Alice
Alguém me disse
outro dia que, há muitos professores aposentados com problemas de depressão. Ou
em fase pré depressiva.
Daí demos tratos à bola.
Infelizmente, professores que foram tão dedicados à Educação ao
se aposentarem perdem o rumo da vida. Deixaram a Escola e se sentem totalmente
abandonados... Sem referência.
Esses professores prepararam os jovens para a vida e, se
esqueceram de preparar a sua aposentadoria. Aposentar-se não é parar de viver.
Não é morrer! Tem que ser programada.
Conheço professoras que se tornaram totalmente domésticas, que
só passam os dias lavando, passando, limpando e cozinhando... Uma delas até me
disse que tem o umbigo grudado no fogão, na pia e no tanque... Triste visão! Mas,
por que se anularam assim?
Os dias são longos e é possível programar horas mais agradáveis
que ficar grudada no tanque. Mesmo
porque, ninguém passa todos os dias da semana lavando e passando. Cozinhando,
pode até ser...
Viver por viver não tem sentido!
É preciso programar cada mês, cada semana, cada dia. E inventar
alternativas para não ficar deprimido.
Quem passa a vida só lavando, passando e cozinhando... E nas
horas vagas só fica vendo tevê e suas baboseiras, certamente ficará depressivo.
Pode perder até o juízo... É preciso
buscar outras opções. Um bordado, um crochê, uma hidroginástica, uma dança, um
chá com as amigas...
Aqui em Mirandópolis há muitas alternativas: Grupos de oração,
grupos que visitam doentes. Terço dos homens, Cavalgada, as Luluzinhas, Grupo
de Professores aposentados, grupo Conviver... a Ciranda. Todos voltados para
praticar o bem para os outros e para o próprio grupo. E ainda, há as doceiras
que fazem os doces para os Leilões de Gado da Apae e do Hospital de Câncer. Doces
deliciosos feitos com capricho como só a boa vontade é capaz de produzir. E
recentemente, surgiu um novo grupo de senhoras que arrecadam fraldas para os
internos do Asilo. Louvável iniciativa.
Mas, se você não gosta de grupos, é possível ocupar-se com outras
atividades. Caminhar no Bosque da Saúde, Visitar o Asilo, oferecer os préstimos
para a Apae, para a Casa da Criança, tricotar, fazer toucas e bonés para o
Hospital de Barretos ou Jaú, acompanhar doentes vizinhos em suas sessões de
tratamento... Conheço o Zé Maria bancário aposentado Professor também, que vai
ao Asilo cortar os cabelos e as barbas dos internos, toda semana, e isso há
anos seguidos... E outros profissionais voluntários que, oferecem seus
préstimos de Dentista, de Pintores de telas aos alunos da Apae uma vez por
semana.
Todo mundo tem uma habilidade. E aposentar essa habilidade é
muito triste. Então, por que não oferecê-la voluntariamente a quem precisa
dela? Mesmo aposentado, você poderá ser útil à sociedade. E há tanta gente que
não sabe fazer o que de mais especial você faz... Doar-se é o máximo do serviço
voluntário!
Quando se aposenta, a Professora já não é uma simples
aposentada, sem referência. Ela carrega um caminhão de experiências, de
vivências que aprendeu nas salas de aula, em contato direto com crianças de
todos os níveis sociais. E nunca deixará de ser aquela pessoa que ensina. E que
aprende a cada dia. Professor é professor sempre, até o fim da vida.
Em Mirandópolis, há em contrapeso, professoras que se
aposentaram e nunca pararam de servir à comunidade. Sua aposentadoria não é
feita de horas vazias, sem sentido. Elas nunca ficaram fechadas nos seus
casulos, como se tivessem terminado sua missão na vida. Elas deixaram seu mundo
de conforto, de horas vagas, de aposentadas para arregaçar as mangas e partir
para a luta.
Minha amiga Encarnação é uma delas. Aposentada, poderia estar
chorando a perda precoce do esposo Edmir, que foi um exemplo de cidadão. Porém,
ela partiu para driblar a solidão. Como? Continuando a obra do esposo no Centro
Bezerra de Menezes, proferindo palestras para iluminar os caminhos das
pessoas... E orientando e confeccionando roupas de bebê para as mães carentes.
Bela e útil atividade, que deve lhe proporcionar muita satisfação, além de
servir ao próximo.
Outro amigo é o Jorge. Aposentado na Educação, continua atuando
na vida pública como Advogado. E teve a oportunidade de servir a Apae por um
tempo. Diz ele que foi a experiência mais gratificante que teve. Lá, aprende-se
a enxergar a outra face da vida... Face dura, difícil de compreender... E de
aceitar.
Outro é o Zé Augusto. Aposentado como Professor, está usando seu
tempo para se dedicar às obras sociais da cidade. Leilão de Gado. Serviço
voluntário. Aposentou-se mas continua vivo. E muito vivo servindo a comunidade.
E no grupo de doceiras dos Leilões tem uma porção de professoras
aposentadas, que se dedicam de corpo e alma em selecionar, descascar, cortar,
ferventar os frutos para fazer doces maravilhosos e adoçar a boca do povo.
Dentre elas, cito a Regina Rosado, a Zezé Junqueira, sua irmã Carmen Lúcia,
Vilma Mardegan e Maria José Ermini.
Havia mais, mas com a idade... E ainda há um grupo de senhoras que se
reúnem semanalmente numa igreja, para confeccionar panos de pratos, para serem
doados aos Bazares dos Leilões. Gente simples, que no anonimato de suas vidas
fazem trabalhos lindos...
Também não posso deixar de citar a Prefeita eleita nas últimas
eleições, a professora aposentada Regina Mustafa. Pelo que tenho observado, ela nunca parou de
trabalhar em prol da comunidade. Durante anos e anos comandou o Leilão de Gado
Direito de Viver, para o Hospital de Câncer de Barretos. Também esteve todos
esses anos pelejando pela Apae, como Diretora da Instituição. Puxando os
Leilões também. E pela Amai, participando dos eventos promocionais. Os
mirandopolenses reconheceram seu valor e a elegeram Prefeita para o próximo
mandato. Merecidamente.
Outra amiga admirável é a Alice.
Tendo perdido o esposo, que lhe deixou uma empresa em precárias
condições, somou as forças com os filhos e partiu para a luta. Não deve ter
sido nada fácil, mas era preciso dar um sentido à vida dos filhos. E vem
pelejando com o Jornal Diário de Fato, que publica minhas crônicas... Hoje em
dia, na Era da Informática sobreviver com publicações em papel não é nada
fácil. Mesmo assim, estão empenhados, muito empenhados em divulgar as notícias
e os eventos da cidade e da região. Além disso, ela participa de eventos em
benefício da comunidade, através de um Clube de serviços local.
Às vezes, você não conhece as qualidades das pessoas no dia a
dia. Mas, quando as adversidades surgem ou uma crise ameaça uma Instituição, de
repente alguém com força de liderança surge do nada e toma o comando. Tenho
visto isso acontecer ao longo dos anos.
E ninguém melhor que um professor aposentado ou uma professora
aposentada para assumir esse papel. É que durante toda a sua carreira, em
contato diário com os alunos e ocasionalmente com os pais, aprendeu muito sobre
a natureza humana. Aprendeu que as pessoas são diferentes, e cada indivíduo tem
reações diversas diante das dificuldades da vida. E o líder nato é exatamente
alguém que já aprendeu muito nas estradas da vida, pois ele é capaz de se
colocar no lugar do outro e sentir empatia. Professor aposentado enclausurado é
um grande desperdício.
E assim, posso registrar com orgulho de uma simples professora
que, nem todos os professores daqui estão vivendo enclausurados em suas
frustrações. Mesmo aposentados estão servindo a sociedade, para que esta
funcione regularmente. E o melhor e mais belo é que quase sempre é serviço de
doação, de voluntariado, sem remuneração.
Esses professores citados acima estão fazendo a diferença em
nossa comunidade, garantindo que muitos doentes tenham o tratamento adequado em
Barretos; que os internos do Asilo tenham um atendimento mais digno; que a Apae
continue cuidando de nossos jovens que precisam de cuidados de especialistas;
que a Casa da Criança continue servindo às mães trabalhadoras. A motivação para
essas pessoas é apenas o amor ao próximo.
É verdade que não só os
professores, como também outros profissionais de diversas áreas formam o heroico
e imenso grupo de voluntários, que têm o mérito de levar avante essa bandeira. Estou
apenas destacando os professores para saudá-los pelo Dia do Professor. Mas a
todos os demais, o meu maior respeito.
Viver por viver não tem sentido. Se você olhar ao redor,
perceberá que há tanta gente pelejando pra viver, que precisa de um empurrão,
de uma pequena ajuda. Então, por que não deixar a sua vidinha vazia de burguês
frustrado, e tornar melhor a vida do próximo? Você pode, tem condições e poderá
viver melhor, proporcionando um pouco de alegria e conforto a alguém.
Quero prestar uma homenagem especial a Alice Barravieira
Gonçales, que saiu do anonimato de professora aposentada e, tornou-se uma
mulher empresária, vencedora no campo da comunicação. Acredito que o Elói deva
estar feliz e orgulhoso pela continuidade de sua paixão: o Jornalismo.
Na campanha eleitoral gritaram tanto que Mirandópolis iria
melhorar se votássemos em tal candidato... Mensagem totalmente vazia para pegar
os tolos. Só melhorará com ações de gente que ame a nossa cidade, que cuide de
nossas crianças, que se empenhe em cuidar dos doentes e dos idosos.
Então, presto
minhas saudações a todos os professores da cidade, homenageando os professores
aqui citados.
Que outros professores saiam de seus casulos e vivam
intensamente servindo ao próximo, para tornar mais humana a nossa sociedade.
Que surjam outros Zé Augusto, Jorge Chain, Zé Maria de Carvalho, Encarnação
Guerra Batista, Regina Rosado, Zezé Junqueira, Carmen Lúcia, Vilma Mardegan,
Maria José Ermini, Regina Mustafa e Alice Barravieira.
Viver por viver não tem sentido.
Dê um sentido à sua vida, participando de serviços de doação.
É útil e faz bem à alma.
Mirandópolis, outubro de 2016.
kimie oku in
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