Sakamoto Riyoma/ 坂本竜馬
Mijão! Mijão! Mijão!
O garoto de dez anos
de idade sofria todos os dias essa humilhação ao voltar da escola. Quem o
maltratava eram os colegas de classe da cidade de Kochi, onde nasceu o jovem
que mais tarde seria um dos homens mais respeitados e, que mudaria
definitivamente a História do Japão.
Todos os dias, ele
voltava chorando, e as sessões de bullying só terminavam à porta de sua casa,
onde Otome sua irmã de 13 anos botava a molecada pra correr. Otome era uma
garota de um metro e setenta de altura, pesava cem quilos e tinha uma força
poderosa, a ponto de os meninos terem muito medo dela. Ao ver o irmãozinho
Sakamoto Riyoma sempre chorando, ela se irritava porque queria vê-lo tão forte
quanto ela. A mãe havia falecido recentemente, e a irmã tomou a seu cargo a
educação do pequeno. E ao vê-lo tão frágil, sem coragem para enfrentar uma
briguinha à toa, ela o colocou numa Escola de Esgrima e ensinou a nadar e andar
a cavalo. Ela o dirigiu com bastante rigor, exigindo mais e mais dele e acabou
transformando-o num jovem bom de esgrima, corajoso e autoconfiante. Otome o
moldou para ser o notável homem que mudaria a História do Japão. Sem a
intervenção dessa irmã e sem o Riyoma, o Japão com certeza não seria o país que
hoje todos admiramos.
Naquela época, meados
de 1800, o Sistema de Governo embora fosse Imperial quem mandava de fato era o
Xogum, representante mor das centenas de poderosos senhores feudais ou
suseranos. Que possuíam vastas terras onde dominavam com poder de vida e morte,
sobre os pequenos servidores rurais. Cada Feudo possuía um exército de
espadachins ou samurais, que à menor provocação decepavam a cabeça de quem
ousasse enfrentá-los. E todos deveriam se ajoelhar e postar suas cabeças no
chão à passagem dos suseranos e seu exército de samurais. Quem levantasse a
cabeça, ficaria sem ela. Literalmente. Foi nessa época que o distraído Riyoma
começou a perceber o absurdo desse tratamento, que os senhores de castas
superiores concediam aos membros de castas inferiores... Aquilo começou a
incomodá-lo muito, embora todos aceitassem como procedimento normal. Inclusive
sua família. Eram duzentos anos de servidão contínua...
A família de Riyoma
embora tivesse posses fora reduzida à classe mais baixa de samurais, por uma
questão política. Os cidadãos de castas inferiores eram desprezados em qualquer
lugar, por qualquer um. Deveriam abrir caminho para os outros passarem, e prestar
reverência, se humilhando. Mesmo em dias de chuva. Isso era degradante demais!
A ponto de matarem um cidadão inglês a cavalo que sem conhecer as regras,
tentou cruzar a comitiva de um senhor feudal...
Quando Riyoma atingiu
a maioridade, decidiu ir para Edo (Tóquio) para aperfeiçoar o uso de espadas.
Estudou com afinco e se tornou um dos melhores espadachins do Japão.
Por essa época, chegou
ao Japão o Comodoro Calbraith Perry dos Estados Unidos com quatro imensos
navios intimando o Japão a abrir seus portos para o Comércio Exterior. Entregou
uma carta do Presidente dos Estados Unidos, prometendo voltar no ano seguinte.
Se o Japão não aceitasse, os americanos atacariam e demonstrou isso com a
detonação de um poderoso canhão em alto mar. Foi um Deus nos acuda! Todos
ficaram apavorados, até a Família Imperial.
Naqueles tempos, o
Japão só mantinha contato com a China e com a Holanda. Estava fechado para
outros países, porque se julgava auto suficiente e desprezava os estrangeiros.
Acreditando piamente que era um país abençoado pelo Sol nascente, de onde
provinham os Imperadores... Mas, os poderosos navios e o canhão abriram os
olhos dos governantes japoneses, que perceberam quão atrasados estavam em
tecnologia. Nem possuíam um navio decente quanto mais armas militares... Que
poder tinha uma espada diante dos canhões? pensou Riyoma...
Na confusão que se
seguiu formaram-se duas correntes de opinião: Parte dos governantes e a Casa
Imperial não aceitariam o acordo com os Estados Unidos e expulsariam todos os
estrangeiros que aparecessem no Japão; a outra corrente era pela abertura dos
portos, para conhecer outros países, manter um bom relacionamento comercial,
social e político. E aí a confusão estava armada. Todos os dias havia
emboscadas de gente, que não aceitava o posicionamento dos outros. Cabeças decepadas
apareciam nos becos, de ambos os lados.
Enquanto isso, um
primo de Riyoma, Takechi Hanpeita, que havia formado uma Academia de centenas
de espadachins na cidade de Kochi. levou o grupo para Edo e ofereceu seus
préstimos ao Imperador. Quando voltou a Kochi, Hanpeita tentou uma incursão
para derrubar o Xogunato e falhou. Riyoma participou e teve que fugir para não
ser preso. Virou um desertor porque devia obediência ao Suserano e fugira sem
autorização dele. Ninguém viajava para lugar algum sem essa autorização.
Enquanto isso, Hanpeita e seus aliados atacaram o Representante do Feudo. Mas
foi pego e condenado a morrer por haraquiri.
Entretanto, Riyoma que
estava muito confuso partiu para assassinar Katsu Kaishu um Oficial do alto
escalão do Grupo Tokugawa (Xogunato). Mas, Kaishu que já havia ido à América e
sabia do atraso de seu país, percebeu que Riyoma estava confuso. E através de
uma boa explanação sobre a situação do Japão, acabou convencendo-o a se unir a
ele, para organizar o aparelho militar japonês. Era preciso fortalecer a Defesa
do país para abrir os portos. E foi assim que Riyoma descobriu a sua vocação e
a sua missão.
Ele e Katsu organizaram
a Força Naval Japonesa Moderna com a ajuda de potências estrangeiras. Riyoma e
seus amigos fundaram a primeira Companhia de Comércio Kameyama Shachuu em
Nagasaki, que depois se transformaria em Kaientai ou Grupo de Apoio Marítimo do
Japão.
Com o prazo dos
americanos vencendo, a agitação no Japão recrudesceu e o Ministro Ii Naosuke
tomou uma decisão repentina sem consultar a Casa Imperial, fato que desagradou
os conservadores. Concordou com os termos do acordo e abriu os portos de
Shimoda e Hakodate. E mandou executar todos que se levantaram contra essa
decisão. Essa ação lhe custaria a vida, sendo assassinado por grupos que não
queriam a modernização do Japão. Enquanto isso, Riyoma se esforçava para formar
alianças para derrubar o Xogunato e todo o sistema de Feudos. Feudalismo
significava domínio e humilhação. Os japoneses estavam cansados de tanta
opressão.
Conseguiu a muito
custo a Aliança dos Feudos de Satsuma e Choshu que eram arqui-inimigas desde
os tempos de Hideyoshi e Ieyasu. Procurou convencer os líderes Saigo Takamori e
Okubo Toshimichi de Satsuma e Takasugi Shinsaku
de Choshu. Esses Feudos tinham ressentimentos históricos e não aceitavam dialogar.
Então, Riyoma, pediu que unissem as forças pelo futuro do Japão. Que era
preciso derrubar o Xogunato, o inimigo comum de ambos os Feudos. E para isso acontecer
só unindo as Exércitos de Satsuma e Choshu. Depois de muitas reuniões,
e alguns acordos acabaram concordando.. E assim foi. Houve uma grande batalha
contra as forças do Xogun, que foram derrotadas, com a ajuda da Casa Imperial.
E mais que isso, os
construtores do Japão Moderno convenceram o Xogun a devolver todo o poder de
governo ao Imperador, sem precisar de uma guerra. Sakamoto Riyoma foi a alma
nessa empreitada, que abriu o Japão para o mundo, acabando de vez com séculos
de ostracismo do país. O Japão começaria uma nova Era, a Era Meiji, que foi a
maior e mais impressionante mudança para a modernização.
Infelizmente, os
adversários dessa ideia eram muitos, não aceitavam mudanças, apegados às suas
ideias medievais. E não aceitaram essa abertura para o mundo, tão
acalentado pelo Riyoma e seus parceiros. Não queriam progresso nem tecnologia.
E uma noite, ele e seu companheiro Nakaoka Shintaro foram emboscados e
assassinados num Hotel em Kiyoto.
Riyoma tinha apenas 33
anos de idade.
E não chegou a ver as mudanças que tanto acalentou...
Ele é considerado a
” Jovem Estrela do Fim
do Xogunato”
“Pai da Marinha Imperial
Japonesa”
Graças a Otome, que
transformou o irmão chorão num dos homens mais venerados do Japão
Mirandópolis, abril
triste de 2010.
Revisado em abril de
2022.
kimie
oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com
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