O Desfile
Seis
horas da manhã, a cidade é acordada com explosões parecidas a tiros de
morteiro. Em algum lugar alguém executa o toque da Alvorada. O som vem
serpenteando pelas ruas, penetrando nas casas, sussurrando em nossos ouvidos
que é hora de levantar. O sol, timidamente, surge no horizonte, anunciando um
novo dia, o dia do aniversário da cidade Labor, aniversário de Mirandópolis.
Já se vê pelas ruas, estudantes, com seus uniformes passados e engomados,
dirigindo-se para seus estabelecimentos de ensino, de onde sairão para o
desfile ansiosamente aguardado. No CENE Dª Noêmia Dias Perotti, os inspetores
de alunos, seu Jorge Cury e dona Terezinha, auxiliados pelos serventes dona
Severina e seu Silvio Marchi, tentam botar ordem e organizar os pelotões de
alunos e alunas. As meninas primeiro, depois os meninos por ordem de
altura. Os professores de Educação Física dão sua contribuição, passando as
listas de presença. O pessoal da fanfarra, com seu uniforme de gala, afina seus
instrumentos: são caixas, tambores zabumbas e cornetas.
Numa destas comemorações o professor Kazuo ficou responsável pela fanfarra. Aos
alunos que participassem dela ele prometeu dar nota dez e dispensar da prova
bimestral. Eu, surdo-mudo em Música, pendurado em Matemática,
precisando tanto daquele deizinho candidatei-me. Deram-me os pratos e
instruíram-me: após o repicar das caixas....tatarata...você bate os
pratos...blein, tatarata...blein, tatarata...braunnnn, fui dispensado no segundo
ensaio.
Todas as escolas e demais participantes do desfile se reuniam no pátio da Igreja.
Não havia palanque e as autoridades do município faziam seus discursos da
escadaria da Igreja e, em seguida, o padre Epifânio rezava a missa. Era demorado,
cansativo...nos escorávamos numa perna, depois na outra...agachávamos...éramos
repreendidos pelos inspetores de alunos.
Finalmente iniciava-se o desfile. A Escola do Comércio e o Ginásio revezavam-se
na abertura do desfile e no encerramento. Às vezes o encerramento era feito
pelo Tiro de Guerra de alguma cidade vizinha, Andradina ou Valparaiso. As
balizas iam à frente das escolas, fazendo seus malabarismos. Os
porta-bandeiras levavam as bandeiras do Brasil, de São Paulo e do Municipio.
À frente da fanfarra da Escola do Comércio tremulava o estandarte azul e branco
com as palavras GLERCA; do Ginásio vinha o estandarte vermelho e preto escrito
Grêmio XV de Novembro e trazendo ainda a figura estilizada de um galo,
idealizada pelo professor Walter Sperandio.
O Grupo Escolar Professor “Hélio Faria” se fazia presente, tendo como destaque
sua pequena fanfarra comandada pelos professores Paulo Turri, Gamaliel e
José Calemes. O Grupo Escolar “Dr. Edgar Raimundo da Costa” tinha os escoteiros
orientados pelo seu Luiz, o Luiz do Grupo, o Luiz Peru, disciplina
militar....direiiiiita, voooolver, esqueeeerda, vooooolver....ordináaaario,
marche. Foi uma pessoa incompreendida, fez amigos e inimigos devido ao seu
gênio belicoso, era prestativo com os amigos e parentes, tendo
freqüentado apenas o primeiro ano primário, consertava ferros elétricos,
chuveiros, enceradeiras e liquidificadores. Fazia instalações elétricas e
hidráulicas. Era apenas Porteiro do Dr. Edgar, mas vestia a “camisa da escola”.
Era meu tio e eu o amava como minhas filhas também o amavam.
As escolas apresentavam carros alegóricos homenageando figuras históricas, a
seleção brasileira de futebol e o fundador da cidade, senhor Manoel Alves de
Athaide. Associações como o Rotary, Lions e outros clubes de
serviços e entidades prestavam suas homenagens. A colônia japonesa
sempre apresentava algum carro destacando a agricultura da cidade. Um
carro muito elogiado era aquele que trazia a rainha da cidade e suas
princesas. Todos os anos eram eleitas a Rainha e as Princesas e tínhamos o
baile de Coroação da Rainha no CAM. Lembro-me apenas das rainhas Célia Zuin e
Sonia Zacarin. A população de Mirandópolis, quase que na sua totalidade,
saia à rua para assistir ao desfile.
Quando achávamos que o desfile tinha terminado, com os participantes se
dispersando no final da Avenida Rafael Pereira....eis que surge um tumulto, a
multidão acompanhando um carro retardatário!!!!!!! Era o Fernando Miron,
dirigindo uma caminhonete de carroceria de madeira preta, da Funerária, tendo
no alto de uma escada, usada pelos juízes de vôlei,....o Galego, vestido de
mulher, com a faixa de Miss Ribeirão Claro.
À tarde haveria show de paraquedistas e futebol.
ademar bispo
Demá com suas crônicas preciosas e maravilhosas nos remete a um passado do qual participamos, ora como alunos, ora como observadores.
ResponderExcluirParabenizo-o por mais esta obra e a Kimie pelo registro.
Kimie: E aí, o Demá soube colocar bem o seu gerúndio? Isso é pra quem sabe e não pra quem quer, né?
Abração aos amigos.
Canário.
Ulisses, o Bispo é muito bom nos gerúndios e na maneira de contar os fatos. Faz a gente querer saber mais e mais. Gosto da objetividade com que relata os fatos, como se fosse um jornalista, que não perde tempo nem espaço. Essas crônicas e o seu poema, Ulisses, só enriquecem o meu blogger.
ResponderExcluirA gente volta no passado e cai na lembrança de quando era garoto e participava da minha primeira fanfarra do segundo grupo escolar (helio faria), quem comandava era o saudoso prof. Paulo Turri, levantava bem cedinho e tomava café na propria escola para aguentar tantas horas de pé, mas era gratificante e ainda continuei durante mais de 15 anos, inclusive na do CENE que era vibrante e fabulosa que disputava a finco com a Escola Comercial do nosso Canário. Parabens Bispo por deixar nós viajar no tempo, com muitas saudades dos grandes desfiles.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLembrando, eu estava aí nesta foto, era o segundo na fila do meio, de "zabumba" (mais fino)atrás de um fuzileiro. Bateu saudades.
ResponderExcluirMuito bom, Bispo! Como sempre, qdo vc conta suas histórias, tb fala um pouquinho das nossas...e a saudade faz uma paradinha em nossos corações e em nossas mentes!
ResponderExcluirUm abraço a vc e à Kimie que permite com seu blog esse doce recordar!
Joana
Bela crônica que relata um tempo em que a civilidade fazia o orgulho de um povo, de uma cidade.
ResponderExcluirParabéns Ademar Bispo, me vi naquele desfile em vários flashs.
Abçs,
Lupércio Ailton