Tabajara
Este texto chegou às minhas mãos através da amiga Maria
Nívea Pinto, depois que abordei e publiquei sobre o mesmo tema no Diário de
Fato e no meu blogger. Como esse lugar fez parte de minha infância e minha
juventude, guardo-o no coração para sempre. Por isso, li com atenção e o achei
muito informativo.
É de autoria de Geisa Prates, uma jovem que mora em Lavínia, e
que deve ter pesquisado a fundo, para produzir esse texto que merece ser
preservado para a posteridade.
Então, pedi sua autorização para publicá-lo no meu blogger http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/ e no Jornal Diário de Fato.
E diante de sua anuência, estou publicando-o para rememorar o
passado desse famoso bairro, do município de Lavínia.
Tabajara por Geisa Prates
(proveniente da língua indígena Tupi-guarani, Tabajara significa
“Senhor das Aldeias” – Taba - aldeia e, Jara – Senhor)
O Distrito onde residem ainda hoje alguns lavinenses , provavelmente teria sido habitado por tribos indígenas até a
década de 30 e, o processo de colonização teria acontecido por volta de 1940,
com a chegada dos desbravadores Emílio de Leão e Jeremias Lunardelli.
Emílio e Jeremias teriam colonizado as terras e posteriormente
dividido em alqueires, que foram vendidos a famílias que vieram da mesma região
onde moravam, Pirajuí.
Com a chegada da civilização e, rodeada pelas inúmeras fazendas
de café do próprio Jeremias Lunardelli, Ivo Tozzi, Cláudio Moura, Emílio Leão
entre outras, as colônias foram crescendo e com elas, a necessidade de comprar
mistura, o pão, remédios, o fumo, e a tradicional “cachacinha”. Como Lavínia
ficava distante e na época ter uma bicicleta era um luxo, a Vila Tabajara foi
crescendo, chegando a ter mais moradores do que a própria sede do município, se
contabilizando toda a população rural.
Foi então que surgiu no Tabajara, além dos armazéns e dos bares,
as farmácias, a Escola e o próprio Cartório de Registro Civil, onde trabalharam
por várias décadas o Tabelião Hintz Brandão e a filha Hirtz Brandão.
Antonio José Farias, 69, conhecido como “Tonhão Faria” que
reside no Tabajara desde que nasceu, relembra algumas histórias: “Recordo das
ruas cheias de gente, o campinho do Tabajara Esporte Clube lotado com centenas
de torcedores aos domingos, as festas de Santo Antônio que duravam três dias e
recebiam quase três mil pessoas, as jardineiras, as brincadeiras de roda...
sinto falta daquele movimento” declarou seu Antônio. Seu Antônio conta também
que uma vez estava fazendo cerca no sítio do sogro Aleixo Peron e encontrou
vários potes de barro enterrados. "Tenho certeza que naquele local vivia uma tribo indígena anteriormente,
encontrar aqueles potes só confirmou minhas suspeitas.”
Sobre a Escola “Emílio Leão”, seu Antônio lembrou que funcionava
em dois turnos recebendo muitos alunos. “A escola funcionava em dois turnos, de
manhã e à tarde. A molecada ficava muito feliz em poder frequentar a escola.
Quem morava nas fazendas vinha e voltava a pé e não falhava sequer um dia” Por
volta de 1970, aquela vila cheia de gente, vendas, máquinas de beneficiar grãos
foi acabando, ficando cada vez mais vazia. Seu Antônio que viu a vila se
expandindo, também foi testemunha do êxodo e acredita que o fator que mais
contribuiu foi a geada de 1975. “Muitos produtores de café quebraram nessa
época e foram embora em busca de novos investimentos” relatou seu Antônio.
O casal Redentor Fontana e Luzia Pires Fontana, respectivamente
conhecidos como Sr. Diquinho e Dona Luzia também morou por muitos anos no
Tabajara, na direção do Armazém São José. Seu Diquinho mudou para o Tabajara em
1950, no auge da produção do café.
“Eram mais de 1800 pessoas em 100 propriedades de café, em menor
escala a produção de feijão, milho, algodão, mamona e a pecuária, mas de certa
forma posso dizer que tudo girava em torno do café.” afirmou ele.
Por conta da grande produção do café que gerava emprego, os
comerciantes acabavam lucrando também e nessa época, o distrito chegou a ter
cinco armazéns de Emílio de Leão,
Antônio Bácaro, Arthur Nogueira, Nicola Colluci e Manoel dos Reis: quatro bares
de Rogério Rebolo, Sebastião Rodrigues, Francisco Maciel e Henrique Barranco;
as máquinas de beneficiar grãos eram de Redentor Gonfiantini e Fermino Pavesi.
“Tinha várias casas de comércio e todo mundo tinha freguês, porque tinha
bastante gente no Tabajara e nas redondezas” disse.
Já o lazer ficava por conta dos bailes aos sábados à noite, o
futebol aos domingos à tarde e os “fute” aos domingos à noite. “A turma
trabalhava a semana inteira, esperando chegar o sábado para dançar nas barracas
que eram montadas nos bairros, tinha vez que chegava a ter três bailes no mesmo
dia em bairros diferentes. No domingo à tarde a alegria eram as partidas de
futebol, e à noite eram as paqueras” relatou
seu Diquinho.
Para Diquinho, o êxodo se deu por conta da inflação, quando o
cultivo do café deixou de ser rentável e o próprio governo incentivou os
produtores a extinguirem a plantação.
Com a quebra a produção de café, assim como os outros
comerciantes seu Diquinho deixou a vila, continuando no ramo comercial em
Lavínia.
Lavínia, 2012.
Geisa Prates
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