GENTE DE FIBRA João Torrente Filho
Professor João Torrente Filho, de 71 anos,
nascido em Guararapes.
Quando
João era criança ainda, seus pais compraram um sítio e se mudaram para Santa Fé
do Sul. Por essa razão, o menino João foi criado pelos tios Fernando e Andréa Zonzini, que só possuíam duas filhas.
Joãozinho
cresceu como um irmão das primas, em Mirandópolis. Seus tios sempre foram muito
bons.
Aos 14 anos, João começou a trabalhar na
Estação da Rede Ferroviária Federal Noroeste do Brasil, a N.O.B. como aprendiz
de telégrafo.
Telégrafo
era o meio de comunicação mais avançado da época. Constava de um aparelho com
fios, movido a toque de dedos – cada toque emitia um sinal em Código Morse.
Através
do telégrafo, controlava-se o tráfego dos trens, evitando-se acidentes. Os
trilhos eram únicos e não possibilitavam o tráfego de duas composições ao mesmo tempo, daí a
utilidade desse meio de comunicação ultra-rápido.
Por
causa do trabalho e do estudo, Joãozinho continuou morando com os tios, alternando temporadas na casa dos pais.
Em
1964 casou-se com a senhorinha Maria Aparecida Secanho, com quem teve uma filha e um filho.
Criar
filhos com poucos recursos era uma tarefa difícil, pois as despesas eram
muitas. Mas o casal nunca desanimou em dar conta do recado. A esposa Mariinha,
como é conhecida por todos, costurava para fora, isto é fazia roupas para as
pessoas de nossa sociedade. Durante
anos e anos, Mariinha vestiu as senhoras de Mirandópolis.
Passava horas e horas diante da máquina de
costura, sua inseparável companheira, que
possibilitou vestir os filhos com a renda de seu trabalho.
E
graças à ajuda da esposa, João voltou a estudar.
Como
não havia estudado regularmente por força do trabalho, fez o Curso de Madureza,
equivalente ao Supletivo de hoje. Assim, venceu os quatro anos regulares do
antigo curso ginasial. Depois, fez o Curso de Contabilidade na Escola 14 de
agosto. E tudo isso, entremeado de trabalho na estação ferroviária e plantões,
que varavam madrugadas...
Tanto João como a Mariinha passaram anos e anos
trabalhando à noite, para dar conta das despesas de família. Foram tempos difíceis de sacrifício, mas o que ficou foi a lembrança de cuidados da família,
para deixar descansar o pai ou a mãe, que estavam cansados pelos serões
realizados
na véspera. O silêncio era imprescindível para o descanso.
Após
concluir o Curso de Contabilidade, João se habilitou em Matemática, na
Faculdade de Filosofia Rui Barbosa, em Andradina.
Depois, durante cinco anos acumulou as
funções de Agente Ferroviário e
Professor. Como Agente, vendia bilhetes para os passageiros, controlava o
tráfego de trens e cuidava da comunicação com
outras estações, através do telégrafo.
Antes
que a Estrada de Ferro encerrasse o transporte de passageiros, João deixou o serviço de ferroviário e optou pela
carreira de Professor. Como Professor trabalhou em Itapura, Mirandópolis e em
Lavínia, onde se aposentou. Depois, retornou à mesma atividade e atuou mais 13 anos.
Hoje
João é um Professor aposentado e lembra que durante mais ou menos 15 anos pertenceu ao Sindicato
dos Professores, a A.P.E.O.S.P. que defende os direitos da classe.
Sua
filha é Professora também e mora em Santo André. O filho é Tecnólogo em
Informática e leciona na E.T.E.C. de Andradina.
Possui
quatro netos, dos quais, uma atua no Instituto Butantã no campo da Pesquisa e
pretende fazer Mestrado em Imunologia. Os demais são mais jovens e estão
estudando. Além deles, a família se
compõe ainda de um genro e uma nora.
João
e Mariinha batalharam muito e formaram uma família bonita, que sabe o valor do
sacrifício, da dedicação e do respeito.
Quando
o trem cargueiro noturno buzina longamente, João sente saudades da vida que
passou. A melhor lembrança era o encontro dos amigos na chegada dos trens. A
vida acontecia na estação. Ele lamenta a
situação atual de abandono da Ferrovia e da estação, que tanto progresso trouxeram
à cidade.
Da
carreira de Professor tem lembranças boas, mas a maior decepção foi perceber
que a Legislação não valoriza e, nem
reconhece o seu papel fundamental
na sociedade.
Não
houvesse a força de vontade e a ajuda da Mariinha, João não teria vencido os
revezes da vida. Por isso, o sonho dele é viver bem com a família, curtindo
cada momento, com os filhos e os netos.
“Carpe
diem”, João!
João
Torrente Filho, pelos longos anos de luta, pelas batalhas vencidas é um homem
vitorioso.
João
Torrente Filho é gente de fibra!
Mirandópolis,
26 de julho de 2011.
kimie
oku
(kimieoku@hotmail.com)
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