Simplicidade
E
falando em bucha, me dei conta que a vida era tão simples.
Vivíamos
no campo, em contato direto com a terra, a água e o ar.
A terra era
generosa, não precisava de implementos para produzir o arroz, o feijão, as
frutas e as verduras. Só tínhamos que plantar e pedir a Deus que nos mandasse
chuva. E as colheitas eram fartas. Não tínhamos que ir a lugar algum para
comer. Tudo era retirado da terra. Ninguém precisava ir ao mercado para comprar
um litro de leite. E tudo era saudável. Eu me lembro que colhíamos tomates tão
grandes e saborosos. E os quiabeiros eram plantados entre as fileiras do
cafezal. Lembro com saudades das manhãs de sexta feira santa, em que papai e eu
íamos plantar alho no brejo. Por quê na sexta feira santa, nunca entendi. E
aproveitávamos para plantar também ervilhas, essas ervilhas tão caras nas
feiras. Não eram orelhas de padre, eram ervilhas mesmo, macias e deliciosas.
Lembro que todos os
vizinhos também tinham pomares como nós. Mangas, laranjas, limões e bananas que
consumíamos o ano todo. Lembro especialmente de um pé de limão galego, que
produzia limões amarelinhos e cheirosos. Era difícil catar as frutas, porque os
galhos eram cheios de espinhos. Nunca parou de produzir...
Lembro também da tuia, onde guardávamos
pendurados os cachos de banana maçã. Eram tantas bananas tão amarelinhas, que
não dávamos conta de consumi-las. Muitas eram dadas aos porcos...
Lembro com gratidão do poço, de
onde retirei centenas e centenas de baldes de água límpida e saborosa. O balde
era amarrado na ponta de uma corda, e a gente puxava para cima através de um
sarilho. Todas as crianças maiores tinham a obrigação de puxar água do poço.
Água para a cozinha, para lavar roupa, para os banhos. Era um dever de todos e
ninguém reclamava. E a água era usada com mais parcimônia, porque era duro “puxar água”.
Usávamos fogão a lenha, e
linguiças de porco ficavam dependuradas sobre o fogão para defumar. E queijo
havia com fartura, que mamãe fazia bolinhas fritas de queijo ralado...
Deliciosas.
A vida era rústica, no chão
mesmo. Andávamos descalços, e era uma delícia tomar banho de chuva... O cheiro
da terra molhada depois de um longo estio... Não havia luxo, duas ou três mudas
de roupa, um par de sapatos, que eram passados dos meninos mais velhos para os
menores.
Puxa! A vida era boa! Não era
complicada como hoje.
E éramos felizes sendo
completamente caipiras.
Uma semente de bucha me trouxe essas
maravilhosas lembranças. Lembranças que infelizmente as novas gerações nunca
experimentarão.
Mirandópolis, julho de 2022.
kimie oku
in
http://cronicasdekimie.blogspot.com
Quantas lembrancas.....co tinue a acha las nas pequenas coisas como uma semente de bucha. A gente agradece
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