Minhas
ferramentas de trabalho
Hoje estava capinando a horta e
percebi que, uso ferramentas completamente diversas para realizar minhas
atividades diárias.
Vou ao sítio duas a três vezes
por semana e, não aguento ver o mato crescendo adoidado com as chuvas, que caíram
semanas seguidas. As ervas daninhas crescem numa velocidade espantosa e acabam
sufocando os legumes. E a solução que me resta é capinar.
Tá certo que não tenho mais
aquela energia de outrora de passar horas tirando o mato, mas consigo trabalhar
uma hora mais ou menos. E durante essa hora é possível limpar apenas um pequeno
pedaço da horta. Dá um suadouro, uma canseira que só Deus sabe, mas é tão
gratificante limpar um cantinho e constatar que o cenário mudou. Descobri
recentemente que a terra tem um cheiro bom, que cavoucar o chão atrai
passarinhos, e que nasci lavradora desde sempre. E que amo o chão que piso.
Melhor estar em cima do que dentro.
Hoje não tenho aquela força e
coragem de enfrentar horas seguidas ao sol, mesmo porque tenho alergia à
radiação solar, que me ataca e deixa a pele em carne viva... Mas, eu me armo de cremes bloqueadores, de
roupa apropriada, luvas, botas, chapéus e enfrento a natureza com muita
disposição. Só até as dez horas, porque depois fica impossível aguentar a
quentura que vem da terra e cruza com a do sol...
Para executar essa capinagem uso
enxada, meu instrumento de trabalho braçal. Ela é pesada, tem um cabo meio
torto, mas funciona regularmente e me ajuda a limpar o terreno. Aprendi a usá-la quando menina e morava na
roça. E fazia bem mais de sessenta anos que não a empunhava. Até que dou conta
do recado. Tem um mato chamado pé de galinha que cresce e se esparrama para
todos os lados, e eu vivo combatendo-a. E tem outras ervas daninhas como o
picão, cujas sementes longas e pretas grudam na roupa e me ferem as pernas... E carrapichos... E tem a invencível tiririca,
que cresce a olhos vistos e não há meio eficaz para combatê-la. Conforme vou
capinando, sanhaços, sabiás e outros passarinhos aparecem para comer os
bichinhos, que saem do meio do mato capinado e do chão revolvido. De alguma forma salvo sua refeição do dia.
Trabalhar na terra é gratificante, mais ainda ouvindo os canários, os
joões-de-barro, os quero-quero e os bem-te-vis cantando. Pena que muita gente
substituiu esses cantares com os elevadíssimos sons eletrônicos e impessoais...
A enxada é a minha ferramenta no
trabalho da roça.
E quando escrevo essas crônicas, meu
instrumento de trabalho é mais leve, é o teclado onde digito os pensamentos que
enchem a minha cachola. Antes de ingressar no mundo digital, escrevia as
crônicas usando lápis e cadernos. E como faço muita revisão, usava lápis e
borracha, muitas borrachas. Depois de muito resistir, tentei o computador. E
não é que é muito mais fácil, rápido e eficaz?
Ainda mais com o Word que oferece um leque enorme de opções de letras,
de tamanhos, cores... De correções, de transposições, de cópias instantâneas...
Se bem que ainda sou uma amadora no mundo digital; não sei explorar os mil recursos
que estão disponíveis... Minha cabeça baratina se tentar...
A Internet me abriu um mundo
novo, onde a comunicação rápida e instantânea permite contatos com gente de
outras partes do mundo. Assim, me comunico com amigos do Japão, da Alemanha, de
Portugal, da Irlanda, da Espanha... É uma coisa espantosa, que me deixa
perplexa. Meu blogger com as crônicas chega a países que nem supunha existir...
Tenho leitores além do Brasil, nos Estados Unidos, na Alemanha, no Canadá, no
Reino Unido, em Portugal, na Espanha, na Irlanda, na França, na Holanda,
Ucrânia, Malásia...
Acho isso inacreditável.
E o melhor de tudo é que vou
espalhando minhas ideias, para transformar esse mundo num lugar melhor para se
morar. Amo escrever sobre a natureza, as plantas, as flores, a chuva, o vento,
os pássaros, as matas, as águas...
Outro instrumento que uso muito
todos os dias é uma agulha de crochê. Faço rendas, bicos, toalhas para enfeitar
meus cantinhos da casa e para presentear pessoas que amo.
Herdei essa mania de minha mãe,
que foi crocheteira até o fim de sua vida. Ela amava crochetar, e onde quer que
fosse levava uma agulha e um novelo de linha na bolsa. Tirava amostras em salas
de espera, em casa de conhecidos e amigos e sempre estava produzindo peças
belíssimas.
É tão bom ter uma habilidade para
ocupar as horas no fim da vida. Tenho pena de senhoras que nada sabem fazer, e
passam horas e horas só esperando a morte chegar. Se soubessem bordar,
crochetar, tricotar, costurar, pintar, tocar um instrumento musical, suas vidas
poderiam ser mais alegres e nem perceberiam o tempo passar. Estar aposentado
não significa necessariamente que nada deve fazer. As horas de ócio levam à
tristeza sem fim e à depressão. É por isso que antigamente as avós viviam
fazendo trabalhos manuais, enquanto conversavam com as vizinhas, as amigas.
Hoje, com a tevê, ninguém faz
mais nada, só enchem a cabeça com o besteirol que todo dia é despejado nos
lares...
Tenho o hábito de tricotar
agasalhos para crianças não passarem frio. Quando chega o Outono começo a
tricotar e saio entregando nas Creches no Inverno. Nos dias mais frios dá para
conhecer as crianças mais necessitadas. Eu não aguento ver criança passando frio,
acho que devo ter passado muito frio quando pequena. Éramos uma família imensa
e nunca havia calçados e roupas suficientes...
É tão bom agasalhar uma criança
com uma peça tricotada pelas próprias mãos. É como se abraçasse aquelas
crianças todos os dias, oferecendo-lhes o calor para superar a dor do frio...
Sempre considerei que viver por
viver não tem sentido. É preciso ter um objetivo, uma meta. E o meu é servir.
Não importa se é filho de um peão, de um empregado, de parente dos agregados de
casa, se são carentes gosto de estender o meu abraço e amenizar a dureza de
suas vidas.
Conheci uma pessoa idosa que, por
não ter ocupação varria as calçadas dos vizinhos, todos os dias. E fazia isso
com gosto, com alegria, cumprimentando os vizinhos, os que passavam, os amigos;
e muitos lhe davam os Bom Dia que lhe iluminavam o dia, já de manhãzinha.
E existem pessoas que ficam
recolhidas em casa, num cantinho, gemendo de dor, de solidão e nada fazem para
pôr uma pitada de alegria em suas vidas. É tão fácil vencer a solidão, a
depressão, se a pessoa quiser. Ficar recolhido no casulo é realmente negativo.
Os nervos vão se travando, a fala fica lenta, os ouvidos param de escutar, os olhos enxergam tudo
embaçado e as pernas param de funcionar. Ficar recolhido num casulo, numa
saleta, num quarto é o mesmo que esperar o trem da morte chegar...
Como gosto demais de viver, vou
driblando a chegada da morte com atividades diversas. Carpindo o mato da horta,
cuidando do jardim e enchendo de flores meus canteiros, estudando a língua de
meus ancestrais, tocando piano, fazendo crochê e tricô, cirandando com amigos, e
ainda escrevendo essas crônicas para os meus leitores. E quando a bendita
chegar, irei de alma lavada, feliz por ter realizado tudo que desejava, sem
lamentar um instante da vida bem vivida. E viva a vida!
Mirandópolis, janeiro de 2016.
kimie oku in
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