Álbum de família
De repente, recebemos como um presente,
o livro que relata a história da família Imoto, que inclui a minha finada sogra
Senhora Suguiko Oku.
Os filhos de Takeo Imoto, que era irmão
de minha sogra organizaram o relato a partir dos bisavós Buiti e Miyo Imoto. O
início dessa história remonta a mais de dois séculos, em 1800 no pequeno
vilarejo de Fukuyama, na Província de Hiroshima, Japão.
O relato foi feito através de
fotografias primorosas e, nos deixou muito emocionados pelas imagens até então
desconhecidas da minha sogra, mãe de meu esposo Noriyoshi. Imagens da infância,
da juventude, de outros tempos... Ela era muito bonita!
A história do senhor Ichiuemon, que vale dizer foi o
esteio da Família Imoto começa em Hiroshima Japão, passa por Kauai, no Hawaí, Getulina e São
Roque no Brasil. Ichiuemon era o pai de minha sogra e do senhor Takeo. Sempre
preocupado em proporcionar conforto à família e vencer na vida aventurou-se no mundo.
Minha sogra nasceu lá em Hawaí e
frequentou as escolas de lá, onde aprendeu a falar e escrever em inglês, que
não esqueceu nunca. Ela também lia, escrevia e falava fluentemente o japonês.Um
dia, ela me contou que naqueles tempos a base das refeições no Hawaí, era o
inhame no lugar do arroz. Disse que era o costume da época. O inhame era socado
no pilão e posto para secar... Depois... eu não me lembro. Deveria ter
perguntado mais, mas preocupada com meus filhos pequenos acabei me distraindo,
e nunca soube como era a vida dela naquela ilha remota e tão famosa hoje. Lamento tanto não ter perguntado mais sobre a sua infância e sua juventude...Mais
tarde ela foi para Hiroshima, com o pai Ichiuemon e seu irmão Takeo.
E a história brasileira começa na
fazenda Saltinho, em Getulina, município de
Lins, em 1928.
Não conheci o meu sogro, pois ele
falecera de apendicite aguda em Guararapes, quando meu esposo tinha apenas dois
anos de idade. Hoje ele tem 77 anos.
Com certeza, a senhora Suguiko sofreu
muito para criar seus sete filhos. Após a viuvez ela foi morar em Getulina com
a família de seu irmão Takeo. E ela e os filhos pelejaram muito na roça, para
que os menores pudessem estudar. Dos sete filhos, apenas três tiveram a chance
de estudar e procurar um meio de vida menos duro que a lavoura. Mesmo assim,
ela foi grata ao irmão que lhe deu apoio nos anos difíceis, que teve que
enfrentar.
Após a morte do senhor Ichiuemon, a
família foi comandada pelo patriarca Takeo e sua esposa Ayako. Todos
trabalharam muito e de alguma forma venceram as dificuldades da época, e cada
filho partiu para realizar seus sonhos. E aconteceu a viagem para o Japão, a
fim de rever familiares que lá deixaram. Mas, o que mais comoveu a minha sogra
foi o reencontro com seu irmão Massaichi, que ficara no Hawaí, onde se aposentara
da função de Professor universitário. Seria o primeiro e o último encontro com
esse irmão... Voltar para a sua terra natal, após mais de meio século deve ter
sido muito doloroso e comovente... Mais ainda para rever uma pessoa querida.
Há outros relatos de vida na roça, de
festas da família, mas em resumo é só isso. Há muitas fotos desde os
antepassados até os últimos descendentes da família do senhor Takeo e dona
Ayako. Há o desenho dessa árvore genealógica...
Ao folhear, porém esse álbum, imaginei a
vida dura enfrentada pelos imigrantes que aqui aportaram, sem conhecer a língua
e os costumes da nova pátria, diante de florestas e florestas virgens que havia
em todas as direções. E as acomodações que foram acontecendo, para poderem sobreviver.
Minha sogra, uma mocinha linda ferindo suas mãos nos cabos de enxada,
derriçando café, socando arroz no pilão, criando porcos e galinhas e cultivando
hortas para garantir refeições salutares para a prole... E as incertezas da
vida, sem um marido que lhe servisse de esteio... Foi um tempo de bravura, de heroísmo
silencioso e nunca revelado. Para criar os filhos e lhes dar um destino
melhor... Posso afirmar isso porque foi o que minha mãe e meu pai também
passaram... Imigrantes.
Entretanto perpassam por essas folhas
também, as vozes de crianças brincando nos campos verdes, nadando em riachos,
caminhando longos caminhos para a escola, correndo à sombra das laranjeiras,
dos caquizeiros e das mangueiras. A interação com as crianças brasileiras, a
língua portuguesa falada por todos, o linguajar japonês falado pelos adultos ao
comentarem fatos mais graves...
Depois, o rumo que cada um tomou na
vida, voando alto e encontrando os parceiros para dividir a vida...
Sempre me pergunto: Para onde foi aquela
criança feliz que um dia existiu e fez a alegria de todo mundo? Tornou-se um
adulto sério. Sério demais...
Um álbum é apenas umas folhas com as
fotos de diversas pessoas... Lembranças de um tempo que passou e não volta mais.
Apenas papel, que o tempo gastará e um dia será esquecido num canto qualquer...
Mas... essas folhas guardam tantas
batalhas vencidas, tantas dores sentidas, tantas lágrimas vertidas, tantas
saudades suportadas, tantas alegrias vividas... Ao folhear esse álbum, é
possível fazer uma viagem de volta no tempo e recuperar tantas emoções...
Nós, japoneses ou de origem japonesa
temos a tradição de cultuar os antepassados, porque sem eles não existiríamos...
E reconheço a importância de tudo que o senhor Ichiuemon Imoto aventurou na
vida, para terminar seus dias no Brasil. Sem essa aventura, não conheceria seu
neto Noriyoshi, que é pai de meus filhos César Noriyoshi, Sandra Kimie e
Ricardo Minoru, além da neta Ana Carolina Tanaka.
E sou grata de todo o coração ao Hideo
Imoto e a Kiyoko Harakava, pela edição primorosa deste álbum, que me abriu um
espaço (um sukimá) na família Imoto.
E
em nome de Noriyoshi, agradeço a gentileza desse precioso presente, que o fez
chorar de emoção ao relembrar fatos de sua infância e da juventude...
Domo arigatou gozaimashita!
Gokigenyou!
Mirandópolis, abril de 2017.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
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