Quando os ipês florescem
,Agosto, mês de cachorro louco, de poeira, da seca sem
fim... De queimadas, cujas fumaças fazem os olhos arderem tanto. De saudade das
chuvas abençoadas... Do gado magro no pasto berrando: bé, bé, bé numa tristeza
sem fim, pedindo água e capim.. Dos bezerros magros implorando leite o dia
todo. Do pasto ralo e seco que não sustenta a vacada triste...
Mês de agosto é um tempo duro no calendário. Todo mundo suspirando pelas chuvas, economizando água, e reclamando do preço das hortaliças e frutas, que chega às alturas...
Mês de agosto é um tempo duro no calendário. Todo mundo suspirando pelas chuvas, economizando água, e reclamando do preço das hortaliças e frutas, que chega às alturas...
Mês de agosto é
longo, tem 31 dias, que nunca acabam; mais ainda porque julho também teve 31
dias...
Em agosto, todo
mundo espera a chegada de setembro. Até a palavra “setembro” tem uma ressonância
mais vibrante, pois lembra o alegre bimbalhar dos sinos. “Agosto” por outro
lado lembra desgosto, deposto, imposto... Ai, nem me fale!
Setembro já é outra conversa. É o mês da Primavera, das flores, da natureza se enfeitando de cores. É tempo dos pássaros se acasalarem, das borboletas fazerem seus bailados nos jardins floridos. É tempo dos namorados passearem de mãos dadas pelas ruas iluminadas pelo sol...
Setembro é o mês que
chama as chuvas, que chegam com força total em outubro, dando um banho completo
na natureza. Setembro é um tempo agradável de doces perfumes no ar, de tardes
longas e iluminadas...
Entretanto, agosto
tem uma vantagem sobre setembro. Apesar da seca prolongada, dos açudes secando
cada vez mais, dos pombinhos gritando “fogo apagou! fogo apagou!”, no meio da
pastagem cinzenta e triste, um milagre acontece!
Em agosto, quando
tudo está seco e triste, os ipês começam a florescer. No meio de um bosque, à
beira do caminho, na beira das rodovias, no meio da pastagem seca, no meio do
canavial, eles se destacam, cobertos de flores rosas, brancas ou amarelas.
Florescem num
deslumbre de encher os olhos. No meio do nada, uma árvore se veste de roupagem
de gala, toda em dourado, em branco ou em rosa. E se destaca justamente porque
ao redor está tudo morto, seco e triste. Não há quem não aprecie um ipê todo
vestido de amarelo dourado, chamando a atenção de longe, como um convite para
descansar os olhos da paisagem descolorida, que o cerca.
E como as sombras
são muito raras nessa época, o gado procura se abrigar bem aí do sol ardente. E
é muito bonito de se ver as vacas brancas debaixo dos ipês coloridos...
Quando se fala de
ipês floridos, lembro-me de um senhor japonês que esteve aqui em Mirandópolis.
Aproveitando a oportunidade, quis conhecer as Alianças e a Comunidade Yuba. Um
amigo o levou e no meio do caminho, o estrangeiro começou a gritar para parar o
carro. O motorista assustado perguntou-lhe o que havia acontecido. Sem dizer
uma palavra, apontou para um ipê rosa todo florido e correu para ver a árvore
de perto. Estava longe, no meio de um pasto, mesmo assim lá foi ele correndo e falando
alto sem parar. Quando o motorista o alcançou junto do ipê, o homem estava
encantado com a beleza das flores, e disse: “Por que os brasileiros apreciam tanto
o sakurá do Japão, se vocês têm essa beleza aqui?”
A diferença é que
nós não temos olhos para apreciar essas dádivas da natureza. Estamos tão
acostumados com seu florescimento, que nem todas as pessoas reparam nelas.
Assim como os ipês
que florescem na época mais seca do ano, outras plantas sofrem transformações
ao longo dos meses. É o milagre da vida trabalhando na natureza. Florescem
deslumbrando o mundo com sua beleza e, espalham suas sementes para a
reprodução. E essa disseminação das sementes contendo novas vidas, ocorre lá
pelos meados de outubro, quando chuvas torrenciais garantem o surgimento de
novos pés e de novas árvores. A natureza é sábia, funciona por ciclos bem
programados.
Mas, dirão: “Em
setembro também há ipês floridos!” É verdade, não resta dúvida! Mas, o
florescimento começa em agosto e continua pelo mês seguinte. Parece que a
natureza quer compensar a tristeza da paisagem com suas belas flores.
E falando em árvores, lembrei-me que há pouco tempo descobrimos uma paineira de flores
vermelhas, bem ali na rua que vai para o Kaikan velho, beirando a ferrovia. E
me disseram que, existe ainda paineira amarela e branca. Achei muito
interessante, porque só conhecia a paineira rosa, que é linda também.
E falando nisso,
será que a paineira vermelha já não estará cheia de painas? Precisamos colher
as sementes para reproduzir a espécie que é mais rara. Se deixar que os caroços
se abram, as sementes irão embora. Temos que ficar de vigília, para colher.
Os moradores da Rua
Profeta Gentileza precisam colher as sementes. E garantir a continuidade da
espécie.
Mirandópolis, agosto de 2014.
kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
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