Gente de fibra - Severina Alves dos Santos
Recentemente, tive uma alegria imensa ao ver uma foto no facebook – era a foto de jovens que se casaram, e ladeavam a
avó da noiva. Imediatamente a reconheci, era a foto de dona Severina, que
trabalhou décadas no antigo Ginásio Estadual e depois no CENE Noêmia Dias
Perotti.
Quem postou a foto foi o seu genro
Lupércio Ailton Nery Palhares, filho do saudoso Professor Durval Nery Palhares,
que nos anos 60/70 ficou conhecido como o Professor do Curso de Admissão ao
Ginásio, que era o sonho de toda a
moçada da época.
Pois é, o Lupércio é casado com a nossa
amiga Valdeíte Inêz, irmã de Wanderlei Luis dos Santos, ambos filhos de dona
Severina e do senhor Benedito dos Santos, mais conhecido como o Ditão, o homem
negro elegante em suas roupas de linho branco, que morou muitos anos em
Mirandópolis.
Ao postar a foto, Lupércio informou que
a dona Severina está com 91 anos de idade, goza de boa saúde e sua memória está
perfeita, lembrando de tudo e de todos que conheceu por aqui.
Como ela foi uma pessoa conhecida de
todos os jovens, que passaram pelo antigo Ginásio e pelo CENE, achei
interessante contar a história dela em Gente de Fibra. E pedi ao senhor
Lupércio que fizesse uma entrevista e a enviasse para ser publicada no Diário
de Fato. Mais que isso, o amigo postou um interessante texto intitulado Tributo
a Severina, em que ele conta a história da nossa querida amiga, aproveitando o
viés de “Morte e Vida Severina” do poeta nordestino João Cabral de Mello Neto.
Mirandópolis, 15 de maio de 2012.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com
Mirandópolis, 15 de maio de 2012.
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TRIBUTO A SEVERINA
Como deixar de fazer um tributo à mulher
Severina – a retirante nordestina - se deixar de lado o verso maior da
significância Severina; como nos versos do poeta pernambucano João Cabral de
Melo Neto em seu famoso ensaio poético/musical “Morte e Vida Severina”. Um
verdadeiro hino de exaltação de um povo de amor à terra, que mesmo distante não
deixa morrer as raízes que o prende vivo as suas
origens.
“Severino, retirante deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta se quer mesmo que lhe
diga
é difícil defender só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é esta que vê, Severina.
Mas se responder não pude à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu com sua presença viva.
E não há melhor resposta que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma teimosamente se
fabrica,
vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena a explosão, como a
ocorrida;
como a de há pouco franzina, mesmo quando é a
explosão
de uma vida severina.”
Foi assim com essa Severina, da linhagem Leandro
Alves do correto Mizael Leandro Alves, barbeiro de tantas e todas as horas e
Barbosa Horas da não menos correta Ernestina Barbosa Horas, a Da. Pequena.
A vida de retirante é um sobe e desce constante,
que as águas do Rio São Francisco registram como boletim diário de uma vida, e
as carrancas que por suas águas navegam, captam entre olhares ora ferozes ao
desafiar mitos e lendas das margens do rio, e ora doces e amenos ao avistar
nessas mesmas margens vidas ribeirinhas de nordestinos, fugindo das secas do
agreste na ânsia de uma vida melhor, que o curso dessas águas pudessem levá-los
como promessa.
Foi assim que essa retirante ainda em vida uterina
se viu obrigada ao desafio, e quis o destino que ainda em terras nordestinas já
no sul da Bahia, nascesse naquele 05 de fevereiro de 1921, no distrito de Campo
Formoso, município de Jacobina. O nordestino é mesmo um forte e como tal
apegado a terra. Novamente as águas do São Francisco a levaram a pisar o chão
da terra de seus pais e em Bodocó, no sertão noroeste de Pernambuco quase
divisa com o Ceará, ela ensaiou seus primeiros passos e viveu até quase a
adolescência.
A seca é uma verdade, bem como o São Francisco, e
entre a certeza e a dúvida do ruim e supostamente bom, novamente as águas do
São Francisco a trouxeram definitivamente para a região sul e por estas terras
aportou no ano de 1933 então com 12 anos de idade.
São João da Saudade era um povoado se formando como
muitos outros povoados e depois municípios, pela investida da Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil em cujo percurso trazia um rastro de trabalhadores que pelo
caminho iam se acomodando e fincando raízes.
Severina viu este município nascer desde o povoado
até os dias atuais e fez desta terra o mote da sua vida: ser forte e apegada ao
chão da terra como forma de resistência e de vida.
São 77 anos aqui por estas terras e como diz um dos
versos do poema Morte e Vida Severina – “é difícil defender só com palavras a
vida...”, e essa Severina defendeu esta terra com sua determinação, seu coração
e braço forte, sua ousadia, seu suor, sua lágrima, seu patriotismo e honra,
predicados mais que suficientes para que uma história seja escrita.
Severina, quando da inauguração do Ginásio Estadual
de Mirandópolis ali na Av. Dr. Raul da Cunha Bueno, foi a primeira servente a
trabalhar na instituição. As salas, as carteiras, os banheiros, os corredores e
páteo do Ginásio e posteriormente Colégio Estadual e Escola Normal Da. Noêmia
Dias Perotti foram varridas e limpas por Da. Severina, durante árduos 33 anos.
Diversos diretores, centenas de professores e milhares de alunos por ali
passaram nesses anos todos e os homens que ontem e hoje governaram e governam
esta cidade, os homens que detém o poder econômico e financeiro desta cidade,
bem como aqueles que daqui saíram e brilharam e brilham nesta e em outras
cidades nas suas respectivas profissões, pisaram aquele chão, sentaram naquelas
carteiras, usaram aqueles banheiros e freqüentaram aquelas salas. E Severina
chama-os carinhosamente de alunos, como um tributo e recompensa por ter
acompanhado os passos escolares e contribuído de algum modo e ao seu modo, na
formação moral, intelectual, familiar e social deles.
E Severina escreve por todo o sempre o seu nome na
história desta cidade.
A cidade da vida de Severina Alves dos Santos,
misto de baaina(como sempre a chamei) e pernambucana, de físico franzino,
olhinhos tímidos puxados, como se oriental fosse, riso alegre, sorriso sincero
e amigo, divertida, educada, filha, mãe, avó, bisavó exemplar.
E que Vida... Severina!!!
LANP/ (
Lupércio Ailton Nery Palhares)
Escrito em 16.05.07 e atualizado em 09/07/09.
OLá Kimie! Esta foto foi tirada em 04/09/2010 por ocasião do casamento da minha filha Flávia. Na foto está o casal Flávia e João Pedro(meu genro). Obrigado por postar a crônica e pelo belo preâmbulo. Gratidão eterna Kimie!!! Abçs.
ResponderExcluirLupércio Ailton
Magníficas:
ResponderExcluirDona Severina, a crônica e o tributo.
Parabéns a todos!
Muito obrigada, Lupércio e Lissinho, meus novos amigos via Internet. Descobrir gente fantástica como vocês foi uma festa para mim. Mesmo não conhecendo pessoalmente, quando comungamos as mesmas ideias, o papo flui facilmente. E graças ao face, pude prestar essa pequena homenagem à querida dona Severina. Se ela morasse aqui a levaria para as tardes de Ciranda, numa chácara para reencontrar velhos amigos.
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