Grafitando
É tão gratificante ver
uma casa bem pintada, porque melhora a paisagem da cidade, e
faz bem aos olhos.
Toda vez que eu via
casas ou muros recém-pintados, borrados de inscrições agressivas, pensava na
pobreza de espírito dos autores. Não sou contra grafiteiros, mas sou defensora
da propriedade, e como tal fico triste, de ver um estranho estragando a pintura
caprichada, que alguém pagou. Casa pintada de novo é como se tivesse tomado um
banho e se maquiado. E vem alguém e lança sujeira nela...
E sempre que via uma
pichação, me lembrava de uma novela coreana famosa, em que uma jovem revoltada
com o tratamento diferenciado que recebia do pai, ia às ruas na calada da noite
e desabafava toda a sua ira, pintando os muros que via pela frente, com seus
desenhos pessoais. E volta e meia, ela ia presa, porque a lei lá era mais dura.
Só que os desenhos eram maravilhosos, de uma arte mais moderna, com bastante
colorido. Era tão artístico o seu trabalho, que no final da história se torna
uma pintora de verdade.
Acredito que haja gente
que, tenha vontade de fazer o mesmo que a mocinha da novela, desabafando todo o
seu rancor, contra o mundo cruel em que vive. Mas, o dono da casa ou do muro
muitas vezes, nem culpa têm da infelicidade do pichador. E, é aí que, acho a pichação
uma agressão ao proprietário e à acuidade visual. Uma verdadeira contravenção
para a sociedade organizada.
Acho que, qualquer
pessoa tem o livre arbítrio de extravasar seus sentimentos, de desenhar o que
deseja, de botar prá fora toda a mágoa que sente. Mas, para isso não é preciso
estragar a propriedade alheia. Nada é mais decepcionante do que, alguém ver sua
obra toda borrada com dizeres ofensivos, que a ninguém aproveita.
Lembro que até há bem
pouco tempo, garotos arriscavam a própria vida para deixar suas logomarcas em
lugares quase inalcançáveis, só pelo orgulho de carimbar seu nome. Tudo para a afirmação da própria personalidade.
Felizmente, essa onda
passou. Penso que, os jovens de hoje perceberam que isso não leva a nada. Ou
que é um desperdício de tempo, dinheiro e energia.
Comentando sobre isso,
alguém me disse que esses jovens que faziam essas inscrições, são os mesmos que
consomem drogas, e que não lhes sobra grana, para comprar os tubos de spray.
Pode até ser verdade, mas prefiro acreditar que os jovens mudaram, que
perceberam a inutilidade desses gestos agressivos, contra terceiros inocentes
de seu infortúnio.
Acredito que tudo evolui,
que mesmo os jovens que consomem drogas por vício, têm consciência de tudo que
fazem e do que ocorre no mundo. Muitas vezes continuam consumindo, porque não
conseguem se libertar, mesmo querendo e desejando com toda a alma.
Porque a desgraça dos
psicotrópicos é exatamente isso: tornar os usuários dependentes de verdade,
anulando até os mais firmes propósitos.
E a respeito disso há que se lembrar do que o
Ministério Elohim está realizando aqui na cidade. É um trabalho de recuperação
dos dependentes químicos. É louvável essa iniciativa, e penso que toda a
sociedade deve participar, pois as vítimas não se restringem aos usuários
apenas, mas abarcam todos os seus familiares, que sofrem juntos. E atingem
indiretamente outras pessoas, que acabam sendo lesadas, por roubos e assaltos
de dependentes desesperados...
Andei pesquisando sobre
o Ministério Elohim, e descobri que o seu trabalho é baseado no Evangelho, nas
Artes e na Assistência Social. E salvo algum detalhe que eu desconheça, as
intenções parecem ser das melhores. Os participantes estão imbuídos do firme
propósito de melhorar a sociedade, tentando resgatar vidas humanas perdidas
para as drogas. E usam estratégias diferentes, como a dança, a capoeira, a
música e a religião. Estratégias tais, que se aproximam mais da realidade dos
jovens, do que confinamento apenas.
Sinal dos tempos... Até
outro dia, os jovens escalavam prédios para carimbarem seus nomes em lugares
impossíveis. Hoje, os jovens mudaram de atitude. Passaram a consumir porcarias,
no vão desejo de se afirmarem. Afirmação que conduz à perdição,
irremediavelmente.
Pensando melhor, é
preferível que os garotos voltem a pichar muros e paredes, do que se
autodestruírem. Os muros e paredes podem
se pintados de novo, podem ser refeitos, são recuperáveis. Muros e paredes são
apenas matéria inorgânica, que não sofre. Ao passo que, os humanos dificilmente
conseguem se libertar das drogas, que os destroem. E o caminho de ida para o
mundo dos psicotrópicos, leva para uma viagem de sofrimento atroz, que muitas
vezes só a morte pode libertar.
Então, é melhor pichar,
grafitar, pintar, borrar muros e paredes, que isso não tira a vida de ninguém,
não destrói famílias e relações.
Grafitar ainda é bem
mais saudável e inteligente.
Mirandópolis, 8 de maio
de 2012.
P.Scriptum : a imagem ilustrativa é o Muro de Berlin de 1,3 km de extensão, grafitado por 118 artistas de 21 nacionalidades , em 1980.
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