quinta-feira, 14 de agosto de 2014



                        Olho por olho, dente por dente
    
      Todos os dias, vendo as dolorosas cenas de ataques e mortes na Faixa de Gaza, lembrei-me do ditado “Olho por olho, dente por dente”.
Esse dito popular sempre me intrigou, porque carrega em si um terrível desejo de vingança e retaliação. Daí, fui pesquisar para saber de onde provinha isso.      
E descobri que veio da Babilônia, atual Iraque, que é exatamente uma região muito próxima às áreas do conflito sem fim.
“Olho por olho...” ou Lei de Talião foi encontrada no Código de Hamurabi, Rei da Babilônia, que transcreveu um antigo código de leis escritas. Isso foi em 1780 antes de Cristo. Sua intenção foi a de organizar a sociedade e controlar a retaliação. Com essa lei, pretendia-se castigar o causador do crime na mesma proporção. Se alguém matasse um cidadão, o causador deveria ser punido na mesma moeda, isto é com a morte também, sem ultrapassar o limite do crime cometido. O estranho é que essa mesma lei existe no Velho Testamento, em Êxodus, que sugere o castigo de: “vida por vida, dente por dente, mão por mão... golpe por golpe...”
     Apesar de parecer tão dura e extremamente vingativa, essa lei ao ser aplicada na sociedade da época já foi uma evolução, pois os povos eram bárbaros e a sanha de vingança não tinha limites...
      Basta lembrar o fato da Inconfidência Mineira na moderna História do Brasil. Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado de Tiradentes, considerado traidor pelos portugueses, por querer libertar os brasileiros dos pesados impostos cobrados, foi morto e retaliado, tendo as partes expostas em praça pública. Não contentes com essa sanha de vingança, os portugueses salgaram sua casa, como se a libertassem de maus espíritos, e declararam malditos os seus descendentes até a quarta geração... Exageros até a exacerbação.
    Na História das Civilizações do mundo, há centenas de exemplos de vingança desmedida, descontrolada. No Japão Medieval, os senhores dos feudos ou Daimyos em constante guerra com seus vizinhos, usaram os samurais para cometer barbaridades sem limites. Isso abrangia execução dos próprios familiares e, até dos pais e filhos. Tudo pelo poder e desmedida ambição.
Ora, na época dos bárbaros, essa lei de Talião foi uma evolução, pois permitia a revanche, mas na mesma proporção do crime cometido, não mais. Mas a Lei de Talião nunca foi aplicada como ela determina, sempre foi mais dura, mais drástica na hora da cobrança.
     E é inevitável relembrar os estragos da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, que esta semana completou 69 anos do ocorrido. Os japoneses atacaram a frota americana em Pearl Harbor  no Havaí, e fizeram cerca de duzentas vítimas. E a revanche americana custou aos japoneses mais de duzentas mil mortes, que continua crescendo ano após ano, com os efeitos da radiação nuclear. “Olho por olho...” multiplicado por mil, sem considerar a devastação das cidades onde foram lançadas as bombas, e sem considerar os efeitos incalculáveis da radiação no mar e na natureza... Mil olhos por um...

    Depois do 11 de setembro, com a derrubada das Torres Gêmeas, o que o mundo viu foi uma tragédia sem limites. A invasão do Iraque e do Afeganistão, com milhares de mortes de inocentes para satisfazer o furor de vingança, com o aval de governantes de vários países considerados civilizados... E os efeitos colaterais continuam até hoje, com o recrudescimento do ódio dos muçulmanos contra o Ocidente... Se ao invés de fazer guerra, Bush houvesse construído escolas e hospitais naqueles países, usando toda a fortuna dispendida nas batalhas, o mundo teria evoluído muito. A visão dos muçulmanos seria outra, e esse medo que paira no mundo de iminentes ataques não existiria...
    Por melhor que seja uma Lei, um Decreto, se os homens não controlarem essa sanha de vingança desmedida, o mundo nunca irá melhorar. E ainda há a questão da indústria de guerra: gente que vive produzindo armas e vendendo-as para os dois lados oponentes... Quem tiver a oportunidade de ver o filme “O Senhor das Armas” entenderá perfeitamente que, a guerra nunca terá fim. Enquanto houver indústria de armas de fogo, o mundo não terá Paz.
    Entretanto, analisando as revanches que acontecem todos os dias entre os palestinos e israelenses, fico a pensar se há algum proveito para o vingador matar inocentes... A dor de uma mãe que perdeu um filho por causa de uma bomba, nunca irá diminuir mesmo que matem mil filhos dos oponentes. A dor será do mesmo tamanho, mesmo que adicionem mil dores para outras mães...
    Então não entendo a vingança. Ela traz satisfação? Lava a honra? Elimina a dor? Enaltece o vingador?
Sei que naquela região, a guerra acontece desde antes de Cristo. Na cidade de Gaza houve invasões de israelitas, babilônios, persas e assírios. Foi tomada pelos macedônios, romanos, bizantinos e árabes otomanos. Os ingleses também lá estiveram, assim como os egípcios e Israel ocupou a Cisjordânia após a Guerra dos 6 dias, ficando com a Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, e deixando pouco para os palestinos... E durante todas essas invasões e disputas, a guerra não cessou. Mortes e mortes às centenas, causando dor e ódio em ambas as partes.
O mais estranho é que, justamente nessa região fica Jerusalém, a Cidade Santa, venerada tanto pelos cristãos, como pelos muçulmanos e judeus. Em Jerusalém viveu Jesus Cristo como homem, percorreu seus becos pregando paz e amor ao próximo. Esteve no Monte das Oliveiras, onde fez pregações, cumpriu sua Via Sacra, carregando a cruz pesada até a crucificação.  Lá ainda tem o Muro das Lamentações, que é o que restou do Templo de Salomão para guardar a Arca da Aliança, lá estão o Portão de Damasco e a Torre de David, que foram construídos como muralhas em defesa da cidade...
Como um lugar santo que foi benzido por Cristo com sua evangelização, pode ser palco de tragédias sem fim?
      Alguém pode me explicar isso?



Mirandópolis, agosto de 2014.

kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


Legenda: 
1ª foto Cerimônia em homenagem às vítimas da bomba - Hiroshima
2ª foto Crianças orando pelos mortos
3ª foto Grito pela Paz no mundo - Nagasaki

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