Morte e vida Severina
Penso que todos que
leram essa obra de João Cabral de Mello Neto devem ter se emocionado
profundamente. É a história de todo nordestino sofrendo com a seca, com a falta
de chuva, com a fome, com a perda de filhos... Uma vida tão dura e seca como a
própria terra esturricada.
Mas, pensando bem, toda mulher é assim. Sofre
mesmo quando há chuva, mesmo que não falte comida, mesmo na estabilidade. Mulher/mãe tem a sina de sofrer pelos filhos
desde o dia em que os pare, até o último alento. Mesmo não sendo mãe, sendo
apenas uma irmã, uma tia, uma avó, uma madrasta sofre. Porque a mulher é
sensível e não gosta de ver ninguém entristecido. A dor do outro é também a sua
dor.
Vida Severina é o que toda mulher carrega
desde que nasce mulher. A mulher não se desliga, vigia noite e dia e ora dia e
noite pelos filhos, pelo esposo, pelos irmãos, pelos pais, pelos vizinhos...
Mesmo não querendo, inconscientemente carrega toda a dor do mundo. Deus lhe deu
um fardo pesado demais. E é por isso que essas vidas severinas adoecem,
combatem as dores bravamente, pelejam para viver, pra continuar a dura missão
de defender a prole, e tornar confortáveis seus caminhos...
Assistimos há pouco, uma vida tão bela
machucada pela missão severina. E de quem é a culpa? De ninguém. Porque está no
próprio sangue esse calor de abraçar o mundo, para defender das intempéries
todas as criaturas que ama... Então, o amor é a causa primeira dessa vida
Severina. Vida forjada na dor, na responsabilidade, na vontade de ajudar, de
participar. Mesmo à custa da própria vida, porque o amor é maior e não pode ser
contido. Amor Severino é abdicar-se da própria vontade para servir a outrem.
Para servir à família, aos amigos, à cidade, à Nação.
Regina Mustafa, que sua gloriosa vida
Severina sirva de guia para todos nós mirandoplenses.
Mirandópolis, 19 de outubro de 2022.
kimie oku
in
http://cronicasdekimie.blogspot.com
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