Sem óculos...
Quando eu tinha 38
anos de idade, meu excelente colega de trabalho Yussuf Hsain Alaby começou a
usar óculos. E eu comentei que ele estava ficando velho, porque sua visão
começara a falhar. Lembro-me bem que ele achou graça e me disse: “Deixa estar,
que a sua hora há de chegar!”
E chegou
mesmo! Mais cedo do que esperava! Com 45 anos já não conseguia localizar os
números na Lista Telefônica. As Listas da época eram imensas, pesadas e eram
impressas em letras bem miúdas... Os
primeiros óculos me incomodaram muito. Não paravam no lugar e me faziam suar.
Detestei o uso deles! Mas, a visão falhando mais e mais me obrigou a adotá-los
de vez. E quando os esquecia em casa, tinha que voltar para buscá-los. Sem eles
não conseguia trabalhar. Como ler ou escrever sem óculos?
Acredito
que os óculos tenham provocado uma revolução quando foram inventados. Lembro-me
do filme “O nome da Rosa”, da obra de Umberto Eco em que um Frei tinha o
privilégio de possuir um par de lentes grossas, com as quais lia as Escrituras
no Monastério. Isso provocava muita cobiça aos demais religiosos, que tinham a
visão também enfraquecida. Era uma novidade e todos ficavam fascinados pelo par
de lentes de vidro... Desejando possui-los também...
No
início dos tempos, usava-se um par de lentes, que eram presos no nariz por meio
de uma mola. Eram os famosos pince nez, sem pernas. Pince nez expressão
francesa significa “preso no nariz”. Como não eram práticos, inventaram as
pernas para apoiá-los nas orelhas...
Os primeiros
óculos eram feios, de aros redondos, que deveriam ser usados por todos
indistintamente, sem considerar o formato da testa, a distância e a cavidade dos
olhos... A maioria das pessoas ficava muito estranha com esses óculos... As
lentes eram bem grossas e a armação era sempre preta ou marrom e a face do
usuário ficava muito séria, com expressão pesada.
Com o
decorrer dos tempos, inventaram novos modelos, que se adaptassem aos diferentes
formatos dos rostos. E hoje existem os mais variados modelos, que além de serem
úteis servem ainda para ornamentar os rostos. Modelos diversos de cores suaves
e delicadas até os mais ousados e extravagantes. Há uma infinita variedade de
modelos e cores, e os óculos já fazem parte do vestuário das pessoas como
protetores do sol ou, apenas como objeto de requinte.
Os
óculos são indispensáveis para a maioria das pessoas que ultrapassaram os
cinquenta, sessenta anos de vida. A visão assim como as demais partes do corpo
tendem a se enfraquecer com o tempo. E um dia, a maioria busca ajuda de um
oftalmologista para continuar enxergando. E daí em diante, esses objetos
passarão a ser parte do seu traje diário. Eu também os uso constantemente, se
bem que ainda consiga enxergar mais ou menos bem os objetos distantes. Mas,
para dirigir não os dispenso.
Pois
bem, um dia desses perdi o único par de óculos que me permitem ver de perto e
de longe. E os procurei nas gavetas, nos armários, entre os livros, nas bolsas,
entre minhas sacolas de crochê e de tricô. E nada. Se evaporaram! Daí, liguei
para os mercados, as lojas, fui ao Banco, ao Conservatório, ao Foto Celso para
atormentar as pessoas com minhas indagações! E nada!
Não
fiquei desprovida totalmente da visão porque tenho uma porção de óculos. Toda
vez que avio nova receita, aproveito a velha armação e faço uma reserva que
fica na minha escrivaninha, no meu criado mudo, junto do computador... E para
dirigir tenho os solares que permitem visão à distância. Mas, os que perdera
eram bifocais e caros, daí a minha decepção e o desejo de recuperá-los...
Como
último recurso postei no face pra ver se alguém os achara em algum lugar. Muita
gente se solidarizou comigo, torcendo que os encontrasse, com palavras de
alento. Mas... o melhor foram as chistes que foram surgindo dos amigos
“terríveis”, que tenho como Ademar Bispo, José Roberto Drubi, Maria Célia
Sanches Drubi e Moacir Bonadio. Sugeriram que os procurasse embaixo da cama,
embaixo do banco do carro e até na testa! O Zé Drubi disse que eu precisava de outros
óculos para procurar os perdidos!!! E o Ademar Bispo, meu amigo de Araçatuba,
que é um exímio contador de histórias, publicou no face um “Monólogo dos Óculos
da Kimie”, muito engraçado, que divertiu à beça todos os envolvidos. Dentre as
graças inventadas pelo Bispo, meus óculos teriam sido usados como olheiro do
meu filho, deixando-os propositadamente no seu carro. Sim, porque lá estavam
esquecidos durante uma viagem que fiz, e troquei de carro para voltar... Ainda,
ele escreveu sobre minha cegueira forçada e minhas trombadas com as portas, a
troca de sapatos ao calçá-los...a desastrada tentativa de acertar a boca com o
garfo nas refeições, a troca de sustenidos e bemóis na Nona Sinfonia e para
completar... disse que preciso de óculos porque sou japonesa e não consigo
abrir os olhos... A veia satírica do amigo estava inspirada e dei muita risada.
Mas, valeu para desopilar o fígado de muita gente.
Felizmente
achei os benditos óculos.
E essa
história serviu para a gente se divertir um bocado. E a presente crônica foi
sugestão do Moacir Bonadio, que com seus 81 anos de idade tem um humor
impagável.
E se
nada é por acaso, a perda dos meus óculos foi providencial para fortalecer a
amizade de todos esses amigos e mais outros do face.
Obrigada
a todos!
Um
crônica por uns óculos esquecidos...
Mirandópolis,
abril de 2017.
kimie oku in
Oi Kimie,
ResponderExcluirComo sempre, é muito agradável ler suas crônicas!...suas letras parecem estar batendo papo com a gente...por isso, a "conversa" flui facilmente e nos faz tão bem!
Parabéns e obrigada! Bjo, amiga!
Muito obrigada,Joana. Agradeço por prestigiar o meu trabalho (ou minha diversão?)
ExcluirKimie,em meu coração fui solidária a você e desejei muito o seu encontro com o "danadinho". Não consigo ler quase nada sem meus óculos de perto! Quando os perco, fico aflita...!! Mas... esta perda suscitou doces "provocações" e em dias pesados e cinzentos , estes momentos são de refrigério e alegria! Amo suas crônicas e sátiras! Bjos.
ResponderExcluirAs provocações foram ótimas, né Ana Maria?
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ExcluirSim..., Kimie, muito criativas !!
ExcluirBom dia!
ResponderExcluirCom os meus óculos pude ler mais esta obra sua que, sem sombras de dúvidas, fora escrita com os dedos, com a mente e com os seus óculos reaparecidos.
Beijos!
E de olho nos amigos do Face, Ulisses.
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