O tempo nosso de cada dia
O que é o tempo?
É algo impalpável, invisível, abstrato,
inodoro, incolor, que existe. Como? Ele tem movimento, ele voa, ele para, demora
para passar... Então, existe. Mas, ninguém consegue controlá-lo jamais. Ninguém
consegue dominá-lo, guardá-lo, segurá-lo... Mas que existe, existe!
Foi inventado para o homem ter um controle
sobre suas ações, sobre sua passagem nesta Terra. Milênios, séculos, décadas,
anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos tudo isso são palavras
inventadas pelo homem. Não existem, apesar de controlarem com calendários,
agendas, relógios, cronômetros e tecnologia.
Para nós, cada dia tem vinte e quatro
horas, das quais utilizamos um terço para trabalhar, um terço para outros
afazeres e o restante para descansar. Mas, essas horas ocorrem num continuum, e
não existem como algo concreto. É assim: amanheceu, as trevas foram embora com
o surgimento do sol, que iluminará parte do planeta Terra até chegar o ocaso, e
as sombras virão ocupar o lado que esteve iluminado. E o dia se tornará noite.
O relógio é apenas uma máquina inventada para lembrar ao homem de seus
compromissos: hora de levantar, de trabalhar, de almoçar, de voltar ao
trabalho, de encerrar o expediente, de voltar para casa, de tomar banho, de
jantar, de repousar... Os Incas usavam cordões ou quipos para marcar fatos
importantes, como estatísticas de recenseamento de pessoas, de rebanhos... Era
um cordão principal com vários cordões coloridos, onde se faziam nós... Devia
ser muito complicado. E outros povos usavam as sombras para medir o tempo.
Depois inventaram o relógio de areia ou ampulheta... O homem sempre foi muito
criativo.
Interessante é que com a mensuração do
tempo, surgiram palavras para definir cada medida, como ontem, hoje, amanhã, agora,
semana que vem, ano passado, futuro, presente, passado, quinzena, bimestre,
triênio... E tudo se refere a algo que nem existe. Instante, eternidade,
porvir... Também se referem à mesma coisa.
Temos o hábito tão arraigado em nossa cultura
de dizer que o tempo passa depressa, que o ano já passou da metade, que no
próximo ano vamos fazer regime, cuidar da saúde... Esse tempo é apenas uma
referência, pois ele não existe. E costumamos dizer que “as horas não passam”
quando estamos vivendo momentos conflitantes, e que “a tarde passou depressa”
em momentos felizes...
E ainda existem os tempos de chuva (que
saudades!), de ventanias, de temporais, de seca brava, de calor que queima e
seca tudo... E tem as Primaveras, os Verões, os Outonos e os Invernos para
separar épocas do ano. E reclamamos o tempo todo dos tempos gelados, dos tempos
tórridos de Verão de 40 graus, dos tempos de seca, dos dias intermináveis de
chuva...
E o que os antigos costumam falar sempre
“no meu tempo...” se referindo a um passado meio distante, em que os costumes
eram outros. E os profetas nos ameaçam com “tempos virão para cobrar vossos
pecados, vossa falta de fé...”
Mas o homem não recebeu a graça da vida
para ver o tempo passar. Ele tem que se ocupar, tem que se empenhar em alguma
coisa para sobreviver. Daí, vai trabalhar e conta os dias para ter direito ao
descanso semanal, os meses para conseguir o décimo terceiro salário, os anos
para licenças-prêmios e férias, e cumpre todo o tempo necessário para poder se
aposentar. A esperança do trabalhador é poder se aposentar e descansar, curtindo
a vida antes de partir definitivamente desse mundo.
Entretanto, a vida é muito curta. Ela é apenas um sopro que
passa... E muita gente sabe aproveitar esse tempo para se realizar, para
aproveitar as boas coisas da vida. Uns gostam de viajar para lugares exóticos,
outros gostam de festar, de dançar, outros ainda de pescar... E outros mais de
jogar: bola, truco, vôlei, basquete, caxeta, sinuca, malha, tênis, bingo, bocha.
E jogar nas loterias, que concentram as esperanças de multidões...
Nesta vida há tanta diversão para todos os gostos: cultivar um
jardim, cuidar de uma horta, cozinhar, costurar, fazer bolos, criar umas
galinhas, cuidar de cavalos, de cachorros, de gatos, de pássaros, de peixes...
Nadar, praticar ginástica, caminhadas, corridas, ciclismo, motociclismo,
escalar montanhas, esquiar, explorar florestas e matas...
E sem sair de casa ainda há outras diversões absolutas, que
fazem o gosto de muita gente: ver novelas de tevê, assistir filmes, ler livros,
ouvir música, tocar instrumentos musicais, fotografar, desenhar, pintar,
escrever livros e pesquisar sobre os mais variados assuntos (tão fácil com o
Google disponível!)
Como veem, há tanta variedade de ocupação para tornar a vida mais agradável, mas a maioria dos
aposentados se acomoda e não faz nada. Passa os dias e os anos pregado no sofá,
queixando-se de dores aqui e ali, e não tem ânimo para dar uma volta no
quarteirão. Ele sabe muito bem que as dores são a consequência de falta de
exercício, de má postura no sofá, de não caminhar, mas como parou no tempo, não
faz nada para melhorar... E aí vive se lamentando. Morto vivo. Desolador...
O tempo de aposentadoria foi a grande conquista da humanidade.
Antes, os trabalhadores não tinham esse direito e trabalhavam até morrer. Já
imaginou? Trabalhar direto desde que começa uma labuta, sem férias, sem parar
até morrer? Era exatamente assim. E ninguém reclamava do pagamento irrisório,
porque era dispensado na hora. Com a Revolução Industrial, os operários que
trabalhavam 12, 16, 18 horas diariamente, é que conquistaram esses direitos
para nós. E a sociedade foi aprimorando os direitos do trabalhador, até acabar concedendo
férias, licenças- prêmios e gratificações. Mas isso só foi conseguido depois de
muitas brigas, de levantes, de confrontos entre patrões e empregados. Felizmente,
todas essas conquistas foram transformadas em leis trabalhistas e o tempo de
escravidão ficou para trás. Então, por que as pessoas não aproveitam esse tempo
de aposentadoria? Realizando sonhos. Vivendo, mesmo que por um lapso de tempo,
tudo aquilo que desejou viver...
Ainda é tempo! Antes de partir para sempre desse mundo, vamos
realizar os sonhos mais caros que cada um de nós carrega. Só assim a vida terá
valido a pena. Porque no final das contas, a gente vive a vida toda para os
pais, para os irmãos, para os filhos, para os netos, os bisnetos... E
esquecemos de viver a própria vida, para nos satisfazer.
E o que você tem feito do seu tempo?
Mirandópolis, agosto de 2015.
kimie oku in
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