Beleza é fundamental?
Quando se é jovem, sentimos intensa
vontade de ser diferente. Acredito que todo mundo passou por isso.
Eu não nego. Tinha imensa frustração
por ser baixinha, com um pouco mais de um metro e meio, gordinha e sem graça
nenhuma.
Percebi como eu era fora de padrão
quando na adolescência, uma colega nossa que era bela e tinha um corpo
maravilhoso, começou a apontar os defeitos das outras meninas. Comentou sobre
batatas de pernas gordas (como as minhas ai, ai!) e sobre gente baixinha...
E a partir daí desejei crescer mais,
ficar longilínea e ter pernas longas e bonitas... Mas a natureza é implacável,
não nega o DNA. Eu tinha que ser baixinha e gorducha... E além dessas
frustrações aconteceu o inimaginável! Apareceu uma mecha de cabelos brancos bem
no meio do meu cocoruto, e não havia meio de disfarçá-los... E aí, as colegas
diziam: “Tá ficando velha! Olha os cabelos brancos dela!”
Fui ficando reservada, quieta e
queria me esconder, porque não queria ser humilhada. Bem nessa época, havia um
jovem de origem japonesa, que estava umas séries mais adiantado. Era das
Alianças e tinha cabelos brancos na cabeça toda, com alguns fiapos escuros. E
os meninos implacáveis o apelidaram de vovô. Eu tinha muita pena dele e me
imaginava no seu lugar, sendo magoado gratuitamente por algo de que não era
culpado...
Mas, a Escola é o melhor remédio.
Descobri o prazer da leitura e me refugiava na Biblioteca, onde lia de tudo:
Contos da Carochinha, Júlio Verne, Freud, Dostoiévski, Tolstoi, Malba Tahan,
José de Alencar, Machado de Assis, Érico Veríssimo... Em vez de me preocupar
com os cabelos brancos e a aparência, tratei de rechear a cabeça com
conhecimentos, que me deixavam cada vez mais encantada.
O tempo passou, venci essas
frustrações e de repente descobri que era moda ter mechas de cabelos de cor
diferente no penteado. Eu tinha e nem precisava ir à cabeleireira para tingir!
Mesmo assim, ainda achava que eu não
me bastava. Era muito pequena, gorda e sem graça nenhuma. Sempre fui assim. E
me olhava no espelho e suspirava: “Ah! Se fosse dez centímetros mais alta!”
E assim, passei a vida inteira
olhando com inveja as belas pernas das mulheres famosas, o talhe elegante de
certas pessoas... Eu continuava gorda, pesadona...
Mas, Deus que tudo vê e provê me deu
uma dura lição.
Um dia, senti dores no joelho
esquerdo! Não conseguia descer da calçada para o leito do asfalto, sem gemer...
Descer escadas nem pensar! Aí tive que
procurar os especialistas de plantão para tirar essas dores. E graças a Deus,
achei alguém que resolveu meu problema. É bem verdade que à custa de uma
aplicação e ingestão de colágenos e ômega três. Há mais de quatro anos que não
sinto dores e caminho mais ou menos bem.
Mas, faço exercícios e caminhadas todos os dias. E colágeno e ômega três
fazem parte do meu cotidiano. Até aprendi a consumir pés de frango, que muita
gente refuga. Melhor consumi-los que ficar travada de vez.
Porque o homem é um ser caminhante.
Quando parar de caminhar, estará morto. Não poder se locomover e ir para onde
quiser? Não há destino mais triste! Nem posso imaginar!
Ultimamente,
tenho visto tanta gente capengando por essas ruas. Muitos usam bengalas, se
apoiam em outros parceiros, e os mais renitentes andam arrastando uma perna,
com dificuldade para subir degraus, para entrar no carro, para atravessar a
rua... De cada dez pessoas, três estão com problemas graves nas pernas. E não
são tão idosos assim. Muitos têm menos de setenta, menos de sessenta anos...
Estou com mais de setenta anos e
ainda consigo ir ao Banco, à Farmácia, ao Mercado, à cabeleireira, à
mercearia... Andando... Devagar, mas andando com as próprias pernas.
E sou grata a essas mesmas pernas
que não gostava por serem gordas, curtas e feias... Sou muito grata porque elas
me levam para onde quero ir, sem depender
de ninguém.
Vinicius de Moraes disse um dia “As
feias que me perdoem, mas beleza é fundamental!” E foi muito aplaudido. E assim se instalou o
culto à beleza, à perfeição.
O poeta estava totalmente
equivocado. Beleza não é fundamental. Fundamental é a Saúde. Saúde do corpo, da
mente, do coração. Tantos atores e atrizes famosos, perfeitos de corpo
sucumbiram aos anos e, se tornaram farrapos do que foram no passado. De que
lhes vale a beleza agora?
As flores também quando se abrem
para a luz são belíssimas. Mas, quando as horas passam, elas murcham, escurecem
e caem. Assim é a vida de todos nós. Um dia, as pernas perderão a elasticidade
e as articulações irão travar. Mesmo sendo belas e longilíneas.
Então é preciso cuidar para que isso não
aconteça muito cedo. Mais que cuidar da
beleza é preciso cuidar da saúde.
Caminhando sempre, todos os dias um pouco para exercitar os nervos, para
que não se travem. Cuidar das pernas não é só fazer pedicuro... Esmaltes
vermelhos ou azuis não te levarão a lugar nenhum...
Hoje, entendo porque Deus fez as
pessoas diferentes. Para que cada um descubra a força que existe dentro de si, e
vencer as dificuldades. Nascer torto ou aleijado não é castigo. É apenas um
desafio, que o homem acaba vencendo de algum jeito. E se não aprender, viverá a
vida inteira em completo sofrimento.
Hoje, contradizendo Vinícius afirmo:
“Fundamental é a saúde e não a beleza”. Porque sou feliz com a minhas
limitações.
Mirandópolis, março de 2017.
kimie
oku in
Parabéns dona Kimie... Boas reflexões sobre a nossa vida humana e espiritual... Com certeza, todos nós sabemos que não somos iguais aos outros e sim cada um de nós temos fisionomias,características e personalidades diferentes... portanto, como filho de Deus perfeito, somos capazes de realizar e superar todas as nossas necessidades e expectativas de sonhos e objetivos... basta acreditar e buscar planos e valores pessoais que cada um tem, apesar de não sermos totalmente correspondidos com a lei franca e justa... mas com certeza somos capazes de alcançar todas as metas pessoais dentro do contexto de ser humano e evolução racional... Tudo de bom, grande abraço. 😃 👍 ❗ ❗
ResponderExcluirObrigada, Carlos Solrac! Com as experiências vivenciadas, nós aprendemos... Aprendemos que estamos neste mundão de Deus, para cumprir algum propósito de Deus. E descobri que a minha função é ajudar pessoas a se descobrirem através da leitura de meus textos, que quase sempre relatam experiências sofridas. Seria muito triste usufruir da Vida que Deus nos deu, e não descobrir o que estamos fazendo aqui nesta Terra. Como diz uma bela canção japonesa: O que você vai deixar para o mundo? Deixo essas pequenas crônicas...
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