O PARAÍSO RESTAURADO
E de repente,
a vida se foi.
a vida se foi.
Num sopro a vida humana
se apagou.
Como se alguém tivesse
desligado o interruptor
da vida, a humanidade
se evaporou.
Foi assim pá!
se apagou.
Como se alguém tivesse
desligado o interruptor
da vida, a humanidade
se evaporou.
Foi assim pá!
E todos os seres humanos sumiram. Esvaíram-se
como éter. Apagaram-se, sem deixar rastros. Nenhum corpo, nenhum resto. Nada
que provasse ter existido vida humana na Terra.
No instante em que ocorreu, houve quedas de
aviões, carros e trens que se colidiram. Mas nenhuma vítima. Não havia pilotos,
motoristas nem passageiros. Tinham se evaporado todos.
Comprovando a passagem do homem, sobraram
as obras – as ferrovias, as rodovias, os carros, as máquinas, as
torres, os imensos prédios, as igrejas,
os shoppings. Mas ninguém circulando. Tudo deserto.
No começo havia luzes e sons ligados.
Máquinas automáticas trabalhando, luminosos pisca-piscando, semáforos
alternando o verde, o amarelo, o vermelho, inutilmente... não havia carros
circulando.
Aos poucos, tudo foi parando.
Não havia gente, para lidar com os geradores
de força e luz. Celulares se calaram. Havia combustível nas bombas, mas sem serventia.
Ninguém precisava dele.
Nas estradas e nos estacionamentos, filas
de carros ao Deus dará, todos parados. Nos aeroportos, aviões se deteriorando
no tempo. Nas ferrovias, os trens-bala, os subways vazios e aposentados para
sempre. E nos portos, os imensos transatlânticos, e os barquinhos. Estranhos
brinquedos num mesmo abandono, sem nenhuma utilidade, ao sabor das ondas.
Casas e
prédios totalmente vazios de gente, sem luz, geladeiras lotadas de
comida se deteriorando, elevadores
parados....
Nas ruas, de viventes só circulavam cães
e gatos fuçando nas lixeiras, procurando
algo para saciar a fome. Logo ficariam
desnutridos e morreriam.
Nos campos, tanto trigo dourado, secando ao
sol, grãos de milho amarelinho caindo
das espigas... banquete de pássaros... Nas hortas, verduras e legumes servindo
de pasto aos besouros e lagartas. Nos pomares as frutas maduras caiam aos borbotões...
os bichos aproveitavam. Nunca os animais tiveram tanta fartura.
Nos
quintais, sobreviveram só as galinhas caipiras. Sabiam procurar o alimento, nos
lugares mais recônditos do jardim. Gatos domésticos foram morrendo de inanição,
não sabiam nem caçar lagartixas. Nas gaiolas das belas vivendas, pássaros exóticos morreram de pernas pro ar, e bico
aberto, implorando água.
Nas
granjas, galinhas poedeiras e frangos de
corte morreram de batelada, com o papo vazio e o bico seco. Corvos e urubus se
fartavam.
Nas
pastagens verdes, o gado levava vida normal, os bezerros não davam conta de tanto
leite. Mas, nos confinamentos...toneladas de carne morta. Também banquete dos
urubus.
Os dias se sucederam. Vieram os meses, os
anos, as décadas, os séculos. E tudo foi mudando, devagarinho, por conta das leis da natureza, que nunca tem pressa.
As chuvas voltaram a
chover regularmente, enchendo as fontes, os mares. Mansamente. Aspergindo a
terra com chuveiradas, que mais pareciam bênçãos .
Os
rios corriam com leveza. Não recebiam
mais dejetos produzidos pelos humanos; nem lixo de hospitais; nem esgoto das casas e, nem venenos tóxicos
das roças e das indústrias. Pouco a
pouco, perderam a cor pardacenta, a viscosidade gelatinosa e o cheiro de fezes.
Os peixes respiravam aliviados.
As árvores jogavam frutos e sementes ao chão. Logo,
outras plantinhas começaram a nascer; no início timidamente, depois
vigorosamente, sem medo das máquinas ceifadoras e dos jardineiros contumazes.
E o tempo que dá um jeito em tudo, deu um
jeito nas carcaças de animais mortos.
Tudo secou e virou pó. E foi absorvido pela
terra, fertilizando-a generosamente.
Então, a Terra ficou perfumada.
Aromas
encheram o ar. Aromas que
exalavam dos jardins floridos, das florestas resinosas, das fontes termais de
águas límpidas. O clima ficou ameno, a aragem soprava
mansamente, ondulando os lençóis de campos verdes, e das árvores choviam flores
perfumadas.
As florestas foram crescendo, substituindo definitivamente os canaviais, e ocupando espaços vazios.
Animais selvagens voltaram ao seu
habitat, enlouquecidos pela liberdade, enfim
reconquistada.
Pássaros cruzavam os ares, numa algazarra
sem fim. Filhotes pipilavam satisfeitos, seguros em seus ninhos.
Cães e gatos sobreviventes voltaram às
origens, vivendo nas matas, caçando seus alimentos e bebendo nos
ribeirões.
Tudo perfeito.
O Éden.
E na harmonia silenciosa do Paraíso Terrestre,
ouviu-se o vagido
de um bebê.
ouviu-se o vagido
de um bebê.
Mirandópolis, 16 de dezembro
de 2010.
Kimie Oku
(kimieoku@hotmail.com)
"A natureza é a arte natural da vida" Dinho.
ResponderExcluirPlante uma arvore, você tem que ter um filho, escrever um livro e plantar uma arvore!!!
http://dinhoresler.blogspot.com/ meu blog da vida, da natureza.
ResponderExcluirEscrevi esse texto em Dezembro de 2010. E hoje dia 30 de julho de 2015, assisti a um filme que retrata exatamente o cenário que eu imaginei: um mundo sem gente, onde a humanidade foi quase que totalmente extinta. O filme espanhol inspirado na obra de David Monteagudo "Fin dos Tempos" narra a história de um grupo de jovens que vai desaparecendo um a um... E mostra cidades e povoados vazios, carros abandonados, estradas sem gente... Só que ele não mostra o que acontece com a natureza sem o homem que tudo destrói. E o filme é de 2012. E eu nunca li nada de David Monteagudo. Achei a coincidência muito interessante.
ResponderExcluir