5. História de Mirandópolis
dos anos 40/50
Relato de Elídio
Ramires
CAPÍTULO V – Por que tenho saudades de Mirandópolis
No início
deste relato, afirmei que tenho muita saudade de Mirandópolis, porque foi onde
vivi parte de minha infância e minha adolescência, e onde moldei meu caráter de
adulto, convivendo com amigos fiéis e confiáveis e um povo trabalhador e
solidário.
Apesar dos tempos difíceis vividos pela minha
família na década de 40, os últimos dez ou doze anos em que vivi em Mirandópolis, foram de uma
juventude feliz e produtiva. E quando você se sente bem numa cidade , você sente por ela amor e desejo
de retribuir-lhe a hospitalidade, inserindo-se no contexto social de seus
habitantes que lutam pelo seu progresso, pela melhoria e crescimento de sua
cidade, que representa seu próprio crescimento.
Dentro desse
conceito, estive sempre presente na cidade durante os 18 anos que nela vivi,
participando de eventos e iniciativas sociais e institucionais e com ela
cresci.
Tudo começou logo que terminei o curso primário, e
fui trabalhar por arranjo de meu pai, como “ofice boy” no escritório de contabilidade
do Sr. João Borges de Almeida, nosso vizinho, que fazia a escrita da Padaria,
onde fiquei dois anos, sem deixar de ajudar, na medida do possível, os serviços
da padaria. Lá aprendi a escrever à máquina, a fazer a escrita fiscal, a lidar
com a papelada de abertura e fechamento
de firmas e até mesmo, os princípios básicos de contabilidade.
Com apenas treze anos de idade viajava sozinho,
freqüentemente, para Valparaíso, a serviço do escritório, uma vez que não sendo
Mirandópolis, ainda município, lá ficavam as repartições necessárias a
legalização e cumprimento das obrigações fiscais das firmas do distrito:
Prefeitura, Coletorias Estadual e Federal, Cartórios, etc. Viajava para
Valparaíso no trem das 9 horas da manhã almoçava em restaurante, fazia o
serviço programado junto às repartições e, voltava no trem das 9 hs. da noite.
Ganhava 20 cruzeiros por mês.
Após desligar-me do escritório, no início de 1945, com apenas 14 anos de idade , tive a ousadia
de trabalhar por conta própria, fazendo a legalização de abertura e a escrita fiscal
de duas pequenas firmas de pessoas amigas e da própria padaria.
Para mais aprender
sobre o assunto comprei pelo serviço de reembolso postal, livros sobre contabilidade
e l leis fiscais e os códigos em vigor no país, bem como livros de direito e
didáticos escolares: português, geografia, história geral, ciências, etc., que sempre me fascinaram. Meu sonho era ser um
dia, advogado.
Na época já lia o Diário de São Paulo, que o meu
irmão assinava e, que chegava à cidade no dia seguinte à circulação. Acompanhei por ele notícias da 2ª guerra
mundial até o seu final em19 45 e a deposição de Getúlio Vargas em outubro do mesmo ano. Lia também, as
revistas “O Cruzeiro”, a “Manchete” e a “Careta”, que comprava na banca de
jornal que existia dentro dos trens que vinham de São Paulo.
Em julho de 1946, com apenas 15 anos, fui convidado por Noryoshi Mizikami, conhecido pelo nome de Jonas, para trabalharcomo auxiliar
de escritório das indústrias de sua família, firma estava registrada em nome de
seu irmão Nobuo Mizikami, por ser brasileiro e estudante de engenharia em S.
Paulo. Indústrias, porque abrigava nos mesmos pavilhões, fábrica de carroças,
esquadrias, e móveis e oficina de ferragens.
Meu salário inicial era de 150 cruzeiros.
Fiz um curso de contador por correspondência
ministrado pelo Instituto Universal Brasileiro, e fui brindado com um vistoso diploma de “contador” aos 16 anos,
que infelizmente, não tinha qualquer valor jurídico. Valeu, porém, pelo
aprendizado.
Foi nesse período que lá trabalhei que, evoluindo na idade
e nos serviços que desenpenhava fui paralelamente, me inserindo no campo
intelectual, como autodidata, comprando livros de todo tipo e, inicialmente,
escrevendo crônicas e poesias, influenciado pelos mais famosos poetas
brasileiros: Castro Alves, Casemiro de
Abreu, Olavo Bilac, Alvarez de Azevedo, Fagundes Varela e outros cujos livros
comprei, inclusive o “Tratado de Versificação” e o Dicionário de Rimas, que
guardo até hoje.
À medida que progredia no meu desempenho no
trabalho de escritório, assumindo a responsabilidade de toda a escrita, fiscal
e contábil, inclusive fechando balanços anuais, para efeito do Imposto de
Renda, que eram assinados pelo Contador Ossamu Wada, amigo da família Mizikami,
uma vez que só me formei Técnico em Contabilidade, com registro no CRC em 1956.
Cuidava também da parte trabalhista da empresa que
contava na época, com quase 50 empregados, tendo como auxiliar apenas Suguetiro,
irmão do seu Jonas. Nas horas vagas,
ainda conseguia escrever crônicas e versos que publicava na revista “Cadência”
de Araçatuba, no Jornal “O Valparaíso”, “O Araçatuba” e em jornais de S. Paulo,
que mantinham seção literária. Minhas
crônicas eram lidas também por Décio Quírico as 6 horas, no serviço de alto-falantes Marajá.
Quando surgiu o jornal “O Mirandópolis” escrevi em 1948, um esboço sobre a história da
cidade, intitulado “Mirandópolis, sua origem e evolução”, que foi publicado em
capítulos pelo jornal. Embora meio surrealista, pois não dispunha de elementos
concisos sobre os fatos narrados, foi em parte, muito útil em alguns detalhes, tanto
que aproveitei no presente Relato.
Da fundação do jornal “A CIDADE”
Ainda
trabalhava como chefe do escritório das Indústrias Mizikami quando, logo após a
cessação de atividades de “O Mirandópolis”, fui convidado por José de Fátima Lopes e Idanir Momesso que
haviam adquirido a Gráfica Paulista de
Antonio Depieri, para a fundação do jornal “A CIDADE”, na função de
Redator-Secretário. O primeiro número do semanário veio à lume no natal de 1949. Havia acabado de completar 19
anos.
O cargo assumido não afetou meu trabalho como chefe
do escritório das Indústrias Mizikami. Paralelamente à minha função no emprego,
desempenhei sem maiores problemas ao
compromisso assumido, escrevendo semanalmente, notícias, entrevistas, artigos e
crônicas para o jornal, além de ajudar os seus proprietários a angariar publicidade, o que fazia sem nenhum retorno
financeiro, inclusive na função de redator. Minha grande compensação, foi obter
junto à Delegacia Regional do Trabalho em São Paulo, carteira de jornalista profissional,
o que me permitiu entrar para a Associação Paulista de Imprensa, além de vantagens
de 50% de desconto em passagens aéreas e passe grátis na Estrada de Ferro
Noroeste, fornecida pelo seu Diretor-Geral
de Bauru na ocasião, Gal. Marinho Lutz. A profissão de jornalista não era
regulamentada ainda, e seu exercício era regulado pela concessão pelo Ministério do Trabalho, de
carteira profissional após comprovação de, no mínimo, 2 anos de trabalho na
área.
Como nasceu
o cognome “CIDADE LABOR”
Com a chegada da energia elétrica da Usina de Itapura
em 1951, a cidade de Mirandópolis praticamente renasceu no seu progresso, vivendo
uma fase de grandes realizações e melhoramentos em todos os setores, fruto de
confiança do seu povo laborioso no futuro da cidade. Foi em face dessa onda
positiva de luta pelo progresso, às custas de um trabalho constante, que
resolvemos também colaborar com o desenvolvimento da cidade, coroando a
situação com um convite sugestivo para as pessoas que não a conheciam, passando
a publicar em todas as edições do jornal o convite: “VISITE MIRANDÓPOLIS, A
CIDADE LABOR”, por mim sugerido e aprovado pelo idanir e José de Fátima.
Achei o cognome coerente com o ritmo de trabalho e
progresso que vivia a cidade, levando em consideração que, cognome (ou apelido)
significa lexiologicamente, epíteto fundado na qualidade mais notável de pessoa ou
coisa, que era o caso de Mirandópolis,cujo aspecto mais notável era o seu
desenvolvimento às custas do trabalho e da solidariedade de seu povo.
O apelido pegou e mais tarde foi inserido em latim
nas palavras “Mirandópolis Urb laboris” no brasão do município, aprovado por
lei, em desenho elaborado pelo professor Walter Víctor Sperandio, aprovado pela
Comissão de Heráldica, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e está
presente também no Hino de Mirandópolis,
escrito pelo Doutor Alcides Falleiros com música de Henrique Pavesi louvando a “Cidade Labor”,
também adotado por lei municipal. (continua na próxima semana)
Nenhum comentário:
Postar um comentário