A Missão
Acredito piamente que, cada um de
nós veio a este mundo, para cumprir uma missão predestinada. Ninguém veio só
por vir e povoar a Terra.
Assim, uns
chegam e iluminam a humanidade com seus talentos de músicos, de cantores, de
poetas, de palhaços... E todos se encaixam na sociedade, onde cumprem sua
tarefa, de um jeito ou outro. Também existem os que, carregam fardos pesados de
curar feridas, de salvar vidas, de estar sempre trabalhando para acudir
alguém... Esses são os santos, que não medem esforços... E não conseguem parar
até que, lhes faltem forças para prosseguir. Exemplo indiscutível desses anjos
foi a Madre Tereza de Calcutá.
Por outro lado,
há os que se enveredam por caminhos tortuosos, e plantam desgraças por onde
passam, semeando dor, destruição e morte. E ultimamente, há muitos, muitos
desses anjos do mal, que aterrorizam a humanidade em todas as partes do mundo.
Difícil é a
gente descobrir a própria missão, uma vez que ninguém nos indica caminhos. A
minha descobri recentemente: Acho que é escrever e gritar para todos os cantos,
as pequenas verdades que a humanidade vem esquecendo. Se bem que, às vezes,
sinto que estou pregando no deserto...
Uns nascem para
ser chefe de família, para ser mãe, para ser tia, avó, padrasto, madrinha, mãe
da própria mãe, patriarca, bisavô... Outros nascem para ser um filho solitário
e triste, que não partilha a vida com ninguém...
Temos inúmeros
exemplos de pessoas que, tiveram missões diferentes e as cumpriram
magistralmente. O Santo Padre o Papa João XXIII, que deixou uma lição de pureza
e humildade nunca vistas em Papas...
Bin Laden que,
enclausurado em sua dura religião que não perdoa, pelejou até o fim no caminho
da morte e destruição, acreditando que estava fazendo a vontade de Alá.
Os guerreiros
samurais do Japão e seus equivalentes de toda a Europa, que agiam como
mensageiros do Divino e decepavam os pescoços dos inimigos... E outros que, se
apossaram da Igreja de Cristo e fechados nas suas terríveis crenças, queimaram
na fogueira os diferentes, os deficientes, os alienados, os que ouviam vozes...
Cada ser humano
tem que cumprir a sua tarefa, sendo apenas um simples operário, uma estrela do
Cinema, um astronauta, um padre, um executivo, um lavrador, uma cozinheira, um
professor... Para cada um, uma missão.
Para a senhora
Kazuko foi reservada uma missão especial: a de ser os olhos de seu único e
amado filho, que por contingências da vida perdera totalmente a acuidade visual.
Após enxergar até os dois anos, ele perdera a visão.
E desde então, a
mãe e a avó passaram a ser o guia, os olhos, a visão do menino, que cresceu
normalmente, e estudou até onde deu. Dona Kazuko e o filho Ricardo estudaram o
Método Braille e conseguiam ler qualquer coisa, até partituras musicais. Ele
gostava muito de música e tocava Chopin, Beethoven, Bach, Strauss, Mozart, além
de baladas japonesas, que aprendia de ouvido.
Mas, a falta de
visão atrapalhava os estudos do filho. Então, a mãe ia à escola com ele,
copiava os textos todos como se fosse um simples aluno, e os vertia para o braille,
para ele poder ler. As questões respondidas em braille por sua vez, teriam que
ser traduzidas para o Português, para que o Professor pudesse avaliar. Imaginem
o trabalho que essa mãe teve, refazendo toda a escolaridade e fazendo versões
em braille e traduzindo em seguida para o Português. Quantas mães teriam feito
isso?
A avó por sua
vez, levava o neto para caminhar, para o corpo se desenvolver corretamente. Era
um fato comum ver essa avó levando o neto já adolescente, a caminhar pelas
calçadas. Por sua vez, a avó também exercitava suas pernas.
E o pai sempre
cuidando da loja, para prover a família, e fazer frente às despesas que não
eram poucas. Volta e meia, o filho precisava de assistência médica, e eles
viajavam para centros maiores em busca de ajuda. E foi na volta de uma dessas
viagens, que a fatalidade aconteceu. Os três se foram. Como se viajassem para
outras esferas. Foram juntos, porque não sabiam viver sem um dos membros. Era
um trio tão unido, que não havia como viver sem um deles. A vida dessa família
se resumia no filho tão amado. Tudo girava em torno dele, sua saúde, seu bem
estar, sua alimentação, seus desejos mais triviais, seu piano, seus ensaios,
suas apresentações em público.
Só fui dar conta
desses detalhes, quando o amigo Gabriel me disse que, esse jovem fora destinado
para essa família, porque só essa família teria condições de cuidar dele tão
bem como cuidou. Uma mãe como a Kazuko é uma raridade, é uma preciosidade. Com
aquele olhar manso, sem queixar de nada, procurando informações para de alguma
forma facilitar a vida do filho. E cobrando da sogra mais cuidados consigo
mesma, para estar sempre apresentável... A sogra a amava como a uma filha
verdadeira, porque a moça era muito gentil e atenciosa.
E como dona de
casa, dando conta dos afazeres domésticos, sempre de olho no filho e na sogra
idosa para não cair... E por anos seguidos levou o filho a clínicas especializadas,
a escolas que pudessem dar uma assistência adequada, sempre com a esperança de
tornar possível um futuro independente. Sua única preocupação era que ele se
tornasse independente, para que pudesse sobreviver à falta dos genitores...
Isso ela me confessou uma vez...
Mas, Deus que
tudo vê e tudo provê, houve por bem levar os três juntos, para aliviar a carga
da valente mãe, e encerrar assim a sua missão. Missão de mãe, de professora, de
orientadora, de enfermeira, de cuidadora, de amiga, de guia, de cozinheira, de
provedora, de luz do filho. Mãe Kazuko, anjo do Ricardo.
A loja ficou
vazia? Seu Sadao se foi? Dona Kazuko se foi? O Ricardo se foi? A cidade ficou
triste?
Não importa!
Eles cumpriram lindamente sua missão na terra, e quando chegou o chamado de
Deus, foram para o Paraíso. E é bem confortável pensar que os três estão juntos,
que não foram apartados. Só mudaram de plano.
Foram para o
plano de Deus.
E obrigada pela maravilhosa
lição que deixaram para nós!
Mirandópolis,
outubro de 2014.
kimie
oku in
Belíssimo texto que nos emociona com as lembranças dessa família tão conhecida por toda população.
ResponderExcluirCara Kimie, cada vez mais eu acredito e a minha fé vai se consolidando no plano de Deus. Por vezes eu brinco que estou estudando a geologia dos campos do Senhor em auto referência em uma ou outra postagem que faço. E não é brincadeira e sim uma verdade da certeza que tenho da existência da vida eterna onde um novo ciclo de vida começa após esse rito de passagem na Terra. Penso e imagino que lá há paz e não sofrimento, há calma e não aflição, há intensidade sem atribulação. E todos são escolhidos no tempo e sob a vontade de Deus.
ResponderExcluirSua crônica é perfeita! Parabéns!!!
Lupércio A.N.Palhares
Obrigada, Lupércio! Escrevi conforme as palavras brotavam do coração. Você tem razão. Lá na eternidade deve haver um campo florido e perfumado, onde passeiam todos que já cumpriram a missão na terra. Imagino os três dessa linda história de mãos dadas correndo por esses campos do Senhor.
ExcluirUma Historia muito linda de amor pelo filho, nos deixando uma lição!
ResponderExcluirLembro-me com carinho de quando estudávamos juntos, eu, Ricardo e D.Kazuko... Sim, D. Kazuko, pois ela teve que reaprender para repassar para o Ricardo. Esta mulher, com certeza, foi um exemplo pra todos nós... Nunca a vi reclamar de nada é ainda tinha espaço pra ser gentil com todos... Quanto ao Ricardo, o vejo além da deficiência...como ressalta o texto, talentoso demais! Ternas lembranças do músico do meu casamento!
ResponderExcluirMuito bom o seu testemunho sobre a dona Kazuko e o Ricardo, Carina Aroca. Terna lembrança que ficará registrada para sempre.
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