Oásis
no deserto
Sempre ouvi dizer o quanto significa um oásis no deserto, para o beduíno, que empreende longas viagens sobre camelos, por aqueles caminhos áridos sem fim.
Sempre ouvi dizer o quanto significa um oásis no deserto, para o beduíno, que empreende longas viagens sobre camelos, por aqueles caminhos áridos sem fim.
Nunca estive num
deserto, mas as imagens estão por toda a parte. E concluí que lá, só há areia e
um sol ardente que não perdoa. A vida é terrivelmente dura, desconfortável e
triste.
Ora, sabemos que esses
desertos não foram formados pelo homem. No princípio, aquelas terras secas
estavam inundadas pelo mar, que deixou como testemunhos de sua existência,
vestígios de sal e fósseis de animais marinhos. A própria natureza,
impedindo a passagem das correntes úmidas de ar, impediu precipitações de
chuvas, secando ao longo dos milênios, a região e transformando-a em desertos.
É difícil acreditar que
já houve água na região. E água em abundância. Como aconteceu secar toda aquela
vastidão de terras? Por certo, havia também florestas verdejantes, e fontes de
águas doces, como comprovam os lençóis freáticos subterrâneos.
Mas, como ocorreu essa
mudança?
Sabemos que os animais
não destroem sua moradia natural. Pelo contrário, eles defendem seus
territórios com toda a garra. A ação do vento conjugada com a falta de chuvas,
foi ao longo dos milênios, solapando a superfície, eliminando o solo, com seus
nutrientes para alimentar a vegetação. E tudo parou de nascer e se multiplicar.
E tudo secou. E virou deserto, ou sabaku, como dizem os japoneses.
É terrível empreender
jornadas por aquelas terras, que mais parecem de outro planeta. Sem uma campina,
sem uma árvore, sem uma sombra, sem um regato, sem um animal à vista. Sem
moradias, sem gente circulando. Sem a presença de vida.
Fico imaginando que no
ritmo em que caminham as devastações, o planeta todo em algumas centenas de
anos, se tornará um imenso deserto. O homem só faz derrubar, destruir,
queimar. Ele não pensa em recompor, em recuperar, em reconstruir. Só
pensa no lucro imediato. Estamos cercados de canaviais por todos os lados.
Canaviais que substituíram de vez, as nossas roças e as belas matas, onde
morava a rica fauna brasileira.
Infelizmente, tenho
ouvido sobre máquinas que, na calada da noite, vão às áreas onde ainda restam
árvores, e as derrubam e enterram em imensas valetas, para esconderem os sinais
do crime. E as autoridades se fazem de cegos, como se fosse natural, da noite
para o dia, desaparecerem centenas de árvores que, levaram décadas para se
formarem. Será que, os responsáveis pela vigilância estão sendo comprados, para
tirarem os óculos, para não verem? Não há outra explicação.
Como pode uma paisagem
cheia de árvores, de repente, se transformar em terra deserta, sem a ajuda das
máquinas? Onde estão os fiscais? Para que existe o IBAMA? Só prá constar,
pois não podemos nem dizer que é só prá inglês ver?
Enquanto os plantadores
de cana devastam as áreas de nosso município, há outros cidadãos preocupados
com o futuro do planeta, e plantam árvores e árvores. Vemos no meio dos
canaviais, ou nos desertos que se formam em virtude de sua plantação,
verdadeiros oásis, cheios de árvores frutíferas, silvestres e madeiras de lei.
E conversando com esses cidadãos, soube que os bichos estão voltando. São os
animais silvestres, como macacos, tucanos, araras, gralhas, garças... Por falta
de florestas, estão procurando esses oásis, para se alimentarem de ingás, de
bananas, de mamões, de jacas, de jabuticabas, de pitangas, de amoras, de
ciriguelas, de goiabas, de figos e de milho.
É interessante notar
que, ninguém sabe onde moram esses bichos. Eles vêm de repente, se alimentam
fartamente e, depois desaparecem. Os bandos de macacos, às vezes, chegam de
dezena, os tucanos também são numerosos, assim como as araras e as gralhas de
peito amarelo. Como deve ser difícil viver assim, ao Deus dará, sem uma mata,
que lhes forneça abrigo e comida o ano todo, principalmente para alimentar os
filhotes.
Felizmente, ainda há
gente consciente, que tenta reparar o estrago feito pelo homem, procurando
devolver aos seres vivos, o que lhes pertencia desde o princípio.
Onde existem esses
oásis, ainda há água em abundância, nos córregos, nas minas, nos açudes,
provando com certeza, a insubstituível ação das árvores no processo de
circulação da água entre o céu e a terra.
O homem precisa
acordar.
Hoje são os bichos, que
procuram esses oásis, que são raros. Amanhã, serão os seres humanos, que tendo
destruído até o último recanto habitável da Terra, sairão em demanda desses
oásis. E essa busca terminará em guerras de vida e morte, por causa da
sobrevivência.
Quando o dinheiro que
vem da venda do álcool não puder comprar a água, que deixará de existir em
breve,
Quando esse dinheiro
sobrar, mas não puder comprar um ar mais respirável,
Quando houver tanto
dinheiro no bolso, mas não existir mais laranjas, bananas e melancias para
comprar,
Quando o arroz e o
feijão passarem a ser produtos raros, por falta de terras cultiváveis,
Quando a fome assolar o
mundo, e não houver comida para alimentar os seres humanos,
Só então, a Humanidade
despertará.
E aí, será tarde
demais.
Mirandópolis, 23 de
março de 2012.
kimie oku (cronicasdekimie.blogspot.com)
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