Salas de espera
Em alguma
revista, vi certa vez a reprodução de um quadro intitulado “Sala de Espera”, de
um pintor cujo nome não memorizei.
O que me chamou a atenção foi a postura
das pessoas ali representadas; umas tombadas de lado, outras com o corpo
totalmente curvado em má posição, outras encolhidas cochilando enfim, todas
demonstrando extremo cansaço pela longa espera.
Eu me lembrei dessa pintura ao passar pela
mesma experiência, recentemente. Em razão da idade, tenho procurado médicos e
visitado laboratórios para os devidos exames. E onde quer que fosse, as salas
de espera estavam sempre lotadas de gente aguardando, aguardando...
Clínicas e laboratórios particulares,
cujas consultas e seus respectivos exames agendados com bastante antecedência,
nunca me atenderam na hora marcada. Havia sempre gente demais para ser atendida,
antes de mim.
Mas, as salas de espera de Centros de
Saúde e Hospitais Públicos me
deixaram estarrecida, com sua lotação. As salas estavam superlotadas, e mais
gente chegava sem parar. Não havia cadeiras nem bancos vagos e nem parede para
se encostar o corpo. E não é brincadeira ficar de duas a mais horas de pé,
plantada sobre as próprias pernas, sem nenhum apoio.
No início, cada paciente que chega, na esperança de ser logo atendido, fala e explica a que veio – consultar sobre uma dor aqui e ali, sobre o colesterol alto, sobre o nível do diabetes... E alguém lhe oferece gratuitamente, receitas de chá de maracujá, de erva cidreira, de berinjela... Aí a conversa vaga sobre conhecidos que sararam só com o tratamento de chás. Mas, alguém do contra mete a colher na conversa, dizendo que um parente morreu, porque não procurou ajuda médica e só tomou chás... E nesse ponto, a conversa que estava tão animada acaba morrendo.
No início, cada paciente que chega, na esperança de ser logo atendido, fala e explica a que veio – consultar sobre uma dor aqui e ali, sobre o colesterol alto, sobre o nível do diabetes... E alguém lhe oferece gratuitamente, receitas de chá de maracujá, de erva cidreira, de berinjela... Aí a conversa vaga sobre conhecidos que sararam só com o tratamento de chás. Mas, alguém do contra mete a colher na conversa, dizendo que um parente morreu, porque não procurou ajuda médica e só tomou chás... E nesse ponto, a conversa que estava tão animada acaba morrendo.
E o silêncio... E gente bocejando,
bocejando. E gente que estica os braços para o alto, como se fosse alçar voo...
A letargia toma conta de todos. E tal qual o quadro a que me referi antes,
todos assumem umas posturas inacreditáveis – se apoiam no corpo de parentes e
tiram cochilos... e chegam a ressonar... Outros se dobram para frente como marmotas,
outros se esparramam como se estivessem numa banheira... Mulheres largam o
corpo e abrem as pernas numa postura inconcebível de feia... Cópia fiel do
quadro!
A espera é cansativa! Parece que a vida
para quando se espera... As horas não passam... E tudo irrita porque o ambiente
não é agradável.
Aí de repente,
chega um caboclo afobado dizendo que tem que voltar logo, porque tem um
compromisso. “Tou aqui para fazer um favor a um amigo. Não é pra mim, não! Eu
não preciso, mas tenho que marcar uma consulta para um amigo. Eu preciso ir
embora logo, porque tenho um compromisso. Tou com muita pressa!” Tudo em altos
brados para todos ouvirem.
Naquele momento, achei que a questão seria
resolvida e calaria a boca do cidadão, mas qual! Ele entra na fila e se volta
para a corajosa senhora, que o interpelou e começa a gritar; “Mas, que mulher
malcriada! Não mexi com ninguém e ela vem falar assim comigo! Onde já se viu?
Não faltei com a educação e ela vem me ofendendo!” E por aí prosseguiu, com o
novo discurso provocando a pobre senhora. Por sorte, ela não retrucou, creio
que deva ter percebido que não valeria a pena.
Mas, a lengalenga do homem não parou, cada
vez mais exaltado. Acho que por ter sido interpelado, se julgava no direito de magoar
a senhora e atormentar os presentes. E gritava, e gritava. O ambiente estava
insuportável...
Por sorte, fui chamada para a consulta e
deixei o corredor do barulho. Fui atendida e logo que saí, vi que a coisa
continuava no mesmo tom... Então procurei alguém para resolver a questão, mas a
encarregada da ordem na sala não estava disponível...
E vim embora com muita pena dos meus
irmãos brasileiros.
Mirandópolis, 08 de agosto de 2011.
Ps.: A presente
crônica foi elaborada em 2011. Como o assunto é atual e real, resolvi
publicá-la novamente.
kimie oku
in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
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