Gente de
fibra - Takeshi Kido
Takeshi
Kido é um popular Cirurgião Dentista, que durante décadas cuidou dos dentes da
comunidade mirandopolense.
É de origem
nipônica, mas é brasileiro. Nasceu em 1937, no Bairro Km 50 que foi o berço da
cidade de Mirandópolis.
Naquela
época, o Bairro do Km 50 era uma pequena cidade no meio da floresta, fundada
pelo Senador Rodolfo Miranda, que pretendia instalar uma metrópole na região,
para concorrer com a cidade de Araçatuba. Embora pequena, era uma cidade com
serrarias, hotéis, farmácias, restaurantes, bares, máquinas de beneficiar arroz e café, escolas,
igrejas, armazéns de secos e molhados... e crescia a olhos vistos.
O sonho do
Senador não se concretizou, porque a Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil que veio ligar Bauru ao Estado de Mato Grosso, não passou
pelo Km 50 e instalou a Estação Ferroviária
aqui onde está até hoje, com o nome de Mirandópolis.
O Senador
havia nomeado a nova cidade do Km 50 de Mirandópolis, mas o nome não pegou,
pois todos a chamavam de Km 50. E com os trens passando aqui em Mirandópolis,
transportando de forma rápida e prática além de pessoas, até animais, cereais e
maquinários, a população de lá acabou se transferindo para cá, mudando de vez a
sede da cidade.
A família
de Takeshi Kido, que possuía uma Selaria e Sapataria no Km 50, também para cá se mudou, juntamente
com todos os imigrantes japoneses, que lá moravam. Seu pai continuou no mesmo
ramo de Selaria e Sapataria, para criar os sete filhos, dos quais uma era
japonesa, pois nascera no Japão.
Naquela
época, os nipônicos que vieram do Japão se organizavam em associações, para não
perderem o contato uns com outros. Assim, formaram-se grupos de senhoras,
“Fujin-kai”; dos jovens “Seinen-kai”; dos representantes das famílias, os
“Nihonjin-kai”. E essas associações cuidavam dos estudos das crianças e jovens,
com o objetivo fundamental de conservarem as tradições lá da pátria distante,
ensinando-lhes a língua japonesa, os costumes, os cultos e a parte recreativa.
No que concerne aos esportes, o forte era o beisebol, que era praticado com
muito entusiasmo pelos jovens e adultos de todas as aglomerações de japoneses
no Brasil. Assim, havia competições de grupos de cidades vizinhas, de regiões,
de Estado e até campeonato brasileiro.
Nessa
época, aqui estavam estabelecidas as famílias japonesas dos Amikura, dos Anze,
dos Hombo, dos Ijichi, dos Kawasaki, dos Kawata, dos Koike, dos Kojima, dos Miike, dos Mizukami,
dos Mochida, dos Motomiya, dos Nagata, dos Sadano, dos Sato, dos Suguisaka, dos
Tanaka, dos Tanikawa, dos Takayanagui, dos Tonossu, dos Yanagui e outras
dezenas de agricultores como os Ariki, os Nakano, os Miguita, os Inoue, os
Sumita, os Fujikawa, os Miyamaru, os Sassaki, os Shiota ... Grande parte delas
se instalou com suas casas comerciais na Avenida Internacional , hoje Avenida Rafael Pereira.
Anos mais
tarde, a maioria dessas famílias acabou deixando a cidade, em busca de trabalho
e escolas para estudar seus filhos. Aqui restaram alguns remanescentes desses
primeiros japoneses, que acabaram se miscigenando com os brasileiros.
Como não
podia deixar de ser, Takeshi também foi educado nos moldes do sistema japonês, que ensinava a
postura correta diante da sociedade e o amor ao trabalho. Assim, frequentou a
escolinha japonesa, jogou muitas partidas de beisebol e pertenceu às
associações da época. Entretanto, como sua vida era dividida entre Sorocaba e
Mirandópolis, nunca assumiu a Direção do Clube Nipo, no que foi cobrado muitas
vezes pelos companheiros.
Takeshi
fez os estudos iniciais aqui e foi da primeira turma de formandos do Ginásio
Estadual, em 1953. Foi aluno dentre
outros renomados mestres, que marcaram época na História de Mirandópolis, do
Professor Júlio Mazzei, de Educação Física, que se tornaria famoso como Preparador Físico do Palmeiras e do Santos; e
que levaria o Pelé para o Cosmos de Nova Iorque, que congregou os jogadores
mais famosos do mundo. Dessa fase, Takeshi se lembra que o Prof. Mazzei gostava
de beisebol e participava de algumas partidas com os jovens alunos, no campo do
antigo Clube Nipo.
Seus
colegas de Ginásio foram o Natsumeda, o Kamada, o Kazuo Kawamoto, o Toshio
Suguisaka, Keitaro Mizukami, Shinzo Amino, Kunitaka Shimoda, Aiko Morita, Akiko
Kanazawa, Naoko Suguisaka e Miyuki Mochida.
Como não
havia Colégio no local, Takeshi foi enviado a Sorocaba, onde concluiria o Curso
Científico em 1956. Em 1957, ingressou na Faculdade de Farmácia e Odontologia
de Araraquara. Ao concluir a Faculdade, fez Estágio de Cirurgia Hospitalar na Santa Casa de São Paulo, no Departamento de Odontologia, com o Professor de Cirurgia Bucal, Doutor Mário Grazziani.
Com esse Professor, o jovem Kido aprendeu muito sobre os procedimentos
cirúrgicos, que viriam ajudá-lo no exercício de sua profissão.
Após a formatura, Kido abriu o seu
consultório em 1961, à Rua Armando Sales de Oliveira, numa sala alugada no prédio pertencente ao senhor Mário Koike.
Naquela
época, os dentistas estabelecidos na praça eram: Dr. Alcides Falleiros, Dr.
Rubens Conrado, Dr. Elzio Bizarri, primo dos Ramires, e Dr. Lago. Havia
trabalho para todos, porque a cidade estava em pleno desenvolvimento.
Os pais de
Takeshi também se instalaram na Avenida Internacional, que era a principal rua
do comércio. Em 1962, Takeshi casou-se com a senhorita Haiko Miura, que nasceu em Paraguaçu Paulista.
Eles se conheceram quando estudavam em Sorocaba. Dessa
união, tiveram uma filha, que seguiu a carreira do pai, tornando-se
Ortodontista também.
Como o Dr.
Kido era especializado em
Cirurgia Bucal , os demais profissionais lhe encaminhavam
todos os casos, que requeriam maiores cuidados. E assim, o seu trabalho se desenvolveu
rapidamente. Teve clientes famosos como o Dr. Osvaldo Brandi Faria, os Godoy,
Dr. Yoshito Kanzawa.
Seu
sucesso foi rápido e em 1964, construiu a atual clínica que possui, mas que
está desativada, em virtude de recente aposentadoria.
Como o Dr.
Kido pretendia se especializar em Correção Dentária , com a anuência da esposa
Haiko, fez o Curso de Especialização em Lins durante dois anos e meio. O curso de Técnica BEGG de Correção Dentária era aos sábados, e para estimulá-lo, a esposa e a filha o acompanhavam.
Enquanto ele estudava, elas ficavam no hotel. Foram anos de muito sacrifício,
de cansaço, porque a Marechal Rondon era de pista única e as viagens eram
demoradas.
Quando
concluiu o Curso em Lins, ele frequentou por mais dois anos e meio, o Curso de Correção Dentária da Técnica Edwise, ministrado por um Professor australiano, em Bauru. Já nessa altura, ele ia sozinho, mas era muito
cansativo, porque trabalhava a semana inteira, e muitas vezes fazia serão até
de madrugada, sempre com a ajuda inestimável da companheira Haiko.
Com o passar dos tempos, Dr. Kido percebeu a importância da incrustação fundida, que era mais segura e duradoura. Esse tipo de restauração dentária era feito nos dentes
posteriores, quando havia muito desgaste, fraturas e ou grandes cáries. Incrustação
dentária era uma restauração do dente lesionado, embutindo-se peças confeccionadas com ligas de prata ou ouro, para recompor a parte que faltava. Essas peças eram cimentadas no dente, e
tinham vida mais longa que as restaurações por amálgama. Atualmente, essas
incrustações podem ser feitas com resina e porcelana.
Como os
laboratórios demoravam na entrega dessas incrustações, Dr. Kido resolveu ele
mesmo, confeccioná-las. Para isso, comprou o material, aprendeu a técnica e produziu
as peças que eram colocadas nos dentes dos clientes. Chegou a fazer mais de
trezentas incrustações por ano, que era um número espantoso. E isso por mais de
dez anos seguidos, trabalhando além do expediente, sempre com a competente
colaboração da esposa Haiko. A dificuldade do trabalho se concentrava nos
diferentes tamanhos e formas das peças,
devido às características dos dentes de cada cliente.
Além de
tudo isso, Dr. Kido foi convidado a dar aulas no Ginásio, porque era necessário
um corpo docente habilitado para se instalar o Curso Científico e o Clássico.
Atendendo a um pedido do Dr. Neif Mustafa, então Secretário do Colégio Noêmia
Dias Perotti, deu aulas de Biologia por uns dois anos. Diz que foram anos
duros, porque trabalhava o tempo todo e à noite ainda tinha o compromisso de
ministrar aulas aos jovens do Colégio. Até nisso, a esposa Haiko foi a
secretária perfeita, anotando os tópicos dos assuntos, que deveriam ser
abordados pelo Professor Kido nas aulas...
Além disso,
ainda se envolveu com a política local, tornando-se Vereador por uma
legislatura, na gestão do então Prefeito Dr. Jorge Maluly Neto, de 1963 a 1966.
E tudo
isso, trabalhando de oito a dez horas por dia para atender à clientela. Durante
mais de trinta anos, deu assistência à Comunidade Yuba, que pagava os serviços
mais em espécie, porque as dificuldades financeiras eram muito grandes. A
Comunidade agradecida lhe envia até hoje, frutas e verduras quase semanalmente. Essa prática se chama "ongaeshi" em japonês, que é um agradecimento para sempre.
Durante 25
anos, Dr. Kido viajou de Mirandópolis a Sorocaba e vice-versa, porque sua
agenda de atendimento era de duas semanas ao mês em Mirandópolis, e duas semanas
em Sorocaba.
Em 1987,
aposentou-se pelo INSS.
Continuou
trabalhando para atender a clientela de longa data, mas problemas de saúde o
forçaram a parar. Aos poucos, foi reduzindo o ritmo de trabalho e em 2011,
deixou de vez a Clínica. Tem saudades, porém, do serviço de dentista...
Hoje só
cuida do gado, que possui numa fazendinha. Faz Inseminação Artificial de Tempo Fixo,
sendo o Dr. Kido e o senhor Itio Nakano, os pioneiros dessa técnica em
Mirandópolis.
A Inseminação
Artificial por Tempo Fixo tem como ponto fundamental a padronização do cio e do
parto, e é possível obter sucesso em 55% dos casos inseminados. Em conseqüência,
padronizam-se os lotes de gado de corte. Há sete anos, Dr. Kido está praticando essa
modalidade de inseminação, que requer observação, muito treinamento e trabalho.
Ele aplica em animais da qualidade “Aberdeen-Angus”, que é um gado escocês e
nas fêmeas Mestiças Angus, fertilizando-as com o sêmen do gado “Wagyu”, de raça
japonesa.
O gado
Wagyu é conhecido internacionalmente como o produtor de carne mais macia e
suculenta. E pelos cuidados e tratamento dispensados a esse gado no Japão,
produz-se o Kobe beef, que é considerada a carne mais cara do mundo, pela
excelência do sabor e da qualidade.
Dr.
Takeshi Kido que foi um verdadeiro artesão, e passou horas intermináveis no seu
mini-laboratório, construindo pequenas peças que devolveriam a saúde bucal e o
sorriso de seus clientes, passa agora a cuidar de produzir gado, que forneça
carne de qualidade superior aos consumidores.
Dr.
Takeshi Kido, que sempre procurou a perfeição em tudo que realizou em sua vida,
seja na profissão, seja nos estudos e em outras jornadas, é sem dúvida alguma, Gente de Fibra!
Mirandópolis,
novembro de 2012.
Kimie oku
in “cronicasdekimie.blogspot.com”
Legenda
das fotos:
1.
Dr. Takeshi Kido em seu
gabinete
2.
Bairro Km 50 em 1936
3.
Avenida Rafael Pereira em 1947
4.
Formatura do Ginásio e amigos
5.
Certificado da Faculdade de Odontologia de Araraquara
6.
Time de beisebol dos Old Boys e torcida
7.
Família Kido (pais, irmãos, cunhados e sobrinhos)
8.
Espadas japonesas
9.
Takeshi e Haiko (meio século juntos!)
Familiares e amigos do Dr. Kido, entrem no facebook de kimie oku e, verão os comentários que as fotos aqui publicadas estão suscitando. A foto dos Old Boys e torcida provocou um verdadeiro frisson. Pra melhor localizar, vejam a linha de tempo de kimie oku, ok ? Bom divertimento e curtição de saudades.
ResponderExcluirUm abraço a todos que admiram o Dr. Kido.
Esse senhor Takeshi Kido foi meu recuperador dos meus dentes quando era criança, minha familia sempre ia no seu consultorio dentário. Pessoa educada e querida por nossa cidade, pela lembrança Kimie e parabens ao Dr. Kido pelo que fez e construiu. Abraços, familia Resler.
ResponderExcluirDa. Kimie, gostaria de parabenizá-la por este dom maravilhoso da escrita.Que Deus a conserve sempre com saúde para que possamos ter o prazer de ler suas crônicas.Obrigada pelas palavras escritas sobre meus Pais...Eu, como filha que se orgulha dos Pais que tem, os admira e ama, fiquei muito feliz ao ler a matéria.
ResponderExcluirEles realmente são gente de fibra !!!
Um grande abraço
Mércia
Mércia, a história deles é muito bonita, principalmente pela persistência de seu pai, e pelo apoio incondicional de sua mãe, que todos nós na cidade ignorávamos. E agora há pouco, este blog atingiu a marca de dez mil visualizações em apenas um ano. E esta história de Dr. Kido já está beirando cinquenta visualizações em apenas dois dias, contribuindo para se alcançar tal sucesso. Seu pai é uma pessoa bastante respeitada e querida aqui na cidade. Com certeza, vai ser lido e admirado por muita gente ainda. E muito obrigada pelas palavras de estímulo. Estou deveras feliz com o sucesso de seu pai. Um beijo!
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