Carência...
Na última Cirandada percebi a importância das nossas reuniões.
Os idosos isolados por dois anos sentiram que a vida estava indo
embora... E muitos deles sofreram com a obrigação do confinamento.
Só de saber que não podiam sair, que deveriam permanecer em
casa, os levou ao desespero. Mesmo sabendo do vírus inimigo que rondava o
ar, ficar limitado aos quatro cantos da
moradia foi difícil demais.
Os idosos em sua maioria não têm vida social ativa. O máximo
que usufruem é de uma conversa com os
vizinhos, um abraço nos netos, um
contato rápido com os filhos, uma ida na quitanda onde encontram amigos...
E tudo isso foi proibido.
Foi como apagar a luz de suas vidas.
Tudo ficou nebuloso, incerto e triste.
Todos os idosos ficaram de castigo.
Para a gente jovem é menos traumático. Porque eles têm a vida
toda pela frente.
Mas, os idosos já estão no limiar da vida, ninguém garante o
porvir... E é aí que estava a ansiedade. Terminar a vida nessa agonia, sem uma
alegria, sem um contato, do quarto para a cozinha, da cozinha para a varanda.
Só espiando a vida que estava indo embora.
O ser humano é gregário, não gosta de ficar só.
Então na última Ciranda, a conversa, as confissões, a cantoria,
a dança libertaram os cirandeiros. E todos riram muito, soltaram a franga.
E na despedida:
"Quando será a próxima?"
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