1 História de Mirandópolis
dos anos 40/50
Há um tempo atrás, fiz contatos com
alguns ex- moradores de nossa cidade, ao empreender uma pesquisa a respeito de
“Uma foto histórica de Mirandópolis”, cuja crônica publiquei em maio deste ano
no Diário de Fato.
O propósito da pesquisa era descobrir
quem era quem na foto e no final
constatei ter sido tirada em 1950, na despedida do Professor Júlio Mazzei, que
mais tarde seria famoso como Treinador do Palmeiras e do Santos Futebol Clube.
Sua passagem por Mirandópolis foi como Professor de Educação Física, do antigo
Ginásio.
Conversando com o senhor Hélio Ramirez,
de Pirapozinho obtive informações preciosas, que publiquei. E conversando com o
seu irmão Elídio Ramires de 81 anos, de Valinhos, percebi que tinha muitas
lembranças de como era Mirandópolis daqueles tempos heróicos. Solicitei, pois, ao senhor Elídio que, fizesse
um relato pessoal de tudo que vivenciou na época.
E recentemente, recebi esse Relato, que
considero de grande valor histórico, pois nele há detalhes que a maioria da
população desconhece, e que merecem ser preservadas para as gerações futuras.
Com a anuência do seu Elídio resolvi publicá-lo, mas como é muito extenso, vou
fazê-lo em capítulos.
Mirandópolis, agosto de
2012. Kimie oku
A seguir, então, o Relato.
Relato de
Elídio Ramires
Capítulo I – Saudades de Mirandópolis
Tenho muitas saudades de Mirandópolis,
onde vivi parte de minha infância e minha juventude. Onde moldei a minha
personalidade, convivendo com os melhores amigos, com pessoas honestas e
trabalhadoras e participando durante os 18 anos de minha vida na cidade, de
intensa atividade social e no desempenho de diversos cargos em entidades e
agremiações, por puro idealismo e solidariedade ao seu povo acolhedor e amigo.
Lembro-me, como se fosse hoje do dia 2
de setembro de 1942, em que aportamos em Mirandópolis com minha família, meus
pais e mais 9 irmãos, vindos do pequeno município de Paraíso, perto de
Catanduva, onde nasci, e onde tínhamos uma pequena chácara. Eu tinha na época,
11 anos de idade e estava no 4º ano primário, que terminei em Mirandópolis no
recém inaugurado Grupo Escolar, construído a expensas do povo.
Mirandópolis, uma
escolha por acaso
Atraído pela fama que corria sobre o
progresso e o desenvolvimento, que estava ocorrendo na zona oeste do Estado, em
função do avanço da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, rumo a Mato Grosso,
meu pai, no afã de conseguir meios
seguros, para o futuro da família e trabalho para todos, em viagem que
empreendeu à Região da Alta Noroeste, visitando Vários lugarejos, desembarcou
em Mirandópolis, por ter sido informado que na cidade existia uma padaria à venda, que era
exatamente o que estava procurando. O estabelecimento era do senhor Antonio
Cruz Sobrinho, uma pequena Padaria já em funcionamento, situada na Avenida
Internacional, depois denominada Avenida Rafael Pereira, em homenagem ao
pracinha mirandopolense, morto na 2ª Guerra, na Itália.
Meu pai batizou a
Padaria de São João e, segundo consta, existe até hoje, mas com o nome de Padaria
do Antonio.
O nome Mirandópolis do então pequeno
lugarejo, ainda Distrito de Araçatuba, criado em 1937, segundo histórico da
cidade, foi dado pela Diretoria da Estrada de Ferro, quando foi inaugurada a
Estação em 1936, em homenagem ao Senador Rodolfo Miranda, então colonizador e
proprietário por posse concedida pelo Governo do Estado, de extensa gleba de
terras na região.
Lances de uma mudança rumo ao sertão
Nossa mudança foi uma jornada de
aventura para o desconhecido, com muito cansaço e desconforto. Com todos
empoleirados, inclusive o padeiro, meu cunhado, em cima das tralhas de mudança
na carroceria de um velho caminhão pertencente a um tio, pousamos em Penápolis
e amanhecemos em Araçatuba, onde fizemos um lanche. A partir daí, enfrentamos
as piores estradas municipais, esburacadas e cheias de curvas, subidas e descidas,
que pareciam trilhas, cercadas em todo o trajeto de mata virgem, até chegarmos
a Mirandópolis, na tarde do 2º dia.
A cena certamente parece ficção da imaginação do escritor,
mas a história é verdadeira, e tem muito a ver com as demais cidades que nasceram
na região, como Mirandópolis. Manoel Alves de Ataíde, seu fundador também
ergueu uma cruz de madeira, em frente à pequena capela de tábuas, que construiu
no terreno que adquirira, com o mesmo sonho de Moura Andrade, batizando-o de “PATRIMÕNIO SÃO JOÃO DA SAUDADE”.
Igrejinha, aliás, que freqüentei quando menino, antes da construção da atual
Igreja- Matriz.
Sobre a região, escreveu ainda o escritor no mesmo artigo: “Aquelas terras do interior do Estado de
São Paulo eram verdadeiro mar de vegetação hostil e ininterrupta, há poucos
anos. Por mais de cem quilômetros em torno da cruz ali erguida, havia menos de
mil seres humanos. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil atravessava o verde da
selva, sem uma só parada”.
O Desbravamento das Cidades na Selva
De fato, a epopéia do desbravamento do sertão da zona
noroeste do Estado não foi ficção. A História de Mirandópolis se escreve com as
mesmas tintas fortes e arrojadas com que se escreveram as páginas da história
da implantação de tantos outros núcleos de colonização desta região, nas quais
se sobressaíram a coragem e a tenacidade de pioneiros denodados como Moura
Andrade e Manoel Ataíde e seus abnegados companheiros. Estiveram expostos aos
animais selvagens, incluindo onças, e peçonhentos de toda espécie, mas abriram
clareiras na densa floresta para fundar as cidades de seus sonhos.
Muitos mirandopolenses que chegaram à pequena cidade a partir de 1940, por certo devem se lembrar
com emoção como eu, dos primeiros passos
na conquista deste solo, das
dificuldades vencidas, do trabalho
estafante, da luta incessante de um povo laborioso na busca de um futuro
melhor. ( continua na próxima semana)
Parabens Kimie pelo esforço que você tem feito em noticiar a história de Mirandópolis, procurando pessoas que ainda está no meio de nós para descrever em detalhes o panorama da cidade e da região, se contar para nossos filhos eles não vão acreditar que isso outrora foi uma mata intensa e que tudo se acabou, isso é progresso e nem temos conta de impedir, mas trás uma nostalgia para nossas mentes, viajamos no passado pelas letras do presente. Historia essa que deve ser preservada, você terá um vasto de informações para elaborar um livro que será a memória da cidade. Conte comigo pela inciativa. Abraços. Dinho.
ResponderExcluirMuito bom sou de Andradina e sempre gostei de Mirandopolis.
ResponderExcluirAdmiro a cultura japonesa e o que trouxeram de bom para a região noroeste.