O calor dos passarinhos
Venho observando
já há algum tempo que, na cidade há muitos pardais. Há também muitas maitacas,
rolinhas e pombas. Todo dia quando tomo meu café da manhã, tenho que repartir o
pão com os pardais, que baixam no quintal, e gritam pedindo sua ração diária. O
interessante é que eles não comem frutas. Já experimentei dar mamão, banana,
maçã, melão, mas eles rejeitam, Só comem pão e arroz cozido e outras massas. Eu
achava que todos os pássaros comiam frutas e sementes, mas os pardais não
comem.
Ultimamente, as gralhas também resolveram
migrar para a cidade. Essas são as gralhas de campo, que têm o peito e a ponta
da cauda brancos e o resto do corpo é azul. Eles constroem seus ninhos nos
lugares altos dos prédios e torres. E fazem uma alarido com seus assobios prolongados
como se fossem chamadas. As gralhas são bem ariscas, não chegam perto da gente.
E elas são muito belas. É da família das gralhas azuis, que têm a fama de
reflorestar o Estado do Paraná, com as sementes do pinheiro da Araucária.
Quando eu era criança e morava perto de Tabajara em Lavínia, as gralhas azuis
vinham muito ao quintal de casa para visitar galinheiros... Eu as achava belas,
mas mamãe não gostava delas, porque rapinavam os preciosos ovos... Eram
totalmente azuis, de um azul bem escuro. Comiam todos os ovos que achavam...
Lá no sítio, aparecem pássaros mui diversos. Os mais numerosos
são as maitacas, barulhentas e escandalosas, que fazem seus ninhos no forro das
casas, e comem toda a fiação da eletricidade... Mas, tem também em profusão os
canários da terra e os tico-ticos, que cantam bonito nos galhos das
laranjeiras, as pombas “fogo apagou”, os joões-de-barro e sua cantoria em
cascata. As gralhas também estão morando lá, no alto das mangueiras.
Quando jogo água nos
canteiros da horta com o esguicho, aparecem beija -flores para tomar uma
chuveirada no ar. Percebe-se que estão desesperados de calor e querem se
refrescar. Gostaria de fotografá-los se banhando, mas nunca consigo, pois são
muito ariscos. E aparecem outros pássaros, como sanhaços para banhar nas poças
de água. De vez em quando aparece um bem-te-vi ou um sabiá.
Essa população alada está sempre lá, faça
frio, faça calor. Nos pastos reinam os quero-quero, que em época de procriação
ficam ferozes, e dão voos rasantes sobre as cabeças dos que se aproximam. Eles
fazem seus ninhos nas touceiras de capim no chão, e defendem ferozmente a
ninhada... São agressivos e parecem aviões de guerra em combate, quando
defendem a sua prole. E fazem um barulho assustador. Eu nem chego perto!
De vez em quando, umas araras atravessam o
céu conversando entre si, mas não descem, pois estão de passagem. Às vezes,
aparece um bando de tucanos nos pés de abacate. Fazem um barulho estranho, como
se estivessem serrando madeira. Gostam também dos frutinhos da árvore de Santa
Bárbara.
Os tuins ou periquitos miúdos costumam
encher o pé de carambola com seu bando, e comendo vorazmente os frutos. O
interessante é que se ouve o barulho da passarada na árvore, mas não se vê
nenhum, porque a sua cor se confunde com o verde da ramagem. E fazem uma
algazarra como crianças em festa.
Ainda, junto aos açudes é comum aparecerem
garças brancas, marrons, patos e gansos d’água. Estão sempre lá atentos aos
peixinhos que aparecem na superfície, e que servem de alimento deles. Também se
alimentam de caramujos, que abundam em lugares úmidos.
E falando em caramujo, ainda não descobri
algum predador dos caramujos pretos imensos, que infestam nossos jardins. Esses
bichos horríveis comem minhas orquídeas, e outras plantas mais mimosas. Vivo
combatendo-os, mas logo que chove, eles aparecem do nada, e destroem minhas
plantinhas. Acho que nem os sapos os comem... O único meio de enfrentá-los é
esparramar um veneninho em forma de bolinhas azuis, que eles comem e acabam se
dissolvendo. Mas, dá uma raiva imensa, quando vejo minhas orquídeas dilaceradas
pela voracidade desses bichos tão nojentos. E pensar que, alguém os trouxe de
terras estranhas, pensando que eram escargots... e que poderiam ser
consumidos... Aff!
Mas, o propósito dessa crônica era abordar
sobre o calor que maltrata as penadas nessa época do ano. Deve ser horrível
usar a cobertura de penas o ano todo, faça frio ou faça calor. Li em algum
romance, talvez de Gabriel Garcia Marquez, sobre um personagem que só dormia com cobertas
recheadas de penas de aves. Me dá arrepios ao pensar na cena, porque aquilo
devia esquentar muito, muito! E as aves com essas penas devem passar um calor,
que dá pena. Os colibris e outros passarinhos vêm invariavelmente, tomar banho
nos esguichos de água da minha horta.
Tenho pena das penadas. É da natureza, mas o calor está insuportável.
Ontem vi uma galinha se banhando na areia,
acho que para se refrescar, porque a tarde estava quente demais. Ela se enfiou
num buraco no chão e, se rebolava toda para passar a terra em seu corpo. Devia
ser refrescante...
Concluindo: Deus fez o Éden ou Paraíso,
para o homem reinar junto da vegetação e de outros animais. Era para todos
serem felizes e viverem em harmonia, apesar da cadeia alimentar, que faz o mais
forte comer o mais fraco... Mas, essa harmonia foi quebrada pela “suma
sapiência do homem”, que destruiu já a metade desse planeta.
O homem poluiu os rios, enterrou os veios d’água,
derrubou as matas, encheu os rios e os mares com toda a sorte de dejetos,
formou desertos onde eram campos verdes... E tornou impossível a vida para
muitos animais. Os passarinhos estão sentindo as consequências desse estrago,
promovido pelo ser racional e pensante que é o homem.
Se nada for feito, se o homem continuar
nesse afã de destruir o planeta, os primeiros que desaparecerão da Terra serão
os passarinhos...
E chegará a vez do homem, com certeza.
Mirandópolis, janeiro de 2015.
kimie oku in
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