Seis anos depois...
Parece que foi
ontem...
Minha amiga senhora Natsuko,
genitora do nosso querido médico Dr. Roberto Yuassa morava sozinha. Já era bem
idosa e eu ia visitá-la regularmente, para aprender a língua japonesa. E ela,
tranquila, fina e delicada foi me ensinando tantos procedimentos corretos e
falares, que eu desconhecia na minha profunda ignorância da cultura japonêsa.
E volta e meia ela chorava de tristeza, com saudades de seu esposo que partira bem antes e do jovem neto Júnior, que havia ido tão precocemente... Eu ficava desolada, vendo-a derramar lágrimas
de saudades... E um dia, me ocorreu que seria tão bom se eu pudesse levá-la ao
campo, num lugar bem aprazível, para respirar o ar puro e curtir o som dos
passarinhos cantando... Para enxugar essas lágrimas...
Passado um tempo, o Senhor Mário Varela, empresário e pecuarista
local que eu nunca vira antes, apareceu em casa de repente e disse: “Vim comprar o
seu sonho! O sonho de ajudar os idosos!”
Fiquei atarantada, sem saber o que dizer. Mas, o senhor Varela
que é rápido no gatilho, apesar de na época já ser uma pessoa idosa, foi reunir
amigos que pudessem entender a minha intenção.
E numa tarde, nos reunimos na calçada do Bar Açaí, que nem
existe mais, e estabelecemos as regras desse grupo que iríamos formar. Sugeri o
nome “Ciranda”, porque formaríamos uma grande roda, segurando as mãos uns dos
outros, para todos se sentirem confortados, esquecendo-se da solidão. E aí
mesmo, no meio da rua, em plena tarde formamos a roda e brincamos de ciranda, cirandinha.
Éramos em sete pessoas apenas: Milton Lima, Chiquinha, Ana Maria Jacomelli,
Mary Magro, Júlio César, Mário Varela e eu. Estava fundada a Ciranda! E conseguimos registrar esse momento com uma foto...
Nessa época, a dona Natsuko não tinha mais condições de
participar da Ciranda, devido à idade e às condições debilitadas de sua saúde.
Gostaria tanto de tê-la levado pelo menos uma vez... Tempos depois, ela veio a
falecer. Amiga Yuassa sama... Inspiradora da Ciranda. A ela, minha gratidão eterna, pela gentileza de seus ensinamentos e pela inspiração da Ciranda.
Importante, porém foi estabelecer três regras fundamentais:
O Grupo Ciranda não teria
O Grupo Ciranda não teria
- conotação política,
- conotação religiosa,
- nem fins lucrativos.
E assim, partimos a fim de convidar as pessoas. Encontramos muita resistência, porque pessoas sós e esquecidas são muito desconfiadas. Era também época de campanha eleitoral, e percebia-se no olhar que desconfiavam que pediríamos votos... Muitos nem quiseram ouvir nossas propostas... E morreram tristes e sozinhos algum tempo depois. Foi uma pena!
E assim, partimos a fim de convidar as pessoas. Encontramos muita resistência, porque pessoas sós e esquecidas são muito desconfiadas. Era também época de campanha eleitoral, e percebia-se no olhar que desconfiavam que pediríamos votos... Muitos nem quiseram ouvir nossas propostas... E morreram tristes e sozinhos algum tempo depois. Foi uma pena!
Apesar de tudo, conseguimos juntar treze idosos e realizamos o encontro. Foi no dia 15 de outubro de 2010, Dia do Professor. Como
não tínhamos um lugar definido, fomos ao Restaurante Cozinha Caipira, a oito
quilômetros da cidade. E lá conversamos bastante. Alguém levou um violão, e as
pessoas ensaiaram timidamente algumas canções. Lembro-me que o professor
Walther foi, assim como a esposa Rachel. Como estava fraco das pernas, o Milton
e uns amigos carregaram o Professor numa cadeira de varanda, do carro até o
interior do Restaurante. E brincamos de Ciranda. Algumas pessoas declamaram,
outras cantaram. Foi uma brincadeira de criança, protagonizada por adultos.
E a partir de então, viemos realizando esses encontros
mensalmente, sem falhar. Só não nos reunimos no mês de dezembro, que é meio
atropelado para todos do grupo de apoio.
Logo, outros amigos foram se agregando ao grupo, como a Flora
Forte, a Poliana Ventura, a Isabel e o Zé Maria de Carvalho. Depois, vieram o
Professor Gabriel Carbello, o José Antonio Lima, a Vina Ramires, o Oswaldo Resler, a Maria José
Braga Candil, a Fátima Sanches, a dona Aurora Florindo, a Dimar, a Leonor Rezeke.
Convidei muita gente que teria condições de ajudar o grupo, mas se recusaram,
dizendo que não tinham tempo. E eram todos aposentados... Difícil arrebanhar
voluntários... As pessoas não sentem empatia pelos idosos esquecidos... Não
pensam que também serão velhos e esquecidos, um dia. Até hoje não entendo essa indiferença.
Percebi com muita tristeza que, muitos idosos são ariscos
e não aceitam esse tipo de lazer. A princípio, andei convidando umas pessoas
que realmente precisavam para espantar sua total solidão, mas parece que a timidez ou o orgulho falaram mais alto e não aceitaram. Convidei uma vez, duas vezes, três e... Acabei desistindo. Tem gente que
não aceita ajuda, apenas por orgulho. Desventurados! É tão bom ser simples e
aceitar os convites da vida, para viver melhor. E reconhecer que todos têm
limites... E que todos nós precisamos demais uns dos outros, para tornar a vida
menos áspera. Barreiras de orgulho e preconceitos tolos... Somos todos pobres de Deus, e todos precisamos da companhia de outras pessoas, para amenizar a solidão.
E com essas e outras chegamos aos seis anos de Ciranda. Nesse
período perdemos uma porção de amigos, que partiram de mudança, outros que
desistiram da Ciranda por problemas na família. E outros que foram cirandar no
céu como o senhor Egídio Vicente, que foi fundamental no começo da Ciranda, a
dona Luisinha Cury, o senhor Aristides Florindo, que foi meu chefe na Escola
Ebe Aurora, o Jorge Cury, que se apaixonou totalmente pela Ciranda, o Professor Walther Sperandio, a
Lourdinha Codonho, a Maria Menegatti, a Palmira Martins, o divertido Toninho do
pandeiro, a Onofra Nunes, o Lupércio Salvá, o seu Marcolino... É natural que tenha
havido tantas mortes, porque somos todos idosos, e uma hora alguém tem que
partir... Então, estabelecemos que não faríamos
homenagens a quem quer que morresse. Apenas proporcionaríamos um pouco
de lazer enquanto vivos. E mesmo nos aniversários, nada faríamos de especial
para a pessoa, a não ser cantar e cumprimentar, para não discriminar ninguém. E
assim, viemos fazendo em nossas tardes de ciranda. Tudo em paz, sem desentendimentos.
e seis encontros, em que cantamos, contamos piadas, declamamos, fazemos orações e brincamos de roda, como se fôssemos crianças... Aliás, nessa hora, todos se tornam crianças e revivem os tempos inocentes da infância. E o melhor de tudo é dar as mãos aos parceiros da direita e da esquerda, para todos sentirem que há alguém segurando firmemente a mão, e passando só energia positiva... Nessa hora, há uma comunhão de sentimentos pelo bem estar de todos. Uma roda, uma mandala, um círculo só de forças positivas. Energia pura.
A Ciranda só quer ajudar pessoas idosas, que passam seus dias
numa solidão sem fim. Então, quem tem seus grupos sociais não precisa da
Ciranda. Só convidamos algumas pessoas, porque o espaço não é tão amplo, e
precisamos respeitar o pessoal da Chácara.
Os donos da Chácara, seu Albertino e dona Cleusa Prando nos
disponibilizaram um barracão para os encontros. E o espaço já se tornou pequeno
pelo volume dos participantes. Especialmente, quando convidamos os internos do
Asilo local, que vibram quando estão lá. Já fomos cirandar lá na AMAI também, como se pode comprovar pela foto ao lado.
E na sexta feira passada, dia 21 fizemos um almoço de celebração
pelos seis anos de Ciranda. Para nossa decepção, o seu Mário Varela passou lá para nos cumprimentar e não ficou, mas a sua esposa dona Zilda participou da festa.
Estavam presentes setenta e duas pessoas, somando os cirandeiros e familiares
que estavam de visita, os organizadores e os anfitriões. Para mim, foi muito
gratificante ver os filhos de meu antigo chefe Aristides Florindo, que foi
cirandar no céu. Dona Aurora veio acompanhada dos filhos Júnior e Adriana, que
vi crescer e hoje são adultos pelejando pela vida. Vieram também o Milton Lima
e sua esposa Remir que moram na Ilha, mas que volta e meia comparecem para
rever os amigos. O Milton foi o esteio da Ciranda, sempre resolvendo os
problemas que surgiam e facilitando a vida de todos. Foi a peça fundamental
para estabelecer e estabilizar o grupo.
E a presença especial do pessoal do Jornal Diário de Fato, que
ao longo desses seis anos, vem nos prestigiando e cobrindo nossos encontros.
Alice Barravieira e seus filhos Eloice e Allan, que acabaram se tornando
membros queridos da Ciranda.
E não poderia encerrar esse relato sem citar os responsáveis
pelo sucesso da Ciranda, os músicos! A Ciranda é sempre animada por pessoas
especiais, que vão lá tocar seus instrumentos e proporcionar alegria a todos.
Albertino Prando é um sanfoneiro de mão cheia, que há cinco anos nos acolheu em
sua casa, e nos alegra com o som maravilhoso de seu acordeão. Convidados por
ele, outros músicos da cidade se juntaram: a dupla Gerval no acordeão e o
Jovaninho no violão, o Zeferino Coqueiro com seu violão, o João sem Terra
cantador, o Valdenir violeiro e cantador, o seu Agenor Garcia cantador, o Agnaldo e seu pandeiro, o
Wesley com seu cajon... E a turma da Ciranda que forma um coral
maravilhoso cantando as músicas caipiras do nosso cancioneiro.
Tudo convergiu para o sucesso da Ciranda. E ao terminar a minha explanação sobre o sucesso da Ciranda,
por sugestão do seu Garcia, fizemos uma oração em agradecimento, pelos seis
anos bem vividos e convividos pelos cirandeiros.
Depois, foi a degustação do delicioso almoço.
E só cantoria pela tarde
toda.
E viva a Ciranda!
Mirandópolis outubro de 2016.
kimie oku in
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