranças nos permitem reconstruir
cada passo dado, cada erro cometido, cada momento feliz que foi usufruído.
Mas, nada é mais doloroso do que constatar que a vida está indo
embora, que o nosso mandato aqui na terra está chegando ao fim, porque queríamos
viver mais. Acredito que todos sem exceção gostariam de viver mais um
bocadinho, mesmo que isso signifique mais uma dor, mais uma tristeza, mais um sofrimento.
Quantos doentes terminais se vão, pedindo mais um pouquinho de vida... É como
beber um saboroso vinho que nunca sacia a sede. Vinho que apetece mais e
mais...
Mas a morte é inexorável! Chegou o momento, não há adiamento.
Ela leva todos que estão na fila. E outros que nunca pensaram estar...
Então, como já vivi bastante, penso cada vez mais em minha
partida, em deixar esse mundo para conhecer outro, de que nunca ninguém deu
notícias... Será melhor? Pior? Haverá
paz? Dor? Reencontrarei os familiares
que me antecederam? Os amigos? Como é
estar num mundo sem o corpo físico? Como as interações ocorrem? Ou não ocorrem?
É assustador pensar nisso... E para não sofrer, nós nos refugiamos na Fé. E
deixamos tudo na conta de Deus.
Deus nos colocou nesta Terra. E nos fez indefesos, com apenas um
corpo físico. Para enfrentar os embates da vida. E colocou mil obstáculos para
conseguirmos superar. E nunca a vida foi fácil, suave. Sempre uma batalha dura,
uma indecisão, uma trapalhada, uma derrocada, uma retomada de posições, uma
avaliação e correção de erros cometidos.
Porque Deus nos colocou pra jogar!
Jogar o jogo da vida!
Com apenas um corpo indefeso e sem armas.
A única arma é a mente, o cérebro, a inteligência.
E ao longo dos descaminhos, nos perdendo em atalhos, viemos
perseguindo apenas um objetivo. Objetivo de ser feliz e correto. De realizar os
desejos, de cumprir a missão sem nos ferirmos.
Mas, quanta dor tivemos que enfrentar! Quantas mágoas provocamos
e recebemos! Quantas perdas
irreparáveis! Quanta tristeza povoou nossos corações em noites tristes e
infindáveis!
Todos os dias, uma batalha! E muitas vezes, ela nos surpreendeu
sem coragem, sem alento, sem vontade de lutar... Até com vontade de morrer! De
sumir!
Outras vezes, encaramos de frente as dificuldades e vencemos de
dez a zero todos os obstáculos. Mas isso aconteceu uma vez ou outra. Porque o
jogo da vida não é para os fracos. Ele requer coragem, muita coragem e
determinação.
Viver uma vida inteira com determinação, olhando sempre para
cima e para frente, quem consegue? Os tropeços ocorrem todos os dias, mesmo que
a caminhada seja cuidadosa e planejada. E quando os tombos acontecem... Todo o
alento se vai, um desânimo toma conta da alma, e parece que não há como retomar
a caminhada interrompida.
Mas, no dia seguinte o sol brilha de novo, outros desafios
aparecem e é preciso continuar a viver... Há urgências inadiáveis para se
resolver, e somos forçados a engolir as dores, as mágoas, o desespero. Trancar
tudo isso na alma e partir para novas batalhas. E assim vai, numa sequência
ininterrupta de combate em combate, ferindo-nos nos espinhos da vida,
endurecendo a pele e o coração para fazer frente a tantos embates.
Que jogo duro é viver!
Quando pensamos que conseguimos uma pequena vitória, percebemos
que um desafio maior se nos antepõe. E nos torna pequenos e vulneráveis...
Reunir coragem, alento e disposição é uma tarefa hercúlea, porque poucos podem
nos ajudar, e a maioria dos que nos cercam estão também combatendo os seus
duros combates...
Chegando ao limiar da vida, o que nos espera com toda a certeza
é a morte, e mesmo não querendo acabamos fazendo um retrospecto de tudo que
passou.
Será que vivi? Plenamente?
Será que cumpri minha missão?
Será que combati o bom combate?
Será que poderia ter sido diferente?
Será que valeu a pena ter passado por aqui?
O que deixarei de bom para o mundo?
Minha passagem por esse mundo fez alguma diferença?
Será que ganhei o jogo?
Perguntas e mais perguntas!
E a certeza de que poderia ter combatido mais, de ter empenhado
mais, de ter feito mais, de ter ajudado mais deixa um travo amargo na boca.
Mas, também somos humanos... Pobres humanos jogados nos espinheiros da vida sem
proteção, sem armas, sem muita coragem.
A humanidade se reveza há milhões de anos sobre essa Terra maltratada.
E gerações e gerações repetem os mesmos erros, as mesmas tragédias, tentando
tirar proveito do breve espaço de tempo que lhes foi concedido. Para
usufruírem, serem felizes e se destacarem...
Ninguém se dá conta que estamos aqui para jogar.
Jogar o difícil jogo da vida.
Mas, vamos continuar jogando.
Quem sabe ainda dá pra marcar um gol?
Mirandópolis, agosto de 2016.
kimie oku in
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