sábado, 21 de janeiro de 2012


    GENTE DE FIBRA João Torrente Filho


                 Gente de fibra de hoje é um Professor.
       Professor João Torrente Filho, de 71 anos, nascido em Guararapes.
                 Quando João era criança ainda, seus pais compraram um sítio e se mudaram para Santa Fé do Sul. Por essa razão, o menino João foi criado pelos tios  Fernando e Andréa Zonzini,  que só possuíam duas filhas.
                 Joãozinho cresceu como um irmão das primas, em Mirandópolis. Seus tios sempre foram muito bons.
       Aos 14 anos, João começou a trabalhar na Estação da Rede Ferroviária Federal Noroeste do Brasil, a N.O.B. como aprendiz de telégrafo.
                 Telégrafo era o meio de comunicação mais avançado da época. Constava de um aparelho com fios, movido a toque de dedos – cada toque emitia um sinal em Código Morse.
                 Através do telégrafo, controlava-se o tráfego dos trens, evitando-se acidentes. Os trilhos eram únicos e não possibilitavam o tráfego de  duas composições ao mesmo tempo, daí a utilidade desse meio de comunicação ultra-rápido.
                 Por causa do trabalho e do estudo, Joãozinho continuou morando com os tios,  alternando temporadas  na casa dos pais.
                 Em 1964 casou-se com a senhorinha Maria Aparecida Secanho, com quem  teve uma filha e um filho.
                 Criar filhos com poucos recursos era uma tarefa difícil, pois as despesas eram muitas. Mas o casal nunca desanimou em dar conta do recado. A esposa Mariinha, como é conhecida por todos, costurava para fora, isto é fazia roupas para as pessoas de nossa sociedade.                                            Durante anos e anos, Mariinha vestiu as senhoras de Mirandópolis.
Passava horas e horas diante da máquina de costura, sua inseparável companheira, que  possibilitou vestir os filhos com a renda de seu trabalho.
                 E graças à ajuda da esposa, João voltou a estudar.
                 Como não havia estudado regularmente por força do trabalho, fez o Curso de Madureza, equivalente ao Supletivo de hoje. Assim, venceu os quatro anos regulares do antigo curso ginasial. Depois, fez o Curso de Contabilidade na Escola 14 de agosto. E tudo isso, entremeado de trabalho na estação ferroviária e plantões, que varavam madrugadas...
                Tanto João como a Mariinha passaram anos e anos trabalhando à noite, para dar conta das despesas de família. Foram tempos  difíceis de sacrifício, mas o que ficou foi a lembrança de cuidados da família, para deixar descansar o pai ou a mãe, que estavam cansados pelos serões realizados
na véspera. O silêncio era imprescindível  para o descanso.
                 Após concluir o Curso de Contabilidade, João se habilitou em Matemática, na Faculdade de Filosofia Rui Barbosa, em Andradina.
                Depois, durante cinco anos acumulou as funções de Agente Ferroviário  e Professor. Como Agente, vendia bilhetes para os passageiros, controlava o tráfego de trens e cuidava da comunicação com  outras estações, através do telégrafo.
                 Antes que a Estrada de Ferro encerrasse o transporte de passageiros, João deixou  o serviço de ferroviário e optou pela carreira de Professor. Como Professor trabalhou em Itapura, Mirandópolis e em Lavínia, onde se aposentou. Depois, retornou à mesma atividade e atuou   mais 13 anos.
                 Hoje João é um Professor aposentado e lembra que durante  mais ou menos 15 anos pertenceu ao Sindicato dos Professores, a A.P.E.O.S.P. que defende os direitos da classe.
                 Sua filha é Professora também e mora em Santo André. O filho é Tecnólogo em Informática e leciona na E.T.E.C. de Andradina.
                 Possui quatro netos, dos quais, uma atua no Instituto Butantã no campo da Pesquisa e pretende fazer Mestrado em Imunologia. Os demais são mais jovens e estão estudando.  Além deles, a família se compõe ainda de um genro e uma nora.
                 João e Mariinha batalharam muito e formaram uma família bonita, que sabe o valor do sacrifício, da dedicação e do respeito.
                 Quando o trem cargueiro noturno buzina longamente, João sente saudades da vida que passou. A melhor lembrança era o encontro dos amigos na chegada dos trens. A vida acontecia na estação. Ele lamenta  a situação atual de abandono da Ferrovia e da estação, que tanto progresso trouxeram à cidade.
                 Da carreira de Professor tem lembranças boas, mas a maior decepção foi perceber que a Legislação não valoriza  e,  nem  reconhece o seu papel fundamental  na sociedade.
                 Não houvesse a força de vontade e a ajuda da Mariinha, João não teria vencido os revezes da vida. Por isso, o sonho dele é viver bem com a família, curtindo cada momento, com os filhos e os netos.
                 “Carpe diem”, João!
                 João Torrente Filho, pelos longos anos de luta, pelas batalhas vencidas é um homem vitorioso.
                 João Torrente Filho é gente de fibra!
                                  
                                   Mirandópolis, 26 de julho de 2011.
                                                               kimie oku
                                                      (kimieoku@hotmail.com)

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