A
história de Kaspar Hauser é um mistério que a História nunca conseguiu
desvendar. É muito intrigante e inexplicável.
Já
cheguei a fazer referência sobre ele, numa crônica intitulada Civilização
Corrosiva, mas é um caso que continua a me intrigar.
Numa
bela manhã de maio de 1828, apareceu na
praça da cidade de Nuremberg, Alemanha, um estranho jovem de seus quinze, dezesseis
anos. Estava de pé, numa postura estranha, não sabia conversar, não entendia a fala das pessoas e nem
conseguia andar direito. Parecia um garoto selvagem e anormal.
Trazia
consigo uma bíblia e uma carta anônima, explicando que seu nome era Kaspar
Hauser, e fora criado num porão até
aquela data, sem nenhum contato humano. A carta era endereçada ao Capitão da
Cavalaria local.
O
jovem que tinha uma expressão totalmente alienada só sabia repetir: “Quero ser
um cavaleiro como foi meu pai”
Ao
ser descoberto, foi conduzido ao Capitão da Cavalaria, que tentou, por todos os
meios disponíveis na época, descobrir a proveniência do garoto. Tudo em vão.
Ninguém sabia dele. E como ele não sabia se comunicar, foi impossível
desvendar a história. A aparição dele provocou grande agitação na cidade.
Inicialmente, por não saberem lidar com ele, prenderam-no numa
torre. E lá iam todos os curiosos, para ver a criatura assustada, que lhes parecia um bicho de outro mundo. Os moleques da cidade
gostavam de provocá-lo, com coisas que ele não conhecia,
como uma galinha, que soltavam no quarto dele, e o deixavam acuado. Era apenas um menino apavorado, num mundo totalmente novo e desconhecido. Ali, justo no meio humano, conheceu o medo...
Então, alguém teve a ideia de colocá-lo num circo, junto de anões
e índios para virar atração dos curiosos.
E o povo se deliciava de ver aquela criatura desajeitada, sem nenhum
traquejo social, ser apresentada como se fosse um marciano. Ele não compreendia nada do que ocorria ao seu redor, porque nunca vivera numa sociedade. Não entendia a razão do interesse obsessivo das pessoas por si.
Felizmente, um Professor viu o garoto e penalizado de sua situação, ofereceu-se
para cuidar dele. Inicialmente, ele só sabia dizer “cavalo”, que era um brinquedo de madeira,
que possuía no buraco onde viveu, e a
frase “Quero ser um cavaleiro como foi meu pai”. Ele falava como um autômato, porque alguém lhe dissera para assim proceder, mas não
sabia o significado de pai, nem de cavaleiro, porque nunca tivera contato com
nenhum deles.
O Professor o levou
para casa, e num ambiente familiar, foi aos poucos, ensinando a falar, a escrever e a conhecer o ambiente que o cercava. Além disso, ensinou a comportar-se socialmente, tarefa difícil,
porque os padrões da época eram muito rígidos e não aceitavam meias medidas. O pároco e as beatas da localidade ficavam escandalizados, com as reações inesperadas do menino. Evidentemente, ele não conhecia normas sociais.
Mas, Kaspar se revelou um garoto de inteligência normal, aprendeu tudo rapidamente, e chegou a tocar piano, que apreciava muito. Era puro, e surpreendia seu protetor com perguntas, muito inocentes e inesperadas. Achava que as coisas tinham vida própria, enxergava muito bem no escuro e ouvia "os gritos do silêncio." Devia ser consequência de seu longo e solitário confinamento...
Mas, Kaspar se revelou um garoto de inteligência normal, aprendeu tudo rapidamente, e chegou a tocar piano, que apreciava muito. Era puro, e surpreendia seu protetor com perguntas, muito inocentes e inesperadas. Achava que as coisas tinham vida própria, enxergava muito bem no escuro e ouvia "os gritos do silêncio." Devia ser consequência de seu longo e solitário confinamento...
Entrementes, as investigações sobre sua origem prosseguiam por
toda a Europa. Ficou conhecido como “o filho da Europa”. Baseado no livro de
orações, que ele portava quando apareceu em Nuremberg, levantaram a hipótese de
pertencer a alguma família nobre. Aventou-se também a possibilidade, de ser um
neto bastardo de Napoleão Bonaparte, por haver semelhança com a história de um parente do Imperador. Recentemente, essa possibilidade foi descartada com os testes de DNA.
As pesquisas porém, foram interrompidas, por causa da morte repentina
de Kaspar em 1833, vítima de um atentado
à faca no peito. Ele fora atraído para um encontro com uma pessoa estranha, que lhe prometera revelar quem eram seus pais. Seu assassinato despertou mais suspeitas,
pois alguém não queria que descobrissem a sua verdadeira origem.
E com isso, ficou a história truncada desse menino, que só viveu aproximadamente dezoito anos, descartado ao nascer, retirado do convívio humano e que
viveu quinze anos encerrado numa masmorra. O inocente morreu, sem saber saber as razões de seu desterro... e que família era essa, que o banira de suas vidas...
Após o inexplicável atentado, que resultou em sua morte, o Rei
da Bavária ofereceu um valioso prêmio, para quem descobrisse o autor do
atentado. Infelizmente, ninguém conseguiu descobrir nada. E hoje, passados já 179 anos de sua morte, o mistério continua.
Em 1974, Werner Herzog, famoso cineasta
alemão contou a história desse menino no
filme “Cada um por si e Deus contra todos”, que em versão portuguesa, ficou conhecido como o “Enigma de Kaspar Hauser”.
A história de Kaspar já foi estudada por sábios de todas as áreas
do conhecimento humano, e os livros escritos sobre ele são milhares, mas a sua origem nunca foi decifrada.
“Aqui jaz um desconhecido assassinado
por um desconhecido” é o epitáfio sobre o seu túmulo em Ansbach, na Alemanha.
Epitáfio, que resume de forma tão verdadeira, a passagem desse jovem por este mundo.
Kaspar Hauser, será que um dia desvendarão seu enigma?
Mirandópolis, 12 de fevereiro de 2012.
kimieoku (kimieoku@hotmail.com)
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