Gente de fibra-
Fernando Miron Bueno
Fernando Miron, como é conhecido na
cidade, nasceu há 80 anos em Braúna, na Região de Birigui. Nasceu, pois, em
1932.
Em 1940, a família se mudou para
Lavínia. Eram lavradores, que plantavam alho e cebola. Mais tarde, começaram a
fazer salgadinhos para vender. Seu pai ia a São Paulo buscar mercadorias, para
revender.
O menino Fernando estudou até o 4º ano primário, e garoto ainda,
passou a trabalhar na Farmácia do Zé Barbosa.
Morou também em Valparaíso, onde prestou serviços no Dispensário
Médico do Doutor Luís Simões, que era oftalmologista, e prestava serviços
também em Aguapeí, tratando de tracoma, que era uma terrível infecção, que atacava
os olhos das pessoas.
Por essa época, Fernando e duas irmãs participaram de um grupo
de teatro amador chamado VATE, que congregava mais de vinte jovens, encenando
peças, que chegaram a ser apresentadas aqui em Mirandópolis. Nessa época,
aprendeu a ser árbitro de Basquetebol, função que viria a exercer por muito
tempo em Mirandópolis, para onde a família se mudou em 1951.
E por indicação do Dr. Simões, ele passou a trabalhar no
Hospital das Clínicas de Mirandópolis.
O Hospital havia sido criado recentemente, e instalado no antigo
Hospital e Maternidade Santa Terezinha, que pertencera ao Dr. Macoto Ono, e
tinha mais ou menos uns trinta leitos, para acolher pacientes.
Fernando começou a servir no Hospital a partir de setembro de
1953, como responsável pela Farmácia, porque não havia farmacêutico designado.
Seu serviço era controlar a entrada e a
saída dos remédios, e aviar as receitas dos médicos. No início, havia cerca de
50 funcionários, entre médicos e demais profissionais. Com o passar dos anos,
Fernando foi designado como responsável por outros setores do Hospital, como o
Escritório, a Lavanderia e a Portaria.
Em 1957, casou-se com a senhorinha Josefa Rosado Borges, com
quem teve três filhos, dos quais, dois são Dentistas e a filha é Assistente Social
e Professora. Todos os filhos moram fora daqui.
Desde quando as crianças eram pequenas, a dona Josefa começou a
trabalhar também, lavando toda a roupa do Hospital. Para isso, montou uma casa,
e contratou cinco ou seis lavadeiras, que lavavam manualmente, duas passadeiras
e um carroceiro que buscava e levava de volta a roupa ao hospital. Dona Josefa
se dedicou a esse serviço, por mais ou menos seis anos. Deixou essa tarefa,
para fornecer marmitas para os presos das cadeias, inicialmente de
Mirandópolis, depois também de Andradina
e de Valparaíso.
Em 1982, o seu Fernando aposentou-se e passou a ajudar a dona
Josefa nessa tarefa de administrar o preparo e a distribuição de marmitas, para
as cadeias e também
para a Penitenciária local.
No começo, eram cerca de 40 a 50 marmitas diárias para cada
cadeia, mas chegaram a entregar até 400 marmitas por dia, para a Penitenciária. Isso só durou cinco meses, porque, mudou o sistema e os próprios presidiários
começaram a preparar as refeições. Entretanto, continuaram com as marmitas para
os presos das cadeias até 1997.
Enquanto trabalhavam, já casados e com crianças, começaram a
estudar, para completar a escolaridade que lhes faltava. Fizeram os quatro anos
de ginásio e três anos de Contabilidade. Vida atropelada por deveres para com a
família, muito trabalho e estudos. Mas, venceram.
Seu Fernando gostava de trabalhar no Hospital. A melhor
lembrança que ficou é da primeira turma, que assumiu o serviço, quando o
Hospital foi inaugurado. Havia gente de calibre, como os médicos Dr. Satoru
Okida, Dr. Elmano, Dr. Ubiratan, Dr. Newton, Dr. Acácio Ferreira Marta, Dr.
Paulo Sérgio Bom Senes, dentista que se casou com Zenaide de Souza Eid.
E havia excelentes
funcionários, como o Sr. Osvaldo Ramires, escriturário e Chefe de Seção e os
enfermeiros Salomão e sua irmã Divina. Esses dois irmãos marcaram época no
hospital, pela qualidade de atendimento; ela como ajudante dos médicos para
efetuar partos, e ele para cuidar das quebraduras de ossos dos pacientes. Diz o
seu Fernando que, Salomão foi o melhor enfermeiro, que já passou por aquele
Hospital, porque tanto ele como a Divina gostavam do serviço, e se dedicavam
completamente, em benefício dos pacientes.
Durante 31 anos, seu Fernando, convidado pelo amigo Sargento
Montanaro, cantou o Leilão de Gado da A.P.A.E. , tarefa que deixou para os mais
jovens, por não dispor mais de voz tão potente. O 1º Leilão foi na Fazenda do
Sr. Geraldo Delai, e o Locutor Fernando fez
os anúncios sobre a carreta de um trator, por falta de estrutura.
Também junto com um grupo de amigos, seu Fernando e dona Josefa
fizeram campanhas para comprar todo o material inicial necessário, para o
funcionamento do Asilo local, a A.M.A.I., material como roupa de cama para os
internos e utensílios de cozinha.
E para a Igreja Católica,
fizeram campanhas para a aquisição de bancos, cadeiras, e folhetos para as
missas.
Depois de tanto trabalho, e anos dedicados ao bem estar do
próximo, realizando obras sociais, hoje estão só usufruindo a vida, viajando
para a casa dos filhos e curtindo os netos. Vão também a uma chácara, que
possuem na redondeza, para aproveitar a natureza.
No final da entrevista, o seu Fernando me contou algo engraçado:
Ele estava certo dia, caminhando pelo Bosque local, e alguém lhe gritou: “Ó,
Cotonete! Ó Cotonete! Ó Cotonete!” Ele estranhou, mas quando se deu conta,
percebeu que o apelido lhe caia como luva, porque estava de tênis brancos, e
seus cabelos são brancos como algodão. Exatamente como os cotonetes, que têm as
extremidades brancas, brancas...
Fernando Miron Bueno, homem de 80 anos, que está sempre contente,
brincando com todo mundo, por tudo que fez e por continuar de bem com a vida, é
gente de fibra!
Mirandópolis, 18 de abril de 2012.
kimie oku in
“cronicasdekimie.blogspot.com”
Parabéns, Kimie! Soube tirar dele até o atual " apelido ". Realmente eles são um casal de fibra.
ResponderExcluirEles são gente de bem com a vida. Faz bem falar com eles. Passam uma energia e uma alegria de viver, que nem todos os idosos têm. E eu entendo um pouco de idosos. É gratificante entrevistar pessoas assim. Mas, ainda há muita gente que preciso entrevistar. Elas pensam que estou lhes beneficiando com essa coluna Gente de fibra. Ledo engano. Elas é que me beneficiam, contando seus sonhos, suas lutas e suas conquistas. Tudo é uma lição de vida, que vou acumulando dia a dia. E vou me enriquecendo cada vez mais.
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