0 2 4 6 8
1 3 5 7 9
Você já se deu conta que é impossível viver
sem números?
Não?
Em
primeiro lugar, você é um número do Registro Geral, ou R.G., é um número do
Cadastro de Pessoa Física ou C.P.F. Sem eles, você não existe para a sociedade civil.
Você
mede um metro e tantos centímetros, pesa tantos quilos, tem tantos anos de
idade, nasceu no dia tal do mês tal de tal ano. Você é o primeiro, segundo
ou terceiro filho de seus pais que são dois, e tem tantos irmãos, filhos, netos
e tantos e tantos amigos.
Os números comandam a sua vida.
Em primeiro lugar, o tempo é marcado por números, dividido em
segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios...
Calendários e relógios nem existiriam sem números.
Você acorda às tantas horas, toma tantos goles de café e leite,
come tantos pães com tantos gramas de margarina e mais tantas fatias de
mamão...
Pratica jogging? Anda tantos minutos, dando tantas voltas no
quarteirão ou na Pista da Saúde. Encontra tantos amigos e fica papeando tantos
minutos com eles... Volta para casa, toma banho em tantos minutos (tem que ser
rápido para poupar água!) e senta-se para ler jornais. Lê tantas manchetes
interessantes, escolhe o caderno do Cotidiano e lê duas ou três linhas para
saber de uns acidentes e assaltos na cidade ou região. Vai para o Caderno de
Esportes e, constata que seu time perdeu de tanto a zero. E fica decepcionado.
Mas, aí volta à primeira página para saber das últimas sujeiras do Governo, dos
troca-troca de autoridades, para abafar as ações de corrupção de gente do alto
escalão. Daí fica mais revoltado, joga o jornal e liga a tevê.
O
primeiro canal não está legal, vai para o segundo que está ensinando receitas
de comida. Ah! É a sua comida preferida. Fica assistindo meio interessado. São
tantos filés de peixe, tantas colheres de café (medida) de sal, de limão, de
pimenta do reino, tantos ovos, tantos gramas de farinha de rosca, tanto de
óleo.... Frigir em tantos minutos. Depois é só degustar, que é feito em poucos
minutos... Comprar filés de peixe...
Daí
resolve dar uma volta na rua. Anda uma quadra, duas quadras, vai ao barbeiro
que está com dois ou três clientes só, porque “tá tudo difícil”. Escuta dois
dedos de prosa e vai lá na esquina dos aposentados, onde os companheiros
costumam se reunir. Ali tem diversos grupos de gente comentando as últimas
notícias, falando do timão que ganhou de novo, falando mal da Dilma, do preço
da gasolina, das manifestações pelo impeachment da Presidente... Aí, se lembra
que a patroa pediu para comprar umas frutas, vai lá no Vanderley, escolhe umas
laranjas bonitas, uma dúzia de bananas nanicas para evitar cãibra, paga tantos
reais. Sobrou uns trocados, pega cinco espigas de milho verde para mistura,
passa no Jomar pega um maço de alface e uns tomates (caros!), e volta para
casa. Sua romaria cotidiana de aposentado está feita.
O
almoço está pronto!
Melhor
hora do dia! Pega um prato, duas conchas de feijão (hum! tá com cara boa!),
tantas colheres de arroz, um bife frigindo,
duas colheres de abobrinha... Nossa! Como está bom! Para controlar o
colesterol, come duas folhas de alface, três rodelas de tomate e umas
lasquinhas de cebola. Mastiga devagar para degustar a comida, prolongando o
prazer de saborear. Toma dois copos de suco, come uma banana e bebe uma xícara
pequena de café. Daí, toma os dois comprimidos para controlar a pressão
arterial, que anda sempre lá pelos 16 por 10.
Pronto.
Está comido!
Agora
se posta em frente à tevê para “ver as notícias”. Só vê e ouve uma parte. Uma
ou duas ocorrências de acidentes e roubo na região... Cochila. A tevê ligada
para ninguém. Também as notícias não são boas. O Promotor de Justiça fazendo
devassa nos órgãos públicos, que não estão funcionando direito... Uns tiros no
Bairro tal e a morte de dois adolescentes, que consumiam drogas... E aí cochila
por uns bons minutos, até que o pescoço começa a doer e desliga tudo e vai para
a cama. Tira uma sesta de uns vinte minutos e está novo e vivo novamente.
Toma
um cafezinho para reanimar-se e volta aos jornais, esmiuçando notícias do time
do coração. Lê os detalhes da história do Petrolão e acaba desanimado pelos
rumos da investigação.
E aí
sem opção vai para a tevê, vendo os programinhas sem graça da tarde. Quando tem
sorte, passa um jogo de futebol, que os mais ficam para as noites de quarta e
quinta-feira, ou fins de semana.
Dá uma conferida na conta de aposentado e, constata que este
mês gastou mais por conta da prestação do IPVA e do Imposto da casa. É preciso
apertar o cinto... Os números da conta bancária são sempre baixos, quando não negativos...
E tem que fazer a Declaração do Imposto de Renda.... “O Governo me ferra todos
os anos!”
E assim caminha o dia a dia do cidadão aposentado, enredado
sempre por números, que tem como base única 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.
Números ou numerais arábicos, porque foram inventados pelos árabes, lá na
antiguidade... Esses numerais funcionam assim na contagem, como em ordem sendo
chamados primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo,
nono... décimo, vigésimo e assim por diante e, ainda como porcentagem, 5 por
cento de aumento no salário e, desconto de 20 por cento no Imposto! Sempre
ferrando o trabalhador!
São usados para marcar páginas de livros, de jornais, de talões
de cheques, de casas do quarteirão, de salas e quartos de hospitais e hotéis...
Carros e outros veículos também levam números para identificá-los. Telefones
fixos e celulares funcionam à base de numerais. São eles ainda que, determinam
os limites das compras de dona de casa, são eles que quebram os grandes
empresários, quando extrapolam os limites de suas rendas. São eles que,
determinam a vitória numa eleição, que aprovam alunos de série em série, e em
Vestibulares e Cursos de Faculdade.
São os números ainda que, determinam o preço das coisas, o
valor do trabalho, o suor dos trabalhadores...
Ainda são eles que despertam a cobiça e a ganância de quem
parte para a corrupção, para o desvio de dinheiro a que não tem direito... É
por isso que está acontecendo a vergonha nacional do Petrolão e do Mensalão.
Enfim, os números comandam a nossa vida.
E não só a vida.
Quando a morte o levar, ainda assim não estará livre dos
números. No cemitério, no jazigo da família ao lado do termo “Perpétua”, você
será um número para identificar os seus restos mortais...
Números... para que os quero? Me deixem!
Mirandópolis, março de 2015.
kimie oku in
sempre com propriedade, Dona Kimie. Mais um belo texto pra nossa coleção.
ResponderExcluirMuito obrigada por colocar no papel aquilo que pensamos e não sabemos dizer;
1 abraço, quer dizer, 2 abraços, 3...... coloca aí...muitos abraços sem dar a quantidade...