Viver sem amigos...
De repente,
percebi que estou ficando só.
Nos últimos
anos, muitos amigos partiram definitivamente. Deixando apenas lembranças e
saudades. É muito difícil perder um amigo, uma amiga... Demoro muito para
processar as perdas ...
Enquanto
vivemos, nós cultivamos amizades com pessoas que têm algo em comum, talvez o
estilo de vida, o modo de pensar, de apreciar algumas coisas... Tive amigos e
amigas de décadas, que mais parecem irmãos, irmãs...
E é muito
bom ter uma amiga, a quem possa ligar a qualquer hora para bater um papo,
trocar uma ideias... desabafar ou compartilhar momentos felizes. E tive raras
amigas assim. Porque nem todos têm a mesma sintonia.
Entretanto,
percebo que ultimamente, meus amigos estão se reduzindo cada vez mais. Uns
estão indo para junto de Deus, e aí não tem solução, a não ser aceitar o
inexorável. Eu pessoalmente, levo meses e até anos para me acostumar com essas
partidas... Outros estão acamados e não podem mais sair de casa, por falta de
movimento... Isso é doloroso demais, e me deixa desnorteada, sem ação. E outros
estão indo embora de mudança para novas paragens... Isso é muito difícil de
aceitar. Dizem que a distância não é nada, mas em nossa idade atrapalha demais,
porque perdemos aquela coragem aventureira de ir para onde o coração manda. Se
é pertinho, ainda é possível uma visita, passar umas horas junto de pessoas
queridas para manter contato. Mas, a distância nos assusta. E dependemos de
terceiros para viajar para lugares distantes.
Na idade em
que estamos, dos setenta pra mais, além da coragem perdemos a disposição de
enfrentar longas viagens, mesmo porque, as pernas adormecem, a coluna reclama,
os intestinos e a bexiga têm suas exigências inadiáveis, que nem sempre as Rodovias
respeitam... E viajar de avião parece tão fácil... Mas, alguém tem se dispor a
nos colocar dentro dele, de nos buscar no aeroporto... E esses alguéns estão sempre
ocupados demais trabalhando. Como dizem os jovens, velho é foda!
Estou aqui
lamentando porque de repente, uma amiga está partindo para longe. Anos e anos
de convivência, de troca de figurinhas, de desabafos em momentos difíceis, de
consolo em perdas... De horas conversando, tomando café, andando sem rumo, contando
passagens, aventuras... visitando outros amigos... rindo das bobeiras mútuas...
Subir a rampa é ótimo! Quando galgamos as
escadas da vida éramos jovens, tínhamos coragem e muita juventude, que nos
impelia para cima, para o alto. Perdíamos o compasso e despencamos muitas vezes
dos degraus mais difíceis. Mas, a força juvenil não aceitava derrotas e,
voltávamos a galgar mais e mais para vencer os obstáculos... E chegamos até
aqui.
Mas, descer
a rampa não é fácil. Os anos pesam, as pernas bambeiam, o olhar não enxerga
longe, os ouvidos ficam moucos e acima de tudo a coragem é pouca. Então, nessa
fase, amigos são indispensáveis. Amigos que enfrentam as mesmas dificuldades,
que entendem as mesmas frustrações, que perdoam as mesmas falhas...
Nessa fase,
deveríamos morar num Condomínio fechado só com amigos verdadeiros. Idealizo esse
Condomínio de sonhos como um lugar no campo, cercado de árvores frutíferas, um
lindo jardim, onde reinem borboletas e passarinhos... Passarinhos que encham o
ar com seus trinados e gorjeios. Um lugar em que, haja uma porção de pequenas
moradias independentes para os casais. Com um refeitório comum, com um salão de
festas, com enfermeiros, cuidadores, cozinheiras e arrumadeiras... Já
imaginaram? Seria uma festa! E nós os idosos plantaríamos flores, faríamos uma
horta, faríamos leitura e comentaríamos sobre o que se leu, tocaríamos música
ao piano, ao violão ou simplesmente cantaríamos... E nos ajudaríamos uns aos
outros. E não haveria solidão!
Sonhar é
muito bom!
Acredito que
não conseguirei realizar esse sonho, mas os que vierem depois poderão realizá-lo!
Pois essa moda está pegando e há cidades que já adotaram esses condomínios de
idosos.
Por
enquanto, vamos vencendo a dor da solidão com os encontros mensais de Ciranda.
Ainda bem que eu tenho a Ciranda!
Mirandópolis,
agosto de 2016.
kimie oku in