sábado, 30 de maio de 2015

                                Tião e João Mikio
    Eu o conheci quando trabalhava na Loja Tecidos Mirandópolis, onde atuou por longos anos, servindo a população com muita presteza e elegância.
      Depois, eu o via vendendo algodão doce pela cidade e água de coco, com a simpatia de sempre. E por fim, montou um barzinho, que sempre atraia os amigos para tomar uma água de coco, um sorvete...
      Enquanto pelejava pela vida, frequentava a Igreja Messiânica, onde foi amigo de minha mãe dona Aurora. E como os demais membros, servia a população orando pelos doentes, ministrando o johrei, que é uma oração para aliviar o sofrimento das pessoas. Estava sempre de bem com a vida...
      Ultimamente, organizava festas de crianças, com o brinquedo pula-pula, seus algodões doces, as bexigas coloridas. Estava sempre cercado de crianças...
      A cidade conheceu o Tião alegre, positivo, sempre sorrindo...Mas, carregava uma dor muito grande no peito. Não tinha saúde. Tempos atrás, teve que se submeter a uma cirurgia do coração. E foi por essa época que tive um contato mais próximo com ele. Toda semana, ele ia a Araçatuba buscar seus remédios do coração no Centro de Saúde. Ia de madrugada, e vinha a pé até o trevo esperar carona para voltar para Mirandópolis. E eu lhe dei carona uma porção de vezes. Eu voltava toda segunda-feira de Araçatuba, onde ia nos finais de semana ajudar um filho que tinha comércio lá. Era ótimo ter sua companhia na volta de Araçatuba. Sempre descia ali na esquina da nove de julho, para ir direto trabalhar na Tecidos Mirandópolis...
      Numa dessas viagens, ele me contou que ficou tão envergonhado de sair pela primeira vez, para vender algodão doce. Tinha vergonha de se encontrar com os amigos, mas a necessidade do dia a dia o obrigava a apelar para essa atividade. Foi em Amandaba. E confessou que os amigos foram chegando, e lhe deram a maior força. Então, nunca mais ficou com vergonha. Belas lembranças o Tião deixou em nossa memória. E mais ainda na de crianças.
      O João Mikio veio para Mirandópolis trabalhar no Banco do Brasil, quando era a época de vacas gordas. A Agência local tinha dezenas de funcionários, que se uniram na construção da AABB, ou Associação Atlética do Banco do Brasil. E como o comércio e a lavoura iam de vento em popa, clientes doavam novilhas para churrascos. E era churrasco em todos os finais de semana... Como era um clube fechado, só os familiares dos funcionários o frequentavam. E havia os jogos de truco, com aquela gritaria escandalosa, que nunca cheguei a entender... E o futebol de campo e de salão... com os campeonatos envolvendo funcionários de outros Bancos da cidade. O Clube era rústico e mal acabado, mas cheio de vida, bem frequentado.
E o basquete das esposas dos funcionários... Tive o privilégio de participar, apesar de ser baixinha. Era apenas para brincar e passar as horas. E no final, depois de suar a camiseta, tomávamos a cervejinha gelada com aperitivos que o Wilson Imolene sempre nos brindava. Essa brincadeira durou dez anos, e só foi aposentada porque funcionários foram transferidos, levando as basqueteiras para outros locais. Quando uma delas ficava prenhe, nós xingávamos os esposos.... E havia a sauna também, que curtimos muito... Depois, a piscina.
Era tanto churrasco, tanta cerveja que, um dia todos os funcionários estavam com taxas elevadíssimas de colesterol e triglicerídeos. E aí, todo mundo teve que fazer regime...
Quando recordo esse tempo de nossas vidas, comparo-o com O Grande Gatsby, filme que registrou uma época de ouro do passado... Para mim realmente foi uma época de ouro... Que nunca mais voltará.
O João chegou e cativou todo mundo. Eu me lembro que  tinha um humor impagável. Certa vez contou que, quando passou no Concurso do Banco foi nomeado para atuar numa pequena cidade perdida no interior da Bahia. E lá, ninguém havia visto um japonês ou descendentes... Então, quando ele se dirigia ao Banco, todos os moradores ficavam espiando e tecendo comentários... Certo dia, ao voltar com os colegas, havia uma platéia para vê-lo passar. E ele falou alguma coisa para os companheiros. E então, do meio do povo, alguém gritou: “E ele fala!”
Já aposentado, ele passou a cultivar a terra, como todo japonês, a criar gado e cuidar de horta. E foi nessas incursões, que ele e a Keiko se reaproximaram de nós, pois apareciam no nosso sítio para trocar ideias com o meu esposo. Foram poucas visitas, mas que marcaram com sua alegria, e entusiasmo de viver. E estava programando uma reunião futura em seu sítio, para inaugurar sua casa e tomar uma cervejinha conosco. Mas, Deus o levou.
Em seu lugar ficou uma imensa saudade.
Saudades do Tião.
Saudades do João Mikio.
Mas, muito obrigada por terem existido!
Vocês fizeram a diferença em nossas vidas...

Mirandópolis, maio de 2015.



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