A obra
Há mais ou menos dois meses está acontecendo um fato ao lado da
minha casa.
É a construção de um sobrado, bem ali na esquina.
Antes havia no local uma antiga casa bem sólida de grossos
tijolos, e ocupava todo o espaço do terreno. Quem a construíra fora o seu
Idanir Momesso, pai do nosso atual alcaide. Depois pertenceu ao senhor Dorley
Fioravante. E agora, o atual proprietário demoliu a velha construção e está
levantando um novo prédio.
Não quero ser implicante mas uma demolição não é fácil para os vizinhos superar. Por maior respeito
e consideração que tenha pelo demolidor, a poeira que tomou conta do meu pedaço
foi de matar. Nos sufocou o tempo todo e o pó encheu a minha casa, minhas
varandas, minhas flores, meu jardim... E tínhamos de ficar com toda a casa
fechada para diminuir a invasão do pó. E fazia um calor de 40 graus! Ninguém
merece! Tive mil ganas de pedir para parar o suplício. E aguentamos sofrendo
muito. Não foi nada fácil.
O que constatei de bom na demolição é que irão reaproveitar os
tijolos, que foram retirados com cuidado, porque não se fazem mais tijolos
daquele calibre.
Bom, e aí veio uma máquina para perfurar o terreno para as estruturas
que aguentarão o peso das paredes. Cada vez que socavam o chão, parecia que a
minha casa vinha abaixo, as janelas tremiam como se houvesse um terremoto... E
nós, pobres mortais tremendo de medo junto. Cada minuto um susto de balançar a
alma!
Daí
então, abriram o chão da rua, cortando o asfalto não sei bem pra quê, mas o
barulho foi ensurdecedor. Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii,
tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii,
tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii............
Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.................
Um dia inteiro desse som infernal, que entrou em nossas cabeças
e nem deixava pensar.... Terrível, terrível, terrível, mesmo sendo um dia só. Foi de enlouquecer.
E quando o caminhão com a betoneira se instalou à frente de
minha casa por falta de espaço, não foi fácil não! O barulho da máquina
misturando a massa para concretar foi insuportável. Foi enlouquecedor! Acho que
perdemos um bocado de audição a partir daquele dia...
E veio o batalhão para levantar as
paredes. E era um grupo grande de uma dúzia de trabalhadores, que se acamparam
na minha calçada, porque era a única sombra disponível, Gentes, bicicletas,
mochilas, marmitas e moringas térmicas de água... Entupiram meu passeio. Isso
não nos incomodou, porque eram uns trabalhadores educados, que estavam
pelejando por suas vidas. A minha calçada se transformou em seu refeitório e
local da sesta. Fazer o quê?
Eram
trabalhadores de serviço duro e pesado e só por isso mereceram o meu respeito.
Não costumo implicar com trabalhadores. E ceder a calçada sombreada era o
mínimo que poderia lhes oferecer...
A rua ficou e continua atravancada de areia, pedras e blocos. Os
caminhões aparecem volta e meia trazendo mais terra, mais pedra, mais blocos,
ferros... Até à esquina não dispomos de
passeio para transitar a pé. Os pedestres têm que andar no limitado leito da
rua, pisando em pedras e areia. E o tráfego de carros no pedaço ficou lento e
arriscado. Mesmo assim, tem motoristas que estacionam seus carros do outro lado
da rua, afunilando mais e mais o espaço livre. Gente sem visão, e sem massa
cinzenta. Que poderão provocar acidentes evitáveis...
Agora já levantaram boa parte das paredes e estão preparando a
laje, porque será um sobrado. Notei que os moços trabalham bem, com capricho e
aproveitando a argamassa na medida certa. Mas não deve ser fácil transportar
toda aquela massa pesada nas carriolas pra lá, pra cá, pra lá, pra cá... horas
seguidas. Mas, os moços são fortes e a obra não para.
Agora, parece que o pior já passou para nós, os vizinhos.A obra ainda
vai continuar por todo esse ano de 2016. Esperamos que a poeira e o barulho
ensurdecedor das máquinas não voltem mais. Esperamos, mas quem garante?
Sei que ainda outras fases irão ocorrer.
Agora estão preparando a laje. Depois, fazer a parte superior, a cobertura, o
telhado, cobrir as paredes, o piso, as instalações elétricas e sanitárias... E
por fim a pintura...
Acredito que um pouco de pó ficou em nossos
pulmões, e ficamos um pouco moucos pelos barulhos que nos afetaram. Perdas
irreparáveis. Quem irá nos ressarcir?
E ainda meses e meses de barulho e
confusão nos aguardam.
Será que sobreviveremos?
Merecemos?
Mirandópolis, março de 2016.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário