Tricotando
Há
um tempo atrás, li numa revista japonesa a história de uma senhora que, no pós
guerra ganhara um casaco usado, doado por alguém da Europa. Essa senhora era
uma colegial na época e, foi uma das pessoas sorteadas porque as doações não
chegavam para todos.
Ao
receber o casaco, mais que depressa fez os ajustes para lhe servir e, o usou
com muito cuidado para se proteger do rigorosíssimo Inverno do Japão. Depois,
ela o passou para sua irmã mais nova, que também usou por anos.
Essa
moça se sentiu tão grata por ter ganho esse casaco usado que, jurou retribuir
um dia essa graça confeccionando cachecóis, para proteger as pessoas idosas
desamparadas. Quando ela contou esse fato, já era idosa e aposentada, e havia
feito quinhentos cachecóis, que entregara em Casas de Repouso, Hospitais e
Asilos... Sua intenção era chegar aos mil cachecóis.
E
eu fiquei comovida pela atitude dessa senhora e, resolvi eu também fazer algo
em favor de quem passa frio. Acredito que, devo ter passado muito frio na minha
infância, pois éramos em doze irmãos numa família de pobres mais que pobres, e
nunca havia calçados e roupas suficientes para todos... E eu não aguento até
hoje, ver uma criança ou uma pessoa idosa sem agasalho em dias muito frios.
E
daí pra cá, quando chegam os meses de abril, maio e junho, começo a tricotar
coletes de lã para crianças. E é tão agradável nesses dias frios trabalhar com
fios de lã. Hoje existe uma variedade infinita de fios de lã trabalhados,
felpudos, de cores mescladas, que nem é preciso inventar modelos, pois as cores
já tornam lindos todos os trabalhos.
Então, tricotar para mim se tornou uma terapia
de Outono. E tenho feito coletes coloridos para as crianças da família, para os
agregados e outros necessitados. Basta ter vontade e tricotar. Assistindo tevê,
passo longas horas todas as tardes tricotando... Cada peça que faço me deixa
mais animada para fazer mais. E todos os anos confecciono mais ou menos uma
dúzia de peças, que entrego para crianças que realmente necessitam de algo
quentinho que as proteja.
Tem
tanta gente que se aposenta e nada faz para preencher seus dias, e reclama de
depressão. Tricotar ou crochetar seria a solução para se sentir útil e vencer a
depressão. E digo isso tanto para mulheres como para os homens... A velhice sem
ocupação é muito desoladora.
Eu
não seria capaz de viver sem um objetivo. Viver por viver para mim não tem
sentido. Já que fui agraciada com o dom da vida, devo estender as mãos e tornar
mais suave a vida de outros, porque a minha é muito boa. Não importa se é
branco, amarelo, negro ou vermelho, todos sentem frio e calor. E muito mais
ainda se são crianças. E já que recebemos de Deus, a empatia de sentir as dores
e as alegrias de outros, devemos colocar nosso coração para trabalhar e,
minimizar o sofrimento alheio. E custa tão pouco fazê-lo!
Gostaria
de saber se você tem restos de lã guardados em malas e gavetas. Se não for
usá-las, por favor doe para mim, que serei capaz de fazer coisas lindas para
crianças. Mas, o melhor é você mesmo tricotar e doar, para descobrir como é
agradável a sensação de vestir uma criança necessitada que está tiritando de
frio... E o importante é fazê-lo de coração, sem pensar em caridade e pena dos
necessitados. Doação verdadeira não pressupõe pena, mas sim amor.
Existe
a Campanha do Agasalho, que acontece todos os anos. Soube por terceiros que,
muitos agasalhos e cobertores doados não chegam ao seu destino. Isso porque as
melhores peças são desviadas para gente que nem precisa... Um filho meu quando
servia no Exército, participou de uma Campanha dessas, recolhendo as doações
pelas ruas numa cidade próxima. Os próprios colegas surrupiavam peças bonitas
para si e seus familiares... Se precisassem, tudo bem mas... Lembro também que
já doei calçados e roupas de crianças para determinada Instituição aqui da
cidade... E fiquei muito decepcionada ao constatar que, certa funcionária
destinara os melhores sapatos e vestidos para a sua própria filha, que tinha de
tudo...
A
partir daí, não participei mais de Campanhas de Agasalhos. Eu faço a minha campanha
particular, e minhas doações são para gente que realmente precisa.
Há
tanta gente necessitada que, penso que se fizesse coletes durante o ano todo,
ainda assim seriam insuficientes... Mas, eu não aguento fazer tricô nos meses
quentes do ano, porque o fio de lã irrita minha pele, que é alérgica ao calor.
Mesmo assim, acho que vale a pena essa campanha particular.
E
há tanta gente que guarda cobertas e agasalhos no fundo de malas, sem nenhum
préstimo. Por que não se descartar deles fazendo doações? Os filhos já
cresceram e não cabem mais naqueles agasalhos do último Inverno, que só estão
esquentando o fundo de malas e pesando nos cabideiros. Se os doasse, as malas
teriam espaço para outras peças mais importantes e liberaria os cabideiros. E
deixaria mais leve o coração. Essa é a melhor parte.
Não
adianta reclamar que o mundo está cruel, que a humanidade perdeu o coração, se
cada um de nós não fizer nada para mudar isso. Pequenos atos de gentileza irão
fazer uma grande diferença. Houve uma época em que as famílias necessitavam de
cesta básica para sobreviver... A Igreja, o Estado, as Instituições e as
Empresas se empenharam de tal forma que hoje, pouca gente passa fome. Mas, há
outras necessidades. Que a gente comum do povo poderá ajudar a suprir, doando fraldas
geriátricas pra tantos idosos acamados, e roupas para agasalhar crianças.
Tenho certeza que, a gratidão que brotará dos
corações de quem foi favorecido nunca mais se apagará, como não se apagou da
senhora japonesa dos cachecóis. E a humanidade irá se transformar num mundo de
paz e harmonia...
E
que tal você também copiar Minha Campanha do Agasalho e, começar a fazer
cachecóis e coletes para quem precisa?
Mirandópolis,
junho de 2015.
kimie
oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
Esta crônica me rendeu uma porção de novelos de lã, que o Mikio Kato, morador de Osasco me ofereceu para continuar tricotando... Obrigada, amigo! Com certeza farei mais uma dúzia de coletes para crianças. Mirandópolis, 10 de julho de 2015. dia muito frio!
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