Café da manhã
Antigamente no café da manhã tinha um bule de café
quentinho, uma jarra de leite, pão e manteiga. Hoje, não! Tudo mudou.
O café da manhã ou breakfast atual
tem presunto, mussarella, queijo fresco, mamão e suco de frutas além do pão, café
e leite.
Como sou muito simples, contento-me
com um copo de leite acrescido de um sachê de colágeno hidrolisado e uma colher
de mel, e um pãozinho com requeijão light. Não tomo café e evito presuntos... Às
vezes, um pedaço de mamão... O colágeno é para ajudar as articulações que estão
meio desgastadas, em especial dos joelhos. O requeijão é para repor o cálcio,
que o meu corpo preguiçoso agora necessita mais. E o pãozinho é para me
abastecer depois da caminhada e dos exercícios matinais.
E essa refeição eu tomo numa mureta que tem na porta da minha
cozinha, enquanto o sol vem mostrando a sua cara toda vermelha e quente.
Aproveito a brisa matutina.
E há um ano mais ou menos que, tenho
convivas para essa minha primeira refeição do dia. São os pardais.
Inicialmente, eram uns dois ou três que vinham beliscar os farelos de pão, que
eu jogava no quintal... Hoje são mais de dez, que já amanhecem gritando,
pedindo a comida. Ficam esvoaçando pra lá, pra cá, piando que estou atrasada.
Se demoro muito, eles vêm até a mureta e alguns mais atrevidos e famintos aterrissam
na mesa da cozinha. Não tem como recuar diante de tão convincentes pedidos.
Antes de começar a comer, todo dia tenho um ritual: pego nacos do pãozinho e
jogo no chão do quintal, onde chegam num voo rasante os gulosos bichinhos. Como
gostam de pão! Pode ser doce, salgado, seco, úmido, novo, velho, recheado, sem
nada... Em instantes, eles consomem tudo. E gostam de bolos, panetones... As mães depois
de se abastecerem, levam pedaços para os filhotes que esperam no ninho. E esses
pipilam docemente, pedindo a refeição da manhã.
Observando esses bichinhos alados,
notei num pequenininho sem cauda, que voava desajeitadamente. Achei que, por um
acidente na boca de algum gato faminto, tivesse perdido as penas mais longas...
E que voltariam a nascer. Mas, até agora passados meses e meses, o rabicozinho
continua tal qual o conheci. Não sei se por causa da falha de cauda, sempre
tive pena dele e ficava esperando a sua chegada para lhe alimentar. Pensei que
deveria ter uma vida mais difícil que os outros, que voam rápidos e seguros.
Acredito que as penas longas da cauda é que dão o equilíbrio para planar. No
início ele voava meio desajeitadamente, sem a ajuda da cauda. Mas, qual não foi
minha alegria, quando o vi descer acompanhado de um pardalzinho pequenino, pra
quem ofertava as migalhas de pão. E regularmente, ele vem e leva pedaços de pão
para o ninho, que deve ser no pé de sibipiruna que está na frente de minha
casa. Hoje ele está gordo e voa tão desembaraçadamente como os outros. Está
rechonchudo e parece mais redondo pela ausência do rabicho. Acho que de alguma
forma o ajudei a criar os filhotes...
De vez em quando desce também um bem
te vi, que espanta os pardaizinhos, que saem em debandada à sua chegada. Já vi
pombas rondando a comida também. E andorinhas...
Tenho um prazer imenso de
compartilhar meu café da manhã com os passarinhos. E as galinhas poedeiras lá
do sítio que já deixaram de pôr ovos, adoravam pão. Elas ficavam loucas quando eu lhes oferecia
pão seco...
Observei também que os pardais não
comem frutas. Já lhes ofereci mamão, banana, melão e maçã... Foi desperdício.
Eles nem experimentaram. Estranhei, porque sempre pensei que os bichinhos se
alimentavam de frutas... Ledo engano. Arroz cru também não comem. Arroz cozido
é um manjar para eles, feijão cozido, tortas, bolachas... E eles nem beliscam
folhas de alface e almeirão. E eu tão ignorante achava que, eram herbívoros e
frugívoros. Só que no Google informam que os pardais se alimentam de grãos e
frutas...
Acho que os pardais da cidade
ficaram mal habituados e, como encontram facilmente restos de comida nas
lixeiras, adotaram o cardápio dos humanos. Penso que isso não é correto, porque
estamos desvirtuando a sua cadeia alimentar. Assim como os criadores de cães e
gatos os alimentam somente com ração balanceada. Os bichos tinham a vocação de
caçar seu próprio alimento, quando foram trazidos para dentro das casas dos
humanos e adestrados... De repente, passaram a se alimentar da comida que os
homens comem: arroz, feijão, polenta... Conheço alguém que dá fatias de queijo
fresco toda manhã para o seu cão. E até
sorvete! Será isso correto?
O amor aos bichos está levando as
pessoas a cometerem excessos, que podem causar mal a eles. Gostar de bicho é
legal, mas transformá-los em humanos é paranóia! Bicho é bicho e humano é humano. Quem tem essas ideias deve adotar
crianças. E há tantas precisando de ajuda, de assistência. Visitem as Casas de
Abrigo, que guardam crianças, cujos pais estão presos. Nem é preciso adotá-las.
Visitar e dar uma assistência fará muito bem ao coração. Além do benefício de
oferecer um pouco de conforto das palavras, de um abraço, de um lanche, de uma
brincadeira... Essas crianças se sentem perdidas em casas estranhas, e sofrem o
medo de não reencontrar mais os pais... E o número delas está crescendo, com os
pais perdidos que se multiplicam em proporção aritmética, com a disseminação de
drogas no mundo...
Mas, voltando aos pardais, percebi
que nos sítios há tantos pássaros, mas pardais não. Tem pombas rolas, periquitos,
anus, tico ticos, canários da terra, sabiás, beija flores, quero quero,
pássaros pretos, fogo apagou, peixe frito, bem te vis, maritacas, gralhas, corujas...
Mas, nunca vi pardais. Será que esses pássaros não gostam de campo? De vez em
quando recebemos visitas de tucanos, de araras, de garças, de patos do brejo...
Mas, de pardais nunca.
Gosto de ver os pardais brincando.
Eles brincam nas poças de água em dias muito quentes... E brincam na areia,
como se banhassem nela. E fazem seus ninhos nos forros das casas. No forro de
minha biblioteca moram umas famílias de pardais. Eles não incomodam e eu os
deixo lá. A salvo dos gatos famintos, que rondam pelos telhados...
Enquanto houver pardais em minha
árvore, não precisarei de despertadores, pois eles começam a gritaria bem
cedinho. E no forro da minha biblioteca, há sempre filhotinhos pipilando...
Sinfonia de pardais!
E isso é Vida!
Mirandópolis, setembro de 2015.
kimie oku in
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