Após o Carnaval vem uma criança...
Estava sem
inspiração pra escrever e um amigo colocou uma observação no face: “Depois do
vendaval vem a bonança, e depois do Carnaval às vezes vem uma criança” (Marinho
Guzman de Guarujá).
E aí aproveitei o mote para assuntar um
pouco.
O Carnaval seria
uma festa de confraternização, de explosão de alegria, de renovação de
energias... Antigamente acho que era assim. Mesmo a Igreja condenando-a,
pregando que era uma festa do Capeta, o povo brincava nos salões e nas ruas.
Mas era uma festa sadia, onde famílias inteiras participavam e concorriam como
melhores foliões, melhores fantasias e que tais. Havia o Rei Momo que era
imenso, que esbanjava alegria e a Rainha do Carnaval escolhida entre as
beldades...
O tempo passou e
o artificialismo tomou conta de tudo. Hoje tudo é plástico, emborrachado e
silicone. Ninguém sabe se as meninas perfeitas que desfilam têm enxertos ou
não, se os olhos são azuis de verdade... Se o parceiro é homem... Se a menina é
de fato mulher mesmo.
Mas, isso não
importa. O mundo mudou. Os costumes mais ainda. O que assusta é a devassidão
dos costumes.
A humanidade perdeu o brio, o
recato, a vergonha e faz coisas em público, coisas que até Deus duvida. Vi no
face fotos de madames folionas fazendo suas necessidades fisiológicas no meio
da rua, carnavalescos urinando nas portas de lojas fechadas... Sem contar sobre
as orgias sexuais que acontecem em salões e a céu aberto...
E então, daqui a nove meses vem uma
criança...
Uma criança que nem a mãe sabe ao
certo a paternidade, nem onde foi
gerada... Ao som de baterias, de cantares enlouquecidos dos foliões, de desejos
repentinos resolvidos ali mesmo num cantinho qualquer... Mas a fecundação
aconteceu. Nem o macho nem a fêmea se preocuparam com essa possibilidade. A
urgência era saciar o desejo, a fome sexual. Como dois gatos no quintal, como
cães em cio que se encontraram pela primeira vez...
E mais tarde, uma criança virá ao
mundo.
Não desejada, nem esperada, nem
programada.
Será com certeza mal amada, maltratada
como um estorvo, uma despesa que não
cabe no orçamento.
E a idiota da mãe não poderá nem
recorrer ao macho que a fecundou, porque não lhe lembra a cara, nem nome, nem
endereço. Um gato qualquer, sem referência alguma. Um puto qualquer, como
ela....
E o mundo será mais uma vez povoado
com uma enxurrada de crianças enxovalhadas, largadas nas esquinas, a pedir uma
esmola, um pão, um carinho...
É triste demais o que ser humano faz
com as próprias crias, como se fossem gatos sem dono, sem serventia.
Já vi em algum documentário que,
ultimamente na cidade do México tem crescido assustadoramente, o número de avós
que cuidam de crianças abandonadas pelos filhos. São produtos das transas que
ocorrem entre jovens perdidos por drogas, que moram nas ruas como zumbis. E
quando têm filhos, eles os trazem para as avós cuidarem. Estas, já cansadas das
lidas da vida, sem saúde e com idade um tanto avançada, não conseguem ignorar
esses bebês, sangue de seu sangue, inocentes das depravações dos que as
geraram. E essas avós idosas acabam aceitando a dura missão de criar a segunda
geração da família, que muitas vezes se constitui de meia dúzia de crianças ou
mais...
E isso, com certeza deve estar
acontecendo em várias cidades do Brasil, apesar de não haver um estudo sobre
essa situação.
O que aconteceu com a humanidade?
Por que os seres humanos ficaram tão
irresponsáveis? Por que passaram a agir
como irracionais, jogando fora as próprias crias? Nem os bichos fazem isso.
Atualmente, entre a gente sadia e
responsável tem diminuído o número de filhos. Os pais premidos pelos custos de
sobrevivência e educação têm programado apenas um ou dois filhos. Sem
considerar as dificuldades de orientação e encaminhamento dos mesmos nos dias
atuais, em que as drogas insidiosamente adentram no seio de famílias mesmo
estáveis. E acabam destruindo não só o usuário como a todos os familiares.
Viver hoje é muito difícil.
E não precisamos de folias de
Carnaval para piorar a sociedade. Se nove meses pós carnaval, nasce uma leva de
crianças indesejadas, a sociedade jamais irá melhorar. Essas crianças renegadas
pelas próprias mães, serão os marginais de amanhã, os que irão roubar,
assaltar, matar, porque não herdaram um sentimento de humanidade dos genitores,
que as geraram num beco qualquer. Porque estes também são um subproduto da
sociedade, que nunca receberam uma educação adequada e, nem sabem a que vieram
ao mundo.
Carnaval? Desfile? Festa? Luzes?
Cores? Brilhos? Maior Festa do Planeta? Yes, temos Carnaval!
Yes, temos também tanta sujeira,
tanta devassidão por trás desse brilhos, desse roncar das baterias, desse
gingar das mulatas peladas, dessas cantorias que sufocam os gritos e os
lamentos de crianças abandonadas nas esquinas, a pedir um carinho. Tá na hora
de parar com essa diversão que só traz desgraças para a sociedade.
É bonito ver uma mulata pelada? É
bonito ver a Escola preferida desfilar?
É bonito ver os bateristas suando suas camisas para a Escola brilhar? É muito
bonito mostrar para o mundo...
Bonito é que por trás desse brilho
todo, desses roncos de baterias afinadas muita coisa ruim está acontecendo. A
televisão mostra um belo show para chamar os turistas, que vêm ver mulheres
peladas... E para atrair gente que deixe seus dólares aqui... Mas a realidade
brasileira é essa tragédia.
Nove meses depois, uma leva de
crianças mal desejadas será o resultado desta festa obscena.
E a sociedade brasileira continuará
sendo essa mesma constituída de menores delinquentes, de meninas perdidas, de
filhos mal amados, de pais irresponsáveis e idiotas.
Carnaval é belo?
Crianças perdidas nas esquinas
pedindo uma moeda, um carinho podem ser o produto dessa festa de arromba. Onde
está a beleza?
Nove meses depois do Carnaval,
muitas vezes vem uma criança.
Mirandópolis, fevereiro de 2016.
kimie oku in
Nenhum comentário:
Postar um comentário