A
chuva choveu!
Ultimamente a temperatura tem subido tanto, que
parecia que qualquer hora começaria um incêndio no próprio asfalto da rua.
O calor estava insuportável, que, a gente fugia
para as páginas do facebook, pra ver se via algo refrescante, mas eram só
queixas do calor, da falta de chuva, do sol ardente, da temperatura nas
alturas, que nada nos fazia esquecer esse incômodo que é o corpo fervendo.
De manhã ao se levantar, todo mundo olhava o céu à
procura de alguma abençoada nuvem, mas o sol estava lá firme e forte, todo
risonho, mandando temperaturas que variavam de 40 graus centígrados pra cima. E
isso na sombra, que lá fora acho que os termômetros estourariam, derramando o
mercúrio.
Saindo para buscar umas frutas para aliviar o
calor, onde quer que fosse, todo mundo já transpirando às nove da manhã e
reclamando do calor. Nunca constatei tanta unanimidade em desejar a chuva.
Todos pedindo chuva ao Pedrão lá em cima.
Mas, nada.
Quando passava das quinze horas, formava-se um
barrado lá pros lados do Sul e do Oeste, escurecendo todo o céu, e todos
ficavam esperançosos de que descesse uma boa chuveirada para aliviar o ar.
Escurecia, ventava forte, trazendo terra e folhas secas, sujando o interior das
casas, que ninguém conseguia fechar por causa do calor. E de repente, sem mais
nem menos, vinha um vento fresco, provando que havia chovido nas redondezas.
E aqui, nada. Aí, alguém dizia: “É falta de
oração!” “É o Padre Epifânio, cobrando a injustiça que fizeram com ele,
tomando-lhe a Igreja que ele construiu!”
E o povo suado, azedo, irritado, porque nada
irrita mais do que andar ao sol quente, trabalhando pesado com a camisa
encharcada de suor. Todo mundo se sente sujo, malcheiroso, com desodorante que
não dá conta do recado, por melhor e mais caro que seja...
E à noite para dormir, ventilador jogando ar
quente, condicionador não dando conta de refrescar o cubículo do quarto, porque
as pessoas que lá dormiam pareciam tochas acesas de tão ferventes...
Noites mal dormidas, dias pesados de calor
intenso, trabalho feito com mau humor, sempre resmungando, comendo mal, porque
o bucho estava sempre lotado de água... quem agüenta isso?
E os dias passavam. O sol sempre firme e forte no
seu posto, como se tivesse o propósito de cozinhar a carreira de formiguinhas que
somos nós...
E a previsão meteorológica anunciando chuva pra
todo lado, menos aqui. Aliás, preconizava apenas: “Pancadas esparsas de chuva
na região”. Mas nada acontecia, porque acho que a nuvem esparsa passava
correndo pela região e não dava tempo de cair uma gota de água.
E essa enganação do Instituto de Meteorologia já
durou uns dois meses. E o povo se consolando e dizendo uns pros outros: “No
Norte está pior, o gado morrendo por falta de água e de pasto. E morrendo de
batelada!” “E os Estados Unidos com o furacão devastando tudo?”
Mas nada disso consola ninguém, que desgraça dos
outros não serve de consolo em momento algum. Cada um quer é resolver o seu
problema.
E o problema era o calor insuportável e a falta de
chuva.
E hoje, choveu!
E caiu uma chuva mansa, fresca, sem ventania, sem
estragos. Foi pouca, mas abençoada.
Que conforto pensar que Deus se lembrou de nós.
Que o Padre Epifânio nos perdoou e intercedeu lá com o Manda Chuva.
É uma sensação boa constatar que a natureza tarda,
mas não falha. A chuva chovendo era um maná do céu para todos. Acho que nunca,
tanta gente ficou tão feliz com a chuva de hoje.
Depois da chuva, o quintal ficou sujo de folhas e
de pétalas de flores, mas não importa. As plantas foram regadas por Deus
através de um aspersor celestial que revitaliza tudo. Até o ar ficou diferente,
perfumado, sem poeira, fumaça ou fuligem.
E é uma sensação boa ver a água escorrendo do
telhado em tiras pesadas e correndo no chão curando a quentura da Terra.
Esta noite, todo mundo dormirá melhor e descansará
feliz. Ventiladores, condicionadores e umidificadores descansarão hoje. Amanhã
será um novo dia. Todos estarão bem humorados, o serviço será realizado com
mais calma e gentileza.
E vamos continuar na torcida que Deus nos mande
mais chuva, porque a chuvarada de hoje foi só um aperitivo.
Mirandópolis, 1º de novembro de 2012.
Kimie oku in
“cronicasdekimie.blogspot.com”
Nenhum comentário:
Postar um comentário