sábado, 31 de março de 2012


                          CIRANDANDO  DE  NOVO

             No último dia 30, sexta-feira, o grupo Ciranda reuniu-se novamente na chácara do senhor Albertino Prando, para mais um encontro.
                   A novidade do dia foi a participação das senhoras Benedita, Lúcia e Ângela. Também compareceu a voluntária Selene Lipe para conhecer o grupo.
                O sol estava luminoso, e a temperatura mais amena, o que animou os cirandeiros. A partir das catorze horas começaram a chegar os participantes, cada um trazendo um prato de salgados, um bolo, uma bebida. O Dedé e a Isabel, como sempre, trouxeram o delicioso suco de acerola com hortelã. A Ana, que faltou, mandou também uma sobremesa.
                   Depois das apresentações e dos contatos iniciais, foram servidos alguns salgados. Em seguida, com a chegada da sempre alegre Rachel, começou a festa com a cantoria, ao som do acordeão de seu Albertino, do pandeiro de Toninho e do violão de seu Zeferino Coqueiro. E o pessoal cantou, rebolou e dançou.
                   Após uma pausa para o lanche, formou-se a Ciranda, em que os artistas se revelaram. Inicialmente, a coordenadora do grupo, kimie Oku deu as boas vindas às novas participantes, apresentando-as ao grupo, e relembrou os três pontos-chaves da Ciranda: não discutir Religião, não falar de Política, e nunca cobrar nada. E alguém perguntou se pode vender algo na roda. E ela disse que pode até vender, mas os cirandeiros não podem comprar (risadas).
                   Em seguida, o professor Gabriel leu um texto de Chico Anísio, que faleceu na outra semana, intitulado “O Surdo”. Foi muito aplaudido. Falou também do dia 31 de março, aniversário da Revolução de 1964, que implantou o regime militar no Brasil, que causou tantos sofrimentos  às famílias de jovens, que não concordavam com o regime. E recomendou a leitura do livro “Brasil, nunca mais” de D. Paulo Evaristo Arns e outros, que contém os depoimentos de vítimas  encarceradas nos porões, onde foram barbaramente torturados.
                   O seu Orlando Serafim declamou o poema “Nossa Senhora Aparecida”, muito longo e comovente, em que ele relata que recebeu uma graça da santa, quando estava muito doente. Declamou também um poema sobre a vida na roça.
                   O Dedé, ou o José Maria leu um texto para refletir, pedindo a Deus que nos dê sabedoria para viver bem, sem criar problemas com os amigos e familiares.
                   A Rachel complementou o texto do Dedé, dizendo que ela está numa fase da vida, em que tudo é aprendizagem  aprendendo a respeitar o tempo do outro, o ritmo do outro, a vontade do outro, a saúde do outro.
                   A Selene Lipe disse do seu encantamento com o que presenciou e viu. Disse que, já trabalhara antes com vários grupos de terceira e de quarta idade, mas nunca imaginara existir um grupo como a Ciranda, que proporciona lazer e alegria de forma tão direta às pessoas sós.
                   E a kimie concluiu dizendo que, a Ciranda é apenas um grupo, que ao se dar as mãos na roda, as pessoas sentem a energia passar de uma para outra, mostrando que ninguém é  sozinho, que à direita e à esquerda há  um amigo que nos quer bem.
           E assim foi mais um encontro da Ciranda, com todos os cirandeiros, voltando para suas casas, esperando por um novo encontro.         
                  
                   Mirandópolis, 31 de março de 2012.
         kimie oku in (cronicasdekimie.blogspot.com)

segunda-feira, 26 de março de 2012

          HIPERTENSÃO

   Ultimamente, têm ocorrido muitos problemas de AVC em jovens, que dão o que pensar. Um conhecido meu, perdeu de repente, um filho de apenas 23 anos de idade, sem mais nem menos, praticando o Cooper. Lógico que foi um choque para a família, do qual está difícil recuperar-se. 
   E tenho amigas, que levavam vida regrada, sem excessos, que foram vitimadas com esses acidentes vasculares cerebrais, deixando-as, com algumas seqüelas. E principalmente, deixando-as inseguras, com temor de novos ataques. 
  Essas amigas estão na faixa dos setenta anos. Como estou nessa faixa de idade, também fico preocupada, porque de repente, parece que virou moda derrubar gente de minha geração. 
   Se bem que, não temo a morte. 
  Temo a vida vegetativa, que os AVC trazem como seqüela. Temo viver apenas pela metade, dependendo de outros para ir e vir, para comer, para fazer a higienização corporal...       Temo, principalmente não poder mais escrever, que é a razão de eu ter ingressado , com essa idade no mundo digital. 
   Se não puder mais colocar minhas idéias no papel ou na tela, acho que minha vida já era. 
   A ciência está tão avançada, o mundo digital caminha com passos de gigante, e as mudanças que ocorrem deixam-nos assustados.       Mas, há no campo da Medicina, mistérios insondáveis, que o homem não consegue desvendar. 
   Por que, ultimamente, tem morrido gente de sessenta anos de idade em proporção maior que os de oitenta, noventa anos? Tem gente que até diz: Se você sobreviver aos 68, 72 anos, não há mais perigo. Viverá até os noventa, cem anos. 
  Verdade ou não, há muitos exemplos de idosos, que vítimas de Alzheimer, duram de dez a vinte anos, vivendo num mundo só seu, alienados da realidade. Serão os cuidados de terceiros? A alimentação reduzida, os remédios? 
  Será que algum pesquisador já tentou comparar o estilo de vida, dos septuagenários que morreram de repente, com o estilo de vida dos nonagenários sobreviventes? Mas, quem se preocupa com gente já descendo a ladeira, a não ser nós mesmos? 
   Mesmo já descendo a ladeira da vida, a gente se apega a este mundo e não quer deixá-lo, porque viver é muito bom. Raríssimas pessoas desejam a morte. 
   E tememos a morte, porque ninguém sabe o que nos espera do outro lado. Talvez um tempo de paz, de alegrias infindas, de tudo que desejamos nesta vida. É o que almejamos. 
    Mas, quem sabe? 
  Recentemente, há muita preocupação com a alimentação adequada, com a restrição de carnes e gorduras, com as bebidas alcoólicas.      E a maioria das pessoas está se cuidando, não se excedendo à mesa. Mas, os AVC estão sempre rondando e levando pessoas, que têm se cuidado direitinho. E é isso que não entendo. 
   Por outro lado, dizem que é preciso malhar, suar o corpo para eliminar as toxinas excedentes, nadar para ativar a circulação.       E todos  aderiram às novas normas, mas mesmo assim, há gente sendo colhida, sem mais nem menos.  
  Se bem que, a humanidade tem que ser renovada constantemente, porque o planeta tem um limite. Dizem até que, as guerras e os cataclismos são necessários, para eliminar a população excedente, e manter o equilíbrio...                   E a graça desse jogo está  em nunca saber quem vai ser colhido, porque ninguém pode prever.                           
 E é justamente por isso que,                 as pessoas que não   queiram   ser surpreendidas de repente, devem cuidar da saúde, principalmente da pressão  arterial que tem sido a causa maior, das mortes e dos acidentes vasculares.
  Acho que ao invés de celulares super modernos, as pessoas deverão portar sempre, um medidor digital de pressão arterial. Hoje, há tantos no mercado, com um preço até acessível. 
  Aferir a pressão arterial, para evitar certos alimentos e bebidas deve fazer parte da rotina, de quem quer viver mais um pouco, para não ser pego de surpresa pelos acidentes vasculares. 
   Viver é uma aventura muito instigante. E é uma pena ser abatido de repente, por descuido de nós mesmos. 
   Nos tempos atuais, as pessoas estão vivendo até os cem anos. As pequenas ilhas do Japão estão cheias de gente centenária, que vive sozinha e feliz. Atingir os cem anos, talvez tenha a ver com a vida saudável ao ar livre, com a alimentação certa e com a própria filosofia oriental. 
   Aqui no Brasil, não almejamos viver tanto. 
  Apenas, queremos viver bem até o último dia de nossas vidas, com força, coragem e alegria.          
   Sem acidentes vasculares.

      Mirandópolis, 16 de março de 2012. 
      kimie oku (cronicasdekimie.blogspot.com)

terça-feira, 20 de março de 2012

       GENTILEZA GERA GENTILEZA 


  Antigamente, costumava-se ensinar para as crianças, que todos nós devemos ser atenciosos e corteses, para com as pessoas que nos rodeiam. Era costume ensinar aos jovens ceder a vez na fila e, o assento aos mais idosos.     Era de praxe uma atitude aceita por todos, sem nenhuma queixa. 
  Entretanto, os costumes foram mudando e a cortesia foi esquecida, de tal maneira que houve por bem, estabelecer regras para que ela não fosse totalmente abolida. Surgiram então, as filas de idosos, as senhas de atendimento preferencial, e as vagas para os portadores de deficiência, em estacionamentos.
  Ora, o ser humano é inteligente e pode discernir o que é correto, sem precisar de regras e normas. Tenho visto ultimamente, crianças e adolescentes arranchados nos bancos de espera, enquanto seus pais permanecem de pé, muitas vezes já cansados de aguardar sua vez.
   E coitado do progenitor, se pedir para lhes cederem o lugar! Percebe-se claramente, a inversão dos valores...
  A família está se desestruturando, por falta de bom senso dos pais, que superprotegem e mimam suas crias, tornando-as insuportáveis. E essas crias, crescem arrogantes, como se fizessem um favor imenso, em existir. 
  Os lares e as escolas estão cheios de jovens assim, que não dão a mínima importância a nada. Eles se acham superiores aos demais, embora sejam tão ocos como cabaças vazias. 
  É preciso mudar isso! Mesmo porque, essas criaturas serão infelizes na vida; o mundo não lhes estenderá tapetes vermelhos, e nem lhes ofertará ramalhetes de rosas, só por se julgarem superiores aos demais. 
 Ainda é tempo! Se quisermos salvar a sociedade, devemos começar em nossas próprias casas, com nossos filhos e netos.
 Ensinando-lhes, a respeitar os lugares preferidos dos pais e dos avós, à mesa e no sofá. (Conheço jovens que se esparramam no sofá, e nem percebem que, estão sendo tão desagradáveis e inconvenientes, deixando na mão os demais)
 Ensinando-lhes, a ouvir as pessoas, com atenção e respeito, sem alterar a voz e, sem ligar a tevê, a Internet ou o celular, enquanto elas falam. 
  Ensinando-lhes, a saudar os vizinhos, mesmo que não se relacionem com eles. 
  Ensinando-lhes, a se organizarem, para não se perderem na vida. (Há jovens incapazes de recolher suas meias, e suas camisetas do chão do quarto, que mais parece um pardieiro)           
 Ensinando-lhes hábitos alimentares saudáveis, para que não se transformem em, imensas máquinas, devoradoras de pizzas e churrasquinhos. Máquinas redondas e infelizes... 
  Ensinando-lhes, que é preciso ter um limite para a bebida alcoólica, porque esta afeta o comportamento do indivíduo, quando ingerida em excesso. 
  Ensinando-lhes, a respeitar o diferente, para que não saiam por aí, incinerando mendigos e os sem teto. Ensinando-lhes, a ser atenciosos com os outros, porque a vida fica mais leve e agradável. 
  Ensinando-lhes, enfim, a serem gentes, com um mínimo de urbanidade e educação, como o nosso Profeta Gentileza pregou. 
  José Datrino, que surgiu de uma família humilde, deixou a marca de sua passagem por esse mundo. “Gentileza gera gentileza” foi a preciosa herança que nos deixou. 
  Se pensarmos bem, nunca imaginaríamos que, mesmo após sua morte, sua pregação continuaria. 
  Quando o cidadão José Datrino, o popular Profeta Gentileza faleceu, uma multidão imensa compareceu para as suas exéquias. 
  No mesmo velório, estava sendo velado um pobre de Deus, um mendigo, a quem pouquíssima gente foi render a homenagem final.
  Na sala onde estava exposto o corpo do profeta, amigos lhe prestaram como homenagem final, a exibição de um DVD, em que o Gentileza fazia suas pregações, ainda em vida.     A sala esteve sempre superlotada, em oposição à outra, que esteve vazia todo o tempo. Muita gente ouviu suas pregações e se emocionou.
  E talvez, motivada pelas palavras do Profeta, após o funeral deste, essa mesma  multidão ajudou também, a levar o corpo do mendigo, até a sua morada final.
  Uma das pessoas que participaram deste fato, comentou um dia que, esse funeral do mendigo foi a primeira graça, que Gentileza concedeu ao pobre de Deus.
  Milagre ou não, Gentileza deixou a sua marca neste vasto mundo de Deus. Quantos de nós, poderemos deixar alguma coisa em benefício da humanidade?
 A ONG “GENTILEZA GERA GENTILEZA” foi ressuscitada, e já está botando quente, para não esquecermos as pregações do Profeta.
  E iniciou as atividades, sendo gentis com a nossa Mãe Terra. No último sábado, dia 10 de março, o grupo reuniu alguns amigos da natureza e plantou dezesseis mudas de árvores, na praça do Bairro Colina Verde. Moradores locais se prontificaram, em cuidar das mudas, para se transformarem em árvores. Dezesseis mudas são o mínimo, mas o Grupo promete continuar com a Mega Plantação. E pede a adesão da sociedade mirandopolense.
 A ONG está disposta a cuidar do meio ambiente, para garantir uma Terra melhor para a humanidade.
  Mas, ninguém garante o futuro da humanidade do jeito que está caminhando. Urge pois, assumir compromissos para reeducar nossos filhos e netos, para que o porvir seja possível. 
 A sociedade está cada vez mais cruel, violenta e desumana. É urgente resgatar a cortesia, a bondade, o amor.
 E só a “gentileza realmente gerará gentileza”, conforme disse o Profeta. 
   Vale a pena começar a praticar. 
   Mesmo porque não resta mais alternativas. 

         Mirandópolis, 13 de março de 2012.
    kimieoku (cronicasdekimie.blogspot.com)

quarta-feira, 14 de março de 2012


             MUNDO SILENCIOSO

       Ultimamente, a poluição sonora tem chegado a níveis assustadores, que comecei a  acalentar um mundo sem barulho, em completo silêncio.
É que do jeito que as coisas vão caminhando, a humanidade ficará surda de vez, não distinguindo nenhum som.
  Tenho consciência de que será um mundo triste, porque uma das alegrias da vida é perceber os sons da natureza, e ouvir música. Música, que é invenção dos humanos para deleitar nossos corações, mas que hoje se transformou numa coisa estranha, barulhenta e ininteligível, que causa apenas estresse.
  Além disso, perderíamos o canto dos pássaros, o murmúrio das fontes e das cascatas, o sopro dos ventos, o tamborilar das chuvas... o rugido das ondas gigantes do mar...
   Entretanto, sabemos que os ouvidos humanos e  dos animais suportam o  som até um certo limite, calculado em decibéis. E que além desse limite, os ouvidos passam a sangrar e chegam a romper o tímpano, levando à completa surdez.
  Certa amiga minha, dirigindo sozinha seu carro em São Paulo, de repente, perdeu a audição. Foi repentino e, no momento que ocorreu, ela não percebeu. Depois, sentiu um zumbido nos ouvidos e, não conseguiu mais apreender os sons nem as falas das pessoas. Ficou tão assustada, que se dirigiu a um hospital pedindo ajuda, e por mais que explicasse que não estava escutando nada, o atendente falava com ela em altos brados alguma recomendação, que ela não conseguiu captar.  Até que ela teve uma ideia e, pediu que o incompetente escrevesse num papel, o que tentava passar. Era o nome de uma clínica para tratar da audição. Ela se sentiu completamente desamparada, como se faltasse alguma parte de seu corpo, e cuidadosamente, dirigiu o carro até sua casa. Lá chegando, desmaiou de puro desespero e exaustão. E depois, chorou. Chorou, porque se sentiu incompleta sem a audição, como se fosse uma estranha, nesse mundo de Deus.
   Os exames a que se submeteu revelaram que, ela tivera um pequeno  colapso vascular, que afetou os tímpanos.  Isso ocorreu há aproximadamente dois anos, e ela só recuperou   parte da audição. Ela aprendeu a ler os lábios das pessoas, e quando lhe falam devagar, consegue “ouvir” parte das falas. E por ser uma pessoa inteligente, deduz o que estão falando, mesmo não tendo apreendido toda a fala. Por sorte, ela continua falando normalmente, e quando surge uma dúvida, pede para repetir o que foi falado. E assim, está conseguindo se comunicar quase normalmente. O difícil é atender ao telefone, principalmente quando não há ninguém em casa. Ela disse que o pior de tudo é, quando tomam conhecimento de sua deficiência; as pessoas começam a gritar junto de seus ouvidos, provocando uma ressonância insuportável, que dá para enlouquecer.
  Com a triste experiência de minha amiga, percebi a importância de nossos ouvidos, e dos cuidados que devemos ter para não torná-los inúteis.
Mas a humanidade ainda não tomou consciência disso. Daí, penso que os ouvidos  em futuro próximo, se tornarão órgãos obsoletos. Porque há uma agressão contínua e totalmente irresponsável, que ninguém atentou para o mal que está provocando. É o barulho ensurdecedor das bombas ou fogos de artifício, para inaugurar pontos de venda. É o som a mil decibéis nos carros, anunciando promoções de lojas.  É o barulho de carreatas de políticos, que já de cara mostram a que vieram, humilhando os adversários derrotados. É a pregação religiosa de certos templos, que incomodam seus vizinhos de outras crenças,  que não estão a fim de ouvi-la, (se estivessem interessados, iriam à igreja, ou melhor dizendo, a esse centro  de barulho ensurdecedor, que  só desperta rancores). É o barulho desvairado de gente que, põe o som no volume máximo, para atormentar os vizinhos, que nem conseguem conversar em suas próprias casas... É o barulho terrível das festas de peão, de shows, de circos, que jamais respeitam os moradores da vizinhança.
Imaginemos, pois um mundo silencioso, em que as pessoas se comunicam apenas com gestos, com textos escritos e ou digitados. A televisão só teria imagens, e os atores precisariam ser verdadeiros Charles Chaplins, para conseguir captar a atenção, e divertir os telespectadores. Os jogadores não xingariam os juízes, e não mais haveria bate-bocas, mas sim, chutes e outras violências que recheiam os shows de futebol por aí, mas tudo, silenciosamente. As novelas e os filmes não teriam fundo musical e nem diálogos. Rádios e telefones deixariam de ser. As buzinas de carros, de trens e os apitos de navios e dos eletrodomésticos seriam abolidos para sempre. Ambulâncias e carros de polícia não teriam mais sirenes. Já imaginaram escolas com trocentos alunos em total silêncio ? Dá para acreditar?
Cães e gatos poderiam miar e latir a noite toda, que não incomodariam ninguém.
Mas, não tendo a audição, o homem precisaria encarar o outro para se comunicar. Seria ótimo. As pessoas olhariam as outras, cara a cara  e não seria uma comunicação impessoal como é hoje, via celulares.... Os médicos olhariam seus pacientes. Os professores olhariam seus alunos. Os pais olhariam os filhos e, perceberiam que estão crescendo...
Vantagens...vantagens...
Mas, o homem perderia uma das principais características que o diferencia de outros animais: a fala.
Para quê falar, se  ninguém escuta?
A humanidade deixaria de falar, de cantar, de gritar, de soluçar... seria muito silencioso, mas também muito triste. E falar é bom e agradável, porque se dá vazão às mágoas, às alegrias e tristezas, lavando a alma...
Deus é sábio, por isso nos dotou de audição e de fala.
Então, é melhor cuidar bem da audição, porque viver sem ela, seria viver pela metade... E é melhor escutar bobagens do que ser surdo, diz a sabedoria popular.
Mas, pelo amor de Deus, abaixe esse som!!!

Mirandópolis, 28 de fevereiro de 2012.
         Kimie oku (kimieoku@hotmail.com)

sábado, 10 de março de 2012


                                          OS   ÓCULOS

        Sexta-feira última, estava já de saída para o Encontro da Ciranda, quando o Correio entregou uma carta. Não ia lê-la, mas quando vi que era da amiga Nívea, de Campinas, resolvi  abri-la. Dentre outras coisas, ela me enviara uma cópia de uma crônica sua, publicada no Jornal de Lavinia em 2003.
        Achei  interessante e  acabei lendo-a na roda da Ciranda, para todos os amigos, que gostaram muito. E me sugeriram que a publicasse, para outras pessoas conhecerem.
        Com a devida anuência da Maria Nívea Pinto, Professora de História, pesquisadora e escritora dos livros  “Retalhos da Memória” e “Ordem Terceira do Carmo – Cem anos de Louvor a Maria”,  aí está a crônica :

               " Tia , tira os óculos...

       Em uma conversa gostosa com minha sobrinha Karina, ela disse algo que me fez pensar.
       Quando chega cansada do trabalho e vê as plantas murchas de sede, a poeira cobrindo os móveis, os gatinhos miando de fome, em vez de se desesperar, ela simplesmente tira os óculos. Depois de descansar  e recuperar as forças, coloca novamente os óculos e parte para sua segunda jornada de trabalho.
       Ri bastante de sua filosofia: recusar-se a ver quando não dá para resolver o problema.
     E ela termina o relato me aconselhando: “Tia, tira os óculos...”
       Fiquei pensando se não seria como a história do avestruz, que enfia a cabeça no buraco, para fugir do perigo.  Mas, não. Conclui que era questão de sobrevivência; poupar-se evitando o estresse, com coisas que não podemos resolver.
       Fiz então, uma  “promessa”; de hoje em diante vou passar a tirar os óculos toda vez em que, me sentir impotente diante de uma situação. Como por exemplo:
       Ao ver crianças pedindo esmola num semáforo, ou deitadas nas calçadas, sob o sol escaldante, após uma noitada de crack.;     
       Vou tirar os óculos, para não ver os velhinhos e aposentados sendo humilhados nas filas do INSS, ou nas filas de hospitais públicos;
       Vou tirar os óculos, ao ver os animais sendo maltratados ou árvores sendo arrancadas;
       Vou tirar os óculos, para não ver os programas imbecis de televisão, vendendo ilusões ao nosso povo tão carente.
       É uma pena, Karina que, mesmo “não vendo”, vou continuar  ouvindo notícias sobre violência, tragédias familiares, corrupção nos poderes Executivo, Legislativo, e o que é mais grave, no Judiciário.
      Vou continuar a ouvir sobre desvios de verbas para o exterior, conluios de policiais com bandidos, e falsos pregadores vendendo salvação para os incautos.
       E além de tudo isso, ficar sabendo que muitos brasileiros continuam morrendo de fome neste país tão rico...
                      Maria Nívea Pinto"


       Esta crônica foi escrita em 2003.
     Mas, é tão atual, tão verdadeira nos dias de hoje.
     Será que o futuro do país é uma perdição total?
   O povo trabalha, cumpre suas jornadas de trabalho, bem ou mal remuneradas. Mas, o que fazem os governantes? Por quê a miséria não diminui, por quê a nossa infância está tão perdida? O que fazem os meios de comunicação? Não seria muito mais  interessante e educativo, divulgar histórias de pequenos trabalhadores, do que as safadezas  e os maus exemplos de Big Brother? A televisão hoje é um instrumento para imbecilizar os brasileiros.... que após assistir a todas aquelas montagens, pensam que é normal agir como eles, e o que é pior, passam a copiar ....daí, as traições, as relações incestuosas, os atos ilegais, os jogos duplos que sempre acabam às portas de delegacias ... e que recheiam  os noticiários.
  A tevê não educa. Ela está a serviço da pornografia, da esculhambação, da imoralidade.
     E  os agentes  responsáveis pelo controle dessas porcarias “tiram os óculos”,  porque não querem  assumir e  nem resolvê-las.
    Concluindo, em oposição a Karina, sobrinha da Nívea, eu digo:    “Autoridades e governantes do Brasil, não tirem  os óculos!”
       
                Mirandópolis, 04 de março de 2012.
              Kimie oku (cronicasdekimie.blogspot.com)

quinta-feira, 8 de março de 2012


Entrevista -  Dia Internacional da Mulher  (Diário de fato)

Nome completo:
  kimie oku  - casada
Data de nascimento: 
  1942
Onde nasceu:
  Lavinia
Profissão:
  Professora aposentada  há 20 anos.
Há quantos anos exerce a profissão?
  Trabalhei durante 31 anos.
Local de trabalho:
  Lavinia, Mirandópolis, Andradina
Quais atividades já desempenhou:
 Professora, Coordenadora Pedagógica  e Supervisora de Ensino.

 O que mais gosta de fazer nas horas vagas:
  Gosto de ler e copiar textos japoneses com pincel. Sou fã incondicional dos ideogramas, ou caligrafia japonesa, porque cada traço tem um significado. Quem inventou a escrita  chinesa, de onde se originou a japonesa, foi um verdadeiro gênio, tão inteligente como quem inventou a Internet. E para dominar todo o alfabeto japonês,  é preciso estudar a vida toda. Meu maior sonho é escrever as crônicas também em japonês...
  Gosto  sobretudo  de gente.  Gente humilde, que passou a vida toda perseguindo um ideal  e conseguiu. Gosto de ouvir essas histórias e também de divulgá-las. A minha coluna "Gente de fibra"  me deu muitas alegrias, e percebi que a gente não conhece ninguém,  até que você se disponha a ouvir  suas histórias. E todas as pessoas têm histórias lindíssimas que merecem ser contadas.

Religião: 
  Fui batizada e freqüentei a Igreja Católica, mas hoje, não a freqüento mais. Já me decepcionei  com  as orientações da Igreja em várias situações, e prefiro ficar com Deus  no meu cantinho, orando sempre e agradecendo a vida que me concedeu.

Uma frase (ou ditado popular):
 “Gambarê!” é a mais preciosa herança que recebi de meu pai. Significa:  “Lute, batalhe, não desista!” Esta palavra  de ordem marcou a  vida de todos os imigrantes japoneses, que deram a vida para dar conta de sua missão, aqui no Brasil. Ela foi  bastante usada recentemente, pelos amigos do mundo inteiro, para animar os japoneses de Fukushima, que sofreram e continuam sofrendo, com o desastre nuclear e o tsunami,  em conseqüência dos abalos sísmicos na região.

Uma pessoa que você admira:
   Madre Tereza de Calcutá , pelo amor  tão abnegado ao próximo. Foi um anjo que  caiu do céu, por acaso. Quantas pessoas  ela confortou, quantos doentes ela consolou. Quantas vidas ela salvou. E mais que isso, ela mostrou para o mundo, que  o amor é o único remédio para  todo o sofrimento humano. E muita gente poderosa entendeu  sua mensagem e a ajudou, inclusive a princesa Diana da Inglaterra.
  Em Mirandópolis, admiro muito a Neide Ferreira, pela obra social que realiza, sem nenhum alarde. Gentil e bondosa Neide.

Nesse Dia da Mulher você quer...
   Que todos olhem para suas mães idosas, suas avós que moram sozinhas e lhes façam uma visita, e lhes  dêem atenção. Elas não precisam de presentes. Precisam de atenção. Visitá-las, sentar perto e ouvi-las com respeito, é tudo que elas querem. Façam isso enquanto estão vivas, porque depois não tem sentido...

O que Mirandópolis precisa ter: (teatro, cinema, shopping, outros)
  Precisa de um espaço,  para abrigar um Museu  Histórico e Cultural, onde se conservariam as fotografias de tempos passados e os objetos que,  fizeram parte da vida de todos os  desbravadores da cidade e da região.  Esse desejo é tão forte que o senhor Sato da  2ª Aliança  montou por conta  própria, um museu de Máquinas  Agrícolas  em sua própria casa, assim como o Milton Lima que fez um cantinho, com Coisas da Roça em sua Chácara Recanto Meu. E sei de mais gente interessada  em contar a história de Mirandópolis, através de fotos.
  O local apropriado seria o antigo prédio abandonado da Estação Ferroviária.  Como há bastante espaço, será possível reservar uma área para apresentações culturais, danças, exposições de artesanatos, que há tantos na cidade.    Quem quer, tem que ir à luta.   As coisas não acontecem de per si.  É preciso mobilizar, é preciso falar, escrever, é preciso reclamar, é preciso denunciar. Ficar de braços cruzados e reclamar  não traz nenhum lucro. É por isso que continuo gritando minha indignação,  pela inércia das autoridades..
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Qual o significado do Dia da Mulher para você?                                                                                                   
    Não tem sentido nenhum. É apenas mais uma data comercial, para vender presentes. O Dia da Mulher só terá sentido, quando ela própria  aprender a  se respeitar. Aprender a dar o real valor aos sentimentos, deixando de ser tão materialista, deixando de ser refém de modismos, de copiar as bobagens que vê na tevê. A tevê é ilusão, basta lembrar aquela encenação de tríplice  gravidez, que deve ter rendido uma  boa grana para a mulher. Inventam-se histórias para subir o IBOPE.

Qual a sugestão para a juventude.
  Estudem, leiam mais, abram a cabeça para tanta coisa boa que há na vida, além dos psicotrópicos.  Olhar estrelas ....  Cultivar amizades....Cuidar da humanidade.... Ser gentil com as pessoas  idosas.... Respeitá-las, mesmo que não as conheçam, porque  elas foram jovens um dia, como vocês... E um dia vocês também serão os idosos de amanhã. Sejam gentis  como Gentileza  nos ensinou.

Uma dica para a  Melhor Idade  
  Vivam o momento. Não deixem para depois. Depois poderá ser tarde demais. Vivam cada momento, como se fosse o último de suas vidas. Aproveitem  ao máximo, que a vida passa  e não volta mais. Caminhem, sorriam, brinquem, curtam a luz do sol, o ar fresco da manhã,  o perfume das flores,  conversem com os amigos. Esqueçam os  dissabores e  verão que o dia será bem mais agradável...

Qual o papel da mulher na sociedade?
   A mulher é a mola propulsora da engrenagem social. O homem faz as coisas acontecerem, mas é a mulher que está sempre na retaguarda, cuidando dos detalhes, para que tudo saia perfeito. Um amigo me contou que um dia, os homens de um certo lugar resolveram fazer um churrasco sem mulheres, numa fazenda, distante da cidade. Que mulher, que nada!  E os talentosos machões, que dispensaram a presença das mulheres, cheios de si, fizeram tudo direitinho. Só que na hora de comer, haviam esquecido dos talheres...

Como vê a conquista da independência feminina
  Há mulheres que não se deram conta que deixaram de ser ordenanças de coronéis. Continuam no jugo e morrem de medo das caras metades. Pensam  que é mais fácil  concordar, do que  expor seus pontos de vista. E engolem seco, porque se sentem pisoteadas. Essas não merecem a independência, porque não fazem nada para reverter a situação.

A senhora “acha” que a mulher está ocupando muitas funções sobrecarregando-a?
   A mulher não deve abdicar nunca do seu papel de mãe, de filha, de irmã, de tia. São todos papéis maternais, sem os quais a humanidade será impossível. Imaginem por momentos o mundo sem as mães. A fortaleza de uma mãe é tudo, tanto é que  em situações críticas, qualquer indivíduo, por mais forte e violento que seja, apela para a mãe...O papel da mulher é único, e não importam os cargos que ocupe, ela deve continuar sendo feminina e  bondosa.

Vê alguma desvantagem entre o homem e  a  mulher
   Não há desvantagens. Um homem e uma mulher foram criados para se completarem. É como o côncavo e o convexo. Uma forma  sem a outra é incompleta.   Então, é preciso acabar com essa bobagem de competição, de querer um superar o outro. Deus não teria criado os dois, se um deles fosse dispensável.

Mirandópolis, março de 2012.
kimie oku (kimieoku@hotmail.com)
                            

 ESSAS  MULHERES EXTRAORDINÁRIAS

(crônica)

   Na história da Humanidade,
 houve mulheres notáveis, que  conseguiram
Imagens de Nossa Senhora, Imagem de Nossa Senhora
 realizar feitos julgados impossíveis.
A mulher mais extraordinária de todas, 
foi sem dúvida nenhuma a Virgem  Maria, 
Mãe de Jesus. 
Sofreu o pesadelo de ver o filho amado
 morrer de forma ignominiosa, e  teve 
que aceitar tudo calada, porque conforme anunciado, era  o destino de Jesus, e fazia  parte do plano divino.
     Outra mulher até hoje não esquecida, foi  Eva  que, ao longo dos milênios, vem carregando  o peso da queda de Adão  no paraíso.
     E temos a Madalena que, justa ou injustamente foi chamada  de pecadora, meretriz, mulher da vida....
   Houve no Egito antigo  uma rainha poderosa, que marcou época. É a Cleópatra, de quem se cantou a beleza invulgar, e a capacidade de dominar os poderosos da época, chegando a mudar os rumos da História.
    E no campo das Ciências e Pesquisas, temos a Marie Curie , que junto com o marido Pierre Curie, dedicou longos anos de sua vida, pesquisando sobre a radiação. Foi ela que deu o nome de radioatividade, para a propriedade que, alguns minérios têm de se desintegrarem . Essa mesma radioatividade que, provocou o pânico no mundo todo, com o acidente das Usinas Nucleares de Fukushima, Japão,  em março último.
    Marie Curie é a única mulher que recebeu dois  Prêmios Nobel, um de  Física em 1903 e,  outro de Química  em 1911.  E isso ocorreu  há cem anos atrás, quando as mulheres nem sabiam o que era emancipação !
  Não se pode omitir o nome de Joana D’Arc, deste rol de mulheres, que se sobressaíram no mundo.
   Joana D’Arc foi uma jovem  que, se transformou em heroína  dos  franceses,  na  Guerra  dos Cem anos, que a França travou contra a Inglaterra. Diz a lenda que, quando ainda era muito jovem, começou a ouvir vozes, que a orientavam para ajudar os compatriotas, nos campos de batalha. Fingindo ser  homem, ela se alistou no exército e, foi para a guerra. Apesar de  ter conseguido grande êxito na campanha, foi capturada e entregue aos ingleses, que a queimaram viva, numa fogueira em praça pública, por considerarem-na bruxa. 
   Em 1920, cinco séculos após sua morte, foi canonizada como santa,  e hoje Joana D’Arc é a heroína dos franceses.
   No Brasil, também temos uma mulher digna de figurar nesta lista. É a Anita Garibaldi, que participou bravamente da Guerra das Farroupilhas, lutando  com o esposo Giuseppe Garibaldi, contra as forças imperiais, na guerra separatista, para a independência  da República Rio-Grandense.  Ela é considerada heroína dos dois mundos, porque lutou também heroicamente  na Itália, contra a invasão franco- austríaca.        
  A mulher mais extraordinária dos tempos atuais, foi incontestavelmente, a Madre Tereza de Calcutá , que se destacou no campo da assistência humana. Ela  dedicou a maior parte de sua vida, em cuidar dos mais pobres entre os pobres.
   Era albanesa, mas sua missão maior foi realizada na Índia, junto à população mais sofrida de  doentes, órfãos, vítimas de guerra, aidéticos. Fundou uma instituição chamada Missionárias da Caridade,  que se espalhou pelos quatro cantos do mundo. Com a sua ação firme  de minimizar os sofrimentos do próximo, conquistou a adesão e a colaboração de gentes de todos os credos, e de todas as nacionalidades. Ficou conhecida como a Santa das Sarjetas, porque  é nas sarjetas que estão os  mais necessitados de socorro. Ela costumava declarar que, a maior pobreza do mundo é a falta de amor.
   Sua obra alcançou tamanho vulto, que foi agraciada com o Prêmio Templeton, em 1973. O prêmio Templeton foi instituído por um americano, para premiar as pessoas, que colaboram no aprofundamento do conhecimento religioso, ou de temas espirituais.
   Em 1979, Madre Tereza foi reconhecida universalmente, como benfeitora da humanidade, sendo agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. Mas,  todos os valores incalculáveis que  recebeu com esses prêmios, ela os reverteu em benefício dos mais desamparados, que socorria.
  A Igreja Católica também reconheceu  seu trabalho humanitário, e em 2003, Madre Tereza de Calcutá foi beatificada. Beatificação é um dos passos no processo de canonização, que é o reconhecimento de santidade, pela Igreja de Roma.
 Mesmo sendo declarada apenas Beata, Madre Tereza é  considerada santa com todas as virtudes, por inumeráveis pessoas do mundo atual.
   O mérito maior de Madre Tereza é o sentimento de humanidade e profunda compaixão, que sentia pelo ser humano. Ela já faleceu, mas as Missionárias da Caridade, espalhadas em diversos 
cantos    do mundo,continuam sua obra.
  Madre Tereza fez a diferença neste mundo conturbado por desgraças sem conta, em que as vítimas são sempre os mais fracos e pobres.

    E podemos afirmar categoricamente que, na história da Humanidade, essas Mulheres Extraordinárias realmente fizeram a diferença !


              Mirandópolis, 04 de novembro de 2011
                   kimie oku (kimieoku@hotmail.com)

quarta-feira, 7 de março de 2012

A VICINAL


         Estava completamente absorvida no tema África para a próxima crônica, quando o Diário me pediu algo sobre  o aniversário de Mirandópolis, para esta edição especial.
         Dei tratos à bola e fiquei travada. Escrever sobre esta cidade? Não é meu “furusato”, pois nasci em Lavinia.
        Mas há um tempo, venho pensando em escrever sobre a vicinal, que liga Mirandópolis a Lavinia.
        Hoje ela está asfaltada e tem tráfego intenso, graças à proximidade das duas cidades. São apenas seis quilômetros de extensão, mas cheios de curvas, curvas fechadas e perigosas.
      Mas é uma vicinal e como tal deve-se percorrê-la mais devagar, mesmo porque não há acostamento e sempre há o risco de se trombar com algum animal.
   Tenho belas recordações dessa estrada. Nos anos cinqüenta, era totalmente de chão batido que, no verão levantava poeira e na época das chuvas virava um barreiro só.  Passei por essa estrada, muitas e muitas vezes, porque morava em Lavinia e estudava aqui.
        Na verdade viajava de trem, mas quando este se atrasava, o que não era raro, nós os estudantes de Lavinia, apelávamos para a carona de carros e caminhões, na estrada de terra. Como éramos mais de trinta adolescentes, carona era mais de caminhão, mesmo.
    Mas, muitas vezes fizemos o trecho a pé, por falta de carona. Caminhávamos reclamando, cansando, com bolhas nos pés... Naquela época, achávamos ruim andar seis quilômetros. Mas hoje, penso que era como um piquenique não programado. Íamos caminhando em grupo, falando bobagens, brincando, provocando uns aos outros, e rindo muito... anos verdes da adolescência, em que tudo  tinha graça, e que deixaram boas lembranças.
        Lembro que a estrada começava logo ali, na  rua que hoje conduz ao cemitério. Não havia casas à beira do caminho. E tudo era cafezal. Cafezal verde, onde agora só há pastagens. Havia o matadouro municipal, onde se abatiam os bois, para o consumo da população local. Os imensos eucaliptos no alto do barranco, nem existiam ainda.
       No bairro 70 (não sei porque setenta), a estrada foi desviada para passar o asfalto. Antes fazia uma curva quase circular e, passava por uma escolinha rural, onde a amiga Izelter deu aulas por décadas...
        Não havia  condomínios nem pesqueiros, nem restaurante à beira do caminho, nem casas da COHAB...
     Tudo era cafezal, ladeando a estrada até a entrada de Lavinia. Caminhávamos com preguiça, chorando as bolhas dos pés e... de repente, “bé-é-é-é-é-é-em-em-em-em....”
        Era um berrante chamando a boiada,  que  vinha ao nosso encontro. Aí esquecíamos a canseira, as bolhas e subíamos céleres nos barrancos, com medo dos bois. Num piscar de olhos, todos estavam no alto, mirando a boiada que passava, ocupando toda a largura da estrada, que na verdade era bem estreita.
     Tínhamos muito medo de dar de cara com boiadas, porque os boiadeiros, ou condutores de comitivas nem se importavam com os passantes.
        Quando a poeira baixava, voltávamos à estrada
        E então, era só risada. Gozação pela falta de jeito de uns e outros, que escorregavam do barranco, quase na cara dos bois....
        Hoje, os bois não andam nas estradas – são conduzidos em gaiolas de caminhões.
        Hoje não há mais cafezais.
Hoje só há pastagens.
Mesmo assim, gosto de pegar o carro e percorrer essa vicinal, que felizmente não foi descaracterizada pela invasão dos canaviais.
Hoje há tantas casas à beira do caminho, e as duas cidades estão se aproximando, esticando os braços para se darem as mãos.
     Isso porque, há um  intenso intercâmbio entre as duas, devido às compras, ao trabalho nas Penitenciárias e escolas, e aos parentes e  familiares que moram lá ou cá.
        Em futuro não muito distante, Mirandópolis e Lavinia serão uma só cidade. E isso será ótimo.
        Amo Lavinia, por ser meu furusato ou terra natal.
        Amo Mirandópolis, por ser o meu cantinho, a minha referência, neste vasto mundo de Deus.
        E quando as duas cidades se conectarem, essa vicinal tão comum, tão caipira se transformará numa bela avenida de duas mãos, celebrando para sempre, a união de gente simples e amiga de lá e daqui.
      Lavínia e Mirandópolis se fundindo numa só, como estão dentro de mim. Por uma vicinal.

                Mirandópolis, junho de 2010.
                                   kimie oku

terça-feira, 6 de março de 2012


                CIRANDANDO  -  pela 16ª vez

       No último dia dois deste, o Grupo Ciranda se reuniu novamente para mais um encontro de confraternização.
       Foi como sempre na Chácara do sr. Albertino Prando, com a presença de trinta e cinco cirandeiros. Dezessete pessoas não compareceram, devido ao forte calor do dia. Mesmo assim, a tarde foi animada, com os amigos conversando e trocando notícias.
       A novidade do dia foi a presença de Marlon,   que em visita  ao sr. Pedro Squinca, seu pai, quis conhecer a Ciranda.
     Quando a profª Rachel chegou, começou a festança, com um belo texto que ela leu  em homenagem às mães, pelas múltiplas funções que exerce  no mister  de mãe. Em seguida, a srª Mary Magro leu um texto, que abordava sobre como evitar o envelhecimento precoce e desnecessário. Emocionado com  a presença do filho Marlon, seu Pedro declamou lindos poemas, ao som de um violão. Depois, foi a vez de seu Orlando Serafim, que declamou o poema O Baralho, muito aplaudido por todos.
     Daí, o Milton Lima lembrou que o dia 8 de março próximo é o Dia Internacional da Mulher, e comentou parte da entrevista de Kimie Oku, publicada neste Diário. Em especial comentou a importância da mulher no mundo de hoje. Esses comentários foram complementados pelo prof. João Torrente, que relatou como surgiu o Dia dedicado às Mulheres –há mais de cem anos, trabalhadoras do setor de vestuário reivindicaram melhores condições de trabalho, pois eram mal remuneradas e cumpriam jornadas diárias de 14 horas, nos Estados Unidos. Houve muita luta, gente foi sacrificada, porque os homens não reconheciam os direitos das mulheres. Mas,  o movimento cresceu  e se multiplicou em várias partes do mundo, de que resultou além da conquista de benefícios, também  no    Dia Internacional da Mulher, comemorado universalmente em 08 de março de cada ano.
   Para finalizar essa parte, a profª kimie oku leu uma linda crônica de autoria da escritora e profª Maria Nívea Pinto, de Campinas, intitulada “Tia, tira os óculos...”
    Depois disso, foi só cantoria e muita alegria. Foi servido um bom lanche a todos, e como sobremesa, fatias doces de melancia, para combater o calor.
       E assim, mais um Encontro dos Cirandeiros aconteceu, e propiciou umas horas agradáveis a todos os  participantes, que querem usufruir um pouco mais da alegria e da bênção de viver.

       Mirandópolis, 04 de março de 2012.
            kimie oku (crônicasdekimie.blogspot.com)