Um lugar...
Estamos passando o nosso paraíso  para outros moradores.
Um lugar que desfrutamos  por mais de 
quarenta anos.
Um ponto rústico  cheio de carrapicho, picão  e outras ervas daninhas.
Um pasto verde a se perder de vista, onde
pastavam
preguiçosas vacas brancas.
Ali plantamos capim, milho, mangueiras,
macadamia  e muitas outras
frutíferas.  E aguardamos seu crescimento
e produção.
E saboreamos tantas mangas doces como mel,
lichia, macadamia e bananas. Tantas bananas... tinha sempre um cacho de vez.
E distribuímos  o excesso para vizinhos.
Fartura é 
gratificante.
E a horta? Brigando e combatendo a teimosa
tiririca, que sempre nos venceu.
Mas colhemos alface, cenoura, beterraba,
brócolis, tomate  cereja de montão, por
anos a fio.
Fiz tanto molho de tomate que durava meio
ano.
E a água? Pura e saborosa, o poço nunca
negou. Uma bênção!
E os passarinhos?
Bem te vis, joões  de barro, canários  da terra, sabiás, maritacas, periquitinhos,
tucanos, araras, rolinhas, fogo apagou... todos numa sinfonia sem fim, mesclada
com o zum zum das incansáveis abelhas polinizadoras.
E as saúvas? Quanto lutei, quanto combati e nunca venci. Lá  tem colônias sem fim com
montanhas de ninhos subterrâneos.
E os serviçais  contratados? Tivemos apenas uma família  honrada que lá morou uns vinte  anos. E deixou saudades... Dinalva e Tonhão.
Os demais servidores foram só bagulho, gente
que não gostava de trabalhar e só  queria
usufruir. Não se fazem mais braçais como antigamente. Ninguém planta mais uma
cebolinha. Preguiça demais!
Tudo isso 
é  uma tristeza. Lei do menor
esforço. A humanidade deteriorou-se.
Mesmo assim, conseguimos curtir o
paraíso.  Respiramos aquele ar puríssimo
sem igual, curtimos o céu azul onde singravam brancas nuvens e usufruímos  do sol que nos aquecia nas manhãs frias.
Tudo isso foi muito bom. Deus nos emprestou
aquele cantinho para brincarmos  de gente
do mato.
E soubemos usufruir de verdade.
Mas, agora é 
hora de entregar  o bastão  para gente mais jovem.
Porque aquele chão nunca foi nosso. Só estava
emprestado. Por Deus. E lá continuará  
eternamente até o final dos tempos.
Que todos os futuros hóspedes  saibam amar tudo aquilo como nós  amamos.
E sejam abençoados. 
Obrigada, meu Deus!
Mirandópolis, 06 de maio de 2024.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com
Sou Jussara Pucci, essa crônica que lindas lembranças vc vai levar desse lugarzinho verde... se se acostume bem a nova moradia amiga!
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