quarta-feira, 1 de abril de 2015

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 Você já se deu conta que é impossível viver sem números?
Não?
Em primeiro lugar, você é um número do Registro Geral, ou R.G., é um número do Cadastro de Pessoa Física ou C.P.F. Sem eles, você não existe para a sociedade civil.
Você mede um metro e tantos centímetros, pesa tantos quilos, tem tantos anos de idade, nasceu no dia tal do mês tal de tal ano. Você é o primeiro, segundo ou terceiro filho de seus pais que são dois, e tem tantos irmãos, filhos, netos e tantos e tantos amigos.
      Os números comandam a sua vida.
      Em primeiro lugar, o tempo é marcado por números, dividido em segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios... Calendários e relógios nem existiriam sem números.
      Você acorda às tantas horas, toma tantos goles de café e leite, come tantos pães com tantos gramas de margarina e mais tantas fatias de mamão...
      Pratica jogging? Anda tantos minutos, dando tantas voltas no quarteirão ou na Pista da Saúde. Encontra tantos amigos e fica papeando tantos minutos com eles... Volta para casa, toma banho em tantos minutos (tem que ser rápido para poupar água!) e senta-se para ler jornais. Lê tantas manchetes interessantes, escolhe o caderno do Cotidiano e lê duas ou três linhas para saber de uns acidentes e assaltos na cidade ou região. Vai para o Caderno de Esportes e, constata que seu time perdeu de tanto a zero. E fica decepcionado. Mas, aí volta à primeira página para saber das últimas sujeiras do Governo, dos troca-troca de autoridades, para abafar as ações de corrupção de gente do alto escalão. Daí fica mais revoltado, joga o jornal e liga a tevê.
O primeiro canal não está legal, vai para o segundo que está ensinando receitas de comida. Ah! É a sua comida preferida. Fica assistindo meio interessado. São tantos filés de peixe, tantas colheres de café (medida) de sal, de limão, de pimenta do reino, tantos ovos, tantos gramas de farinha de rosca, tanto de óleo.... Frigir em tantos minutos. Depois é só degustar, que é feito em poucos minutos... Comprar filés de peixe...
Daí resolve dar uma volta na rua. Anda uma quadra, duas quadras, vai ao barbeiro que está com dois ou três clientes só, porque “tá tudo difícil”. Escuta dois dedos de prosa e vai lá na esquina dos aposentados, onde os companheiros costumam se reunir. Ali tem diversos grupos de gente comentando as últimas notícias, falando do timão que ganhou de novo, falando mal da Dilma, do preço da gasolina, das manifestações pelo impeachment da Presidente... Aí, se lembra que a patroa pediu para comprar umas frutas, vai lá no Vanderley, escolhe umas laranjas bonitas, uma dúzia de bananas nanicas para evitar cãibra, paga tantos reais. Sobrou uns trocados, pega cinco espigas de milho verde para mistura, passa no Jomar pega um maço de alface e uns tomates (caros!), e volta para casa. Sua romaria cotidiana de aposentado está feita.
O almoço está pronto!
Melhor hora do dia! Pega um prato, duas conchas de feijão (hum! tá com cara boa!), tantas colheres de arroz, um bife     frigindo, duas colheres de abobrinha... Nossa! Como está bom! Para controlar o colesterol, come duas folhas de alface, três rodelas de tomate e umas lasquinhas de cebola. Mastiga devagar para degustar a comida, prolongando o prazer de saborear. Toma dois copos de suco, come uma banana e bebe uma xícara pequena de café. Daí, toma os dois comprimidos para controlar a pressão arterial, que anda sempre lá pelos 16 por 10.
Pronto. Está comido!
Agora se posta em frente à tevê para “ver as notícias”. Só vê e ouve uma parte. Uma ou duas ocorrências de acidentes e roubo na região... Cochila. A tevê ligada para ninguém. Também as notícias não são boas. O Promotor de Justiça fazendo devassa nos órgãos públicos, que não estão funcionando direito... Uns tiros no Bairro tal e a morte de dois adolescentes, que consumiam drogas... E aí cochila por uns bons minutos, até que o pescoço começa a doer e desliga tudo e vai para a cama. Tira uma sesta de uns vinte minutos e está novo e vivo novamente.
Toma um cafezinho para reanimar-se e volta aos jornais, esmiuçando notícias do time do coração. Lê os detalhes da história do Petrolão e acaba desanimado pelos rumos da investigação.
      E aí sem opção vai para a tevê, vendo os programinhas sem graça da tarde. Quando tem sorte, passa um jogo de futebol, que os mais ficam para as noites de quarta e quinta-feira, ou fins de semana.
      Dá uma conferida na conta de aposentado e, constata que este mês gastou mais por conta da prestação do IPVA e do Imposto da casa. É preciso apertar o cinto... Os números da conta bancária são sempre baixos, quando não negativos... E tem que fazer a Declaração do Imposto de Renda.... “O Governo me ferra todos os anos!”
      E assim caminha o dia a dia do cidadão aposentado, enredado sempre por números, que tem como base única 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Números ou numerais arábicos, porque foram inventados pelos árabes, lá na antiguidade... Esses numerais funcionam assim na contagem, como em ordem sendo chamados primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono... décimo, vigésimo e assim por diante e, ainda como porcentagem, 5 por cento de aumento no salário e, desconto de 20 por cento no Imposto! Sempre ferrando o trabalhador!
      São usados para marcar páginas de livros, de jornais, de talões de cheques, de casas do quarteirão, de salas e quartos de hospitais e hotéis... Carros e outros veículos também levam números para identificá-los. Telefones fixos e celulares funcionam à base de numerais. São eles ainda que, determinam os limites das compras de dona de casa, são eles que quebram os grandes empresários, quando extrapolam os limites de suas rendas. São eles que, determinam a vitória numa eleição, que aprovam alunos de série em série, e em Vestibulares e Cursos de Faculdade.
      São os números ainda que, determinam o preço das coisas, o valor do trabalho, o suor dos trabalhadores...
      Ainda são eles que despertam a cobiça e a ganância de quem parte para a corrupção, para o desvio de dinheiro a que não tem direito... É por isso que está acontecendo a vergonha nacional do Petrolão e do Mensalão.
      Enfim, os números comandam a nossa vida.
      E não só a vida.
      Quando a morte o levar, ainda assim não estará livre dos números. No cemitério, no jazigo da família ao lado do termo “Perpétua”, você será um número para identificar os seus restos mortais...
      Números... para que os quero? Me deixem!
     Mirandópolis, março de 2015.
      kimie oku in

Um comentário:

  1. sempre com propriedade, Dona Kimie. Mais um belo texto pra nossa coleção.
    Muito obrigada por colocar no papel aquilo que pensamos e não sabemos dizer;
    1 abraço, quer dizer, 2 abraços, 3...... coloca aí...muitos abraços sem dar a quantidade...

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