domingo, 19 de julho de 2015

             Gente de Fibra: Gerson Possenti
     
   Há uns três anos, Oswaldo Resler e uns amigos nos empenhamos numa ideia: contar a História de Mirandópolis através de fotografias. Criamos um blogger e pedimos aos antigos moradores de todos os recantos do Brasil, que enviassem fotos relacionados com eventos de política, esporte, lazer, festas, ruas, casas, amigos, escolas e promoções de tempos passados ao blogger http://fotoshistoricasmirandopolis.blogspot.com.br/.
Muita gente se envolveu no projeto e está sendo um sucesso,


porque há tantas fotos inusitadas desde os primeiros tempos bravios, quando era uma imensa floresta até os dias de hoje. Aqui era a terra dos antigos Caingangues, que acabaram dominados pelos brancos que chegaram, e se misturaram com estes, perdendo de vez a sua identidade primitiva, o que é lamentável. 
A Professora Regina Mustafa criou também o blogger de sucesso http://linhadotempomirandopolis.blogspot.com.br/ e está sendo montada foto por foto... E isso tudo criou uma rede particular de mirandopolenses que interagem de diversos lugares do Brasil, para comentar e relembrar fatos sobre as fotos publicadas no face book. E muitos contatos foram retomados em razão disso. Antigos amigos restabeleceram o bate papo e, relembram fatos de sua vida vivida aqui tempos atrás.
     E de repente, descobri num cidadão simples, um morador daqui, que todos conhecem como Dé, ou Gerson Possenti, um arquivo de fotos de mais de vinte anos de eventos sociais de Mirandópolis. Aquilo que procurávamos pelo país inteiro estava bem ali, diante de nossos olhos e não havíamos percebido.
Quando descobri isso, mais que depressa lhe pedi uma entrevista, para contar a razão de possuir mais de cinco mil fotos da cidade. E ele, se achando insuficiente para uma entrevista relutou em aceitar. Mas, sou insistente. Então vamos lá, vamos contar a história desse simpático e tão popular cidadão conhecido por toda a cidade como Dé.

Gerson Possenti ou Dé nasceu em Mirandópolis em 1959, filho do sergipano Adelson Santos e de uma descendente de italianos, Laurinda Possenti Santos. Seu pai trabalhou como Contínuo no Departamento das Estradas de Rodagem, com sede   em Araçatuba. Contínuo era uma função equivalente a Serviços Gerais, que era de cuidar da limpeza local, transportar correspondências e avisos e servir café aos demais funcionários. A vida não foi fácil para criar os filhos com o magro salário, e não conseguiu encaminhá-los para os estudos superiores. Mesmo assim, criou bem os cinco filhos, que hoje são trabalhadores honrados, e dão conta de suas vidas e de suas famílias, atuando com Agente Penitenciário, Comerciária, Corretor de Imóveis e Carros,  Funcionário Público e Trabalhador Autônomo.
Gerson só conseguiu concluir o Colegial, e não pode fazer a Faculdade de Educação Física, que era seu sonho. Foi barrado pelas condições econômicas, que o levaram a trabalhar desde bem jovem. Trabalhou na Cooperativa Mista da Zona de Mirandópolis, classificando ovos, depois foi Contínuo do escritório da mesma Cooperativa. Nessa época, ajudou a Empresa a organizar e promover Torneios de Dama e Dominós. Os prêmios
sempre eram troféus, e ele não recebia nada pela sua ajuda.  Prestou um Concurso para ser Cobrador e foi chamado para trabalhar na Empresa de ônibus Reunidas, mas preferiu atender à solicitação do senhor Valdemar de Lima, Prefeito de então. Foi designado para a Secretaria das Relações do Trabalho, onde atuou junto com o Professor José Dib Assad. Nessa época, com o apoio do senhor Prefeito realizou um show na Praça Manoel Alves de Ataíde. E estava apoiando o seu chefe como candidato a Vereador. E no meio da festa, foi abordado por uma senhora, que lhe ofereceu uma caixa imensa de bombons, que distribuiu à meninada. Ele não conhecia a doadora, e só depois ficou sabendo que era a senhora Vera Maluly, candidata de outro Partido, com o mal estar que se criou entre os candidatos que patrocinavam a festa... Logo depois, seria transferido para o Departamento de Esportes onde atuou por mais ou menos quatro anos. Ele gostou de lá trabalhar, mas houve uma confusão política e acabou indo para o Departamento de Educação, onde aprendeu muito com a dona Eunice Zuin Fazano. Foi dispensado em 2011, por conta de uma Ordem Judicial.

Mas, voltando às Promoções que ele realizou por mais de vinte anos... Tudo começou com uma sugestão do amigo José Vítor Cunha. Sugeriu que promovesse Ruas de Lazer para proporcionar umas brincadeiras para as crianças. Fechava-se um trecho de uma determinada rua e animando com música de seus aparelhos de som, realizava concursos de danças, shows de calouros, de dama, de vôlei, corridas de saco, de ovo... As primeiras foram um sucesso e o José Vítor e outros amigos ajudaram, assim como os comerciantes que doaram os prêmios e os troféus. E a moda pegou e ele acabou realizando jogos também para adultos, como competições de malha, truco, gincanas... E as mães das crianças participaram das competições de vôlei, de gincanas, de show de calouros. E sempre, sempre eram distribuídos prêmios... Ainda no antigo Campo da Aviação realizou Concursos de Pipas, que eram muito animados, com a participação de vários cidadãos da cidade. Famílias inteiras compareciam para torcer por seus filhos. Ele perdeu a conta do número de Ruas de Lazer realizadas. Fez no Jardim Aeroporto, na Rua João Ferratone, na Rafael Pereira, na Praça Manoel Alves de Ataíde, na Rua Anchieta, no Bairro Santa Rosa, no Jardim Nossa Senhora de Fátima, em Amandaba, nas Três Alianças, em Tabajara, em Lavínia. E foram inúmeras vezes nesses locais. E eram bem concorridas. Eram brincadeiras sadias, a céu aberto, sem confusão, com muita música e muita alegria. Além disso, fez sessões de Circo, vestindo-se de palhaço e fazendo a molecada rir muito, juntamente com o amigo Bandeca. E nos finais de ano, se vestia de Papai Noel para distribuir brinquedos, que ele pedia para os políticos que conhecia. Houve Deputados que o ajudaram muitas vezes, a maioria desconhecida de nossa população, que colaboravam por apreciar a sua obra. É verdade que fez muitos shows e animações políticas para os candidatos às eleições locais, e animações para inaugurações e promoções de lojas. Era o seu meio de aumentar um pouquinho a renda, pois o seu salário sempre foi muito magro.


 Com essas atividades se tornou tão popular que o lançaram como Candidato a uma vaga na Câmara de Vereadores. Mas, Gerson que não possuía nem uma bicicleta, não conseguiu fazer a própria campanha, pois até os familiares já estavam comprometidos com outros candidatos... E também não estava muito interessado em ganhar, porque não tinha e nem tem aspirações políticas. Mesmo assim, conseguiu 174 votos, perdendo para outro concorrente eleito por pequena margem.

O mais interessante de tudo isso é que, Gerson mesmo sem recursos, andou fotografando todos os eventos realizados, a entrega de prêmios, a alegria da molecada, a animação das ruas... Como não tinha recursos usou umas câmeras sem potência e, muitas fotos seriam mais valiosas se tivessem qualidade... Só que eram tantos eventos que, não anotou nas fotos os nomes das pessoas e os lugares, e hoje é difícil identificar muitos participantes, porque naquela época eram crianças... Mas, ele guarda com carinho essas fotos com muito orgulho. E está postando no face book, para os amigos ajudarem na identificação das pessoas e datação dos eventos. Proporcionou alegria a muita gente, principalmente às pessoas de periferia, aos pobres, que nunca tiveram voz nem vez nas festas.
    Gerson é hoje um cidadão, que trabalha na Câmara Municipal como Contínuo e, gasta boa parte de seu reduzido salário nas revelações de fotos e álbuns. Ele não resiste à tentação de copiar fotos importantes da História de Mirandópolis. São milhares e milhares de fotos em dezenas de álbuns, que incluem fatos históricos e acontecimentos políticos e sociais importantes do nosso município.
Além disso, como preza demais a família, organiza todo ano o Encontro de todos os seus parentes aqui em Mirandópolis. E é tão apaixonado pela família que, tem uma parede repleta de fotos de familiares e, outra parede com a sua árvore genealógica. Quando o entrevistei estava organizando outro Encontro para este ano ainda.
Gerson que estima muito a própria família percebeu que, cada irmão que constituiu família foi se distanciando uns dos outros, e raros eram os contatos.   Então para recuperar essa relação, comprou uma mesa de sinuca e de pebolim e colocou à disposição dos irmãos, que agora frequentam a sua casa e passam tardes se divertindo. E ele está feliz com isso. Nos finais de semana, invariavelmente, alguns dos irmãos aparecem para jogar sinuca e conversar.

Gerson mora numa casa simples, com muitas paredes grandes, onde ele quer postar todas as fotos que possui. É verdade que a maioria delas precisa ser ampliada e isso requer muito investimento. Acredito que um dia, sua casa irá virar um Museu de Mirandópolis, como é o seu sonho mais caro.
Perguntei-lhe porque não continuou com as Ruas de Lazer, que é o seu maior orgulho. E ele me disse que a onda de celulares e a comunicação digital acabou com as relações humanas diretas.  Todas as pessoas, crianças, jovens e adultos não tiram os olhos da telinha dos celulares e passam horas digitando conversas, sem perceber o que se passa ao seu redor. Então é impossível juntar gente numa Praça para uma brincadeira, enquanto as pessoas não se libertarem da telinha... Tecnologia ocupou de vez o lugar dos calorosos contatos humanos... Infelizmente.
Perguntei ainda ao Dé o que ele ganhou com todas essas atividades e eventos realizados, se ganhou dinheiro, se valeu a pena. E ele me disse que pelo contrário, ficou mais pobre ainda porque tudo foi investido em fotografias e isso não lhe dá renda. Mas, diz que é muito feliz por ter conquistado milhares de amigos, que o chamam de Dé onde quer que vá, e que o carinho das pessoas é uma graça que não tem preço.
Gerson Possenti, moço simples do povo, que fez de sua vida um palco de alegrias para os moradores de Mirandópolis, que vive feliz por estar realizando o que sonhou, é sem dúvida Gente de Fibra!


Mirandópolis, julho de 2015.
kimie oku in

Legenda:
1.               Gerson numa inauguração de loja
2.               Rua de Lazer – Voley da 3ª Idade
3.               Festa Junina
4.               Corrida de Saco
5.               Competição de Dominó
6.               Concurso de Pipas
7.               Passeio de Bicicleta
8.               Circo na Praça
9.               Show de Talentos
10.         Árvore Genealógica da Família
11.         Pebolim
12.         Sinuca
13.         Show no Coreto da Praça

4 comentários:

  1. Em principio quero agradecer a nossa escritora Kimie, por citar meu nome. Isso me enaltece e fico cheio de júbilo. A ideia de fazer o blog de fotos históricas de Mirandópolis foi fantástica, nem sei como te agradecer pela sua imensurável ajuda e de todos os amigos.Tudo que disse do nosso amigo Gerson é fenomenal, merece o nosso respeito pelo o que fez e faz pela comunidade de nossa cidade. Sem dúvida nenhuma ele criou um história em fotografias e promoveu divertimentos para toda garotada. Logo irá fazer uma amostra para a população do acervo fotográfico que tem, faz uma grande coisa que hoje em dia ninguém faz, é revelar as fotos sendo que elas na era digital poderá se perder um dia, inclusive tem pego as fotos dos blogs que fiz e da dona Regina, revelando-as, isso é fantástico produzindo por dezenas de anos a história para nossos descendentes. No mais agradeço e que continue por muitos anos a escrever coisas belas no seu blog.Agradecido!.

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    1. Obrigada, Dinho Resler!. Acredito que você, Dinho, a Regina Mustafa, o Gerson e eu vamos deixar uma obra para a posteridade, porque estamos contando a História de Mirandópolis. Você, o Gerson e a Regina usando fotos e eu contando as histórias de pessoas que fizeram muito pelo desenvolvimento de nossa cidade.

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  2. Parabéns Kimie por revelar essas coisas e esse bonito trabalho que o Dé fez e ainda faz, agora mais pela internet.. Eu disse a ele que isso é muito importante, importantíssimo. O Gerson é um homem caprichoso, que ama sua gente e sua terra.
    O trabalho dele é uma honra para quem também ama a cidade . Parabéns amigo. Abcs..

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    1. Concordo com você, Milton! Tive o privilégio de contar essa história linda, que marcou a vida de tantas crianças e adultos. Infelizmente, as autoridades não sabem valorizar gente como ele, por ser simples e humilde. Elas homenageiam pessoas que nunca fizeram nada pela sociedade, como Cidadãos Beneméritos... E eu não entendo a razão disso...Gerson, sim merece uma homenagem de toda a sociedade mirandopolense.

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