Gente de fibra
Odércio Bizaio
Há uma loja de tecidos na cidade que, vem resistindo às mudanças
que vão transformando o dia a dia das pessoas.
É a Tecidos
Mirandópolis, que vende cortes de tecidos por metro, e é uma das raras lojas
que continuam fazendo isso. As demais lojas, como as Pernambucanas deixaram de
vender tecido por metragem e aderiram ao prêt-a porter, ou roupa pronta para
vestir.
Quando eu era mais
jovem, lá pelos anos 70/80 não existia roupa pronta para se comprar. E todo
mundo tinha que comprar o tecido e encomendar a costura ou o feitio para uma
costureira, ou para um alfaiate. Naquela época, havia muitas costureiras e
algumas bem famosas pela habilidade de seu trabalho, assim como alfaiates
famosos da moda.
Para complementar
o feitio dessas peças, havia lojas de armarinhos, que vendiam de tudo: linhas,
botões, zíperes, colchetes, agulhas, agulhas de máquina, fitas, rendas, cordões,
tiras bordadas chamados passamanarias... Tudo isso era vendido nos Bazares.
Hoje há poucos bazares... E havia lojas que vendiam máquinas de costura.
Tudo isso mudou.
Raras são as costureiras e raros os alfaiates. São profissões que estão morrendo
com o advento das fábricas e suas produções em série. Existem sim os
costureiros famosos, que fazem da alta costura uma arte, arte cara e só
acessível para uma pequeníssima parcela da sociedade. Mas, as costureiras, os
alfaiates, os boiadeiros, tropeiros, charreteiros e carroceiros fazem parte de
um passado não muito distante que eu vivi.
Então por tudo
isso é admirável que haja lojas que vendam tecidos por metragem. A Tecidos
Mirandópolis abriu suas portas em 26 de maio de 1978, num pequeno prédio, que
fica exatamente em frente ao atual. Inicialmente só vendia tecidos por metro,
mas ao longo dos anos foi se adaptando às novas tendências, e hoje seu forte
são as confecções de cama mesa e banho, além das roupas prontas para vestir recém
nascidos, crianças, jovens e adultos. E continua a vender tecidos por metro.
Seu proprietário,
o senhor Odércio Bizaio nasceu em Bady Bassite, antiga Borboleta, perto de Rio
Preto, em 1946 numa fazenda dos avós, que cultivavam café.
Aos sete anos de
idade passou a trabalhar na Casa Facchin, que era um movimentado Armazém de
Secos e Molhados. Ficou aí até os catorze anos, quando saiu para trabalhar no
Mercado Dias Pastorinho, onde atuou como balconista por um ano. Aos quinze anos
foi promovido a Representante Comercial pela Dias Pastorinho, viajando e
vendendo produtos pela região.
Aos dezoito
anos pediu demissão do serviço para prestar serviço ao Exército. Foi nomeado
para o Batalhão da Guarda Presidencial do Presidente Castello Branco, em
Brasília.
Ao concluir seu
tempo no Exército em 1967, voltou a Rio Preto e empregou-se como balconista nas
Casas Pernambucanas. Após algum tempo, foi nomeado Gerente da loja em Orlândia.
Depois seria Gerente em Franca, em Rio Preto, em Fernandópolis e em Três
Lagoas.
Foi nessa época
que conheceu a nossa região, para onde se mudou e abriu a loja em Mirandópolis.
Inicialmente, havia sete funcionários, hoje são quinze. O dia da inauguração da
loja foi um grande sucesso, vendeu tanto que seu Bizaio juntou todo o dinheiro
arrecadado incluindo vários cheques, numa caixa de camisa e a entregou ao amigo
José Imolene para contar, e depositar no Banco do Brasil. Esse amigo era
funcionário do Banco e tomou todas as providências para abrir a conta, que a Loja
tem até hoje. Em 1980 adquiriu o prédio onde está instalada atualmente, e fez
várias reformas para ampliação.
Entre uma gerência
e outra, seu Bizaio se casou com dona Adelzir Menegon, de Rio Preto. Com ela teve as filhas Gisele Cristina, que hoje é Professora, a Ana
Cláudia que é Comerciante e seu braço direito na Loja e a Glauce Maria que é Fonoaudióloga.
Tem ainda duas netas, das quais uma é Farmaceutica.
Seu Bizaio diz que,
tudo que sabe aprendeu nos anos que serviu às Casas Pernambucanas, e também deve
ao Gerente amigo Alcino Gregório dos Santos, que o admitiu e orientou no começo
da carreira. Esse senhor já é falecido, mas ele diz que jamais o esquecerá,
assim como ao amigo Odir Bucchianico, que era Gerente em Batatais, e lhe deu
apoio como chefe do seu Bizaio. Esse amigo mora em Itapeva e continua seu
amigo.
Os primeiros
amigos que teve na cidade foram o José Imolene, Adaelso Terenci, Pedro Rosalem,
Dr. Manoel Franco, Riyuichi Ijichi, Augusto Camata e Nelson Ferracini.
E por ser cliente
e amigo da maioria dos funcionários, seu Bizaio cultivou amizade durante
décadas com a turma da AABB (Associação Atlética do Banco do Brasil), que
frequentou bastante jogando bola e participando das festas. Seus companheiros
de bola foram o Osmar, o Hamilton Ruffo, o Guto Conrado, o Carlão, o Ademar
Bispo, o Emílio Colnago, o João Mikio, o Emilinho, o Domingos Forte, O Zé
Duarte, o Wilson Imolene e o Márcio Granja. Como participante ativo da AABB,
ele foi o único convidado não funcionário, para a Festa dos cinquenta anos da
Agência do Banco do Brasil, em outubro de
2009.
Quando a Loja
completou trinta e quatro anos de atividade, foi lançado um selo comemorativo pelo
Correio local. Atravessou muitas crises econômicas nesses trinta e seis anos de atividades. Seu Bizaio
diz que conseguiu dar conta de tudo, com muito trabalho e levando uma vida
simples, sem luxo e sem badalação. Sua família foi o apoio. Nunca faltou com os
funcionários, mantendo sempre uma reserva para as emergências. E a loja deu
emprego a muita gente ao longo de sua existência.
Recebeu homenagens
da comunidade mirandopolense em forma de Comerciante do Ano em 2000, Moção de Aplauso
pela Câmara Municipal em 2003 e foi Presidente da Associação Comercial em 1985.
Atualmente, seu Bizaio
está aposentado, mas vai à loja todos os dias e toma o café da manhã no Bar do
Rosalém. Os habituais frequentadores seus amigos são Celso Rosalém, Chutudo,
Ivo, Riyuichi, Najão, Chico Pin, João Tramonte, Shimada, Dr. Almir, Gilberto da
Big Lar, Ordine, Mardegan e Orlando Ikari.
Sua filha Ana
Cláudia está assumindo aos poucos o controle da loja, inclusive fazendo as
compras na capital.
Hoje leva a vida
numa boa, cercado de amigos e é um homem feliz, benquisto pela comunidade.
Mirandópolis, novembro de 2014
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