Noites de Inverno
Como
moramos num país tropical, o calor predomina na maior parte do ano. Então,
quando chega essa época do ano é um alívio. Se bem que o Outono é bem mais
agradável, com temperaturas mais amenas.
Se no
Verão, todo mundo gosta de praticar esportes, ir à praia, caminhar ao ar livre;
no Inverno, as pessoas preferem ficar dormindo, recolhidas num cantinho quente
da casa. Parecemos ursos hibernando e aguardando a volta do Sol, com seus raios
luminosos alegrando tudo.
Quando
sopram os ventos do sul, e o ar fica gelado, tudo fica mais devagar, até para
caminhar fica mais difícil – as juntas parecem travar-se. Mesmo assim, todos se
empenham em cumprir suas tarefas, porque viver é preciso.
Quem mais
sofre são as crianças pequenas e os idosos, porque sentem muito frio e, as
gripes ficam rondando com os espirros, tosses e febres. É a época dos xaropes,
dos antitérmicos, e dos analgésicos...
Os trabalhadores
sofrem bastante nessa época, porque levantar-se de madrugada é penoso demais.
Mesmo
com todos esses problemas, ainda devemos agradecer a Deus, porque em nossa
região não ocorrem temperaturas abaixo de zero, como sói acontecer no Sul do
país. E nem conhecemos neve.
E
além disso, o Inverno é muito rápido. Quando imaginamos que chegou, logo já nos
deixa e os dias ensolarados voltam a predominar. Mesmo em pleno Inverno, às
vezes acontecem períodos de Veranico, com temperaturas acima de trinta graus.
Como
o nosso Inverno é muito curto, gosto de aproveitar fazendo coisas que só
podemos em dias frios: tomar chás quentes, achocolatados, cappuccinos, vinhos,
sopas e caldos variados que caem bem em noites muito frias. Quando era criança,
gostava de ficar perto do fogão de lenha, bebericando um chá e comendo pipocas.
Hoje infelizmente nem fogão de lenha temos mais. Lareira menos ainda, porque a
nossa região é quente.
Mas,
o que mais gosto de fazer nessas tardes e noites frias é tricotar; fazendo
gorrinhos de lã, cachecóis e coletes para crianças. Todos os anos, tricoto uma
porção de peças para distribuir. Distribuo para as crianças da família, para os
filhos dos agregados e envio para o Hospital do Câncer, em Barretos. Às vezes,
amigas me oferecem novelos esquecidos de lã no fundo do baú. E eu os
transformo em peças quentinhas, que irão agasalhar algumas crianças.
Sinto
uma alegria imensa em trançar um ponto atrás de outro, com a lã macia e
quentinha que aquece minhas mãos. Enquanto vou criando a peça, fico imaginando
a criança que a vestirá e se sentirá confortável. Sempre digo para as mães a
quem ofereço essas peças que, devo ter passado muito frio na infância, pois não
aguento ver crianças tremendo nos dias gelados... Éramos em doze irmãos, e nunca
havia roupas e sapatos suficientes...
Lembro
também da história de uma senhora japonesa que, no período pós guerra, quando
tudo faltava no Japão, ganhou de alguma alma generosa do estrangeiro, um casaco.
Ela o usou durante dois anos e, passou depois para sua irmã menor. E se sentiu
tão grata, por ter sido aquecida no terrível Inverno do Japão, por esse casaco ganho de alguém que nunca vira,
que fez um juramento: um dia faria mil cachecóis para doar. Quando ela foi
entrevistada, já havia feito quinhentos e os doara a asilos. E iria chegar aos
mil prometidos.
Acho
tão fácil fazer campanhas de agasalho. Basta ter boa vontade e sentir empatia
pelo próximo, que sofre com o frio. Se não é capaz de tricotar ou crochetar pode comprar cobertas e doá-las. Todo mundo pode ser solidário com quem sofre. Até
pensei em fazer uma sopa quentinha, e distribui-la para crianças e idosos, mas
desisti da ideia, por falta de estrutura.
Bem,
mas agora chega de papo furado.
O
tricô me espera.
Mirandópolis,
junho de 2014.
kimie
oku in
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