As pedras do meu
caminho
Tinha uma pedra no meio do caminho...”
Quando se fala em
pedra, a primeira coisa que me ocorre são esses versos do famoso poema de
Drummond de Andrade. Com esse poema, ele conseguiu passar claramente a ideia de
que às vezes, pedra é uma barreira, um estorvo, que atrapalha quem passa pelo
caminho. Pedra que pode ser uma pessoa, um trabalho, um trambolho, um bicho ou
até mesmo, uma pedra simplesmente.
Mas, as pedras já
foram e continuam sendo a causa de muito sofrimento para gente que cobiça as
preciosas. Existem minas no solo, de onde são retiradas essas pedras em estado
bruto, e depois de lapidadas por especialistas, passam a valer fortunas. E se
tornam motivos de disputas que, não raro provocam mortes entre os envolvidos.
Mas, o que é uma
pedra?
É apenas um mineral
sem vida, que faz parte do solo do planeta. Um dia, alguém viu no brilho de
algumas pedras além da matéria e, se encantou com os reflexos que produz. E
desde então, certas pedras foram consideradas tesouros. Além do atributo
beleza, todas as pedras são iguais. São matéria apenas. Não têm vida própria...Existem
pedras mais duras como o diamante, outras mais maleáveis como a pedra sabão,
que os artesãos aproveitam para fazer lindas esculturas. Existem pedras azuis,
amarelas, vermelhas, roxas, verdes, pretas, brancas, lilases... para todos os
gostos. As esmeraldas verdes despertaram a cobiça de um português bandeirante,
Fernão Dias Paes Leme que devassou as florestas do Brasil nos tempos bravios e,
morreu sem encontrá-las. Só achou turmalinas, pedras verdes de pouco valor...As
turquesas são pedras lindas pela cor suave que possuem e os rubis encantam as
mulheres pela cor vermelha... Mas, as pedras mais valiosas são os diamantes,
raros e duros. Tão duros que são usados como material cortante. Dentre as
preciosas, conheço alguns nomes como ônix, diamante, rubi, esmeralda, turquesa,
safira, topázio, ametista, quartzo e pérola. A maior jazida de diamantes do
mundo está na Sibéria. E diamantes existem em várias cores. E o nosso Brasil
quando foi descoberto pelos portugueses, despertou a cobiça de gentes da
Europa, que vieram aqui e devassaram rios e florestas, atrás de pedras
preciosas. Havia muito ouro. Até existe uma história que nem sei se é lenda, de
um cacho de bananas de ouro maciço, que foi enviado ao Rei de Portugal na época
do Brasil colônia. E havia muitos diamantes. Mas, a extração descontrolada
levou as minas à exaustão. O que havia e ainda há é o ferro, muito usado na
Indústria. E Minas Gerais como diz o próprio nome, foi o Estado mais rico em
minérios. Dessa época de procura desenfreada, o que ficou até hoje é a fundação
de cidades que comprovam a História da mineração: Ouro Preto, Diamantina, Ouro
Branco...
Vi em filmes coreanos,
que a gente simples do povo tem o costume de empilhar pedras no meio da
floresta ou beira de rios, quando fazem seus pedidos aos ancestrais... Então,
de repente se veem pilares de pedras soltas, feitas por mãos humanas que
oraram...Se alcançaram as graças só Deus sabe...
Existe uma brincadeira
de se lançar pedras no rio, para provocar ondas. Tem gente habilitada que
consegue fazer ondas em sequência, numa velocidade incrível. A pedra lançada
vai saltando sobre a água e onde ela bate, formam-se círculos, cada vez
maiores, que se emendam uns aos outros... E formam um caminho de água em
movimento. É muito bonito de se ver.
A palavra pedrada deve
ter um significado forte para quem já foi moleque, e brincou de atiradeiras ou
estilingues... Vidraças quebradas e pescoções... Todos os moleques devem ter
lembranças dessas artes...
“Que a monarquia do
Imperador
dure por milhares e
milhares de gerações,
Até que o pedregulho
se torne um rochedo
E os musgos venham a
cobri-lo.”
Esse poema é a
tradução do Hino Nacional Japonês. Hino contestado por muitos intelectuais do
Japão, atualmente. Eles alegam que essa veneração ao Imperador remonta ao
passado imperialista, e nada tem a ver com a Democracia Parlamentarista adotada
pós guerra...
Quanto tempo leva para
as pedras se tornarem rochedo? É que o Hino Nacional Japonês é muito antigo,
dos tempos em que o Imperador era considerado um Deus, de origem divina. Hoje a
realidade é outra, embora o respeito à Casa Imperial permaneça. “Até que o
pedregulho se torne rochedo, e os musgos venham a cobri-lo” significa “Eternamente”
E pensemos no inverso
das circunstâncias.
As pedras que se
soltam dos rochedos, das montanhas vêm rolando ladeira abaixo por intervenção
do vento, da chuva, da neve, dos rios... E se transformam em pedregulhos e
piçarras...
Você já imaginou
quantos milhares de anos, esses pedregulhos vêm sendo carregados pra lá e pra
cá, pelas ações da natureza? Nós usamos essas pedras para forrar terrenos, para
construir pontes, casas e prédios, para decorar fachadas, para represar rios,
para preencher espaços... E nunca pensamos de onde vieram, como vieram, de que
montanha se soltaram, quanto tempo vieram rolando de deu em deu...E ao longo do
caminho percorrido, foram perdendo as arestas e se transformaram em pedras e
pedregulhos arredondados e lisos. Alguns apresentam listras, outros têm outras
pedrinhas embutidas, muitos apresentam uma coloração atraente, alguns são
transparentes e ficam incandescentes ao reflexo da luz solar...
Gosto de catar pedras
do chão, pois cada pedra tem uma história, que ninguém contou nem seguiu. Ah! Se
elas falassem! Com certeza, contariam de que morro, colina ou montanha foram
arrebatadas pelo vento, pela chuva, pela enxurrada... Contariam dos ásperos caminhos
por onde vieram descendo, do canto dos pássaros, das flores nos tempos de
primavera, das chuvas torrenciais que as lavaram, da neve gelada que as
enterraram, dos animais que as cheiraram, dos humanos que as pisaram, dos
bichinhos minúsculos que se abrigaram junto delas... E do futuro incerto que as
esperam...Ah! Se elas falassem! Contariam do vento brigando com a montanha para
desprendê-las... Do medo sentido quando foram quebradas... Da brisa suave que
soprou nas noites enluaradas... Do sol inclemente que durante anos seguidos
queimou sua superfície...
É por tudo isso que
sinto atração pelas pedras. E vou catando uma aqui, outra ali, e imaginando o
histórico delas. Existem pedras lindas no meio das piçarras, nos caminhos, na
beira dos rios... Já tive um anel com um brilhante, que me foi roubado e me
deixou muito chateada. Hoje, não me importo mais com essas coisas, pois tudo é
apenas uma matéria, que nada acrescenta à minha pessoa.
Por isso, gosto de
catar as pedras do caminho e ficar imaginando a história de cada uma delas...
Essas vem rolando
através dos tempos, e chegam aos nossos pés sem nenhuma intenção de se
sobressair, enfeitar, despertar cobiças e proporcionar lucros... São iguais às
gentes humildes do povo, que levam a vida como uma bênção recebida de Deus, e
vivem-na simplesmente.
Mirandópolis, abril de
2015.
kimie
oku in
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