A única certeza que
herdamos ao nascer, é a certeza absoluta e inevitável da morte.
Mas, ninguém gosta de
pensar nela, considerando-a uma inimiga, sempre à espreita, querendo roubar o
único bem,
que herdamos de Deus.
Entretanto, ela virá um dia, uma hora, em algum momento,
porque cada um de nós tem um tempo predeterminado, cuja duração ninguém sabe.
Gosto de pensar em
“shukumei”, ou predestinação, ou missão, que nós temos que cumprir.
E não
adianta tentar esquivar-se, fugir dele, mudar o rumo
da vida,
que o shukumei
nos alcançará, e fará que se cumpra o que foi determinado.
À primeira vista, parece
desalentador pensar assim, porque faz-nos sentir como robôs teleguiados, por
uma força poderosa, que não respeita a nossa vontade e rouba de nós,
o livre arbítrio.
o livre arbítrio.
Mas isso faz aceitar o
destino, de algumas pessoas queridas, que de repente partem, sem mais nem
menos. Porque, nunca é fácil o contato com a morte.
Por mais realista que a
pessoa seja, a morte é um choque, que nos faz pensar numa força poderosa, fora de nosso alcance, de nosso poder, até de
nossa inteligência...
Faz-nos pensar em criaturas celestes, que pairam sobre
nossas cabeças, elegendo quem deve partir desse planeta. Faz-nos pensar em
Buda, Kamissamá, Tupã,
Jeová, Alá, Jesus
,
Deus... aquele Ser Supremo,
que tem o poder
de vida e morte sobre
todas as
criaturas.
Poder absoluto.
E não adianta implorar
para prorrogar o tempo a nós destinado,
nem solicitar a chegada imediata da
inexorável visita, porque o que está
determinado
se cumprirá,
no devido momento.
Ultimamente, temos
perdido amigos tão repentinamente, que deixaram incrédulos todos, que tomaram
ciência dos fatos.
E assustados.
Tenho um amigo que,
nessas horas costuma dizer : “Olha, o companheiro que estava bem à minha frente
na fila,
se foi...”
É apenas uma frase, um
chiste, mas contém uma verdade, que não dá para ignorar. “Alguém partiu, eu fiquei,
o próximo poderá
ser eu...”
Quando perdemos o
cirandeiro Egídio Vicente, um amigo me ligou perguntando, que homenagem a
Ciranda lhe prestaria
no seu
funeral.
Homenagem? Para alguém que partiu? Que não pode mais se comunicar com
a gente que restou?
Fiquei pensando no
assunto e concluí que, nós devemos
prestar todas as homenagens,
em vida.
em vida.
Que essa de levar coroas maravilhosas,
para enfeitar salas de velórios e túmulos, nada
significam.
Talvez sirvam de consolo para quem
as oferece.
as oferece.
Talvez tenham um significado para a sociedade... “O cidadão era muito benquisto e respeitado,
porque havia
trocentas coroas...”
Mas, um bilhão de coroas de flores não
devolverão a vida de quem se foi... Então,
para que servem?
Aí, percebi que nós da
Ciranda, vamos ter que lidar com a morte, constantemente.
É que todos nós, já
passamos de sessenta anos e estamos na descida da ladeira, com alguns amigos
que, já viveram
mais de oitenta anos.
E
pela ordem natural das coisas, os mais idosos irão primeiro, salvo algumas
exceções. Então, que homenagens lhes prestaremos?
As homenagens da Ciranda
são os
encontros mensais,
encontros mensais,
as rodas de amigos cantando velhas canções, brincando
, orando, declamando, brincando de ciranda mesmo.
Existe homenagem melhor e
mais bela?
Mesmo o nosso querido
Egídio Vicente era contrário a
homenagens pós-morte.
Dizia que, queria tudo que merecia receber, em vida.
E de
alguma forma, lhe proporcionamos momentos de lazer, com nossos encontros, em
que ele cantou, riu muito, discursou, brincou e só não dançou
porque a perna
mecânica
não lhe permitiu...
E temos absoluta certeza, que foi muito feliz,
nesse último
ano de sua vida,
na Ciranda.
E tudo isso, me fez
pensar como é importante a Ciranda,
porque os encontros mensais proporcionam
momentos de felicidade,
às pessoas solitárias.
E quando chega o momento de
partir, a pessoa que viveu bem, foi feliz, irá contente por ter curtido tudo que
tinha direito.
Então, é preciso viver o
momento, que Deus está nos concedendo ainda,
aproveitar o tempo,
“carpe diem”
como dizia Horácio,
na Roma
antiga.
E a Ciranda vai
continuar com as tardes de lazer, para que
os cirandeiros aproveitem o tempo, que lhes resta,
brincando e cantando.
Celebrando a própria vida.
Existe homenagem
mais bela?
Homenagem em vida.
Mirandópolis, 06 de
janeiro de 2012.
(cronicasdekimie.blogspot.
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