quarta-feira, 8 de julho de 2015

         Tricotando

Há um tempo atrás, li numa revista japonesa a história de uma senhora que, no pós guerra ganhara um casaco usado, doado por alguém da Europa. Essa senhora era uma colegial na época e, foi uma das pessoas sorteadas porque as doações não chegavam para todos.
Ao receber o casaco, mais que depressa fez os ajustes para lhe servir e, o usou com muito cuidado para se proteger do rigorosíssimo Inverno do Japão. Depois, ela o passou para sua irmã mais nova, que também usou por anos.
Essa moça se sentiu tão grata por ter ganho esse casaco usado que, jurou retribuir um dia essa graça confeccionando cachecóis, para proteger as pessoas idosas desamparadas. Quando ela contou esse fato, já era idosa e aposentada, e havia feito quinhentos cachecóis, que entregara em Casas de Repouso, Hospitais e Asilos... Sua intenção era chegar aos mil cachecóis.
E eu fiquei comovida pela atitude dessa senhora e, resolvi eu também fazer algo em favor de quem passa frio. Acredito que, devo ter passado muito frio na minha infância, pois éramos em doze irmãos numa família de pobres mais que pobres, e nunca havia calçados e roupas suficientes para todos... E eu não aguento até hoje, ver uma criança ou uma pessoa idosa sem agasalho em dias muito frios.
E daí pra cá, quando chegam os meses de abril, maio e junho, começo a tricotar coletes de lã para crianças. E é tão agradável nesses dias frios trabalhar com fios de lã. Hoje existe uma variedade infinita de fios de lã trabalhados, felpudos, de cores mescladas, que nem é preciso inventar modelos, pois as cores já tornam lindos todos os trabalhos.
 Então, tricotar para mim se tornou uma terapia de Outono. E tenho feito coletes coloridos para as crianças da família, para os agregados e outros necessitados. Basta ter vontade e tricotar. Assistindo tevê, passo longas horas todas as tardes tricotando... Cada peça que faço me deixa mais animada para fazer mais. E todos os anos confecciono mais ou menos uma dúzia de peças, que entrego para crianças que realmente necessitam de algo quentinho que as proteja.
Tem tanta gente que se aposenta e nada faz para preencher seus dias, e reclama de depressão. Tricotar ou crochetar seria a solução para se sentir útil e vencer a depressão. E digo isso tanto para mulheres como para os homens... A velhice sem ocupação é muito desoladora.
Eu não seria capaz de viver sem um objetivo. Viver por viver para mim não tem sentido. Já que fui agraciada com o dom da vida, devo estender as mãos e tornar mais suave a vida de outros, porque a minha é muito boa. Não importa se é branco, amarelo, negro ou vermelho, todos sentem frio e calor. E muito mais ainda se são crianças. E já que recebemos de Deus, a empatia de sentir as dores e as alegrias de outros, devemos colocar nosso coração para trabalhar e, minimizar o sofrimento alheio. E custa tão pouco fazê-lo!
Gostaria de saber se você tem restos de lã guardados em malas e gavetas. Se não for usá-las, por favor doe para mim, que serei capaz de fazer coisas lindas para crianças. Mas, o melhor é você mesmo tricotar e doar, para descobrir como é agradável a sensação de vestir uma criança necessitada que está tiritando de frio... E o importante é fazê-lo de coração, sem pensar em caridade e pena dos necessitados. Doação verdadeira não pressupõe pena, mas sim amor.
Existe a Campanha do Agasalho, que acontece todos os anos. Soube por terceiros que, muitos agasalhos e cobertores doados não chegam ao seu destino. Isso porque as melhores peças são desviadas para gente que nem precisa... Um filho meu quando servia no Exército, participou de uma Campanha dessas, recolhendo as doações pelas ruas numa cidade próxima. Os próprios colegas surrupiavam peças bonitas para si e seus familiares... Se precisassem, tudo bem mas... Lembro também que já doei calçados e roupas de crianças para determinada Instituição aqui da cidade... E fiquei muito decepcionada ao constatar que, certa funcionária destinara os melhores sapatos e vestidos para a sua própria filha, que tinha de tudo...
A partir daí, não participei mais de Campanhas de Agasalhos. Eu faço a minha campanha particular, e minhas doações são para gente que realmente precisa.
Há tanta gente necessitada que, penso que se fizesse coletes durante o ano todo, ainda assim seriam insuficientes... Mas, eu não aguento fazer tricô nos meses quentes do ano, porque o fio de lã irrita minha pele, que é alérgica ao calor. Mesmo assim, acho que vale a pena essa campanha particular.
E há tanta gente que guarda cobertas e agasalhos no fundo de malas, sem nenhum préstimo. Por que não se descartar deles fazendo doações? Os filhos já cresceram e não cabem mais naqueles agasalhos do último Inverno, que só estão esquentando o fundo de malas e pesando nos cabideiros. Se os doasse, as malas teriam espaço para outras peças mais importantes e liberaria os cabideiros. E deixaria mais leve o coração. Essa é a melhor parte.
Não adianta reclamar que o mundo está cruel, que a humanidade perdeu o coração, se cada um de nós não fizer nada para mudar isso. Pequenos atos de gentileza irão fazer uma grande diferença. Houve uma época em que as famílias necessitavam de cesta básica para sobreviver... A Igreja, o Estado, as Instituições e as Empresas se empenharam de tal forma que hoje, pouca gente passa fome. Mas, há outras necessidades. Que a gente comum do povo poderá ajudar a suprir, doando fraldas geriátricas pra tantos idosos acamados, e roupas para agasalhar crianças.
 Tenho certeza que, a gratidão que brotará dos corações de quem foi favorecido nunca mais se apagará, como não se apagou da senhora japonesa dos cachecóis. E a humanidade irá se transformar num mundo de paz e harmonia...
E que tal você também copiar Minha Campanha do Agasalho e, começar a fazer cachecóis e coletes para quem precisa?
Seria uma simples forma de agradecer a bênção da aposentadoria.


Mirandópolis, junho de 2015.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


Um comentário:

  1. Esta crônica me rendeu uma porção de novelos de lã, que o Mikio Kato, morador de Osasco me ofereceu para continuar tricotando... Obrigada, amigo! Com certeza farei mais uma dúzia de coletes para crianças. Mirandópolis, 10 de julho de 2015. dia muito frio!

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