Misto
quente
Estive
pensando.
Nossa
vida é tal qual um misto quente.
Misto quente é um sanduíche feito de duas fatias de pão, recheadas
com uma fatia de presunto e uma de queijo. Acredito que todo mundo já saboreou
um deles. E é muito gostoso, principalmente se feito na hora, com pão quentinho
e o queijo derretendo na boca.
A invenção desse lanche fez com que a gastronomia comercial explodisse.
Em cada esquina se instalaram barraquinhas com uma chapa quente, vendendo
esse saboroso sanduíche ou fast food.
Falando em sanduíche, sabiam que foi invenção de um inglês, em
1762? John Montagu, Conde de
Sanduich não gostava de interromper um
jogo de cartas. Então, certo dia pediu ao criado que lhe fizesse um lanche
rápido, para degustar enquanto jogava. O criado pegou duas fatias de pão e
recheou com uma fatia de salame. O patrão gostou tanto do lanche, que o adotou
para sempre. E assim nasceu o sanduíche, que faz a alegria da moçada e das
crianças.
Depois dessa invenção, surgiram outras variedades como o Misto Quente,
o Bauru, o Lanche Natural, o Hot Dog, o Beirute, o Hamburger e tantos outros
mais...
O Hot Dog tem recheio de salsicha e molho, mas hoje acrescentam
mais ingredientes como alface, ovos e fritas.
O Bauru tem uma origem curiosa. O jovem Casimiro Pinto era um
estudante que frequentava o Ponto Chic, famoso Restaurante de São Paulo. Certa
vez em 1939, pediu ao garçom que fizesse um lanche recheado de queijo, rosbife
e tomate. O lanche caiu no gosto popular e foi batizado de Bauru, nome da
cidade do jovem. E o Beirute também é uma invenção de São Paulo. Dois cozinheiros de origem árabe usaram o pão sírio para rechear um Bauru. e o batizaram de Beirute em homenagem à capital da Síria.
E em 1940, a lanchonete Salada Paulista lançou o Misto Quente,
que inicialmente foi recheado de alface, ovo e bacon. O misto quente original
americano era de ovo e bacon. Hoje o misto quente é de presunto e queijo e é
muito consumido.
Pois bem, estive pensando. A nossa vida se parece com um lanche,
especialmente com um simples Misto Quente. Por quê?
Pensem comigo!
O pão que é volumoso, e que realmente sacia a fome representa,
as horas, os dias, os meses, os anos de vida que parecem tão sem graça, mas que
constituem como o pão do lanche, os 90%
de nossa existência... Representa a espinha dorsal de nossa existência, que
pode ser curta, média ou longa, mas que é composta de acontecimentos rotineiros
e muitas vezes, cansativos e frustrantes. Nessa massa de farinha e água estão
todas as batalhas de cada dia, as derrotas, as dores, as mágoas, os esforços,
as traições, os tropeços, os ensaios e os erros, os tombos, as tristezas, as
revoltas, a solidão, o desespero e as lágrimas...
Porque a nossa existência é um calendário de dias sem graça, de
muito trabalho, de esforço inaudito, de dedicação sem muita compensação, de
tombos, tombos e tombos... A parte boa é mínima.
Mas o que representa o recheio?
Ah! Aí está o sabor do lanche, a parte temperada, que apetece o paladar
e torna o misto quente tão cobiçado! Assim também os momentos de vitória, de
conquistas, de felicidade é que dão sabor à vida. Os recheios do misto quente
são os toques leves de felicidade de nossa existência. São as mini vitórias, os
pequenos acertos, as boas amizades, o apoio, o amor da família... Já imaginou
uma vida sem sabor? Sem tempero nenhum? Pão com pão?
Eu comparo a minha vida com um simples misto quente, mas outros
a compararão com lanches mais sofisticados.
Outros dirão que sua vida é tal qual um gordo hamburger,
recheado de viagens maravilhosas, de acontecimentos sociais e de grandes
vitórias. Outros dirão que, sua vida é tal qual um simples cachorro quente, com
salsicha e molho frio... Ainda outros dirão que, suas existências se parecem
com lanches frios e vegetarianos, porque cuidam da saúde e do corpo com
determinação... Mas, falando o português claro e definitivo, noventa por cento
leva uma vida de pão com mortadela... Acho que mais que noventa por cento... Se
bem que, cada um escolhe o seu estilo de vida.
Não é porque nasceu em berço esplêndido que terá garantida uma
existência feliz. Muitos cidadãos abençoados com fartura quando nascem, se
perdem nos labirintos da vida e levam uma existência miserável. Assim como
gente que mal e mal conseguiu sobreviver às dificuldades do início da vida,
acaba acertando os ponteiros e ser bem sucedida. O melhor exemplo disso é o Abraão Lincoln, que era um simples
lenhador e conseguiu ser o Presidente dos Estados Unidos... É verdade que ele
batalhou para mudar o rumo de sua vida, aprendendo a ler e escrever com os
pedaços de jornais que achava pelas ruas da cidade, que percorria todos os
dias, oferecendo seus préstimos para rachar a lenha necessária nas residências.
Naqueles tempos não havia fogão movido a gás...
Cada indivíduo tem o livre arbítrio para decidir como viver. Tem
direito de escolha e pode mudar o rumo de sua vida. Basta querer e empenhar-se
para isso. O segredo disso é o estudo para garantir uma sólida base cultural e
o trabalho. É preciso ser mais que os outros, dedicar-se mais e mais à meta
estabelecida, e trabalhar, trabalhar, trabalhar. O mundo de hoje está
alicerçado na competição. Quem tem mais conhecimentos, quem tem mais
capacidade, quem se empenha mais é que acabará chegando aos postos chave da
sociedade. Os que não procuram crescer levarão sempre uma vida medíocre.
Pela família pobre que tive, era para ter uma vida de pão com
mortadela, mas estudei, estudei e li muito. E posso dizer com orgulho que, a
minha existência pode ser comparada a um simples mas delicioso Misto Quente.
E falando nisso, alguém teria por acaso o livro “Misto Quente”
de Charles Bukowski para me emprestar?
E que sanduíche resumiria mais a sua vida?
Mirandópolis, junho de 2015.
kimie oku in
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